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INOVAÇÃO* Fontes

4. A NATUREZA DA CRIATIVIDADE

4.2 AGÊNCIA E AUTOEFICÁCIA

O conceito de autoeficácia encontra-se intimamente vinculado à Teoria da Agência Humana (BANDURA, 2000). No campo da psicologia, o conceito de agência humana refere-se à crença de que as pessoas detêm a chave para mudanças sociais: as pessoas são seus próprios mestres e nascem equipadas com a habilidade de mudar tanto o mundo quanto a elas próprias. Bandura (2000) define agência humana como a capacidade que os indivíduos possuem de fazer escolhas e impor suas escolhas ao mundo. Sob a perspectiva da agência humana, os indivíduos são produtores de experiências e forjadores de eventos.

Algumas tradições filosóficas, em particular as perspectivas de Hegel e Marx, entendem agência humana como um fenômeno coletivo e historicamente dinâmico, e não como uma função do comportamento individual. Já a sociologia confronta agência e estrutura no estudo da ação humana: enquanto agência se refere à autodeterminação e à livre escolha do indivíduo, estrutura se refere aos fatores ambientais que aparentemente limitam e influenciam a agência humana (BANDURA, 2000). A Teoria Cognitiva Social (TCS) (BANDURA, 1989) postula que o desenvolvimento humano não é um processo monolítico. Segundo a TCS, as capacidades humanas variam em suas origens psicobiológicas e com as condições experimentais / ambientais. Segundo Bandura (1989), em oposição às abordagens unidirecionais que descrevem o comportamento humano como moldado e controlado exclusivamente (i) pelas influências ambientais ou (ii) por disposições internas do agente,

a TCS privilegia um modo de causalidade que envolve um determinismo recíproco. Nesse modelo de causalidade recíproca, (i) as influências ambientais e (ii) o comportamento, a cognição e outros fatores pessoais operam como determinantes em constante interação e influência recíproca. A causalidade recíproca não implica que as diferentes fontes de influência tenham a mesma intensidade em todas as situações: algumas forças podem ser mais determinantes que outras sob dadas condições. Tampouco as influências recíprocas ocorrem rapidamente: em geral, requer tempo para que fatores causais exerçam força e ativem as influências recíprocas, ampliando ou inibindo certas capacidades humanas (BANDURA, 1989).

O psicólogo considera que a crença na eficácia pessoal é o mais central e difuso dos mecanismos de agência humana. Para Bandura (2000), a crença na autoeficácia é a base da agência humana: a menos que as pessoas acreditem de verdade que conseguem, com suas ações, produzir os efeitos desejados e evitar os indesejados, elas têm pouco incentivo a agir. A percepção da autoeficácia não é simplesmente uma baliza inerte para ações futuras. A autoavaliação das capacidades operacionais e intelectuais regula o comportamento, os padrões de pensamento e as reações emocionais que as pessoas experimentam ao enfrentar diferentes situações. O julgamento da autoeficácia, correto ou equivocado, influencia a seleção das atividades e dos ambientes por parte do agente. As pessoas tendem a evitar atividades que acreditam exceder suas capacidades e tendem a assumir e desempenhar bem aquelas que julgam capazes de administrar (BANDURA, 2000).

Bandura (2000) afirma que o julgamento da eficácia pessoal também determina quanto esforço as pessoas despendem e o quanto persistem face a obstáculos e experiências adversas. Quando se deparam com dificuldades, as pessoas que enfrentam sérias dúvidas sobre suas capacidades reduzem seus esforços ou desistem por completo, ao passo que aqueles com um forte senso de eficácia exercem grande esforço para vencer o desafio. A percepção de eficácia, portanto, afeta a motivação e o comportamento.

A crescente interdependência da ação humana vem reforçando o conceito da agência coletiva: a crença compartilhada no poder de produzir efeitos por meio da ação coletiva. Segundo Bandura (1999), a percepção da eficácia coletiva alavanca o comprometimento motivacional dos indivíduos com suas missões, a resistência às adversidades e ganhos de desempenho. As conquistas do grupo são produto não somente do compartilhamento de conhecimento e habilidades entre os diferentes membros, mas também das dinâmicas de interação, coordenação e sinergia de suas transações. A percepção da eficácia coletiva não é a mera soma das crenças na eficácia pessoal de cada membro, mas uma propriedade emergente do grupo.

O lócus da percepção da eficácia coletiva está na mente dos integrantes do grupo. Trata-se de pessoas agindo de forma coordenada dentro de uma crença compartilhada. A crença compartilhada na eficácia coletiva do grupo influencia (i) o tipo de futuro que pretendem alcançar com a ação coletiva; (ii) o modo como utilizam seus recursos; (iii) quanto esforço investem nos empreendimentos do grupo; (iv) a conservação / manutenção do poder quando os esforços coletivos fracassam em produzir resultados rápidos e/ou enfrentam forte oposição e (v) a vulnerabilidade dos atores ao

desânimo e à desistência frente a problemas difíceis (BANDURA, 1999).

O psicólogo identifica dois caminhos para mensurar a percepção da eficácia coletiva. O primeiro método contempla o somatório das avaliações da eficácia pessoal dos integrantes do grupo: a capacidade que cada um acredita ter de executar suas funções no grupo. O segundo método considera a avaliação dos integrantes sobre a capacidade do grupo de operar como um todo. Essa abordagem encampa os aspectos da coordenação e da interação que operam dentro dos grupos. Apesar dos dois métodos diferirem quanto ao peso relativo que explicitamente atribuem aos fatores individuais e interativos, na verdade, essas duas perspectivas encontram-se inextricavelmente imbricadas: o julgamento da eficácia pessoal do indivíduo dentro de um grupo inevitavelmente encampa as dinâmicas coordenativas e interativas no grupo; por outro lado, ao avaliar a eficácia do grupo, as pessoas certamente consideram como os demais executam suas tarefas (BANDURA, 1989).

Passemos, agora, a explorar o universo lúdico do jogo: uma jornada que nos permitirá conhecer a essência desse modo de vida e analisar o potencial que o mesmo traz para o exercício da criatividade, a (re)conquista da confiança criativa, a (re)construção da percepção de autoeficácia e da eficácia coletiva de equipes multifuncionais envolvidas em atividades de inovação e a construção das bases de uma estrutura sistêmica de aprendizagem.