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157 liberalização e rearranjo institucional do setor sucroalcooleiro, extinguindo o Instituto do

No documento Livro bioetanol da cana de açucar (páginas 157-159)

Bioetanol de cana-de-açúcar no Brasil

157 liberalização e rearranjo institucional do setor sucroalcooleiro, extinguindo o Instituto do

Açúcar e do Álcool e passando a gestão dos temas relativos ao bioetanol para a responsabi- lidade do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), presidido pelo Ministério da Indústria e Comércio até 1999, quando passou para o Ministério da Agricultura. Com a progressiva retirada dos subsídios e o fim do tabelamento dos preços do bioetanol a partir de 1991, deu-se início ao processo de liberação total de preços para o setor sucroalcooleiro, concluído apenas em 1999. Dessa maneira, passou a operar um novo modelo de relaciona- mento entre produtores de cana-de-açúcar, produtores de bioetanol e empresas distribui- doras de combustível, no qual prevaleceram as regras de mercado atualmente adotadas no país. Do quadro original de medidas legais e tributárias que permitiram consolidar o bioeta- nol combustível no Brasil, permanece vigente apenas a tributação diferencial do bioetanol hidratado e dos veículos a bioetanol, que procuram manter em condições aproximadamente paritárias para o consumidor o uso de bioetanol hidratado ou gasolina.

Nesse contexto, os preços do bioetanol anidro ou hidratado se negociam livremente entre os produtores e as distribuidoras. No âmbito da agroindústria, o preço da cana também está liberado, mas tem sido majoritariamente determinado segundo um modelo contratual estabelecido em bases voluntárias e coordenado pelos plantadores de cana e produtores de bioetanol e açúcar. Nesse modelo, o açúcar contido na cana que chega para ser processada, bem como o açúcar e o bioetanol produzidos pelas usinas, são convertidos todos a uma base comum de comparação, os açúcares totais recuperáveis (ATR). Sob tal conceito, a cana é remunerada em função de seu efetivo aporte à produção, medido em ATR presente na matéria-prima entregue à agroindústria, cujo preço é determinado pelo resultado econômico dos produtos obtidos, açúcar e bioetanol, consideradas as vendas para os mercados interno e externo. No âmbito do Estado de São Paulo e regiões vizinhas, esse modelo é gerido pelo Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana), constituído em 1997 e formado por representantes de todos os setores privados envolvidos [Scandiffio (2005)].

Tal processo de rearranjo do papel e da forma de atuação dos agentes econômicos não ocorreu de forma suave e consensual, mas com grandes divergências entre empresários con- servadores, que pretendiam manter o aparato intervencionista e suas garantias de mercado e realização de lucros, e outros progressistas, que desejavam um mercado mais liberado, com possibilidades de investimento e obtenção de ganhos por diferenciais de produtivida- de, grupo que, ao longo do tempo e por força dos avanços alcançados, prevaleceu. Nesse sentido, foi essencial a existência de um marco institucional que balizou e consolidou as transformações implementadas.

Envolvendo a reestruturação institucional no âmbito da agroindústria do bioetanol, por meio da Lei 9.478, de 1997, foram criadas duas instituições importantes: o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), cujas atribuições incluem o estabelecimento de diretrizes para programas específicos de uso dos biocombustíveis, e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que, mediante a Lei 11.097, de 2005, foi renomeada Agência Nacional do Petróleo, Gás

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Natural e Biocombustíveis, ampliando seu campo de atuação. Entre as atribuições da ANP, constam a promoção da regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas dos biocombustíveis, devendo implementar a política nacional de biocombustíveis, com ên- fase na garantia de suprimento em todo o território nacional e a proteção dos interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta de produtos. Mais especificamente, são de sua atribuição: fiscalizar e aplicar sanções administrativas e pecuniárias previstas em lei ou contrato; fazer cumprir as boas práticas de conservação e uso racional dos biocombustíveis e de preservação do meio ambiente; organizar e conservar o acervo das informações e dados relativos às atividades reguladas da indústria dos biocombustíveis; e especificar a qualidade dos biocombustíveis. Essa última atribuição é da maior relevância, pressupondo um ade- quado suporte técnico e o estabelecimento de espaços de interlocução entre produtores de bioetanol, fabricantes de motores e agências ambientais. Como visto no Capítulo 2, a especi- ficação do bioetanol anidro e hidratado para fins combustíveis é definida por uma resolução da ANP.

Encerrou esse processo de revisão institucional para o bioetanol a constituição, pelo governo fe- deral, do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (CIMA), por meio do Decreto 3.546, de 2000. Essa entidade tem por objetivo deliberar sobre as políticas relacionadas com as atividades

do setor sucroalcooleiro, considerando, entre outros, os seguintes aspectos: a) uma adequada

participação dos produtos de cana-de-açúcar na matriz energética nacional; b) os mecanismos econômicos necessários à auto-sustentação setorial; e c) o desenvolvimento científico e tecnológi- co do setor. Participam de sua composição o ministro da Agricultura e Abastecimento, que o pre- side, e os ministros da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Minas e Energia. Atribuições de grande interesse desse conselho são a definição e a periódica revisão do teor de bioetanol na gasolina, dentro de uma faixa entre 20% e 25%. Esse teor tem se situado em 25% na maior parte dos últimos anos, embora possa ser reduzido (e efetivamente tem sido) em função das disponibilidades e das condições do mercado.

Em 2003, com o advento dos carros flex-fuel e sua grande aceitação pelos consumidores, na medida em que oferece aos proprietários desses veículos a opção pelo uso da gasolina (com 25% de bioetanol anidro) e/ou bioetanol hidratado, em função do preço, autonomia, desem- penho ou mesmo disponibilidade, retomou-se o consumo do bioetanol hidratado no mer cado interno, abrindo-se novas perspectivas para a expansão da agroindústria da cana no Brasil, que se somam às possibilidades de expansão da demanda internacional de bioetanol anidro para uso em misturas com a gasolina. Desde então, a agroindústria canavieira brasileira tem se expandido a taxas elevadas, consolidando-se economicamente e apresentando indicado- res positivos de sustentabilidade ambiental, como se verá adiante neste livro.

Os Gráficos 16, 17 e 18 sintetizam bem o processo de expansão da produção de bioetanol durante as últimas décadas, comentado nos parágrafos anteriores. No Gráfico 16, nota-se como a produção de cana e bioetanol (anidro e hidratado), acompanhada pelo incremento da produção de açúcar, respondeu bem à expansão da demanda desse biocombustível [Uni- ca (2008)], sinalizada, por sua vez, no Gráfico 17, pela evolução do teor de bioetanol anidro

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