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CAPÍTULO III: CIVILIZAÇÃO E CRIME: CRIMINOSOS ESTRANGEIROS E NACIONAIS DOS TEMPOS MODERNOS

2. Histórias de criminosos dos novos tempos

2.1. Afonso Coelho

Afonso Coelho se tornou conhecido no Rio de Janeiro devido a suas fugas espetaculares e delitos considerados astuciosos. Perpetrava determinados tipos de crimes – estelionato e falsificação de dinheiro – até então considerados recentes na sociedade, muito característicos de uma metrópole capitalista em crescente expansão. Por isso certamente os seus crimes aguçavam a curiosidade e a atenção do público.

Foi assim nesse contexto, em que novos delitos começavam a entrar no cenário moderno carioca, que o falsificador de dinheiro Afonso Coelho foi retratado, nas palavras de Orestes Barbosa49, como uma “celebridade” nesse gênero de crime. Afonso foi criado nos sertões de Goiás e Triângulo Mineiro; de espírito inquieto e aventureiro, mudou-se para São Paulo, e depois para o Rio de Janeiro, como informou o seu biógrafo, Ely Carneiro de Paiva.50 Com menos de 30 anos de idade foi, a partir daí, protagonista de inúmeros casos astuciosos de falsificação, estelionato e fuga, como lembra Paiva. Segundo esse autor, na mais famosa de suas fugas, já no final do século

49 Barbosa, Orestes. Bambambã. Op.cit., p. 39.

50 Paiva, Ely Carneiro. O homem do Cavalo Branco: uma história do jornalismo policial da Velha

XIX, foi imortalizado como o “Homem do Cavalo Branco”.51 Em 1922, acabou sendo, como lembra Orestes Barbosa, assassinado pela sua amante por questão de ciúmes ou de dinheiro. 52

Nessa ocasião, os jornais relembravam aos seus leitores as práticas criminosas do gatuno e as suas fugas de presídios empreendidas ao longo de sua vida criminosa. Naquele momento, o Jornal do Brasil publicava uma extensa reportagem na qual recapitulava o primeiro crime que Afonso teria cometido em março de 189753. Segundo tal notícia, Afonso, então residente em Santos, teria habilmente falsificado uma bula de café, para vendê-la a um importante negociante daquela praça, apoderando-se da avultosa quantia que recebera.

Na perspectiva das reportagens policiais, Afonso era um criminoso ambicioso, pois ao ter percebido que Santos era um centro “acanhado para suas Escroqueries”, preferiu transferir-se para o Rio de Janeiro, visto como um centro econômico em expansão54. Aqui teria montado um escritório de comissões e consignações. Afonso teria então enchido o comércio de circulares, anunciando o seu novo estabelecimento. Nas circulares, comentava a matéria do Jornal do Brasil, o criminoso teria dito que faziam parte da firma dois recomendáveis nomes do cenário político e intelectual. Um deles era o político Rodrigues Alves, futuro presidente da República, e naquele momento ministro da fazenda de Prudente de Morais, além de negociador da consolidação dos empréstimos externos de banqueiros de uma família inglesa. O outro político em questão era o romancista Visconde de Taunay. Segundo a reportagem, “com tão recomendáveis nomes, não faltou freguesia à casa, e em poucos dias a clientela era numerosa”.55

A matéria assinalava que Afonso tinha recebido do interior mercadorias para vender, apoderando-se do dinheiro. Outras vezes, por meio de requisições falsas, teria retirado dos armazéns essas mercadorias em depósito, fazendo com elas negócios. Mas segundo a notícia do Jornal do Brasil a sua firma teve que “ajustar contas com a polícia”, já que esta teria descoberto sua “tramóia”. Afonso acabara sendo preso e processado, e posteriormente posto em liberdade.56

51 Idem, ibidem. 52

Barbosa, Orestes. Bambambã. Op. cit., p. 39.

53 “O triste fim do maior dos “scrocs” nacional”, Jornal do Brasil, 12/12/1922, 9. 54 Idem, ibidem.

55 Idem, ibidem. 56

Anos depois, quando Afonso Coelho já tinha cumprido a sentença de sua última condenação, o Rio de Janeiro presenciou um grande roubo promovido por uma quadrilha de salteadores comandada por um criminoso de nome Alberto Teixeira por meio de falsas firmas, como comentamos anteriormente. Nessa ocasião, uma matéria do

Jornal do Brasil traçava pontos de semelhanças e diferenças entre Alberto Teixeira e

Afonso Coelho57. Segundo a notícia, ambos eram dotados de grande inteligência e possuíam “uma rara habilidade” de imitar “qualquer talho de letra”. Mas, segundo a matéria, Afonso sempre repugnou os processos violentos dos quais Alberto “não trepidou em lançar mão” ao amarrar, amordaçar e vendar um cobrador de uma casa comercial enquanto efetuava o roubo. Além disso, afirmava o repórter da notícia, enquanto Afonso Coelho era um “scroc”, ou seja, um aristocrata do crime, Alberto era “um personagem encarnado na pele de Rocambole” – “criatura engendrada pelo cérebro fecundo de Ponson du Terrail e que tanto sucesso fez no seu tempo de aparecimento nas “vitrines” dos livreiros e rodapés dos jornais parisienses”.58

Esse caso de crime perpetrado por Alberto Teixeira é um exemplo de que na cidade, quando ocorriam delitos semelhantes aos de Afonso, seu nome muitas vezes voltava a ser estampado nos jornais.

Não por acaso que, anos depois deste ocorrido, em outubro de 1913, os jornais voltavam a falar de Afonso Coelho, ao acusá-lo de ser autor de um outro grande crime ocorrido na cidade: “O legendário estelionatário Afonso Coelho, que tantas e tão brilhantes páginas tem fornecido à reportagem policial, está novamente em foco”.59 As reportagens policiais acusavam o gatuno de ser autor do roubo ao Banco do Brasil.

Antes desse ocorrido, os repórteres afirmavam que Afonso estaria em São Paulo quando a polícia paulistana pedia a sua prisão, já que o acusava de planejar assalto a diversos bancos e falsificação de cheques em São Paulo. Mas os jornalistas salientavam que o criminoso tinha sido solto e que embarcara para o Rio, na mesma época em que o roubo em 16:800$ no Banco do Brasil fora perpetrado .60 Ao narrar tal episódio, uma reportagem do Jornal do Brasil vangloriou a esperteza e a inteligência do gatuno, alegando que ele fizera os cheques sobre o banco com a “proficiência que faz o

57

“Salteadores da cidade: discípulos de Rocambole”, Jornal do Brasil, 5/05/1908, 4. 58 Idem, ibidem.

59 “Prisão de Afonso Coelho”, Jornal do Brasil, 20/10/1913, 7.

60 “Obra de Afonso Coelho: o famoso Arsène Lupin carioca. O Banco do Brasil roubado em 16:800$”,

seu orgulho de scroc, finamente inteligente e com sólido preparo jurídico adquirido quando cumpriu uma pena de quatro anos”.61

A reportagem acima construía a imagem de Afonso como um scroc, personificando-o na figura do Arsène Lupin, vide pelo título da própria matéria: “Obra de Afonso Coelho: o famoso Arsène Lupin carioca. O Banco do Brasil roubado em 16:800$”62. Segundo a notícia, tal caso prendeu muitos dias a atenção dos leitores, porque “Afonso na ocasião fez coisa do arco da velha”.63

Nessa matéria, assim como nas outras reportagens da época, os jornalistas romantizavam a figura de Afonso, pois era retratado como “um tipo insinuante, de fina educação, mesmo nos momentos mais angustiosos de sua vida de aventuras perigosas”, já que não perdia a “linha de cavalheiro”. Tal como Arsène Lupin, Afonso “veste-se com apuro, tem hábitos elegantes, ama o jogo e as mulheres”.64

Os bens materiais que o gatuno teria acumulado ao longo de sua vida criminosa eram retratados como algo extraordinário: “Suas propriedades valem mais de 40 contos”.65 Assinalava-se que tais bens eram sustentados com a “gargalhada, a máscara que lhe convém no momento”, “sempre com um sorriso de bondade”66. Esse tipo de imagem construída sobre Afonso parecia ser uma referência típica à figura do estelionatário, uma vez que esse termo significa originalmente “lagarto”, que quer dizer a capacidade de um indivíduo se adaptar a diferentes situações.67

Anos depois do roubo ao Banco do Brasil, seu nome voltava a ser comentado nas páginas policiais da imprensa, pois pesava sobre ele a principal suspeita de ter sido o autor de uma derrama de moeda falsa em 1918 . Em uma crônica publicada na Gazeta por Orestes Barbosa em 1922, este cronista argumentava que Afonso era o principal suspeito da polícia nesse caso, porque, na ocasião, a derrama de moeda falsa, vista pelo autor como “notas bem feitas”, não poderia ter sido realizada por Albino Mendes, pois este famoso falsário estava preso.68

61 Idem, ibidem. 62 Idem, ibidem. 63 Idem, ibidem. 64 Idem, ibidem.

65 “O assassínio de Afonso Coelho”, Gazeta de Notícias, 14/12/1922, 5. 66 Idem, ibidem.

67

“ Estelionato”. In: Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977,p. 127 apud Biasoli, Luiz Carlos de Sales. Da necessidade de tipificação do crime de estelionato praticado na internet. Brasília, Monografia, UDF, 2009, p. 11.

68 “Afonso Coelho”. In: Orestes Barbosa, Gazeta de Notícias, 20/12/1922, 3. Esta crônica foi republicada, com alterações, em “Bambambã”. Barbosa, Orestes. Bambambã. Op. cit., pp. 39-40.

Segundo Orestes, no momento em que se dera o ocorrido, Afonso estava morando em Friburgo, dizendo-se estar regenerado. Mas a polícia, duvidando dessa regeneração, teria convidado Afonso a comparecer a sua presença para uma palestra. Orestes69, ao comentar o fato, expôs que Afonso teria dito ao inspetor de segurança que o negócio de que lhe falara não era “negócio que lhe pudesse ser atribuído”, sob a alegação de que só cometia crimes de grande vulto.

(...) Mandaram convidar o falsário para uma conferência. Afonso Coelho atendeu logo. Chegou amável. Conversou muito com o inspetor de segurança. Disse que não estava metido na derrama. Declarou que vivia retirado da “atividade”, a qual não pretendia voltar.

Entretanto – acrescentou lealmente – se lhe aparecesse “negócio” absolutamente seguro, não hesitaria em “trabalhar”.

O alto funcionário, sentindo a verdade na firmeza das palavras de Afonso Coelho, largou o assunto das notas falsas e entrou a analisar as declarações:

- Então, se aparecer um bom negócio, você pega... - Sendo bom, pego.

- Mas você, Afonso, não teme ficar um dia irremediavelmente perdido nos artigos do Código Penal?

Afonso Coelho sorriu e disse:

- Qual, Exa. os artigos do Código Penal são como essas bóias luminosas que existem nas baías: o bom navegador passa entre elas...70

Pela narrativa acima, Orestes retratava a figura do falsário como um hábil malandro que sabia infringir as leis penais com astúcia e inteligência, sem ser pego. Segundo o autor, Afonso era “entre os criminosos intelectuais, uma figura sem par”, pois infringia por diversas vezes as leis penais e pouco sofria as consequências disso.71 Orestes Barbosa parecia mesmo descrevê-lo como uma espécie de herói do crime. Dizia ele:

Não só a história do cavalo branco, mas outras aventuras, nos tribunais, nos cárceres e nas cidades, ele executou com êxito.72

Em seu livro “Bambambã”, ao republicar tal crônica em 1923, Orestes acrescentou, inclusive, que Afonso foi o criminoso mais popular do Brasil, depois de Carleto.73

69 Idem, ibidem. 70 Idem, ibidem. 71

Patrocínio, Paulo Roberto Tonani do. Escritos à margem: a presença de escritores de periferia na cena

literária contemporânea. Tese de Doutorado: PUC-Rio, 2010; Dias, Adriana Albert. “ A mandiga e a

cultura malandra dos capoeiras”. Salvador, Revista de História, n.1, vol.2, 2009,pp. 53-68. 72 Barbosa, Orestes. Bambambã. Op. cit.

73

Para os jornais e este cronista, nos anais da polícia do Brasil, o nome de Afonso figuraria em “várias capitais, não só como audacioso estelionatário e falsário”, mas também pelas “várias proezas que foram postas em prática para escapar da prisão”.

Um delegado na época, chamado Vicente Reis, em seu livro “Os ladrões do Rio”, no qual traçava uma tipologia dos ladrões que circulavam pela cidade, também assinalou que Afonso arquitetara mirabolantes planos de fuga dos presídios por onde passava.74 Segundo o delegado, na detenção Afonso Coelho conseguiu ardilosamente enganar dois soldados, que o haviam transportado para depor na pretoria, e fugiu “em um fogoso cavalo branco que o esperava na esquina do campo e correu por ali afora, indo parar na Pavuna”75. Tal história, que parecia ter ares de ficção, como bem comentou Marilene Antunes76, foi confirmada pelos jornais e várias vezes recapitulada. Em março de 1900, por ocasião de uma outra fuga do prisioneiro, o jornal relembrou o fato, enaltecendo a sua suposta inteligência.

Já tardava que o celebérrimo Afonso Coelho, o famigerado estelionatário do cavalo branco, não planejasse uma fuga na Casa de Detenção. O herói de dezenas de fugas, cada qual mais interessante, foi, porém, caipora desta vez: o seu plano de fuga foi descoberto a tempo e transferida a sua evasão, naturalmente para quando se anunciar.77

Ao narrar minuciosamente a tentativa de fuga do gatuno em 1900, a reportagem ressaltava que ele teria tirado com cera, “com a habilidade que lhe é peculiar”, o molde da fechadura de seu cubículo e mandou fazer uma chave falsa.78 Ao comentar a referida história, a partir dessa notícia, a historiadora Marilene Antunes salientou que sempre com a conivência dos guardas, quase sempre lhe fazendo favores e facilitando a entrega de cartas e outros objetos, em vista das quantias que recebiam do preso, mandou também confeccionar um fardamento de soldado para facilitar sua fuga e a de seus companheiros. Descoberto o plano, ficou o preso proibido de sair de sua cela, nem mesmo a passeio pelo estabelecimento, como era permitido anteriormente.79

74

Reis, Vicente. Os ladrões do Rio. Rio de Janeiro: Laemmert, 1903, apud Sant’Anna, Marilene Antunes.

A imaginação do castigo. Op. cit, p. 188.

75 Reis, Vicente. Os ladrões do Rio. Op.cit. 97-106, apud Sant’Anna, Marilene Antunes. A imaginação

do castigo. Op. cit.

76 Sant’Anna, Marilene Antunes. A imaginação do castigo. Op. cit.

77 Jornal do Brasil, 30/03/1900, 1. Apud Sant’Anna, Marilene Antunes. Op. cit., p. 188. 78 Sant’Anna, Marilene Antunes. A imaginação do castigo. Op. cit.

79

Na ocasião da morte de Afonso, mais uma vez a história do “Cavalo Branco” fora relembrada pelos jornais de forma folhetinesca, como uma maneira de atrair a atenção do público:

Na primeira (fuga), teve ele por auxiliar um modesto bucéfalo que passou a história como o cavalo branco de Afonso Coelho. O quadrúpede foi amigo do dono. Esperou-o pacientemente numa das ruas que desembocam no campo de Santana e que o atilado Coelho conseguiu escapar dos policiais que o escoltavam, o cavalo branco levou-o (...) para uma chácara do Meyer, onde Afonso conseguiu passar algum tempo fora das garras da polícia.

A imaginação popular trabalhou muito por essa época. Disse que o homem audacioso vinha no centro da cidade, disfarçado ora em “madame chic”, ora em velho trôpego e quando regressava ria-se intimamente, no trem, ou no bonde dos comentários que se fazia de suas proezas.80

Ao longo da vida criminosa de Afonso e mesmo depois de sua morte, a imprensa transformava a figura do gatuno em um personagem lendário, já que era visto como a expressão maior da gatunagem carioca.

Mas na época havia quem discordasse dessa assertiva, como foi o caso do cronista João do Rio. Este escritor chegava a reconhecer, no entanto, em uma crônica sua publicada no jornal A Notícia, em 1911, que houvera um tempo no qual se teve um “movimento a favor de Afonso Coelho”, pois era “um exemplo admirável de gatuno literário, do gatuno-novela” 81. João do Rio chegava inclusive a mencionar o episódio célebre do “cavalo branco” e as falsificações de cheques que Afonso teria feito, dizendo que a “sociedade admirava-o e seguia-lhe as aventuras como um romance folhetim”.

Mas parece que em João do Rio a imagem de Afonso como gatuno inteligente mudara drasticamente quando o criminoso foi pego, tentando dizer que era um homem honesto. “De repente, Afonso é pegado. Nem literário, nem original, um neurastênico possuidor da linguagem escatológica, querendo passar por honesto – uma miséria”.82 João do Rio, quando visitou a Casa de Detenção no Rio de Janeiro, voltava a descrever Afonso Coelho como um indivíduo burro, dotado de um “pobre cérebro”, pois – alegava o cronista – as suas cartas que tratavam de sua regeneração continham “erros de ortografia lamentáveis” . Além disso, o cronista considerava que os seus planos de fugas

80 “O último “tiro” de Afonso Coelho”, Correio da Manhã, 11/12/1922, 3. 81 “O representativo do roubo inteligente”, A Notícia, 20/08/1911.

82

eram estranhos83, bem diferentes da forma pela qual a imprensa e Orestes Barbosa retratavam suas evasões dos presídios.

Na opinião de João do Rio, quem de fato era o gatuno representativo do roubo inteligente no Rio de Janeiro era Antunes Maciel, conhecido como Dr. Antônio.84 Tal como esse cronista, as reportagens policiais o retratavam como um ladrão “fino”, “elegante”85 e inteligente, que não recorria praticamente aos meios violentos para efetivar seus assaltos em diversos hotéis da cidade:

Antônio Antunes Maciel, o celebrizado Dr. Antônio, bastante conhecido pelas suas proezas de rapinagem, não é um larápio vulgar. Tem a sua história, sendo apontado como autor de vários planos habilidosos para se apossar do alheio.

Não é tampouco um salteador que ataca de frente, disposto até a morrer, para despojar as incautas vítimas dos seus haveres. Os seus assaltos obedecem a planos engenhosos, bem delineados sem haver neles grande necessidade de meios violentos.86

Segundo João do Rio, Dr. Antônio “enganava os outros, sem que a polícia o pudesse prender”, dando-lhe uma “auréola de superioridade mental”.87 O cronista assinalava que Dr. Antônio era genial, pois, ao contrário de Afonso, não dizia querer se regenerar. Alegava que quando um gatuno é só gatuno, sem se dedicar a nenhum outro tipo de crime, tinha de continuar e insistir no roubo, pois, em suas palavras, “o grande crime é não continuar”.88

Assim, a figura de Afonso Coelho era alvo de disputa de representações entre o cronista e o noticiário policial / Orestes Barbosa, o que nos indica mais uma vez como o criminoso ficou marcado na memória dos jornais e dos jornalistas de prestígio do período.