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Reforço das regras definidas na Ordem de Serviço

Capítulo IV – A Ação Disciplinar

Caixa 29 Reforço das regras definidas na Ordem de Serviço

«Está ultimamente a verificar-se que os 260 alunos cujas salas de aula ficam no segundo pavimento do pátio sul acabam de subir as escadas, no início de cada aula, já depois de o terem feito todos os 440 do pátio norte. Verifica-se ainda que o fazem no meio de grande gritaria, como se o toque da campainha não fosse o sinal de que devem acabar todas as brincadeiras. Esse facto vai refletir-se na maneira como percorrem as galerias e entram nas aulas, criando problemas disciplinares que por vezes têm levado à aplicação de pesadas penas disciplinares. Para que a vida interna deste Liceu decorra com a ordem conveniente e necessária e se evitem situações desagradáveis para todos a reitoria lembra mais uma vez aos alunos o que sobre o assunto já foi determinado. [Seguem-se nove regras acerca da postura nos pátios e das entradas e saídas das salas de aula.]» (ALC, Ordem de Serviço, de 6 de Dezembro de 1952).

«Infelizmente parece que nem todos os alunos deste Liceu têm ainda a educação e a delicadeza bastantes para sentir e manifestar por todos os Senhores Professores que aqui trabalham o respeito que lhe devem. A confirmá-lo chegam à reitoria alguns reparos perfeitamente justificados. Não é de crer que nesta época do ano haja alunos que não conheçam todos os Ex. mos Senhores Professores e, por isso, é seu dever: 1. Cumprimentá-los onde quer que os encontrem; 2. Levantar-se à sua passagem pelos pátios e à sua

chegada a qualquer instalação do liceu, onde os alunos se encontrem sentados, com exceção da Biblioteca, sempre que para isso sejam autorizados. Aproveita-se a ocasião para lembrar mais uma vez a todos os alunos que: [Seguem-se doze regras acerca da entrada e saída das aulas, assiduidade, postura no ginásio, proibição de trazer para o Liceu “revistas e jornais que não sejam de estudo”.]» (ALC, Ordem

de serviço, 14 de Março de 1953).

«Trazida por alguns Senhores Professores, chega à reitoria a notícia de que alguns alunos deste Liceu se comportam incorretamente nos autocarros, tomando atitudes que pela sua deselegância desabonam a respeito da sua educação e deslustram o estabelecimento que tem por missão educá-los. (…) Por isso, a reitoria lembra a todos que: [Seguem-se 5 regras que definem a postura a ter nos autocarros públicos]» (ALC, Ordem de Serviço, 4 de Janeiro de 1957).

«Nos fins do segundo período e já no presente tem-se verificado que alguns alunos, sobretudo dos quatro primeiros anos, começam a esquecer o que foi determinado sobre a conduta de todos nas ruas próximas e no jardim fronteiriço do edifício do Liceu às horas de entrada e de saída das atividades escolares. Daí o terem sido certificados ultimamente com repreensão ou suspensão três grupos de alunos daqueles anos. A reitoria, a fim de se evitarem novas faltas e novos castigos lembra a todos os alunos do Liceu que: [seguem-se 11 regras referentes à postura a ter no exterior do Liceu, à entrada e saída das aulas e no autocarro, proibição de comprar coisas aos vendedores ambulantes.]» (ALC, Edital, 22 de Abril de 1959).

«A fim de se evitarem situações desagradáveis e para que a vida do Liceu decorra no ambiente de tranquilidade e ordem já habitual e absolutamente necessário para que o trabalho dos professores e alunos seja profícuo, a reitoria lembra aos alunos mais velhos (4º, 5º, 6º e 7º anos) que se torna indispensável terem sempre presentes e cumprirem o que está determinado sobre a sua conduta dentro do Liceu e especialmente que: [seguem-se onze regras acerca do cuidado a ter com o material, postura na sala de aula, vestuário, entrada e saídas das salas de aula, proibição de os alunos “trazerem para o Liceu jornais, revistas e livros que não interessem aos trabalhos escolares”.]» (ALC, Edital, de 8 de Maio de 1959).

«Durante o mês de Outubro os alunos dos cursos complementares deram uma média de 41 faltas por turma, número que não pode deixar de ser considerado excessivo e alarmante pelas autoridades escolares. A reitoria, sentindo que um tão grande número de faltas representa grave prejuízo para a preparação escolar dos alunos que mais faltaram, comunica a todos que: [seguem-se oito regras que regulam as faltas à atividade letiva, visando combater a falta de pontualidade e assiduidade.]» (ALC,

Assim, podemos concluir que estamos perante uma organização escolar que se pauta por um quadro normativo rigoroso no que respeita aos valores e princípios em que assenta. Esse quadro normativo traduz uma visão axiológica do Reitor em relação à ação educativa e ao ideal de escola. A escola é o espaço educativo por excelência, onde o aluno interioriza o sentido de ordem, de “disciplina interior”, que lhe permite ter sucesso na aprendizagem e na sua futura vida profissional. O uso da gravata, o autocontrolo exigido nos pátios, a postura na sala de aula, a proibição de brincar mesmo que fosse nas imediações do Liceu, o zelo e respeito pelo espaço público, o sentido de dever e o cumprimento das obrigações, a limpeza e aparência, o silêncio e a serenidade traduzem o desejo de uma harmonia, de uma “ordem” que possa permitir alcançar o principal objetivo de escola: a aprendizagem e a formação moral.

3. Intervenção no Conselho Disciplinar e na Atribuição de Castigos.

O Conselho Disciplinar é o espaço formal por excelência para tratar de todos os assuntos relacionados com a disciplina. Na primeira reunião a que preside (24 de Outubro de 1950), Sérvulo Correia define o Conselho Disciplinar como o espaço fundamental para que se possa realizar uma “obra educativa perfeita”, que permite a formação do carácter dos rapazes e o sucesso do ato educativo. Para isso, conta com a colaboração de todos, realçando uma ideia que repete várias vezes: que o professor deve olhar para a sua atividade como uma missão de educador e não de um simples instrutor. Esta mensagem é reforçada com maior incidência na década de sessenta com o aumento dos professores eventuais. Entre todos os aspetos, já referidos anteriormente, podemos sintetizar o conceito de disciplina, na ótica de Sérvulo Correia, como uma ação construída numa unidade de pensamento, que fomenta a ordem e permite reunir todas as condições para uma aprendizagem efetiva, concetual e moralizadora, capaz de enaltecer o bom nome da “casa”.

É com este propósito que ele anima os primeiros Conselhos Disciplinares. Na leitura das atas do Conselho referentes aos primeiros anos do seu reitorado, encontramos determinação e convicção no alcançar dos seus objetivos. Reforça sistematicamente os princípios que considera fundamentais, faz uma apologia dos valores que deseja que os alunos interiorizem, aplica penas aos alunos que não

respeitam aquilo que determina ou que não compreendem a importância das regras que define. Paralelamente, dá uma imagem de uma evolução positiva no estabelecimento da ordem e da disciplina, de um ambiente tranquilo onde alunos e professores interiorizam as regras definidas. Este aspeto é realçado nas atas do Conselho Disciplinar dos primeiros anos do seu reitorado, onde valoriza os resultados positivos que alcança com a sua ação disciplinar (ver caixa 30).