• Nenhum resultado encontrado

AVANÇOS ORGANIZACIONAIS E TENSÕES TEOLÓGICAS DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO

1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

1.8 AVANÇOS ORGANIZACIONAIS E TENSÕES TEOLÓGICAS DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO

Depois de um século de existência enquanto movimento, a Igreja enfrentou diversos desafios em torno de sua identidade teológica, que giravam basicamente em torno de três perguntas: ―O que é adventista no adventismo?‖, ―O que é cristão no adventismo?‖ e ―O que é fundamentalista no adventismo?‖. Essas questões e suas respostas modelaram, em grande parcela, o desenvolvimento da teologia adventista. Um novo período iniciado na década de 1950 tinha de singular o fato de que os diferentes setores do adventismo passaram a pensar as três perguntas supracitadas simultaneamente. Na transição do século XX para o XXI, os

questionamentos e respostas acumuladas acarretaram tensões teológicas já presentes nos primórdios das discussões denominacionais no adventismo (KNIGHT, 2011, p. 165).

Ao refletir sobre a necessidade de conciliar uma atuação intelectual com uma mensagem espiritual, os dirigentes adventistas dos anos 1950 arregimentaram eruditos para confeccionar um comentário bíblico adventista, iniciaram os trabalhos em um centro teológico permanente, o Instituto de Pesquisas Bíblicas e constituíram os primórdios do Instituto de Investigação em Geociências. A disposição à profissionalização se ampliou para outros setores da Igreja; a educação superior foi usada como forma de persuadir outros cristãos de que o adventismo se configurava como uma legítima Igreja protestante (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 385).

A publicação dos sete volumes do Seventh-day Adventist Bible Commentary (1953- 1957)43 foi um acontecimento marcante para a Igreja na década de 1950. Knight pontua que pode ser difícil para adventistas de 50 anos posteriores entender o ―método revolucionário‖ de estudo da Bíblia no adventismo usado pelo comentário (2011, p. 168). Pela primeira vez em sua existência, a Igreja Adventista produziu uma obra que abordava toda a Bíblia de modo sistemático e expositivo. Na sua metodologia, o comentário recorreu amplamente ao texto bíblico nas línguas originais; descobertas arqueológicas auxiliaram na recriação de épocas em que os livros da Bíblia se originaram e na comparação de variantes nos textos antigos. O comentário se constitui de uma obra de erudição pautada em metodologias acadêmicas voltadas para a pesquisa bíblica.

Para Knight, o mais oportuno foi o comentário fugir da tradição adventista de estudar a Bíblia com fins apologéticos e utilizar o método da prova textual, em que, em vez de defender as Escrituras, os editores buscaram deixar que a Bíblia falasse por si mesma. ―O método histórico, contextual e [linguístico] usado procurou apresentar a Bíblia para a Igreja não como um ‗livro de respostas‘ para as inquietações da Igreja Adventista, mas como a Palavra de Deus para Seu povo através dos séculos.‖ (2011, p. 168). Com um traço de humildade, o comentário procurou ouvir mais a Bíblia do que expor uma única e possível interpretação dela, no reconhecimento de que leituras alternativas são possíveis.

No âmbito educacional, as décadas de 1960 e 1970 presenciaram um número crescente de eruditos adventistas preparados academicamente. Mais professores de religião da Igreja obtiveram um doutorado. Em meados da década de 1970 e início da de 1980, certas instituições denominacionais passaram a oferecer doutorados em filosofia e teologia em

43 Os quais começaram a ser publicados em língua portuguesa apenas em 2011, através da Série Logos, pela Casa Publicadora Brasileira.

diversas searas de estudos religiosos. Os representantes da Igreja se tornavam mais escolarizados.

Aumentou o desejo de inquirição dos efeitos teológicos, históricos e sociológicos da IASD e seu sistema de crenças. Surgem organizações independentes como a Associação de Fóruns Adventistas, em 1967, com seu periódico Spectrum¸44 que abordava temas delicados para a Igreja e recomendava novas formas de procedimento para a instituição. O segmento tradicionalista da IASD também criou organismos e publicações próprias, como a Hope Internacional e sua revista Our Firm Foundation. Os conservadores buscavam defender o que entendiam como implicações do adventismo histórico e recorrer para um retorno às antigas doutrinas. Em síntese, Knight indica que a Igreja Adventista, por volta do ano 2000, era diversa, em muitos aspectos, da denominação da década de 1940 (2011, p. 169).

Por volta da metade da década de 1950, alguns sinais (KNIGHT, 2000, p. 143) indicam o amadurecimento da IASD enquanto denominação religiosa. Um deles era o reconhecimento, por parte de influentes líderes evangélicos, de que o adventismo se configura efetivamente como um grupo cristão evangélico, resultado do diálogo entre Donald Grey Barnhouse e Walter Martin, de um lado, com lideranças adventistas, do outro, materializado na obra Questions on Doctrine.

Um segundo sinal de crescimento da maturidade organizacional adventista foi a criação de universidades no fim da década de 1950, início da de 1960. Um antecedente de destaque ocorreu nos anos 1930, quando a corporação religiosa aceitou o fato de que seus professores de faculdades necessitavam obter títulos acadêmicos mais avançados para que as instituições seculares aceitassem os diplomados por faculdades da Igreja. Tal percepção levou à criação da Escola Bíblica Avançada, em 1934, que, no fim da década, mudou de nome para Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia. No encontro de 1956 da Comissão Executiva da Associação Geral, se projetou criar uma espécie de universidade. No ano seguinte, surgiu a Universidade do Potomac, que possuía um seminário teológico e uma escola de nível universitário. Em 1958, a administração da Igreja votou pela transferência da instituição em Berrien Springs, Michigan, a fundiu com o Emmanuel Missionary College e a transformou na Universidade Andrews.

Na Califórnia, em 1º de julho de 1961, o Colégio de Médicos-Evangelistas transformou-se na Universidade de Loma Linda. Ela, como a Andrews, por volta da década de

44 A Spectrum, uma publicação não oficial da Igreja Adventista, portanto, de caráter independente, começou a ser publicada em 1969 e objetiva apresentar pontos de vista diferenciados sobre questões relacionadas à IASD que não são discutidas abertamente no seio da denominação. A revista possui uma abordagem teológica liberal. A Spectrum possui um sítio online, disponível em: <http://spectrummagazine.org/>.

1970, estavam desenvolvidas ao ponto de poderem conferir graus acadêmicos de doutorado plenamente credenciados. Nas décadas de 1980 e 1990, universidades e centros universitários adventistas foram criados em vários países, como México, Alemanha, Quênia, Zimbábue, Argentina, Brasil, Coreia do Sul e Filipinas (KNIGHT, 2000, p. 144-145).

Outro marco da maturidade adventista foi a internacionalização missionária (KNIGHT, 2000, p. 145-146), que significa que os obreiros estrangeiros vindos dos Estados Unidos, Europa, Austrália e África do Sul não mais coordenavam a obra nos novos campos. Agora, a Igreja capacitava os habitantes locais para o trabalho. No tocante à cúpula da corporação religiosa, algumas das funções mais importantes passaram a ser desempenhadas por pessoas de regiões que outrora dependiam de lideres norte-americanos e europeus.

Um aspecto da internacionalização denominacional destacada por Knight (2000, p. 147) está no envio recíproco de missionários entre as Divisões45 da Igreja. Para ele, agora, o termo obreiro interdivisão não se mostra mais apropriado que o uso da terminologia ‗missionário‘. Uma das amostras da internacionalização do adventismo está nos dados que revelam a IASD como uma Igreja mundial, em que, desde os anos 2000, menos de 10% de seus membros encontram-se na América do Norte, berço da instituição.

O arranjo da Igreja em crescer mais rapidamente fora da América do Norte resultou em um número considerável de membros na América Latina, África e certos lugares da Ásia. O centro do poder, historicamente localizado na América do Norte, deslocou-se. Os problemas denominacionais referentes a regulamentos e governos, exclusivamente experimentados no espaço norte-americano, tornaram-se mundiais. A IASD não se apresentava mais como uma organização somente norte-americana (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 385).

Até a década de 1950, a maioria dos adventistas vivia nos Estados Unidos, Europa e Austrália. A partir de 1960, entretanto, uma explosão denominacional começou a ocorrer em muitas nações do Terceiro Mundo, mudando o centro de gravitação da Igreja, das nações industrializadas para os países de economia emergente. (OLIVEIRA, 1985, p. 311).

Um quarto indicativo da maturação adventista está no número de membros. A Igreja demorou 92 anos para atingir seu primeiro milhão de adeptos (YOST, 1990, p. 10). Depois disso, em 1998, a Igreja Adventista alcançou os 10 milhões (KNIGHT, 2000, p. 148). E,

45 As Divisões estão abaixo apenas da Associação Geral na estrutura hierárquica e correspondem a um conjunto de países de determinada localização geográfica e reúnem várias Uniões.

conforme dados de 2013, são mais de 18 milhões de membros batizados.46 Em 1990, a denominação lança a ‗Missão Global‘,47

com o intuito de elaborar planos sistemáticos para a missão mundial. Knight avalia que, por conta da iniciativa, o adventismo tem executado a evangelização global de maneira mais coordenada (2000, p. 151), aliado, também, à projeção da Rádio Adventista Mundial, do uso da Internet e de redes de televisão via satélite.

1.8.1 Reconhecimento evangélico e tensões teológico-organizacionais atuais

O caso mais emblemático das tensões teológicas na IASD durante o século XX começou com a publicação de um artigo de Donald Grey Barnhouse na revista Eternity, em setembro de 1956, intitulado ‗São os adventistas cristãos?‘, que provocou uma crise e uma nova disposição teológica no adventismo. Nele, com o consentimento de L. E. Froom e R. A. Anderson, da Associação Ministerial da Associação Geral, Barnhouse ―rebaixou publicamente‖ M. L. Andreasen, eminente teólogo adventista nas décadas de 1930 e 1940, e a sua teologia sob o rótulo de ―facção lunática‖ da Igreja e implicitamente classificou Andreasen como um indivíduo parecido com os delirantes irresponsáveis do cristianismo fundamentalista (KNIGHT, 2011, p. 170).

Em contraste, Barnhouse elogiou o que chamara de ―liderança sensata‖ da IASD por impedir que membros apresentassem concepções diferentes das adotadas pela liderança da denominação. Barnhouse terminou o artigo com mostras de felicidade por, segundo ele, fazer justiça a um grupo de crentes sinceros que foi historicamente caluniado e retirá-los da posição de heréticos – como até então eram tachados –, que ocupavam junto às Testemunhas de Jeová, os mórmons e os cientistas cristãos, e os reconheceu como irmãos e membros do corpo de Cristo.

Esse anúncio sem precedentes da ortodoxia adventista proferido por um notável líder do movimento evangélico conservador norte-americano resultou de uma série de 18 encontros realizados entre a primavera de 1955 e o verão de 1956 entre líderes adventistas como Froom, Anderson e W. E. Read – este, diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas da denominação – e Donald Grey Barnhouse, editor da revista Eternity (Eternidade), e Walter Martin, especialista em seitas não-cristãs, convocado pela Editora Zondervan a produzir um livro sobre o adventismo. Martin acessou amplamente a literatura adventista e compareceu nas reuniões com uma série de perguntas sobre as crenças denominacionais, que abrangiam amplo espectro da teologia adventista (KNIGHT, 2011, p. 170; SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 454).

46 Dados de 30 de setembro de 2013 do Escritório de Arquivos, Estatísticas e Investigação da IASD.

Antes de responder às perguntas de Martin sobre os adventistas do sétimo dia, os dirigentes da Associação Geral enviaram suas respostas a 200 adventistas de destaque. Seus comentários constituíram a base para um livro de 700 páginas, Questions on Doctrine (Questões sobre Doutrina), que apareceu em 1957. Martin descobriu que as denominações cristãs compartilhavam da maioria dos ensinos adventistas, mas cinco doutrinas eram distintivamente adventistas do sétimo dia: (1) duas fases distintas do ministério de Cristo no santuário celestial; (2) o juízo investigativo; (3) o dom profético manifestado na obra de Ellen G. White; (4) o selo de Deus e a marca da besta simbolizando as forças do bem e do mal no último conflito sobre a Terra; e (5) as três mensagens angélicas de Apocalipse 14, representando a mensagem final de Deus ao mundo. (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 455).

Desde o ―fracasso do milerismo‖, na década de 1840, a maioria dos adventistas era vista com reservas pelos protestantes, inclusive por requerer na pessoa de Ellen G. White a figura de um profeta moderno e por centrarem sua pregação nos dez mandamentos, e, em específico, na guarda do sábado do sétimo dia. Por conseguinte, no começo do século XX, grande parte dos protestantes tinha o adventismo como uma seita48 que devia ser evitada. Os adventistas eram classificados, assim como as Testemunhas de Jeová, os cientistas cristãos e os mórmons, como ―subcristãos‖ (KNIGHT, 2000, p. 143).

Os adventistas têm assumido relações tensas com outros cristãos, às vezes, de incompatibilidade. Isso porque, para integrantes de outras confissões religiosas, ressaltar a observância dos dez mandamentos, abandonar certos alimentos, manter uma postura conservadora quanto ao vestuário e entretenimento, demarcam os adventistas como legalistas que pretendem alcançar a salvação eterna com base em boas obras, o que contaria o pensamento convencional de que aquela se obtém apenas mediante a morte e graça de Jesus pela humanidade – o que os adventistas creem também. Muitos cristãos se ofendem com o que consideram como exclusivismo e orgulho expresso pelos adventistas ao se declararem como Igreja remanescente. Acreditam, equivocadamente, que os adventistas enxergam todos os observadores do domingo como os que têm a ‗marca da besta‘, enquanto eles, pela guarda do sábado, possuem o ‗selo de Deus‘. Tais opiniões pautam-se em interpretações extravagantes que alguns adventistas fazem de textos do livro bíblico do Apocalipse. (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 442).

Embora a Igreja Adventista sustente que Apocalipse 12:17 explica uma missão que lhe foi divinamente designada de levar verdades especiais ao mundo, ela não mantém a crença de que seus membros são os únicos filhos de Deus. Apesar de se vincular o termo ―remanescente‖ com uma [ideia] de exclusividade amenizada, a

48 Comumente, os que desconhecem o conjunto de crenças capitais da IASD, ainda consideram a denominação

palavra tem persistido. À medida que proclamam sua mensagem, os adventistas [creem] que os verdadeiros filhos de Deus serão atraídos ―para esse grupo profeticamente predito que está se preparando para o dia de Deus‖. (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 442).

A defesa vigorosa da observância do sábado influenciou os adventistas a pensarem que sua separação de outras comunidades cristãs tinha base bíblica. Ellen G. White contribuiu para isso ao afirmar que as liberdades individuais de crença seriam ameaçadas caso houvesse alguma aliança religiosa entre o protestantismo e o catolicismo. Ao alimentar tal convicção, os adventistas, por exemplo, nunca participaram formalmente do movimento ecumênico, não obstante tenham colaborado pontualmente com outras igrejas cristãs na busca de certos objetivos comuns (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 451). A teologia adventista distinta justificava a decisão da Associação Geral da IASD em rejeitar recorrentemente em se aliar à outras confissões cristãs com fins ecumênicos (SCHWARZ; GREENLEAF, 2011, p. 454).

As relações conflituosas entre adventistas e outros cristãos alterou-se, como supracitado, na metade dos anos 1950, quando Barnhouse e Martin concluíram, surpresos, que os adventistas não acreditavam em diversas heresias a eles atribuídas e que tais não formavam uma seita e mereciam o reconhecimento público como cristãos evangélicos.

Barnhouse, em setembro de 1956, na Eternity, deu parecer favorável ao adventismo. Martin escreveu em 1960 um livro aderente à IASD, o The truth about seventh-day adventism (A verdade sobre o adventismo do sétimo dia). Nesse ínterim – no outono de 1957 (KNIGHT, 2011, p. 171) –, a Igreja publicou o seu Questions on Doctrine com respostas às indagações lançadas pelos dois interlocutores, como representantes do meio evangélico. Desde então (KNIGHT, 2000, p. 144), os adventistas conservam melhor relacionamento com maior parte da comunidade cristã, o que, por sua vez, dividiu a opinião de membros da denominação sobre se o reconhecimento representou um avanço ou retrocesso para a mensagem distinta do adventismo.

Martin focava seu interesse em quatro temas, para os quais cobrava respostas dos adventistas. Conforme as leituras realizadas, ele entendia que para o adventismo o sacrifício de Jesus na Cruz não foi completo, que a salvação resultava da graça junto com as obras da lei, que Cristo era um ser criado e que Ele possuía a natureza caída e pecaminosa do ser humano quando encarnou. Ao que tudo indica, Froom, Anderson e seus colegas não foram completamente francos com Barnhouse e Martin ao dizer que grande parte dos adventistas nunca defendeu esses pontos de vista divergentes. ―A pesquisa histórica, contudo, mostra que exatamente o oposto é que era verdade a respeito da questão da natureza humana de Cristo e

até mesmo a respeito de crenças como a expiação completa e a existência eterna de Cristo.‖ (KNIGHT, 2011, p. 171).

O Questions on Doctrine – editado preponderantemente por Froom e Anderson –, enquanto retorno quase oficial às indagações produzidas pela dupla Barnhouse e Martin, foi distribuído entre adventistas e também milhares de pastores e professores de teologia não adventistas. Estimativas levantadas por Froom dizem que a tiragem do livro ultrapassou os 138 mil exemplares até 1970.

Com algumas exceções, Questions on Doctrine apresentava a teologia adventista da maneira como a denominação a havia expressado antes da década de 1950, mas essas exceções tornariam o Questions on Doctrine um livro altamente controverso. Em reação a ele, se desenvolveu finalmente um movimento separatista dentro do adventismo. (KNIGHT, 2011, p. 171-172).

Desde sua primeira publicação nos Estados Unidos em 1957, o Questions on Doctrine esteve envolto em intensa polêmica entre eruditos, ministros e leigos adventistas, basicamente por defender ideias antiperfeccionistas em suas páginas. Publicado inicialmente em português e espanhol de maneira fragmentada em periódicos adventistas entre as décadas de 1960 e 1970, a obra ganha formato integral em livro para o espanhol em 1986 e para o português em 2009 (TIMM, 2008, p. 95).

Os críticos da obra tornaram-se tão vociferantes que a liderança denominacional resolveu que o livro, depois de ter vendido cerca de 150 mil cópias, deveria não ser mais impresso. Enquanto que na América do Norte o original em inglês do Questions era retirado intencionalmente de circulação, versões em espanhol e português do livro em forma de artigos circulavam na América do Sul (TIMM, 2008, p. 96).

Com o título de Os adventistas do sétimo dia respondem a perguntas sobre doutrina, uma série de 85 partes foi publicada em português na revista O Ministério Adventista, entre as edições de janeiro-fevereiro de 1960 a março-abril de 1976. Esta série se apresenta mais completa e exata do que a publicada em espanhol. Todavia, existem alguns erros e supressões na edição em português que não podem ser desconsiderados.49 Ao mesmo tempo, a versão em espanhol foi publicada em uma série de 84 partes em El ministerio adventista, durante as edições de janeiro-fevereiro de 1960 a maio-junho de 1978, com o título de Preguntas sobre

doctrinas. Os dois anos adicionais da publicação em espanhol em relação à em português

ocorreram por conta do maior número de edições em que a série espanhola não foi publicada.

49 Timm levanta (2008, p. 99) todas as imprecisões e eliminações do Questions on Doctrine presentes n‘O Ministério Adventista.

Esta teve, ainda, um percentual maior de supressões50 do que a irmã do Brasil (TIMM, 2008, p. 99).

As duas séries alcançaram todos os ministros adventistas da Divisão Sul-Americana entre as décadas de 1960 e 1970, mas com impacto dissolvido ao longo de 16 anos de publicação para o português e 18 para o espanhol (TIMM, 2008, p. 100).

A ideia de publicar o Questions em forma de livro em português partiu do Centro de Pesquisas Ellen G. White. Tudo começou em meados da década de 1990, quando alguns estudantes do Centro trabalhavam na digitalização da série dos 85 fragmentos publicados n‘O

Ministério Adventista, com a finalidade de reunir todo o material em um único arquivo

eletrônico para facilitar a consulta e pesquisa. Daqui, dois fatores incitaram sua publicação em livro. O primeiro, o crescente número de ministérios independentes e indivíduos ligados à IASD no Brasil que acusavam a denominação de ter apostatado oficialmente em 1957 com a publicação original do livro. ―Curiosamente, a maioria desses críticos jamais havia visto uma cópia do livro, mas, mesmo assim, o criticava vigorosamente!‖ (TIMM, 2008, p. 104). E, segundo, a publicação, em 2003, pela Andrews University Press, de uma edição anotada do

Questions.

No território da Divisão Sul-Americana, o Questions on Doctrine tem sido considerado, ao longo dos anos, não apenas como uma expressão genuína e confiável da teologia adventista do sétimo dia, mas também como um valioso corretivo às tendências legalistas e perfeccionistas pré-Quetions on Doctrine. Este tem sido o caso especialmente pelo fato de a educação teológica na divisão ter sido fortemente influenciada pelas [ideias antiperfeccionistas] de eruditos como LeRoy E. Froom, Edward Heppenstall, Raoul Dederen, e Hans K. LaRondelle. Além disso, não podemos desconhecer a tradicional tendência sul-americana de respeito e lealdade à liderança da Associação Geral, onde o Questions on Doctrine foi realmente concebido e produzido. Foi somente no final da década de 1990 que críticas significativas ao livro começaram a chegar a esta região do mundo, através

Documentos relacionados