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A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA HOJE E SEUS DILEMAS IDENTITÁRIOS

1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

1.10 A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA HOJE E SEUS DILEMAS IDENTITÁRIOS

Os adventistas mantêm as mesmas crenças fundamentais em todos os países em que a Igreja se faz presente no globo. ―Os adventistas do sétimo dia são um grupo mundial de cristãos.‖ (SEAMAN, 2011, p. 25). Dentre as práticas cotidianas adotadas pelos membros da IASD estão a leitura/estudo detalhada/o da Bíblia e a prática da oração (SEAMAN, 2011, p. 26). No que diz respeito ao diálogo inter-religioso, a ação proselitista adventista pouco dialoga com outras vertentes cristãs (CARVALHO, 2011a, p. 154), visto que

a IASD compreende que possui uma mensagem para pregar a toda nação, tribo, língua e povo [...]; que um convite é feito para que as pessoas abandonem o falso sistema de adoração [...] e se unam ao remanescente [...]. Assim, para a IASD, [o] proselitismo (no sentido missiológico-cognitivo) constitui uma questão ontológica, a razão de ser. (AGUIAR, 2012, p. 31).

Portanto, para a IASD, participar efetivamente do diálogo inter-religioso corresponde a negar sua razão de existência (AGUIAR, 2012, p. 33). Não obstante, na esfera missionária interpessoal, ―entre os membros há um significativo investimento no proselitismo, inclusive com casos de pessoas que se mudam para outros bairros ou cidades com objetivo de iniciar novas comunidades adventistas.‖ (FONSECA, 2008, p. 95). Na sua atuação proselitista, o ―ascetismo adventista configura-se, assim, como atividade cujo teor ‗energético‘ é dado pela ‗urgência da proclamação‘.‖ (OLIVEIRA FILHO, 2004, p. 174).

No tocante às dissidências organizacionais históricas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, surgiram denominações como a Igreja Adventista da Reforma e a Igreja Adventista da Promessa, mediante divergências internas e fanatismo de certos líderes que, por exemplo, se recusam a ingerir qualquer medicamento ou são vegetarianos estritos, mesmo em casos de contraindicação médica. Além delas, outra dissensão, no século XIX, culminou nos

Estudantes Internacionais da Bíblia. O líder das Testemunhas de Jeová – cujo nome foi adotado nos anos 1930 –, Charles Russel, foi adventista. Ele rompeu com a IASD por conta de sua crença antitrinitariana. Os primeiros adventistas originários de outras denominações também descriam na doutrina da Trindade e, mesmo hoje, há um grupo, chamado de adventistas bereanos, que consideram o trinitarianismo como uma crença herética legada pelo catolicismo romano (DARIUS, 2009, p. 64-65).

Muitos adventistas optam pelo vegetarianismo por entender que os alimentos mais saudáveis são os oferecidos pela natureza e se abstêm, basicamente, de drogas, álcool, fumo e café. ―Estudos65

demonstram que essas práticas [...] dietéticas fazem os adventistas do sétimo dia viveram até sete anos a mais que a média da população.‖ (SEAMAN, 2011, p. 27). As igrejas adventistas ao redor do mundo, mesmo que mantenham um conjunto de crenças unitário, variam no estilo de adoração, música, programação, tamanhos dos templos e número de membros (SEAMAN, 2011, p. 30).

No tocante às finanças, os pastores não recebem seus salários das igrejas locais, mas de instâncias administrativas regionais da Igreja, as quais tanto podem possuir jurisdição sobre todo um estado – unidade federativa – ou parte dele. Ainda, há um teto salarial igualitário para todos os pastores locais, quer eles administrem templos com poucos ou com muitos membros (SEAMAN, 2011, p. 32). A Igreja Adventista conta com mais de 17 mil pastores e 232 mil funcionários (LIMA, 2013a, p. 13).

A IASD adota a seguinte estrutura hierárquica: a Igreja local – que tanto pode ser chamado de grupo, tipo de congregação em que os(as) líderes espirituais não têm autonomia para desempenhar certas funções eclesiásticas e administrativas; ou Igreja, em que, na ausência do pastor local/distrital, os(as) líderes espirituais, com a devida permissão da Associação/Missão local, possuem autonomia para realizar específicos atos eclesiásticos e administrativos – , que se divide em uma série de departamentos, liderados por membros da Igreja local, escolhidos por votação pela Comissão da Igreja,66 a qual também tem seus integrantes eleitos por todos os membros batizados da congregação. As comissões das igrejas escolhem, nas suas congregações, representantes que se reúnem para escolher os líderes das Associações – ou Missões67 – locais. Essa instância, ao menos no Brasil, engloba territórios

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Ver, por exemplo, o programa SBT Realidade, exibido em 23 de janeiro de 2008, que trata sobre o viver saudável dos adventistas de Loma Linda, Califórnia, Estados Unidos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=2PYfrvaQ36w>.

66 A normatização de todos os processos de eleição no âmbito das igrejas locais está descrito no Manual da

Igreja (2011), bem como todos os cargos a serem preenchidos nessas congregações.

67 As Missões são regiões administrativas que não possuem suficiência financeira e que necessitam de recursos

que abrangem, em seu máximo, um estado. As associações (SEAMAN, 2011, p. 33), administram e disponibilizam recursos que afetam diretamente cada membro da Igreja. As associações se agrupam, do mesmo modo como as igrejas locais, para formarem as uniões, com alcance de regiões geográficas específicas que aglutinam, no caso brasileiro, dois a três estados e que, em outras localidades do globo, podem abranger todo um país – a IASD conta hoje com 122 uniões e mais de 500 associações e missões (WILSON, 2014c, p. 9). A mesma lógica funciona para as instâncias superiores (SEAMAN, 2011, p. 34). As uniões formam as divisões. No mundo, são 13. Todas as divisões são representadas pela Associação Geral, que coordena a Igreja Adventista no mundo.

FIGURA 1 – ORGANOGRAMA ORGANIZACIONAL DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Fonte: WILSON, 2014b, p. 9.

Os adventistas creditam sua organização e atividades como fundamentadas em princípios e conselhos bíblicos e no Espírito de Profecia, através de Ellen G. White (WILSON, 2014a, p. 8) e adotam a forma representativa de governo (WILSON, 2014a, p. 9):

Em cada nível constituinte, o processo seleciona delegados que representam seu grupo. Em nível de Igreja local, temos a comissão de nomeações. A Igreja local vota aceitar ou não os nomes trazidos por essa comissão. Em nível local também temos a Comissão da Igreja, onde o pastor e oficiais da Igreja eleitos discutem itens

pertinentes à sua Igreja local. Além disso, há reuniões sobre negócios da Igreja onde todos os membros podem participar. Em nível de Associação e União temos reuniões por distrito, onde os delegados se reúnem para discutir e votar itens pertinentes ao avanço da missão da Igreja em suas áreas. Em nível de Associação Geral (AG), temos a assembleia da AG a cada cinco anos, onde mais de 2.500 delegados de todo o mundo se reúnem para discutir e votar itens pertinentes à Igreja mundial. Entre as assembleias da AG, sua Comissão Executiva se reúne em concílios anuais para tratar os negócios da Igreja mundial. Mais de 300 representantes de todas as 13 divisões e dos campos anexos fazem parte dessa comissão. Esses membros representam todos os grupos da Igreja: mulheres, homens, jovens, membros leigos, pastores locais, professores e outros obreiros. A maioria é eleita e recomendada pela comissão executiva de sua Divisão. Todos os líderes de Divisão, presidentes de União, oficiais e diretores de departamentos da AG participam dessa comissão.

No campo social, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), presente em cerca de 120 países (LIMA, 2013a, p. 13; SEAMAN, 2011, p. 39), atua em áreas carentes, situações de assistência emergenciais, desastres naturais, educação, programas alimentares, saúde e projetos hídricos e ―ajuda pessoas e comunidades a suprir as necessidades básicas da vida, capacitando-as a tornar-se mais independentes economicamente.‖ (KNIGHT, 2000, p. 151). A Agência atende mais de 20 milhões de pessoas por meio de 1,5 mil projetos humanitários, nos quais investe 264 milhões de dólares por ano (LIMA, 2013a, p. 13). A ADRA, mesmo financiada pela IASD, não faz proselitismo, e a participação ou adesão à Igreja não são requisitos para ser beneficiário dos projetos da entidade (MOURA, 2010, p. 32).

Na área da educação, a IASD enfatiza uma formação integral, ao estimular os aspectos físico, mental e espiritual. Por hora, a Igreja possui uma das maiores redes educacionais de escolas confessionais do mundo, segundo dados de 2010 (SEAMAN, 2011, p. 39). Atualmente, a IASD gesta 112 faculdades e universidades, mais de 1.900 escolas secundárias e cerca de 6.000 escolas primárias, que atendem cerca de 1,75 milhão de estudantes (KELLNER, 2013).68

Algumas das características da educação adventista são: uma perspectiva criacionista que influencia os conteúdos transmitidos; uma educação diuturna por meio de um sistema de internatos que oportunizam trabalho manual para os estudantes; o oferecimento de uma alimentação ovolactovegetariana em suas instituições educacionais; o senso de um processo educacional pautado no desenvolvimento das dimensões físico, mental e espiritual do ser humano em uma ação harmônica (SILVA, 2006, p. 8).

68 Para Lima, ao todo, a IASD educa 1,7 milhão de alunos, de 150 países, através de mais de 77 mil professores em 7,8 mil escolas e universidades (2013a, p. 13).

A filosofia da educação adventista apresenta algumas peculiaridades que a distinguem dos demais realismos religiosos, pois que a cosmovisão que lhe orienta parte da percepção de um conflito cósmico de fundo para explicar a realidade e o problema do mal, ao mesmo tempo em que renuncia à visão dualista da realidade. Através da identificação entre educação e religião, propõe a centralidade da Bíblia no currículo escolar e, com base num método de sua interpretação gramático- histórico, defende a necessidade de uma visão criacionista para uma correta tradução das evidências da natureza. (SILVA, 2002, p. 129).

Silva (2002, p. 129) descreve também as principais contribuições da educação adventista para a educação brasileira, em específico:

é em função da distribuição geográfica de seus esforços que o sistema educacional adventista mais tem contribuído para o país, tendo em vista que a persistência [histórica da denominação através da] filosofia de instalação de internatos longe dos grandes centros urbanos, em áreas rurais, tem sido um fator de difusão da educação no Brasil, especialmente em áreas ainda não penetradas pelo sistema oficial de educação. Pode-se registrar a penetração pioneira do sistema educacional adventista, em momentos anteriores na história da educação brasileira, em regiões onde não havia nenhum tipo de serviço educacional, quer oficial quer particular, considerando-se particularmente os diversos níveis de ensino, desde o interior do próprio sul do país até a Amazônia e o interior do nordeste. Nesse particular, seguindo uma filosofia que defende um processo pedagógico diuturno junto aos estudantes, incluindo aí a educação pelo trabalho e revelando um sentido social em sua práxis, até bem pouco tempo os internatos adventistas mantinham cerca de 45% de alunos como bolsistas, os quais, oriundos das camadas mais pobres, custeavam seus estudos com seu próprio trabalho, além daqueles que eram financiados e enviados pelas paróquias aos internatos. Em última instância, esse processo também tem contribuído para a mobilidade social ascendente.

Schünemann (2009a, p. 71) problematiza o sistema escolar adventista ao considerá-lo enquanto fundamentalista – entendido como ―movimento ou visão religiosa que de certa forma faz uma leitura literal do livro sagrado e reage contra o que considera a cultura secular, buscando formar uma contracultura‖ (2009a, p. 73) – e diz que a maior rede educacional protestante no Brasil com tal perfil está mantida pela Igreja Adventista, em que o objetivo central do trabalho educacional se localiza em realizar a conversão religiosa dos alunos, cujas práticas curriculares possuem os conteúdos assentados na compreensão do grupo gestor, em uma proposta classificada de integração fé-ensino, em que as matérias, principalmente de Ciências Naturais e Humanas, são reelaboradas a partir da cosmovisão adventista. Há uma nítida rejeição das ideias de ensino tidas como humanismo escolar e pós-modernismo. Schünemann avalia que tal postura educacional com viés fundamentalista outorga ao aluno uma visão unilateral e colidente com os objetivos da educação que almeja desenvolver uma compreensão pluralista de mundo. ―Embora suas instituições – como escolas, hospitais e fábricas de alimentos – sejam bastante conhecidas em vários países, podemos afirmar que o

aspecto mais importante da IASD é sua grande ênfase em sua expansão justificada como sendo a verdadeira Igreja para os tempos do fim.‖ (2009a, p. 76).

A IASD administra, no globo, 173 hospitais e sanatórios, que tratam mais de 16 milhões de pessoas por ano, 20 fábricas/indústrias de alimentos e 14 centros de mídia (KELLNER, 2013; LIMA, 2013a, p. 13;69 NÚMEROS..., 2013, p. 30), além de abrigar crianças em 36 orfanatos (LIMA, 2013a, p. 13). Em seu programa evangelístico, para além dos pastores, instrutores bíblicos e membros, a Igreja usa de programas de rádio, transmissões de TV e o trabalho com publicações. A Rádio Adventista Mundial, por exemplo, com seu início em 1º de outubro de 1971, apresenta a mensagem adventista para cerca de 80 línguas, em mais de mil horas de programação semanal (SEAMAN, 2011, p. 40-41). Também, 62 editoras (LIMA, 2013a, p. 13) estão sob o comando da Igreja e imprimem material em 372 diferentes línguas e dialetos. Mais de 20 mil colportores70 vendem e distribuem literatura sobre as crenças adventistas, saúde, relacionamento familiar e didáticos. Numa análise da progressão de membros, a IASD, que possuía 3.500 adeptos batizados em 1863, quando da sua organização, continha em suas fileiras, em 1960, mais de um milhão de membros. Em 1980, o número ultrapassou os três milhões. Eram mais de seis milhões em 1990. No ano de 2010, a Igreja chegou a 16 milhões de crentes (NÚMEROS..., 2013, p. 30; SEAMAN, 2011, p. 41).

Em média, a cada 45 segundos um novo membro é batizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Novas igrejas estão sendo organizadas à razão de uma a cada cinco horas. A Igreja atual se faz presente de forma organizada em quase todos os países e territórios do mundo. Isso supera, de longe, qualquer outra denominação protestante. (SEAMAN, 2011, p. 41-42).

Em 2013, a IASD, ―one of the fastest-growing christian denominations in the world‖ (KELLNER, 2013), diz o editor de notícias da Adventist Review, Mark A. Kellner, contabilizou mais de 18 milhões de membros batizados, espalhados em 209 dos 232 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), o que representa uma proporção de um adventista para cada 407 habitantes. Segundo o Escritório de Arquivos, Estatísticas e Investigação (ASTR) da denominação, em 30 de setembro de 2013, encontravam-se registrados, exatamente, 18.028.796 adventistas do sétimo dia em todo o mundo. Conforme o Escritório, estima-se que entre 25 e 30 milhões de homens, mulheres e crianças frequentam semanalmente os cultos adventistas. ―The church does not baptize infants or very young

69 Lima aponta que a IASD gesta 579 hospitais e clínicas e possui 126 emissoras de rádio e TV. 70 Para Lima (2013a, p. 13), são cerca de seis mil.

children, thus the gap between attendees and baptized members.‖ (KELLNER, 2013; NÚMEROS..., 2013, p. 30).

O secretário executivo da Associação Geral dos adventistas, G. T. Ng, indicou a líderes da Igreja por meio do seu relatório no Concílio Anual de 2013 da denominação, realizado em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos, que: ―On any given day, 3.052 people join the church. Every hour 127 people are baptized. Every minute, two individuals are baptized [...]‖ (KELLNER, 2013).71

Na seara das missões cristãs globais, o centro do cristianismo transferiu-se dos Estados Unidos e da Europa, tidos como integrantes do Norte Global, para a África, Ásia e América Latina, chamado de Sul Global. Hoje, mais de dois terços dos cristãos vivem na porção sul do globo. Tal mudança demográfica se observa também na Igreja Adventista. Em 1962, no Sul Global, a IASD continha 818.716 membros – cerca de 60% do número de adventistas mundiais, estimado em 1.362.775. No ano de 2012, a mesma região passou a contar com 16.380.066 adeptos do adventismo, 92% do total dos fiéis. O Norte Global, que contava com 544.059 dos adventistas em 1962, chegou a 1.502.425 de membros em 2012, apenas 8% em números absolutos. O aumento da quantidade de membros tem relação proporcional ao de batismos. Respectivamente, em 1962, o número de batismos no norte e no sul do globo foi de 24% e 76%, respectivamente. Em 2012, os batismos no Sul Global alcançou a marca de 96% de todos os batismos do referido ano (NG, 2014, p. 16-17).

Os números apontam também um deslocamento do trabalho pastoral (NG, 2014, p. 17):

Em 1962, o Norte Global tinha 47% do total de membros da Igreja. Meio século mais tarde, a proporção foi reduzida a 13%. Em contraste, no Sul Global esse número aumentou de 53% para 87% durante o mesmo período. A mesma tendência também é refletida em relação a pastores. A porcentagem do número de pastores no Norte Global foi reduzida de 64% (5.334) em 1962 para 25% (6.708) em 2012, enquanto que no Sul Global houve um aumento de pastores de 36% (3.017) em 1962 para 75% (20.115) nesses últimos 50 anos.

No campo das missões mundiais, agora são as igrejas do Sul Global que enviam missionários ao Norte Global. Os conceitos ―país de origem‖ e ―país beneficiário‖ deixaram

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Porém, a primeira Summit on Nurture and Retention da denominação apresentou, em reunião do órgão em novembro de 2013, que nos últimos 50 anos uma em cada três pessoas que se batiza na IASD a abandona. Neste século, a proporção dos novos conversos que deixam a Igreja em relação ao que se batizam está em 43 para 100. ―Veteran Adventist Church researcher Monte Sahlin said the reasons people drop out of church often have less to do with what the church does and its doctrines than with problems people experience in their personal lives – marital conflict or unemployment, for example. What the church does that contributes to the problem, he said, is not helping people through their tough life experiences.‖ (OLIVER, 2013).

de existir. Em 1962, a IASD enviou 490 missionários de longo prazo e, grande parte deles, 443, ou 90%, provinha do Norte Global. Em 2012, a proporção de missionários da mesma região em relação ao Sul Global diminuiu de 53% a 47% (NG, 2014, p. 17).

As tendências teológicas entre norte e sul também são distintas (NG, 2014, p. 18):

O cenário teológico entre o Norte e o Sul está em forte contraste, tanto nas denominações cristãs tradicionais quanto, até mesmo, no mundo evangélico. Estudiosos do Norte Global, influenciados pela educação e cultura baseadas no Iluminismo, tendem a fazer perguntas filosóficas relativas a temas sobre a natureza de Cristo e o calvinismo versus arminianismo. Alguns grupos rejeitam os relatos bíblicos de milagres ou fazem deles alegorias. Consideram os milagres nos evangelhos como lendas e não plausíveis historicamente. [...] na Igreja Adventista, tal desrespeito ao sobrenatural das Escrituras é raro, se não inexistente. Para os cristãos do sul, debates teológicos são estranhos e irrelevantes na realidade do seu cotidiano. São conscientes de que vivem em um mundo sobrenatural e se preocupam com batalhas entre anjos e demônios. Para eles, os eventos sobrenaturais são normativos. Sonhos e visões fazem parte de sua realidade atual. Os cristãos no Sul Global valorizam os encontros com anjos e também reconhecem o vasto poder da feitiçaria e o confrontam, queimando fetiches.

Um dos mais importantes desafios apontados por Ng (2014, p. 19) ao tratar do panorama da missão mundial dos adventistas para o Sul Global está na evangelização urbana. O trabalho em comunidades rurais tem sido a conduta padrão de evangelismo. A IASD possui muitos conversos em cidades interioranas, mas poucos nas cidades centrais. Como a urbanização se apresenta como uma tendência global e mais da metade da população vive nas áreas urbanas, o Sul Global necessita dar atenção especial à missão nas grandes cidades.72

David Trim, diretor do Escritório de Arquivos, Estatísticas e Investigação da IASD, diz que a mesma cresce num contexto em que, globalmente, ocorre um decréscimo no número de fiéis de outros grupos denominacionais e de opressões políticas, perseguição religiosa e aumento do materialismo e secularismo (KELLNER, 2013).

No Brasil, segundo informações do Annual statistical report 2014 produzido pelo Escritório de Arquivos da Associação Geral dos adventistas, o qual reúne números gerais da IASD no mundo até 2013, existem 1.373.232 membros da Igreja Adventista (OFFICE OF ARCHIVES, STATISTICS, AND RESEARCH OF THE GENERAL CONFERENCE OF SEVENTH-DAY ADVENTISTS, 2014, p. 77). Por sua vez, o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou no país 1.561.071 adventistas. Para a Divisão Sul-Americana, segundo dados de outubro de 2014, o Brasil abriga 1.487.853

72 Em 2013, a Igreja Adventista iniciou um trabalho de ênfase evangelística voltado para os maiores centros urbanos do globo, que começou por Nova York. O plano prevê iniciativas de evangelismo em cerca de 650 das principais cidades do mundo. Informações adicionais da estratégia de missão urbana nas metrópoles da IASD podem ser acessadas em: <http://missiontothecities.org/>.

membros da IASD. No nordeste, estão 34% deles; no sudeste, 28%; no norte, 19%; no sul, 12%; e no centro-oeste, 7%. No estado de São Paulo vivem 15,5%, 230 mil, dos adventistas brasileiros. A Bahia possui 165 mil adventistas, o Pará 122 mil e o Maranhão 110 mil. Em Manaus, capital do Amazonas, há um adventista para cada 40 pessoas. Na cidade de Engenheiro Coelho, São Paulo, a cada 40 habitantes, 16 são adventistas. Nas capitais do país vivem 26% – 380 mil – dos adventistas brasileiros. A capital de São Paulo possui 72,5 mil adventistas, Manaus 42,5 mil, Salvador 27,5 mil, São Luís 21 mil e a capital do Rio de Janeiro 20 mil. Os maiores desafios missionários urbanos da Igreja adventista brasileira, atualmente,

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