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CARACTERÍSTICAS GENUINAMENTE ADVENTISTAS NO ADVENTISMO: FORMULAÇÃO DO CONJUNTO DE DOUTRINAS DISTINTIVAS

1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

1.3 CARACTERÍSTICAS GENUINAMENTE ADVENTISTAS NO ADVENTISMO: FORMULAÇÃO DO CONJUNTO DE DOUTRINAS DISTINTIVAS

Para o adventismo, intimamente relacionado com a mensagem milerita do 22 de outubro de 1844 e temas correlatos, está o chamado de uma jovem de 17 anos, Ellen Gould Harmon – Ellen Gould White, depois de casar em 30 de agosto de 1846 com Tiago White (DOUGLASS, 2003, p. 52). Como milhares de mileritas (KNIGHT, 2000, p. 32), ela, em novembro de 1844, passou a descrer que algo havia ocorrido em 22 de outubro. Entretanto, em dezembro do citado ano, ela relembra que ―o Espírito Santo desceu sobre mim‖. A ‗visão‘, juízo investigativo, em linhas gerais, cada caso passa perante Deus, que julga se a pessoa deve receber, ou não, a salvação eterna.

a primeira de Ellen, conhecida como ‗o clamor da meia-noite‘, tanto foi um estímulo que a fez aderir ao movimento que culminaria no surgimento da IASD como, para os adventistas, foi uma confirmação divina de que 22 de outubro se configurava como a data de um cumprimento profético. ―Os adventistas, afirmava ela, eram um povo profético.‖ (KNIGHT, 2000, p. 33). Para Douglass (2003, p. 182), o ―ministério de Ellen White e o surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia são inseparáveis. Tentar entender um sem o outro tornaria ambos ininteligíveis e inexplicáveis.‖

Ellen G. White, a princípio, tinha pouca autoridade. Ela era tida como apenas mais uma voz entre os crentes. O fanatismo carismático presente em certos setores do adventismo pós-desapontamento justifica o fato de ela não se intitular porta-voz de Deus (KNIGHT, 2000, p. 33). ―[O] dom de Ellen White não desempenhou papel preponderante no desenvolvimento [das doutrinas adventistas]‖ (KNIGHT, 2000, p. 34), que recorrem à Bíblia como autoridade na formulação de todos os pontos doutrinários do adventismo. Assim, a função da profetisa na formação doutrinária da IASD foi de confirmação de compreensões bíblicas dos adventistas. No entanto, ela desempenhou função de destaque no desenvolvimento de conceitos ligados ao estilo de vida adventista (KNIGHT, 2000, p. 35).

A necessidade colocada ante Ellen G. White era a de firmar posição e status ante um ambiente de estudiosos bíblicos dominado por homens que evitavam qualquer proximidade com aqueles que declarassem receber visões que pudessem conduzir a manifestações fanáticas. ―Todavia há de relevar que, no caso de Ellen G. White, o conteúdo das visões e as manifestações físicas que acompanhavam as revelações foram considerados como importantes condicionantes para uma possível aceitação por parte da comunidade de fé.‖ (CARVALHO, 2013, p. 126).

Quando da organização a Igreja Adventista em 1863 e da sistematização das crenças denominacionais, verifica-se a influência whiteana na confirmação e na correção de assuntos teológicos, assim como na orientação dos investimentos das finanças institucionais para a missão da Igreja (CARVALHO, 2013, p. 128).

Essa mulher não chegou a exercer cargo de liderança na hierarquia administrativa denominacional, mas, desde o início da IASD, Ellen G. White destacou-se como aquela cujos conselhos eram considerados inspirados por Deus e cujo dom especial fazia-na figurar com lugar de proeminência na denominação. Tendo sido considerada profetisa denominacional, recebeu o reconhecimento oficial anos após sua morte. (CARVALHO, 2013, p. 129).

Knight considera que o ―adventismo do sétimo dia, no seu melhor, tem sido um movimento norteado pela Bíblia‖ (2000, p. 36). Não obstante, um dos aspectos da história adventista está no fato de que alguns membros da denominação têm, frequentemente, abusado do uso do dom de Ellen G. White em detrimento à Bíblia. Em contraponto, Karlman (2014, p. 23) assegura que:

Embora seja verdade que as doutrinas que definem a Igreja Adventista, como a [...] do sábado e do santuário, foram adotadas depois de intenso estudo da Bíblia e posteriormente expressas nas visões de Ellen White, as primeiras cartas [da autora] revelam alguns casos em que suas visões também acrescentaram fundamentação bíblica e teológica. Um exemplo interessante disso são as visões recebidas entre 1844 e 1845, nas quais ela afirma claramente que os santos passarão o milênio no céu, não na Terra, como ensinavam os mileritas. No entanto, José Bates e o próprio Tiago White mantiveram ainda a crença milerita por um ano ou dois após as visões de Ellen White, até serem convencidos biblicamente.

Os primeiros adventistas que aceitaram o sábado do sétimo dia (KNIGHT, 2000, p. 36) o descobriram por meio dos batistas do sétimo dia. A batista Raquel Oakes desafiou um pregador adventista da Igreja Metodista a guardar todos os mandamentos de Deus. A partir de então, o pastor Frederick Wheeler começou a observar o sétimo dia na primavera de 1844.28 No mesmo período, membros da Igreja de Washington, em New Hampshire, passaram a respeitar o sábado bíblico. Essa se tornou a primeira congregação adventista a observar o sábado após ‗o grande desapontamento‘ (KNIGHT, 2000, p. 37).

No verão de 1844, um pregador dos batistas do livre-arbítrio que se tornara milerita chamado T. M. Preble, aceitou o sábado ao contactar a Igreja de Washington. Após o desapontamento, em 1845 ele e Wheeler passaram a publicar seus pontos de vista sobre o sábado. Em março do referido ano, José Bates, um dos três principais fundadores da IASD, teve acesso aos escritos de Preble. Bates aceitou o sábado e comunicou a Crosier, Hahn e Edson. Estes, por sua vez, falaram a Bates sobre suas descobertas a respeito do santuário

28 ―Frederick Wheeler [...] estava realizando, no início de 1844, uma cerimônia de santa ceia numa pequena Igreja em Washington, New Hampshire, num domingo de manhã. Antes de servir os emblemas, ele disse à congregação que ‗todos os que confessam comunhão com Cristo numa cerimônia como esta devem estar prontos a obedecer a Deus e guardar Seus mandamentos em todas as situações.‘ Rachel Oakes Preston, uma batista do sétimo dia, assistiu ao culto. Mais tarde, quando Wheeler a visitou em casa, ela o desafiou: – O senhor se lembra, pastor Wheeler, de ter afirmado que todos os que confessam a Cristo devem obedecer a todos os mandamentos de Deus? – Sim. – Eu estive a ponto de me levantar naquela hora e dizer uma coisa. – Percebi – Wheeler respondeu. – O que a senhora pensou em dizer? – Eu gostaria de dizer que o senhor deveria deixar de usar aquela mesa e cobri-la com uma toalha até que começasse a guardar os mandamentos de Deus. Wheeler foi pego de surpresa e perguntou o que ela queria dizer. [...] Preston falou que tinha em mente o quarto mandamento, o qual Wheeler estava violando por não guardar o sétimo dia da semana. Wheeler aceitou o desafio e foi para casa estudar o que a Bíblia ensina sobre esse dia. Algumas semanas depois estava guardando seu primeiro sábado, e, em março de 1844, pregou seu primeiro sermão sobre o assunto. Foi assim que Rachel Oakes Preston apresentou o sábado para os adventistas e que Frederick Wheeler se tornou o primeiro ministro adventista do sétimo dia.‖ (MOORE, 2013, p. 9).

celestial, que prontamente o aceitou como fundamento bíblico. Dessa forma, entre o fim de 1845 e o início de 1846, começou a se formar um pequeno grupo de adventistas em torno das crenças conjuntas do ministério de Cristo no santuário celestial e da obrigatoriedade do sábado (KNIGHT, 2000, p. 37).

Bates (KNIGHT, 2000, p. 38) apresentou também o sábado do sétimo dia para Tiago White e Ellen Gould Harmon. Esta escreveu que eles começaram a ensinar e defender o sábado bíblico no outono de 1846. Assim, os três fundadores do adventismo do sétimo dia se uniram em torno da doutrina do sábado em fins de 1846.

Talvez os primeiros adventistas a aceitar todas as três descobertas do sábado, santuário e Espírito de Profecia fossem da família de Otis Nichols. Essas pessoas [...] acolheram Ellen e sua irmã Sara em 1845 quando eram todos guardadores do domingo. Aceitaram o sábado de José Bates muitos meses antes que Ellen o fizesse. Talvez possamos [chamá-los de] os primeiros ―adventistas do sétimo dia‖. (MAXWELL, 1982, p. 90).

A imortalidade condicional da alma forma a última doutrina peculiar ao adventismo. Os mileritas chegaram ao conhecimento dela através de George Storrs. No outono de 1844, Carlos Fitch foi um dos primeiros ministros convencidos pelos ensinos de Storrs sobre o assunto. Os três fundadores do adventismo do sétimo dia aceitaram o ensino da imortalidade condicional (KNIGHT, 2000, p. 40-41).

Através de ampla investigação da Bíblia, os adventistas mileritas, no início de 1848, chegaram a um acordo básico em cinco pontos de doutrinas (KNIGHT, 2000, p. 41):29 a vinda pessoal, de modo visível e pré-milenal de Cristo; a purificação do santuário celestial e o ministério de Jesus no Lugar Santíssimo do mesmo desde 22 de outubro de 1844; a veracidade do dom de profecia que, cada vez mais, tinha sua figura moderna crida na pessoa de Ellen G. White; a obrigatoriedade da observância do sábado do sétimo dia no contexto do conflito final proferido entre os capítulos 11 e 14 de Apocalipse; e a imortalidade da alma como condição dependente da vontade humana e não inerente, recebida através da fé em Cristo.

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Knight em certos momentos relaciona que são cinco as doutrinas específicas do movimento adventista, resultante do milerismo (KNIGHT, 2000, p. 41; KNIGHT, 2000, p. 87-88; KNIGHT, 2011, p. 210), e em outros se refere a quatro (KNIGHT, 2003, p. 20-21; KNIGHT, 2011, p. 75). Schwarz e Greenleaf (2009, p. 11) apontam cinco pontos doutrinários peculiares. No caso de Knight, a manifestação do dom de profecia na pessoa de Ellen G. White forma a única crença que não consta na lista das cinco. Observa-se uma diferente forma, em alguns casos, de fazer menção a essas doutrinas básicas. A volta de Jesus pode ser referida nos termos das três mensagens angélicas, o santuário celestial como mensagens de juízo dos livros de Daniel e Apocalipse e o Espírito de Profecia de Ellen G. White como continuidade dos dons espirituais. Oliveira Filho (2004, p. 162) frisa quatro ―‗verdades fundamentais‘ da futura Igreja Adventista‖ como as principais: a doutrina do santuário, da observância do sábado, a mortalidade da alma e a reforma de saúde.

―Os adventistas sabatistas – e mais tarde os adventistas do sétimo dia – passaram a ver essas cinco doutrinas como ‗marcos‘ ou ‗pilares‘ doutrinários.‖ (KNIGHT, 2000, p. 42). Esses tópicos os diferenciavam de outras ramificações mileritas e de outros cristãos em geral. Os cinco pilares fizeram do adventismo sabatista um povo peculiar. Mesmo com a manutenção de demais crenças em comum com outros cristãos, como a salvação pela graça por meio da fé no sacrifício de Jesus e a eficácia da oração, a pregação adventista-sabatista centrava-se nas doutrinas distintas. ―[...] essa ênfase unilateral trouxe problemas para o adventismo‖ (KNIGHT, 2000, p. 42), como será visto adiante. As cinco doutrinas basilares não se sustentavam separadamente, mas formavam um conjunto profético/doutrinário uno, que tinham, em seu núcleo, as ideias bíblicas do santuário e a tríplice mensagem angélica.

A mensagem dos três anjos de Apocalipse 14 enfatizava, para os adventistas naquele contexto, em suma, uma necessidade missionária pautada na pregação milerita do segundo advento com ênfase no juízo como a primeira mensagem; a segunda como um chamado para os crentes se retirarem das igrejas que os tinham excluídos da comunhão por crerem nos discursos mileritas; e um chamado, no clímax do movimento profético, como uma última advertência de Deus para uma vida de espera do retorno de Cristo e obediência de todos os Seus mandamentos (KNIGHT, 2000, p. 43-44).

Não obstante, Knight concebe os primeiros adventistas sabatistas ―em termos de antimissão‖ e vê a prática missiológica do movimento ―como uma ‗porta fechada‘ para a expansão missionária‖ (2000, p. 45), visto crerem que a pregação devia se restringir aos que haviam aceitado a mensagem milerita da década de 1830 e início da de 1840. Mesmo assim, o ‗fechamento‘ teve efeitos positivos para grupo: ―A ‗utilidade‘ do período da porta fechada consistiu em conceder tempo para os sabatistas formarem um fundamento doutrinário e desenvolver um conjunto de membros.‖ (2000, p. 47).

A formulação das crenças se pautava pela noção de ―verdade presente‖.30

Tiago White escreveu em 1849 que a Igreja sempre teve uma ―verdade presente‖ (KNIGHT, 2011, p. 18), expressão que definimos como o que, para o momento, era tido como a verdade – ou verdades – provinda da revelação bíblica. ―Muitos adventistas provavelmente não [pensam] que as crenças de sua Igreja tenham mudado através dos tempos. A maioria provavelmente crê que os fundadores do movimento do advento possuíam a mesma postura doutrinária do adventismo no início do século 21.‖ (KNIGHT, 2011, p. 11).

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Maxwell explica que ―quando os adventistas dizem que têm ‗a verdade‘ querem dizer que possuem a verdade que os outros cristãos mantinham antes deles, e também a verdade presente, a especial verdade adicional que se aplica particularmente ao tempo presente.‖ (1982, p. 121).

A busca pela ―verdade presente‖ explica a mudança do conjunto de crenças ao longo da história da Igreja. ―A maioria dos fundadores do adventismo do sétimo dia não poderia unir-se à Igreja hoje se tivesse de concordar com as ‗[28 crenças fundamentais]‘ da denominação‖ (KNIGHT, 2011, p. 16). Há três crenças atuais que os pioneiros não aceitariam. A primeira, de número dois do conjunto, versa sobre a Trindade. José Bates classificava a mesma como antibíblica. Tiago White a via como um ―antigo absurdo trinitariano‖. Para M. E. Cornell, a crença na Trindade se constituía em uma grande apostasia, assim como a observância do domingo e a imortalidade da alma, tidas como doutrinas falsas (KNIGHT, 2011, p. 16).

Grande parte dos fundadores do adventismo também teria dificuldade de aceitar a crença de número quatro, que advoga a eternidade e a divindade de Jesus. Para John N. Andrews, Jesus teve Deus por Pai em algum momento da eternidade passada, no início dos dias. E. J. Waggoner escreveu em 1890 que houve um tempo em que Cristo procedeu e emanou de Deus (KNIGHT, 2011, p. 16-17).

A crença fundamental de número cinco, sobre a personalidade do Espírito Santo, não seria defendida pelos pais do adventismo. Urias Smith negava a Trindade, a eternidade do Filho – Jesus – e, como muitos de seus correligionários, considerava o Espírito Santo como uma divina e misteriosa emanação do Pai e do Filho que conduzem a obra, além de representá-lo como uma influência divina e não como uma pessoa, crença essa sustentada pelo adventismo hoje. Não só grande parte dos pioneiros adventistas discordava dos atuais herdeiros da IASD nesses três quesitos, como elencava entre suas crenças centrais a teoria da porta fechada, a qual indicava o fechamento da porta da graça – e o consequente fim da possibilidade da salvação humana – e o fim da missão evangelizadora da Igreja em outubro de 1844. Ellen G. White, por exemplo, partilhava dessa concepção. Outras crenças que ela compartilhava com os pares do adventismo entre o fim da década de 1840 e o começo da década de 1850 e que com o tempo foram alteradas, eram que o sábado começava às 18 horas de sexta-feira e se estendia até às 18 horas do sábado e que era permitido ingerir carne de porco e de outros animais tidos como imundos para o consumo em Deuteronômio 1431 (KNIGHT, 2011, p. 17).

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Deuteronômio 14: 4-19: ―São estes os animais que comereis: o boi, a ovelha, a cabra, o veado, a gazela, a corça, a cabra montês, o antílope, a ovelha montês e o gamo. Todo animal que tem unhas fendidas, e o casco se divide em dois, e rumina, entre os animais, isso comereis. Porém estes não comereis, dos que somente ruminam ou que têm a unha fendida: o camelo, a lebre e o arganaz, porque ruminam, mas não têm a unha fendida; imundos vos serão. Nem o porco, porque tem unha fendida, mas não rumina; imundo vos será. Destes não comereis a carne e não tocareis no seu cadáver. Isto comereis de tudo o que há nas águas: tudo o que tem barbatanas e escamas. Mas tudo o que não tiver barbatanas nem escamas não o comereis; imundo vos será. Toda

José Bates e o casal White, os três fundadores dos adventistas do sétimo dia, adotaram um conceito dinâmico de ―verdade presente‖. O uso da expressão partiu dos mileritas, que já a haviam usado ao se referir à volta de Cristo. Também o aplicaram ao ―movimento do sétimo mês‖, que foi a pregação do outono de 1844 de que o advento aconteceria em 22 de outubro daquele ano. Observa-se que mesmo para os mileritas o conceito tinha um caráter dinâmico na progressão da compreensão de temas bíblicos (KNIGHT, 2011, p. 18).

Já em janeiro de 1847, Bates usou a expressão com relação ao sábado. Em outros contextos, ele ampliou o uso da ―verdade presente‖ para incluir toda mensagem adventista do terceiro anjo de Apocalipse 14. Aqui, a expressão aglutinava o sábado, o santuário e os conceitos relacionados que os adventistas guardadores do sábado defendiam desde outubro de 1844. Ellen G. White chegou a afirmar, em 1903, que os adventistas se desenvolveriam na compreensão da verdade, visto que a mesma pode ampliar-se continuamente. Os White, como Bates, se portavam receptivos a progressos na busca do que consideravam a verdade; por conseguinte, a mudança de convicção em relação ao consumo da carne de porco, a título de exemplo, não criou uma ―onda de choque‖ no adventismo inicial (KNIGHT, 2011, p. 18-19).

Líderes mais jovens possuíam o mesmo senso. Urias Smith escreveu em 1857 que os adventistas ampliavam sua compreensão da verdade desde 1844. John N. Andrews apregoava trocar mil erros por uma verdade. No mesmo período, Tiago White indicou que, depois de os adventistas sabatistas terem alterado o horário de observância do poente de sábado, muitos outros pontos de sua fé poderiam ser modificados, caso houvesse boas razões para o fazê-lo, com base na Bíblia (KNIGHT, 2011, p. 20).

Além da fluidez de seus conceitos sobre a verdade presente, os primeiros adventistas também firmaram posições contra credos ou declarações formais de crença doutrinária que presumivelmente não podiam ser alterados. Na realidade, a crença deles na possibilidade de a verdade presente evoluir levou Tiago White e outros pioneiros crentes adventistas a se oporem aos credos. Afinal de contas, muitos crentes no advento não haviam sido excomungados de suas denominações em meados da década de 1840 por haverem descoberto novas verdades na Bíblia e se recusado a permanecer em silêncio sobre elas? Por causa de tais experiências, os primeiros adventistas sabatistas defendiam que seu único credo deveria ser a Bíblia. (KNIGHT, 2011, p. 21).

Quando os adventistas organizaram sua primeira associação estadual, em 1861, John Loughborough indicou os problemas que eles enxergavam nos credos. Segundo ele, a ave limpa comereis. Estas, porém, são as que não comereis: a águia, o quebrantosso, a águia marinha, o açor, o falcão e o milhano, segundo a sua espécie; e todo corvo, segundo a sua espécie; o mocho, a íbis, a gralha, o pelicano, o abutre, o corvo marinho, a cegonha, e a garça, segundo a sua espécie, e a poupa, e o morcego. Também todo inseto que voa vos será imundo; não se comerá.‖

elaboração de um credo que diz no que os crentes devem acreditar constitui o primeiro passo para a apostasia. O segundo passo está em fazer do credo uma forma de comunhão. Por terceiro, julgar os crentes por esse credo. O quarto passo se constitui em denunciar como hereges os que não acreditam no credo. Por fim, a apostasia se completaria no perseguir as pessoas que não seguem o credo. Tiago White endossava a posição ao observar que sistematizar um credo limitaria a ação em busca do progresso. White prezava o que classificava de ―contínua liderança do Espírito Santo na descoberta da verdade‖ e criticava os que, segundo ele, limitavam a ação do Todo-Poderoso. ―A Bíblia é nosso credo‖, alegava. ―Rejeitamos qualquer forma de credo humano‖, defendia. Para ele, os adventistas deveriam permanecer receptivos às revelações de Deus outorgadas ―de tempos em tempos‖ (KNIGHT, 2011, p. 21).

A Igreja Adventista, ao longo de sua história, tem resistido à tentação de formalizar um credo imutável, mesmo que tenha, com o passar dos anos, definido suas ―crenças fundamentais‖ (KNIGHT, 2011, p. 22). Desde o desenvolvimento da primeira associação estadual da denominação, em 1861, a Igreja Adventista teve somente três declarações de crença que obtiveram um grau de aceitação oficial e apenas uma que recebeu o voto formal de uma assembleia da Associação Geral. A primeira declaração fora elaborada por Urias Smith em 1872; a segunda, em 1931; a terceira foi o conjunto de crenças fundamentais adotado pela Assembleia da Associação Geral de 1980.

Mesmo assim, muitos empregaram vigorosos esforços, em diversos momentos da história da Igreja, para colocar as crenças fundamentais em ―cimento dogmático‖. A partir do início da década de 1930 até a década de 1980, a declaração de crenças de 1931 apareceu nos anuários da denominação e nos manuais da Igreja, o que lhe conferiu certo status oficial, apesar de ter sido formulada um tanto casualmente e de nunca ter sido adotada de modo oficial em uma assembleia da Associação Geral (KNIGHT, 2011, p. 22).

Em 1946 a instância máxima dos adventistas votou que não se fizesse em tempo algum revisão na declaração de doutrinas fundamentais, a não ser em uma Assembleia da Associação Geral. Esse voto conduziu a organização a agir formalmente ao aceitar a nova declaração em 1980. ―A moção de 1980 tornou a declaração de crenças fundamentais da denominação muito mais oficial do que qualquer outra que a Igreja já havia tido.‖ (KNIGHT, (2011, p. 23).

Talvez, o mais relevante sobre a asseveração de 1980 seja o seu preâmbulo. O mesmo tanto inicia com a declaração ―histórica‖ que os adventistas têm na Bíblia seu único credo e

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