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1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

1.9 O ADVENTISMO NA AMÉRICA DO SUL E NO BRASIL

Nas duas décadas finais do século XIX, a América do Sul vivia um momento de mudança, sobretudo nos países do cone sul – Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Com a conquista da independência há algumas décadas, certas dessas nações se dirigiam à implantação de repúblicas nacionais. Nesse sentido, a entrada do protestantismo no continente era vista por políticos liberais como um condutor para a modernização, desligamento com a monarquia e separação entre Igreja e Estado. ―Além dos ventos políticos favoráveis, o adventismo pegou carona nos navios que trouxeram literatura missionária e imigrantes europeus. Esses dois fatores são fundamentais para se entender a inserção da nova fé em terras até então predominantemente católicas.‖ (LIMA, 2013b, p. 28). Comunidades alemãs foram os primeiros locais em que o adventismo se instalou no continente sul-americano (SCHÜNEMANN, 2003, p. 29).

Mesmo com alguns missionários que trabalhavam em tempo integral na região, ainda era muito pouco para expandir a mensagem adventista em ―um continente gigantesco com geografia desafiadora‖, ao se pensar na Amazônia e na cordilheira dos Andes. Dar suporte espiritual aos novos conversos era difícil. Nesse sentido, a estratégia adotada foi a realização de reuniões gerais, conhecidas como campais.

A prática, uma herança milerita, era a oportunidade de ajuntar as poucas centenas de adventistas, oferecer orientação sobre saúde e educação, distribuir literatura e criar o senso de unidade numa Igreja que ainda engatinhava. O passo seguinte, e natural, foi a institucionalização, com a organização das primeiras associações, escolas e

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Os primórdios do adventismo em oito países da América do Sul – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai – podem ser acessados na monumental obra de Greenleaf (2011). Versão em inglês disponível em: <http://documents.adventistarchives.org/Books/ALOH2011.pdf>.

editoras. Em 1902, por exemplo, foi criada a Associação Brasileira, com 15 congregações e 860 membros. (LIMA, 2013b, p. 29).

O trabalho missionário por meio de publicações foi essencial para o estabelecimento do adventismo na América do Sul. ―Antes que qualquer colportor ou pastor chegasse a estas terras, livros, revistas e folhetos desempenharam seu papel.‖ (BORGES, 2013, p. 8).

Os primeiros missionários de sustento próprio a trabalhar no continente sul-americano foram Elwin W. Snyder, C. A. Nowlen e Albert B. Stauffer. Eles chegaram ao Uruguai em 10 de dezembro de 1891. Apenas 21 anos após a IASD ter sido formalmente organizada, a América do Sul recebeu pela primeira vez um pastor adventista. Ordenado em 1883, nos Estados Unidos, Frank Westphal chegou ao continente sul-americano em 1884, junto com sua esposa e o cunhado Willian Henry Thurston (BORGES, 2013, p. 8).

Depois de cinco meses passados no Brasil em 1885, Westphal rumou para a Argentina. Lá, ele organizou a primeira IASD da América do Sul, em 9 de setembro de 1894; foi a Igreja de Crespo, com 36 membros. Duas semanas depois ele estabeleceu uma Igreja Adventista em San Cristóbal, Santa Fé, com dez membros. A terceira Igreja argentina e sul- americana foi formada em Buenos Aires, no início de fevereiro de 1895 e contava com 12 membros. Westphal retornou ao Brasil no mês seguinte e, em abril, conduziu os primeiros batismos em terras brasileiras. Em 15 de junho ele organizou a primeira Igreja Adventista do país, em Gaspar Alto, Santa Catarina (BORGES, 2013, p. 9-10).

Em fevereiro de 1916, em La Plata, Argentina, foi organizada a Divisão Sul- Americana (DSA) da IASD. O território compreendido pela instância administrativa continha 4.903 membros e 88 igrejas. Quando da mudança da sede da DSA para Brasília, em 1976, a Igreja no sul da América continha mais de 700 mil membros em 2.137 igrejas organizadas e 5.556 grupos. A DSA – formada por oito países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai – possuiu três sedes administrativas: Buenos Aires, na Argentina (1916-1952); Montevidéu, Uruguai (1952-1975); e Brasília, Brasil, a partir de 1976.

Em 31 de dezembro de 1985, a DSA ultrapassou em membros a Divisão Norte- Americana, ocupando então o segundo lugar entre as Divisões do mundo, quanto ao número de membros. Tinha então 697.486 membros, ficando atrás apenas da Divisão Interamericana, que tinha 889.893 membros. (BORGES, 2013, p. 11).

Dados de agosto de 2014 da secretaria da DSA mostram que existem na região 2.300.823 membros; 56,4% mulheres e 43,6% homens. Os números do sul da América indicam uma Igreja jovem, em que 34,6% dos membros possuem até 25 anos. Do total geral,

19,2% conheceram a IASD por meio de algum familiar. ―São os chamados ‗adventista de berço‘, que desde bebês já tinham contato com a liturgia e programas‖ da Igreja. Quanto à localização majoritária dos adventistas da região,

há duas cidades sul-americanas com uma população adventista fora do comum. Libertador San Martín, na Argentina, tem 5.273 habitantes sendo 3.044 adventistas, ou seja, lá a cada 10 habitantes pelo menos 5,8 se dizem adventistas. Fenômeno semelhante ocorre em Engenheiro Coelho, interior de São Paulo. Naquela cidade, os registros informam que há 8.033 habitantes e 3.060 adventistas. Isso dá 4 adventistas para cada 10 habitantes. As cinco cidades sul-americanas com maior número bruto de adventistas (não proporcional ao número de habitantes) são: São Paulo (71.801 adventistas), Lima – Peru (53.445 adventistas), Manaus (41.058 adventistas), Salvador (27.208 adventistas) e Santiago – Chile (21.116 adventistas). (AGÊNCIA SUL-AMERICANA DE NOTÍCIAS, 2014a).

Em relação ao tamanho dos templos adventistas, os indicadores apontam que ―a Igreja Adventista possui, em sua maioria, congregações pequenas e médias e não grandes. 18.076 congregações possuem até 100 membros, somente 47 têm entre 1.001 e 2000 membros e um [grupo] de 12 congregações adventistas ultrapassam os 2 mil membros.‖ (AGÊNCIA SUL- AMERICANA DE NOTÍCIAS, 2014a).57

O Vale do Itajaí-Mirim foi o berço do adventismo no Brasil, declara Borges58 (2001, p. 14). No ano de 1884, a mensagem adventista chega ao país (BORGES, 2001, p. 34). A Colônia de Brusque, no Itajaí-Mirim, lugar dos primórdios do adventismo no Brasil, foi fundada em 1860, em Santa Catarina. Ali se estabeleceram imigrantes oriundos da Alemanha – de Baden, Holstein, Oldenburg e Prússia. Depois, chegaram colonos italianos e poloneses (BORGES, 2001, p. 35).

A Vila de Brusque (BORGES, 2001, p. 42), exemplifica a comunidade camponesa do Vale do Itajaí-Mirim, no fim do século XIX. Ela se constitui de um aglomerado semiurbano em uma área colonial. Difere e muito das aldeias alemãs do século XIX, mas conservava um forte laço de coesão social que reunia as propriedades individuais em um grupo territorial delimitado, a colônia. Nesse espaço, as interações sociais e econômicas davam-se nas vendas, estabelecimentos comerciais que ocupavam posição de destaque pois, para além do comércio, eram pontos de encontro entre vizinhos, onde se desdobrava a vida social ampla, a venda e

57 Outros dados podem ser acessados em: <http://noticias.adventistas.org/pt/noticia/institucional/dados-revelam-

perfil-dos-adventistas-na-america-sul/>. Mais informações sobre constam no anexo C e estão disponíveis em: <http://adventistas.org.s3.amazonaws.com/pt/InfograficodadosdaIgreja_site.pdf>.

58 Sobre A chegada do adventismo ao Brasil, seu autor, o jornalista e teólogo Michelson Borges confessa que, na construção da obra: ―Embora tenha procurado ser imparcial ao narrar os eventos [...], admito que exalto com apaixonado entusiasmo a obra e os feitos realizados pelos pioneiros do movimento adventista. O leitor saberá compreender que o livro foi escrito por alguém que pertence ao movimento e defende sua filosofia e, por isso mesmo, não pretende divorciar-se de seus valores para atingir uma possível perspectiva neutra.‖ (2001, p. 16).

troca de mercadorias e a entrega de correspondências. Na Vila de Brusque, no armazém que pertencia a Davi Hort, comerciante vindo da Alemanha, no início de 1884,59 a mensagem adventista alcançaria pessoas no Brasil pela primeira vez (BORGES, 2001, p. 43).

A mensagem adventista chega de maneira inusitada ao país (BORGES, 2001, p. 43). Tudo começa com uma briga de rua. Um dos ―brigões‖, um jovem de sobrenome Borchardt, que levava vantagem sobre seu oponente, desfere um forte soco no rosto do adversário que fica imóvel no chão. Os que acompanham a cena se aproximam e um deles comenta que o indivíduo caído parecia morto. Borchardt foge para a casa do padrasto Carlos Dreefke, por um atalho. Depois de percorrer cerca de cinco quilômetros, chega ao local e, sem conseguir falar com ninguém, pega alguns mantimentos e roupas para dirigir-se ao porto de Itajaí, que distava 40 quilômetros.

Borchardt usa a estrada aberta pelos arrastadores de madeira para chegar ao Vale de Itajaí. Dias depois, após passar por montanhas e dormir na mata, chega ao destino exausto e faminto. No porto, descobre que um navio partiria para a Alemanha. Sem demora, entra escondido na embarcação, entre as cargas. Durante a viagem, o capitão encontra o jovem adormecido ao lado de algumas caixas. Depois de alimentado, Borchardt conta sua situação e o comandante do navio, sem alternativa, obriga-o a trabalhar para pagar a passagem.

Perto do fim da viagem, dois senhores simpáticos e bem vestidos abordam Borchardt, e perguntam, em alemão, se ele partiu do Brasil.60 O jovem, com receio, afirma que vinha da província de Santa Catarina. Os senhores se apresentam como missionários adventistas e perguntam-lhe se havia algum crente protestante na região. Borchardt diz que seu padrasto era luterano. Após, os missionários pedem o endereço do referido, com o interesse de enviar literatura religiosa para o Brasil. Alguns meses depois, num carregamento para Brusque de uma pequena embarcação que vinha de Itajaí, entre caixas com utensílios para agricultura e correspondência para a administração local, havia um pequeno pacote endereçado a Carlos Dreefke, com selo de Battle Creek, Michigan, Estados Unidos.

A ‗encomenda‘ foi direcionada para a venda de Davi Hort, endereçada a Carlos Dreefke, que se encontrava na vila naquele dia. Hort envia um garoto para procurá-lo. Além de Hort e seu filho, mais oito homens estavam na casa e aguardavam, ansiosos, descobrir o

59Informação obtida em Reseña de loscomienzos de la obra em Sudamerica, de E. H. Meyers, secretário do departamento de Publicações da Divisão Sul-Americana da IASD entre 1923 e 1927. Borges diz que fontes posteriores a Meyers indicam o ano de 1879 como a data da vinda de literatura adventista ao Brasil. Como Meyers conversou diretamente com os pioneiros e registrou os dados obtidos em livro, formou assim uma fonte primária de informações. Por isso, credita-se ao ano de 1884 o marco de chegada de material adventista ao país. 60

Alguns detalhes da chegada do adventismo ao Brasil, aludidos aqui com base na obra de Borges (2000), são questionados/contrapostos por Greenleaf (2011, p. 24-25); principalmente, os que tratam do lugar e diálogo dos missionários com Borchardt.

que continha o pacote. Dreefke chega à venda e lhe informam da encomenda. Reluta em abrir a mesma, pois temia ter que pagar algum valor por ela. Encorajado pelos demais – e pelo selo postal já estar pago – Dreefke abre o embrulho e encontra no mesmo dez revistas com a inscrição de capa Stimme der Wahrheit (A voz da verdade), para decepção de todos. O colono indagava sobre quem lhe teria enviado as publicações e sabia de seu nome e endereço. Dreefke pegou uma revista para si e distribuiu as outras para os homens que ali estavam. Assim chegaram as primeiras publicações adventistas ao Brasil (BORGES, 2001, p. 52-54).

Timm expressa dúvidas referentes às informações disponíveis sobre a chegada do adventismo ao Brasil. Segundo ele, autores adventistas tendem a dizer que o primeiro grupo de integrantes da Igreja no Brasil apareceu no país em efeito da leitura de exemplares do periódico alemão Stimme der Wahrheit – que começou a ser publicado em 1879, enviado dos Estados Unidos ao porto de Itajaí, Santa Catarina. Acredita-se, diz Timm, desde a década de 1950, que um pacote com exemplares do Stimme tenha chegado ao porto da cidade catarinense ainda em 1879. Outras fontes indicam que os primeiros exemplares chegaram ao país apenas em 1884 (2005b, p. 13).

Existem evidências de que antes da chegada, em 1884, do primeiro pacote de literatura adventista ao porto de Itajaí, já se haviam estabelecido em terras brasileiras famílias de imigrantes europeus que aceitaram a mensagem adventista e foram batizadas na Igreja Adventista do Sétimo Dia na Europa, antes mesmo de virem para o Brasil. O padre Victor Vicenzi, em sua História de Rio dos Cedros (1975), fala de imigrantes russo-alemães adventistas que chegaram em 1880 a Rio Cunha, povoado próximo a Rio dos Cedros, Santa Catarina. (TIMM, 2005b, p. 13).

No exposto por Borges, dez famílias se interessaram pelas publicações adventistas e continuaram com o pedido de literatura por meio do nome de Carlos Dreefke, o qual, com temor de em algum momento ter que pagar todas as revistas que lhes foram enviadas, cancelou as encomendas futuras. Um polonês de nome Chikiwidowski se responsabilizou pelos pedidos, mas por pouco tempo. Depois, Frederich Dressler entra em cena. Filho de pastor luterano na Alemanha, Dressler foi expulso do país natal por ser alcoólatra. No Brasil, chegou a trabalhar como professor, mas todo seu dinheiro era gasto em bebida. Quando ele descobriu que as revistas adventistas eram enviadas de graça, resolveu fazer um pedido, com a intenção de vender o material para sustentar o alcoolismo.

Revistas com diversos títulos chegaram; com elas, alguns livros, entre eles o

Gedanken Über das Buch Daniel (Comentário sobre o livro de Daniel), que conduziu

Guilherme Belz a se tornar, anos mais tarde, o primeiro no Brasil a reconhecer o sábado como dia de descanso por influência da literatura adventista (BORGES, 2001, p. 57).

De volta a Dressler, Borges explica (2001, p. 58) a importância que ele teve para a propagação da mensagem adventista em Brusque:

Em certas ocasiões, enquanto Dressler caminhava pelas ruas em busca de compradores, os folhetos caíam-lhe das mãos trêmulas. Como não havia muito papel espalhado pelo chão naquela época, as pessoas, curiosas, apanhavam os folhetos e os liam. Sem saber, Dressler prestou grande contribuição à causa adventista que ensaiava seus primeiros passos em terras brasileiras. A Sociedade Internacional de Tratados dos Estados Unidos enviou centenas de dólares em literatura, que Dressler transformou em cachaça. Na venda de Davi Hort, Dressler trocava as revistas e folhetos diretamente por bebida. [...] Davi as usava como papel de embrulho. E foi dessa forma que a mensagem adventista conseguiu se espalhar mais e mais [...].

Guilherme Belz foi um dos que conheceram a mensagem adventista por meio dos folhetos dispersos de Dressler. Guilherme, nascido na Pomerânia, Alemanha, em 1835, veio para o Brasil e se estabeleceu na região hoje conhecida como Gaspar Alto, a 18 quilômetros de Brusque, Santa Catarina. Num dia, depois de voltar das compras na Vila de Brusque, encontrou uma mercadoria embrulhada em um papel com um texto escrito em alemão. A leitura do fragmento o deixou pensativo, até que, ao visitar seu irmão Carl, descobriu que este comprara de Dressler um livro – Gedanken Über das Buch Daniel, de Urias Smith – que tratava, dentre outras coisas, do mesmo tema do folheto (BORGES, 2001, p. 59).

Depois de estudar o assunto do sábado contido no livro, Guilherme, com então 54 anos, começou a observar o sétimo dia como dia de descanso. Ele, a esposa e os filhos mais novos Guilherme, Elfride e Augusta, ‗guardaram‘ o primeiro sábado de suas vidas em 1890 (BORGES, 2001, p. 61). O casal Augusto e Johanna Olm foram um dos próximos a observar o sábado na região. Augusto se tornou, posteriormente, o primeiro ancião de Igreja adventista no Brasil (BORGES, 2001, p. 64-66).

Guilherme Belz, junto com Augusto Olm e Frederico Schirmer passaram a se reunir aos sábados para orar e estudar a Bíblia. Pouco depois, as famílias Look e Thrun, da Vila de Brusque, também se juntaram aos sábados para realizar cultos (BORGES, 2001, p. 69), em um grupo que somava 22 pessoas (OLIVEIRA FILHO, 2004, p. 171). Perseguidos por luteranos e outras pessoas que não tinham nenhuma filiação religiosa, se mudaram para Gaspar Alto. ―Nas ruas, os adventistas eram vistos como ‗pessoas estranhas‘, membros de uma ‗nova seita misteriosa‘.‖ (BORGES, 2001, p. 69).

O primeiro colportor – além de primeiro adventista batizado – a pisar no Brasil, por designação da Associação Geral, foi Albert B. Stauffer, em maio de 1893. Stauffer chegou ao país pela região sul, depois de trabalhar por dois anos no Uruguai e na Argentina, país onde a obra adventista iniciou na América do Sul (BORGES, 2001, p. 73).

O pastor Frank Henry Westphal foi o primeiro ministro adventista enviado a trabalho para a América do Sul. Ele embarcou para o Brasil em fevereiro de 1895 (BORGES, 2001, p. 81-83). Junto com Stauffer, o pastor se deslocou para São Paulo, para batizar os primeiros conversos naquele estado. Foram a Piracicaba e realizaram o primeiro batismo de um adventista no país de um homem que já tinha até mesmo traduzido o Caminho a Cristo de Ellen G. White para o português. Era o professor Guilherme Stein Jr., batizado no Rio Piracicaba em uma manhã de abril de 1895 (BORGES, 2001, p. 84; TIMM, 2005a, p. 12).

Os conversos de Brusque ouviram pela primeira vez a pregação de um ministro adventista em junho de 1895. Em oito de junho de 1895, precisamente, foi realizado o primeiro batismo de adventistas no Rio Itajaí-Mirim, distante uns cinco ou seis quilômetros acima da Vila de Brusque; foram registrados: o casal Ludwig e Henriette Look, Carlos Look Filho e Ida Look, o casal Karl e Hulda Thrun e os filhos Hermann, Gustav e Isidor Thrun. Após três dias, o pastor Westphal conduziu o segundo batismo em Gaspar Alto. Foram mais 14 pessoas: o casal Guilherme e Johanna Belz, Francisco e Gerthrud Belz, Anna Wagner, o casal Augusto e Johanna Olm, Margarete Olm, Ricardo Olm e suas irmãs Martha e Clara Olm, Hermann e Emill Olm e o colportor Albert Bachmeyer que, embora no trabalho missionário adventista, não era batizado até o momento (BORGES, 2001, p. 88).

Ainda em junho de 1895, às margens do Itajaí-Mirim, em bancos de madeira, o pastor Westphal formou o primeiro grupo organizado de adventistas do sétimo dia do Brasil. Augusto Olm foi escolhido como primeiro-ancião e Guilherme Belz como diácono. Os cultos eram realizados alternadamente na casa dessas duas famílias até a inauguração do primeiro templo, de madeira, de Gaspar Alto, em 23 de março de 1896 (BORGES, 2001, p. 90).61

Discussões existem se a primeira congregação adventista organizada como ―Igreja‖ no Brasil estava localizada na cidade do Rio de Janeiro; em Gaspar Alto, Santa Catarina; ou em Santa Maria do Jetibá, Espírito Santo. Seja como for, as evidências históricas comprovam que, em dezembro de 1895, já existiam no Brasil três igrejas organizadas, além de outros grupos de adventistas. Como mencionado acima, a primeira Igreja adventista no Brasil (a de Gaspar Alto) foi organizada em Brusque,

61 Com relação aos debates sobre as três primeiras igrejas adventistas fundadas no Brasil, o pastor adventista catarinense Edgar Link, que estuda a história do adventismo no Brasil em um seminário teológico da denominação localizado em Friedensau, na Alemanha, em entrevista a Fabiana Bertotti, atesta que: ―O relatório dado pelo pastor Frank Westphal diz que ele fundou a primeira Igreja em Brusque, hoje Gaspar Alto, Santa Catarina. Lá, ele batizou 23 pessoas. Meses depois, o colportor Buckmeyer registrou o mesmo fato em relatórios encontrados aqui na Alemanha. São evidências claras e incontestáveis. A polêmica se deu por conta de um relatório do pastor Graf falando da primeira Igreja que ele organizou no país, em Santa Leopoldina, hoje conhecida como Santa Maria do Jetibá, Espírito Santo. Mas, quando os documentos são analisados, é possível entender que o pastor Graf se refere à primeira Igreja que ele organizou, e não à primeira Igreja organizada no Brasil. Quando ele cita Gaspar Alto, menciona a congregação que ele reorganizou (houve algum problema ali), mas que já havia sido fundada por Westphal. Quando Graf chegou a Santa Catarina, a Igreja já tinha ancião, diácono e tudo o mais.‖ (BERTOTTI, 2013, p. 27).

Santa Catarina, no dia 15 de junho daquele ano; e a segunda, no Rio de Janeiro, em 27 de outubro. A terceira Igreja adventista foi organizada em Santa Maria do Jetibá, Espírito Santo, em 14 de dezembro. (TIMM, 2005a, p. 12-13).

Em 14 de dezembro de 1895 fora realizado o primeiro batismo adventista no estado do Espírito Santo. O pastor Huldreich Graf batizou 23 pessoas. No mesmo dia a Igreja de Santa Maria foi organizada e Germano Radünz eleito ancião e Carlos Westphal, diácono (BORGES, 2001, p. 97). Para Borges, em Minas Gerais, organizou-se a terceira Igreja Adventista do Brasil, a de São Jacinto que, assim como as anteriores, iniciou em um núcleo de imigrantes alemães enraizados na região por volta da metade do século XIX. Os colportores Frederico e Alberto Berger evangelizaram a localidade de alemães da região de Teófilo Otoni após passarem por colônias alemãs em Santa Catarina e Espírito Santo, percurso iniciado em 6 de agosto de 1894. Por volta de 1898, foi erguido o primeiro templo no local. Em 1899, a Igreja foi organizada (BORGES, 2001, p. 101-104).

De 1884 a 1900, atenta Borges (2001, p. 105), a pregação adventista se circunscreveu às colônias alemãs do sul do Brasil, de São Paulo, Espírito Santo e Teófilo Otoni, no Vale do

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