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Capítulo III O Reitor entre o “Administrador” e o “Profissional”

Caixa 7: Relação do Reitor com o “pessoal menor”

«Como todos os empregados deste Liceu sabem não é permitido aos alunos fumarem em qualquer dependência do edifício. Também aos Senhores Professores foi pedido que não fumem em qualquer parte do edifício em que estejam em contacto com os alunos. Durante o funcionamento das atividades escolares nunca os empregados viram o Reitor fumar a não ser na reitoria ou na sala dos Exmos. Senhores Professores. Nestas circunstâncias, não podia abrir-se uma exceção para os empregados. Por isso, são avisados todos os empregados deste Liceu de que durante o funcionamento das atividades escolares a nenhum empregado é permitido fumar nos locais do edifício em que estejam em contacto com os alunos ou os Exmos. Senhores Professores.» (ALC, Ordem de Serviço, 21 de Novembro de 1951).

«Como todos os empregados sabem a sua hora de entrada é às 8 horas, com tolerância de 10 minutos. Parece, no entanto, haver quem esqueça, entrando depois daquela hora. Nestas circunstâncias, a reitoria determina que todos os funcionários menores em serviço neste Liceu passem a assinar o livro do ponto à hora de entrada. Ao Chefe do Pessoal Menor determina-se que, passados os 10 minutos de tolerância, marque falta aos que não tiverem assinado aquele livro.» (ALC, Ordem de Serviço, 13 de Novembro de 1952).

«Exmo. Senhor Inspetor da Saúde Pública; O funcionário da Secretaria deste Liceu António Rodrigues, sofreu num dos últimos dias forte contusão no tórax. Tratando-se de uma pessoa que já teve uma afeção pulmonar e receando esta Reitoria que o facto, por si mesmo, possa ter consequências de certa gravidade, rogo a V. Exa. o obséquio de o mandar radiografar pelos Serviços da vossa superior Direção.» (ALC,

Ofício, 30 de Abril de 1952).

«Exmo. Senhor Secretário de sua Exª o Senhor Subsecretário de Estado da Educação Nacional; Inclusa, tenho a honra de remeter a V. Exª uma cópia da informação prestada pelo 3º oficial em serviço na Secretaria deste Liceu Lino Félix Coelho, sobre factos que levaram o advogado, Senhor Amadeu Ferreira, a afirmar ter sido insultado no edifício deste estabelecimento de ensino e educação por aquele funcionário. A informação afigura-se clara e esclarecedora. No entanto a Reitoria julga-se no dever de acrescentar que, estando o 3º oficial, Senhor Lino Félix Coelho, ao serviço deste Liceu desde 21 de Janeiro de 1955 é esta a primeira vez que alguém se queixa contra ele de atitude menos delicada ou incorreta.» (Ofício 4 de Setembro de 1961).

Em suma, acerca das funções do Reitor no domínio administrativo e financeiro, encontramos uma atitude que procura articular o cumprimento de um quadro normativo rigoroso com uma influência pessoal, no sentido de satisfazer os objetivos que considera

serem fundamentais e que passam pela defesa dos interesses do Liceu, procurando ajustar as receitas às despesas numa gestão de escassos recursos financeiros. No entanto, este propósito nem sempre se afigura de fácil resolução, seja pelo carácter centralizador e burocrático da administração do sistema de ensino, seja pela falta de recursos financeiros concedidos pela tutela na elaboração do orçamento ou mesmo na escassez de recursos humanos, principalmente em relação ao “pessoal menor”. Na análise dos vários ofícios e atas do Conselho Administrativo, encontramos uma lógica de persistência, associada a um desdobramento de receitas, de modo a permitir satisfazer determinados itens considerados prioritários. Esta estratégia permite, em alguns casos, alcançar os objetivos pretendidos, mesmo que à custa de muito tempo despendido nesta “racionalidade administrativa” que, para além de desgastante, acaba por traduzir uma parte considerável da atividade do Reitor.

Em toda a sua ação enquanto administrador, Sérvulo Correia procura orientar a atividade sempre em função da sua visão de Escola, onde a gestão do espaço escolar ocupa sempre um papel determinante. A prioridade, principalmente no início do reitorado, é criar o melhor ambiente escolar, propício segundo ele a um desenvolvimento salutar do aluno. Boa parte da sua atividade administrativa é orientada nesse sentido, sendo também aquela em que encontra os maiores obstáculos, muitos deles só superados na década de 60.

2. O Reitor como “Profissional”

É na dimensão “Profissional” que o Reitor desempenha o papel de “professor, líder pedagógico e educativo”. Nela encontramos os elementos que nos permitem compreender o modo de agir, a sua visão de escola, a maneira como ele interpreta a sua “missão”, a forma como concebe o seu “projeto”. Entre os vários fatores que estão relacionados com esta dimensão, consideramos importante salientar quatro: o controlo sobre o rendimento do ensino, as relações internas, as relações externas e a disciplina, que, pela importância que lhe é dada pelo Reitor, será tratada no capítulo IV.

Na sua primeira atuação como reitor, Sérvulo Correia deixa clara a sua visão: defende «uma educação o mais completa e perfeita possível» (ALC, Ata do Conselho

rapazes» e na qual «os professores devem ter sempre presente que a sua missão é a missão de educadores, não de simples instrutores; e que para o cumprimento de tal missão deve haver certa unidade de pensamento» (ALC, Ata do Conselho Disciplinar, 24 de Outubro de 1950). Esta “missão” pressupõe a total entrega do professor aos seus alunos, numa identidade construída com base no exemplo dos atos, nos valores em que ele próprio acredita e que definem o seu projeto, “a unidade de pensamento”. Existe o rigor da imagem, «os professores, além de educarem pela palavra, devem educar pelo exemplo» (ALC, Ata do Conselho Escolar, 11 de Outubro de 1950); da pontualidade, professores e alunos devem ser pontuais, «as aulas devem começar a tempo para que exista o ambiente de silêncio que é absolutamente necessário para o bom funcionamento das mesmas»; da autoridade paternal, «o carinho e o interesse que tomamos pelos alunos não deve excluir a firmeza, pois o próprio carinho dos pais pelos filhos não exclui a firmeza e autoridade que, embora seja suave, também terá de ser severa, quando tal severidade for necessária para bem dos filhos» (ALC, Ata do Conselho

Escolar, 11 de Outubro de 1950); da disciplina, como aspeto fundamental no «moldar

do carácter» e do «sucesso escolar dos alunos» (ALC, Ata do Conselho Escolar, 11 de Outubro de 1950). Toda a ação de Sérvulo Correia visa, em última análise, o sucesso escolar dos alunos do Liceu. Ele considera que desse sucesso depende o prestígio da “casa” e o futuro dos “seus rapazes”.

Nos primeiros anos do Reitorado (1951/57), existe uma preocupação em mostrar que a reorganização do Liceu permite uma melhoria significativa na uniformização dos critérios de avaliação, nos resultados escolares, nos exames e na própria “imagem” da Escola. São inúmeros os elogios que encontramos nas atas referentes à primeira década do reitorado (ver caixa 8), principalmente no que respeita ao profissionalismo dos professores, à melhoria dos resultados escolares e diminuição do abandono escolar e à credibilidade que o Liceu vai conquistando.