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EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUA RELAÇÃO COM AS UNIVERSIDADES

3. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E OS CAMPI

3.2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NOS CAMPI

3.2.1. EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUA RELAÇÃO COM AS UNIVERSIDADES

Como se tem vindo a referir a aceitação do conceito de desenvolvimento sustentável por parte das universidades não foi imediato, tal como não foi imediata a adesão de práticas e modelos de gestão nos campi promotoras do desenvolvimento sustentável, tendo o processo evoluído ao longo dos tempos e numa interação permanente

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com a sociedade. Sharp (2002: pg.1) espelha estes aspetos ao afirmar que “as universidades acabaram por responder à pressão dos estudantes, governo e administração ou faculdade para fazer algumas tentativas de abordar o assunto imperativo do ambiente na forma como os campi são mantidos.”

Sendo que algumas universidades tomaram a iniciativa de assinar voluntariamente determinadas declarações que continham indicações para os cumprimentos dos seus compromissos com a sustentabilidade logo nos anos 90 do século passado, outras ainda nem assumiram qualquer tipo de compromisso efetivo para o desenvolvimento sustentável. No entanto verifica-se que ao longo dos anos o número de universidades que têm vindo a aderir a estas declarações tem vindo a aumentar (Wright, 2002) o que se pode dever às diversas reuniões que uniram instituições de todo o mundo sendo muitas delas de extrema importância para dar mais um passo para um futuro sustentável no ensino superior como se verifica na tabela seguinte:

Tabela 1 - Quadro síntese das datas mais importantes na evolução da abordagem das universidades ao desenvolvimento sustentável

ANO ORGANIZAÇÃO DESCRIÇÃO

1972 Conferência de Estocolmo Foi a conferência a fazer referência à sustentabilidade no ensino superior e reconheceu que existia uma dependência entre a humanidade e o ambiente, acabando por sugerir algumas medidas para atingir a sustentabilidade ambiental.

1987 Relatório de Brundtland

Inicialmente com o nome de “O nosso futuro comum”, foi publicado pela “World Commission on Environment and Development”, resultado de uma comissão das Nações Unidas. Fazia referência a um crescimento económico menos consumista e mais preocupado com o meio ambiente e a um futuro desenvolvimento sustentável.

1988

Conferência dos Reitores da Europa (CRE)

Alerta para as preocupações ambientais globais, e lança o programa COPERNICUS (COoperation Programme in Europe for Research on Nature and Industry through Coordinated University Studies) com o objetivo de envolver as universidades europeias na partilha de conhecimento e experiência na área do desenvolvimento sustentável e de as encorajar a estabelecer parcerias com a indústria.

1990 Declaração de Talloires Declaração assinada por cerca de 300 universidades de 40 países. Tratava-se de um plano de ação com 10 pontos a cumprir para o estabelecimento da sustentabilidade ambiental no ensino, investigação e outras operações realizadas na instituição.

1992 Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável – Rio de Janeiro Apelo da CRE

Ficou conhecida como a Cúpula da Terra, pois reuniu cerca de 100 chefes de estado para debater quais as formas existentes para atingir o desenvolvimento sustentável. Foi também criada a Agenda21, documento que propõe práticas e técnicas para um desenvolvimento sustentável.

Neste ano o CRE lança um apelo urgente para o envolvimento das universidades no desenvolvimento sustentável. Na sequência deste apelo têm-se também como visão tornar a sustentabilidade uma “marca registada” tanto do Espaço Europeu da Investigação como do Espaço Europeu da Educação.

1993 Carta das Universidades para o Desenvolvimento Sustentável

É lançada esta carta pelo programa COPERNICUS, que desenvolve a sua própria estratégia de acção para a preservação do ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável.

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ANO ORGANIZAÇÃO DESCRIÇÃO

1994 Carta das Universidades para o Desenvolvimento Sustentável Encontro Campus Earth Summit

A carta éassinada por 196 universidades, entre as quais a Universidade Nova de Lisboa. Estabelece 10 princípios de ação para a preservação do ambiente e para a promoção do desenvolvimento sustentável. Atualmente a Carta das Universidades para o Desenvolvimento Sustentável encontra-se subscrita por mais de 320 estabelecimentos de ensino superior em 38 países.

Primeiro encontro na Universidade de Yale (EUA) que reuniu mais de 500 estudantes, membros de faculdades e administradores de 120 universidades americanas e de 29 universidades internacionais. A finalidade deste encontro foi discutir e partilhar informações sobre as formas de redesenhar espaços de educação e as práticas ambientais dos campi. Deste encontro resultou o Campus Blueprint for a Sustainable Future, um documento onde surgem recomendações para as ações a promover pelos campi. Neste documento reforça-se a ideia da necessidade de promover o uso do campus como um laboratório experimental e como modelo de desenvolvimento sustentável para as comunidades exteriores ao

campus, servindo assim de exemplo de boas práticas e comportamentos ambientais.

1999

Processo de Bolonha COPERNICUS-

CAMPUS

Política educativa criada com o objetivo de definir um conjunto de etapas e passos a dar pelos sistemas de ensino superior da europa de modo a construir um espaço global equilibrado e harmonioso.

Programa criado como uma continuação do COPERNICUS, cujo objetivo era concluir o que as universidades podem fazer para ajudar a sociedade a ser desafiada a alcançar o desenvolvimento sustentável. A Universidade Nova de Lisboa integra esta rede.

2002 Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável - Joanesburgo

Balanço sobre os primeiros 10 anos após a elaboração e implementação da Agenda21 criada na Cimeira Mundial do Desenvolvimento Sustentável do Rio.

2005 UNESCO A UNESCO declarou a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, tendo por objetivo promover a integração dos princípios, valores e práticas do desenvolvimento sustentável em todos os aspetos da educação e do ensino.

2012 Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável – Rio de Janeiro (Rio+20)

Após 20 anos, no mesmo local, definiu-se mais uma Agenda do Desenvolvimento Sustentável para as próximas décadas. Foi também feita uma avaliação do progresso e lacunas em todas as decisões adotadas para ser possível cumprir a missão do desenvolvimento sustentável.

Como se pode observar na tabela 1 ao longo dos anos o setor do ensino superior tem vindo a ganhar maior consciência dos problemas ambientais globais, realizando e promovendo conferências e acordos que conferiram responsabilidade acrescida na aproximação à gestão ambiental sendo esta baseada numa obrigação moral. Talvez o que todas estas declarações e políticas têm em comum e as une seja a responsabilidade ética e moral que as universidades precisam de ter para se tornarem líderes na promoção da sustentabilidade (Wright, 2002). Esta preocupação não se remete a um número restrito de países ou a uma região, abrange uma escala global, tendo sido um alvo de maior atenção na Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América. A adesão a planos de gestão ambiental não se deve apenas ao crescimento que o movimento ambiental tem vindo a alcançar, mas deve-se também a fatores económicos (a redução de custos é significante) e a outros fatores tais

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como a melhoria nas relações públicas, no recrutamento de estudantes e ainda nas conformidades legais (Simkins e Nolan, 2004).

Na figura 30, pode-se observar que as medidas a tomar para obter campi mais sustentáveis acabam por trazer benefícios não só para o bom funcionamento da instituição enquanto um bom gestor de desempenho ambiental, mas também para muitos outros setores.

Figura 30 – Elementos para a gestão de um campus Disponível em: Heijer (2011, pg.213)

Porém cada universidade tem o seu modo de implementação de gestão ambiental, pois há pontos de vista diferentes no que toca à forma de como atingir uma gestão eficaz, acabando umas por serem melhores sucedidas em relação a outras. Todas estas iniciativas têm por base metas ambientais e integram a sustentabilidade no modelo de gestão universitária, apesar de apresentarem variadas interpretações de acordo com o tipo de indivíduos que estiver na tomada de decisões (Lourdel, et al., 2005).

Existem instituições que são da opinião de que será apenas necessário elaborar um plano diretor ou um relatório ambiental para que se proceda a uma correta gestão ambiental (Velazquez, et al., 2006), enquanto outras acreditam que encontraram o verdadeiro desafio da implementação da sustentabilidade por terem assinado as declarações nacionais e internacionais, sem ter mais nada que acrescentar ao programa de implementação da gestão ambiental (Wright, 2002). Porém, existem instituições que “criam políticas

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institucionais individuais e adotam o programa ISO 14001, a iniciativa Edifício Verde, o EMAS (Eco-management and Audit Scheme), a Gestão Ambiental, EIA de projectos (Environmental Impact Assessment of Projects), Protecção Ambiental, entre outros, como um meio de alcançar a sustentabilidade do campus.” (Alshuwaikhat e Abubakar, 2008: pg.2) implementando sistemas de gestão ambiental.