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Capítulo III O Reitor entre o “Administrador” e o “Profissional”

Caixa 10 Advertências aos professores

«Referiu-se em seguida o Exmo. Senhor Reitor a uma questão que bastante preocupa a Reitoria e que diz respeito às faltas dos Senhores Professores. A estatística mostra que elas aumentaram nos últimos três anos, verificando-se simultaneamente que os professores mais assíduos são os efetivos e, entre estes ainda, os mais velhos. Relativamente aos professores eventuais verifica-se que não há, entre eles, professores modelares em assiduidade, sendo sempre elevado o número de faltas, cuja percentagem está a aumentar. O Exmo. Senhor Reitor pediu então aos Exmo. Senhores Professores para faltarem apenas quando tal se lhes tornar imprescindível, devendo fazer-se então uma comunicação prévia à Reitoria, de

modo que esta possa tratar da substituição.» (ALC, Ata Conselho de Professores do 2º Ciclo, 5 de Dezembro de 1957).

«Referiu-se depois o Senhor Reitor a dois factos desagradáveis na vida da casa: o primeiro foi o fracasso da reunião do corpo docente num almoço de confraternização o que revelou que os professores não constituem o corpo que deviam constituir; (…)» (ALC, Ata Conselho Escolar, 18 de Junho de 1963). «O Senhor Reitor recomendou o maior cuidado com o que os professores dizem nas aulas, pois as suas palavras servem de suporte para comentários menos dignos e para a reprodução de anedotas que certamente deturpam a realidade. Os professores são educadores e a sua missão é muito útil à sociedade, não se podem esquecer disso. (…) Recomendou assiduidade e pontualidade. Referiu-se ao número de faltas dadas pelos professores das diversas categorias que aumentam dos professores efetivos para os de serviço eventual. Há um grupo de professores efetivos que não deram nenhuma falta durante o ano transato. A média é de vinte e oito faltas por professor, o que não é muito mas é bastante.» (ALC, Ata

Conselho Escolar, 1 de Outubro de 1966).

«Disse que sabia que alguns professores nomeados para o Liceu estavam de passagem pois não desejavam prosseguir nessas funções: ser professor é visto como um recurso do momento. Lamenta que assim seja porque a vida de professor deve ser vista como uma missão e não se coaduna com situações encaradas como passageiras.» (ALC, Ata Conselho Escolar, 2 de Outubro de 1967).

As preocupações com o aproveitamento também se acentuam e aumenta o número de turmas com resultados fracos. Ao lermos as atas dos vários conselhos, ficamos com a ideia que o Liceu, no final da década de 50 e durante a década de 60, começa a crescer de um modo descontrolado, não existindo, por um lado, alterações no edifício, capazes de responder a esse aumento e, por outro, um reforço nos recursos humanos capaz de continuar a assegurar os mesmos níveis de aproveitamento e comportamento verificados na década de 50. Esta ideia é reforçada pelo aumento das “advertências” do Reitor.

Nas intervenções do Reitor, verificamos uma preocupação constante em manter o mesmo nível de exigência, uma imagem de “ordem”, mesmo nas condições cada vez mais adversas. Essa insatisfação em relação ao aproveitamento dos alunos faz-se sentir, não só por parte do Reitor, mas também pelos diretores de ciclo e alguns professores efetivos (ver caixa 11).

Caixa 11 - Aproveitamento

«O Senhor Reitor disse que não era demais lembrar aos alunos de que no próximo ano não se garante a matrícula àqueles que reprovem. Citou o acréscimo da frequência do Liceu informando o aumento de dez para quinze turmas no próximo ano e consequentemente a necessidade de opção entre novos alunos e maus alunos.» (ALC, Ata Conselho de Professores do 1º Ciclo, 5 de Novembro de 1958).

«Disse o Excelentíssimo Reitor que leu os dados estatísticos referentes ao aproveitamento do ano letivo findo. Comentando esses dados disse o Excelentíssimo Reitor que eles manifestam um rendimento inferior ao do ano transato, circunstância para a qual não é difícil encontrar um explicação: o aumento da frequência escolar, ainda assim atendendo às condições cada vez mais difíceis de trabalho [aumento de alunos e faltas de condições materiais], entende que não há razões para descontentamento.» (ALC, Ata

do Conselho Escolar, 20 de Junho de 1959).

«Em relação ao ano precedente, verificou-se no último ano um maior número de reprovações no quinto ano. O número de repetentes duplicou. Esta diminuição quanto à qualidade dos alunos prova a necessidade de exigir deles um pouco mais. Relativamente ao funcionamento das aulas, o Senhor Reitor apontou a necessidade de dificultar a saída dos alunos que, em certas aulas, achava demasiado frequente.» (ALC, Ata do Conselho de Professores do 2º Ciclo, 17 de Novembro de 1959).

«O Sr. Dr. Mário Dionísio abordou a questão, que disse ser «mais uma vez», de se apresentarem alunos do 3º ano que estão longe de terem a preparação suficiente para, legitimamente, se inscreverem num 4º ano. No seguimento desta sua breve intervenção criticou a forma como é aferido o conhecimento nos exames liceais.» (ALC, Ata Conselho de Professores do 2º Ciclo, 7 de Novembro de 1961).

«O Senhor Reitor informou o Conselho que tinham frequentado o Liceu dois mil quinhentos e oitenta e sete alunos, mais noventa e quatro que no ano letivo anterior. Referindo-se ao rendimento escolar disse que tinha sofrido uma ligeira baixa, que não deve surpreender atendendo às condições em que se trabalha.» (ALC, Ata do Conselho Escolar, 19 de Junho de 1962).

«A reitoria verificou com tristeza e grande preocupação ter sido muito fraco o aproveitamento dos alunos mais velhos, especialmente do 6º e 7º anos, durante o segundo período escolar. Exorta-os por isso a que durante o tempo que vai até ao fim do ano, se esforcem por realizar um trabalho mais cuidado e interessado, para poder ser mais profícuo. Exige-o o interesse próprio de cada um, o do Liceu e o da nação.» (ALC, Ordem de Serviço, 1 de Abril de 1964).

«Exmo. Sr. Diretor Geral do Ensino Liceal; Pelo aproveitamento obtido nos dois primeiros períodos escolares do presente ano letivo, pensa esta reitoria que venham a ficar reprovados na frequência cerca de 25% dos alunos do 1º ano, ou sejam alunos correspondentes a quatro das dezasseis turmas em funcionamento» (ALC, Ofício, 17 de Maio de 1968).

Em suma, no que respeita ao aproveitamento escolar do Liceu, podemos concluir que existe, ao longo de todo o reitorado, uma grande preocupação com esse fator. Se, no início, tal preocupação é orientada no sentido de mudar a imagem do Liceu, permitindo uma nova organização com o objetivo de melhorar os resultados escolares e o comportamento, a partir da década de 60, o objetivo é manter a mesma percepção de qualidade perante um aumento desmesurado dos alunos, sem que exista uma alteração significativa dos recursos físicos e humanos. Outros aspetos negativos a salientar prendem-se com a assiduidade dos professores e o abandono escolar. São sistemáticas as chamadas de atenção para a necessidade dos professores serem pontuais e assíduos, principalmente após o início da década de 60. No que respeita ao abandono escolar, mesmo que muitos desses alunos transitassem para o ensino privado, este não deixaria de ser excessivo.

3. Relações Internas

É nas relações internas e externas que encontramos outros traços característicos da ação do Reitor. Nas relações internas, o Reitor afirma a sua liderança no domínio pedagógico e disciplinar, vincando os valores que considera fundamentais e pelos quais toda a ação educativa deve ser orientada. Estes valores determinam as suas prioridades e intervenções nos vários conselhos e orientam a sua relação com os professores. Sérvulo Correia assume uma liderança efetiva sobre o corpo docente, exigindo que este se assuma como um exemplo para os alunos. Paralelamente, desenvolve um conjunto de iniciativas onde procura fomentar um espírito de “unidade” e promover a “imagem” do Liceu.

Nas atas dos vários conselhos, encontramos referências constantes a esses princípios, formas de estar e de agir consideradas fundamentais (ver caixa 12). Em algumas delas, o discurso assume um tom paternalista, principalmente quando se dirige aos professores eventuais e estagiários. Dos aspetos enunciados, salientam-se a “colaboração entre professores”, “o sucesso dos alunos” e “a imagem da casa”. Nas atas dos conselhos, são algumas vezes dadas indicações, quanto à postura dos professores em relação à disciplina, aproveitamento e avaliação dos alunos. Existe uma persistência

na defesa do “projeto”, dos valores e princípios, da “missão” que cada um tem e deve assumir na defesa do interesse de todos.