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63 produção segue por rotas mais diretas, sobretudo nas regiões mais distantes ou em mercados de

No documento Livro bioetanol da cana de açucar (páginas 63-67)

O etanol em motores aeronáuticos

63 produção segue por rotas mais diretas, sobretudo nas regiões mais distantes ou em mercados de

menor expressão, embora sempre e necessariamente passe pelas bases primárias para a mistura com gasolina, uma exclusividade legal das distribuidoras de combustível.

Essa opção brasileira de permitir a mescla do etanol anidro com a gasolina apenas pelas distribuidoras foi determinada, essencialmente, por aspectos tributários (simplificação do re- colhimento de tributos), já que, em princípio, a mistura de bioetanol e gasolina poderia ser efetua da nas usinas produtoras, nas refinarias ou, mesmo, nos postos revendedores, no momento de abastecer os veículos. Não obstante, existem outras justificativas importantes, como a descentralização da produção de bioetanol e sua proximidade das bases de distri- buição, bem como a necessidade de contar com uma clara e inequívoca atribuição de res- ponsabilidades quanto à especificação de qualidade do combustível, um aspecto essencial. Nesse sentido, o modelo de operação empregado no Brasil deixa bem claro: as refinarias produzem gasolina, as usinas produzem bioetanol anidro e as companhias de distribuição de combustíveis preparam a mistura dessas duas correntes. Esse último agente econômico, as distribuidoras, está encarregado de avaliar o produto que recebe (gasolina e bioetanol) e tam- bém responde pela qualidade do produto que entrega. Outros modelos operacionais podem ser estabelecidos, mas é fundamental que a cadeia de responsabilidades sobre a qualidade do combustível esteja bem definida e seja monitorada adequadamente pelo governo [ANP (2008)]. Em termos práticos, a preparação da mescla de gasolina e bioetanol nas bases de distribuição efetua-se em tanques de grande capacidade – alimentando-se continuamente com gasolina e bioetanol, sob estrito controle de processo de mistura e qualidade – ou no próprio caminhão-tanque, cujos movimentos durante o transporte garantem a necessária homo- geneidade do combustível após alguns minutos de trânsito normal. Essa última maneira de preparar a mistura gasolina/etanol é conhecida em inglês como splash blending e pode ser adotada a custos baixos. Cabe observar que a medição do teor de etanol na mistura é efetua- da com rapidez e suficiente exatidão por um método bastante simples e direto (absorção do etanol presente na gasolina mediante sua mistura com água salgada e medição de volumes correspondentes em bureta). Esse procedimento expedito, utilizado também em postos de gasolina, é padronizado pela norma brasileira ABNT NBR 13.992: Gasolina Automotiva – de- terminação do teor de álcool etílico anidro combustível, revisada em 1997.

Para a adaptação completa (tanques, sistemas de mistura e controle) de quatro bases de dis- tribuição para introduzir 7% de bioetanol na gasolina consumida na Costa Rica, implicando 60 milhões de litros de bioetanol por ano, foi estimado um custo total de US$ 5 milhões, que representam 3% dos gastos realizados por esse país em 2006 para a importação de combus- tíveis [Ulate (2006)].

Quando se trata de movimentar volumes expressivos, o uso de dutos para o transporte do bioetanol e da gasolina com bioetanol pode ser o mais recomendável, embora alguns opera- dores afirmem ser inadequado seu uso com etanol. Com efeito, por ser potencialmente mais corrosivo e atuar como solvente seletivo, além de absorver mais água que os derivados de pe-

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tróleo, o etanol impõe cuidados adicionais, como o controle sistemático do estado dos dutos e sua limpeza acurada para evitar arrastes indesejáveis. De todo modo, essas dificuldades têm sido superadas e esse modal vem sendo crescentemente utilizado com esse biocombustível, no Brasil e nos Estados Unidos [API (2007)]. Nesse sentido, é importante mencionar que a Pe- trobras desenvolveu uma grande experiência com esse biocombustível nas últimas décadas, movimentando anualmente alguns milhões de metros cúbicos de bioetanol. Foram publica- dos mais de 200 trabalhos técnicos e emitidos mais de 40 procedimentos operacionais sobre temas técnicos na logística do bioetanol no contexto da indústria do petróleo. Ainda segundo essa empresa, em 30 anos de operação de dutos com expressivos volumes de bioetanol, não foram observadas ocorrências de corrosão sob tensão (stress corrosion cracking – SCC), risco apontado como potencialmente associado a esse produto [Gomes (2008)].

Diversos projetos estão atualmente em desenvolvimento no Brasil para expandir a capacidade dutoviária para bioetanol, prevendo até dutos de longa distância dedicados exclusivamente ao bioetanol para exportação. Uma grande companhia operadora de oleodutos nos Estados Unidos, a Williams Energy Services, informa ter despachado regularmente e sem problemas gasolina com bioetanol em suas linhas [Whims (2002)], enquanto têm sido lançados projetos para dutos exclusivos para bioetanol nos Estados Unidos [Mears (2007)].

Os aspectos logísticos devem ser considerados relevantes para o bom desenvolvimento de programas de uso de bioetanol combustível. As questões variam caso a caso e soluções es- pecíficas têm sido implementadas com sucesso, sempre associadas a um adequado plane- jamento. As dificuldades encontradas em contextos tão diferentes quanto os Estados Uni- dos [Keese (2003)] e a Índia [Balaji (2002)], durante a introdução do uso mais extensivo de bioetanol há alguns anos, foram basicamente associadas a limitações logísticas, pela falta de suficiente infra-estrutura de transporte e armazenamento do biocombustível. Tais expe- riências recomendam, expressamente, implementar esses programas em etapas, reforçando progressivamente as capacidades, para conquistar, aos poucos, maior confiança do mercado e dos consumidores.

Dois fatores fundamentais para o sucesso do uso do bioetanol no Brasil, que diferenciam, fundamentalmente, a experiência brasileira daquela registrada em outros países, são a ampla cobertura geográfica e o elevado número de postos de abastecimento de combustível que comercializam o produto. Como visto, na atualidade, todos os 35.500 postos revendedores de combustível no país comercializam o bioetanol hidratado e a mistura de gasolina e bioe- tanol (exceto o caso particular da gasolina de aviação, não existe em nível de varejo a comer- cialização de gasolina pura no país). O desenvolvimento dessa notável infra-estrutura resultou de um esforço iniciado nos primórdios do Proálcool e foi sendo consolidada ao longo do tem- po. É imperativo reconhecer que, sem a determinação política para criar tal infra-estrutura e sem o apoio das empresas de distribuição de combustíveis e da Petrobras, que durante anos se responsabilizou pela aquisição, mistura e distribuição do bioetanol puro em mistura com gasolina, a experiência brasileira com o bioetanol não teria a importância que alcançou.

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Capítulo 3

No documento Livro bioetanol da cana de açucar (páginas 63-67)

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