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Agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil

No documento Livro bioetanol da cana de açucar (páginas 162-167)

Bioetanol de cana-de-açúcar no Brasil

161 Nos Gráficos 16, 17 e 18, é possível observar claramente como, apesar do estancamento das

6.2 Agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil

A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil desde 1532, trazida por Martim Afonso, o primeiro colonizador português, com o propósito de implantar engenhos de açúcar como os existen- tes à época nas ilhas dos Açores. Essa espécie se adaptou bem ao solo brasileiro e, durante todo o período colonial, foi extensamente cultivada com bons resultados ao longo da cos- ta brasileira, onde dezenas de engenhos foram construídos, principalmente no Recôncavo Baiano e em Pernambuco, promovendo o importante ciclo da economia canavieira no Brasil durante quase dois séculos. Com a expulsão dos holandeses do Nordeste e a expansão da agroindústria açucareira na região das Antilhas, em meados do século XVII, a produção bra- sileira reduziu sua importância relativa, mas permaneceu desde então como uma importante atividade na economia brasileira, revigorada a partir da criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1933, época em que o uso do bioetanol automotivo já era uma realidade nascente. Também a partir dessa época, a agroindústria canavieira começou a se expandir na Região Sudeste, associada, em princípio, à decadência da lavoura cafeeira e, posteriormente,

ao crescimento do mercado interno [Szmrecsányi (1979)].

Atualmente, a cultura da cana alcança quase todos os estados brasileiros e ocupa cerca de 9% da superfície agrícola do país, sendo o terceiro cultivo mais importante em superfície ocupada, depois da soja e do milho. Em 2006, a área colhida foi da ordem de 5,4 milhões de hectares, para uma área plantada de mais de 6,3 milhões de hectares e produção total de 425 milhões de toneladas [Carvalho (2007)]. A região produtora de maior destaque é a Centro-Sul-Sudeste, com mais de 85% da produção, e o maior produtor nacional é o Esta- do de São Paulo, com cerca de 60% da produção. O sistema de produção envolve mais de 330 usinas, com capacidade entre 600 mil e 7 milhões de toneladas de cana processada por ano, com uma usina média processando, anualmente, cerca de 1,4 milhão de toneladas. A distribuição da capacidade anual de moagem é apresentada no Gráfico 20 (valores para a safra 2006/2007). Como se pode ver, as dez maiores usinas respondem por 15% do total de matéria-prima processada, enquanto as 182 menores unidades processam metade da cana. Esses números mostram a baixa concentração econômica dessa agroindústria, característica dos sistemas bioenergéticos.

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Gráfico 20 – Distribuição da capacidade anual de processamento das usinas de

açúcar e etanol no Brasil

Fonte: Elaborado com base em Idea (2007).

As usinas brasileiras trabalham, em média, com 80% da cana proveniente de terras próprias e arrendadas ou de acionistas e companhias agrícolas com alguma vinculação às usinas. Os 20% restantes são fornecidos por cerca de 60 mil produtores independentes, a maioria utili- zando menos de dois módulos agrícolas. O módulo agrícola corresponde à menor parcela de fracionamento do solo rural, de modo a permitir o sustento de uma família, e varia conforme a região. Assim, grande parte dos produtores de cana pode ser caracterizada como pequenos produtores agrícolas, que produzem cana entre outros produtos agropecuários para fins eco- nômicos e de consumo próprio, geralmente contando com o suporte tecnológico das usinas [CGEE/NAE (2005)].

Do ponto de vista do perfil de produção, as usinas brasileiras podem ser classificadas em três tipos de instalações: as usinas de açúcar, que produzem exclusivamente açúcar, as usinas de açúcar com destilarias anexas, que produzem açúcar e bioetanol, e as instalações que só produzem bioetanol, ou destilarias autônomas. A grande maioria das instalações é for- mada por usinas de açúcar com destilarias anexas (cerca de 60% do total), seguidas por um considerável montante de destilarias autônomas (cerca de 35%) e por algumas unidades de processamento exclusivo de açúcar, conforme indicado no Gráfico 21. Como uma média nacional, aproximadamente 55% dos açúcares disponíveis na cana processada foram desti- nados à produção de bioetanol na safra 2006/2007 [Unica (2008)].

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Gráfico 21 – Perfis de produção das usinas de açúcar e etanol no Brasil na

safra 2006/2007

Fonte: Elaborado com base em Idea (2007).

Geograficamente, as usinas de açúcar e bioetanol situam-se junto às regiões produtoras de cana, a maior parte delas localizada no Estado de São Paulo, como mostrado na Figura 9. Nesse estado, conjugaram-se, além das excelentes condições de solo e clima, a existência de uma adequada infra-estrutura de transportes, a proximidade dos mercados consumidores e uma ativa base de desenvolvimento científico e tecnológico, fundamental para o processo de expansão com incrementos de produtividade observado nesse setor. Entretanto, nos últi- mos anos, com a relativa saturação das áreas disponíveis nesse estado e a elevação dos custos da terra, as novas unidades de produção têm se instalado em áreas anteriormente ocupadas por pastagens e, em menor grau, por cultivos anuais na região do Triângulo Mineiro, Sul de Goiás e Sudeste de Mato Grosso do Sul, áreas contíguas às tradicionais regiões produtoras de cana do Centro-Sul brasileiro, como mostrado na Figura 24, que permitem desenvolver sistemas produtivos similares aos existentes em São Paulo.

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Figura 24 – Localização das novas usinas de açúcar e etanol no Brasil

Fonte: CGEE (2006).

Conforme números da safra 2006/2007, o agronegócio da cana-de-açúcar, que engloba a produção de cana, açúcar e bioetanol, movimentou em 2007 cerca de R$ 41 bilhões, corres- pondentes a faturamentos diretos e indiretos. Foram processados 420 milhões de toneladas de cana, produziram-se 30 milhões de toneladas de açúcar e 17,5 bilhões de litros de bio- etanol e foram exportados 19 milhões de toneladas de açúcar (US$ 7 bilhões) e 3 bilhões de litros de bioetanol (US$ 1,5 bilhão), representando 2,65% do produto interno bruto (PIB) nacional. Além disso, foram recolhidos R$ 12 bilhões em impostos e taxas e realizaram-se investimentos anuais de R$ 5 bilhões em novas unidades agroindustriais [ProCana (2008)]. Esses resultados expressivos foram alcançados por um parque de unidades produtivas carac- terizado pela heterogeneidade quanto à escala de produção, ao porte, à localização geográ- fica, às estruturas produtivas e aos perfis financeiros e administrativos. Nesse contexto, natu- ralmente, observam-se diferentes custos de produção e níveis de eficiência, como resultado da significativa evolução do setor sucroalcooleiro durante as últimas décadas, em termos de capacidade, perfil produtivo e flexibilização do marco regulatório.

As usinas brasileiras de açúcar e bioetanol atualmente em operação podem ser classificadas em três grupos, levando em conta sua situação financeira, os indicadores de produtividade e a introdução de tecnologias inovadoras (modificado de IEL/Sebrae, 2006):

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Empresas estagnadas. Constituído pelas usinas em situação critica ou pré-critica, por

causa do volume das dívidas acumuladas e da defasagem tecnológica, com reduzidas possibilidades de atuar de forma individual num setor com elevada competitividade interna. Apenas com o aporte de novos recursos e linhas específicas de financiamento, esse quadro poderá ser modificado, a fim de atualizar as tecnologias empregadas e permitir o incremento da produtividade agroindustrial.

Empresas rentáveis. Formado pelas usinas que lograram enfrentar com sucesso a des-

regulamentação setorial e a indefinição da política energética brasileira, expandindo a capacidade de produção e investindo em novas tecnologias, com redução de custos e aumento da produtividade. Isoladamente ou em grupos, algumas dessas empresas diversificaram suas atividades para a comercialização e a logística de exportação de seus produtos.

Empresas inovadoras. Constituído pela parcela das empresas rentáveis que, isolada-

mente ou em parcerias com empresas multinacionais, destacaram-se do grupo an- terior, diversificando sua base tecnológica para produção de derivados do açúcar e abrindo novas perspectivas para a agregação de valor à cana-de-açúcar.

Associada à expansão da produção sucroalcooleira, tem ocorrido uma significativa diversifi- cação da composição e da origem do capital investido na agroindústria, originalmente quase todo baseado em empresas familiares, em boa parte criadas e administradas por imigrantes italianos e seus descendentes, na Região Centro-Sul, e por famílias da região, no caso das usinas do Nordeste. Atualmente, além das empresas familiares, observam-se a abertura de capital de diversas empresas (Cosan, Costa Pinto, Guarani, Nova America, São Martinho) e a entrada de investidores estratégicos nacionais (Votorantim, Vale, Camargo Correa, Ode- brecht) e estrangeiros, de origem variada: francesa (Tereos, Sucden, Louis Dreyfus), alemã (Sudzucker), americana (Bunge, Comanche Clean Energy, Cargill, Global Foods), espanhola (Abengoa), guatemalteca (Ingenio Pantaleón), indiana (Bharat Petroleum, Hindustran Petro- leum, India Oil), britânica (ED&F Man, British Petroleum), malaia (Kouk) e japonesa (Mitsui, Marubeni).

Outra inovação nesse setor tem sido a relevante presença de investidores financeiros, no- vamente nacionais e estrangeiros, isolados ou em consórcio com operadores. Nesse último caso, podem ser mencionados os fundos formados para implementar plataformas de pro- dução e comercialização de bioetanol de cana-de-açúcar, como Infinity Bio-Energy, Brenco (Empresa Brasileira de Energia Renovável) e Clean Energy Brazil. O modelo típico dos negó- cios envolvendo capital estrangeiro inclui sócios brasileiros, com expressiva participação de empresas estrangeiras nas dezenas de operações de aquisições e fusões realizadas nos últi- mos anos. Ainda que tal diversificação seja um processo da maior importância, que sinaliza a confiança dos investidores e a introdução de novos conceitos de gestão e governança, o capital estrangeiro representa uma parcela menor dos investimentos totais nesse setor, esti-

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