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O ajudante como guerreiro

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 119-122)

HELLINGER para o grupo Gostaria de dizer algo geral sobre a ajuda.

O ajudante é um guerreiro. Tem a energia de um guerreiro, um guerreiro espera até que a coisa fique realmente séria.

Uma vez li um livro de Groddeck. Ele disse algo sobre emaranhamentos psicossomáticos sob o ponto de vista psicanalítico. É um livro muito bom. Ele observou as gralhas e as distinguiu. A gralha líder — a alfa — é sempre bem calma. Apenas as outras é que são espalhafatosas.

Assim é também com a ajuda. Os que começam a ajudar imediatamente não têm força. Portanto, o que fazemos é observar e ir a uma guerra, na qual se trata do último, isto é, de vida e morte. Na terapia decisiva, na ajuda decisiva trata-se sempre de vida e morte. Então procuramos: quando esse conflito será superado e ganho? Primeiro, olhando- se para a morte do cliente — sem medo.

Em uma guerra existem vítimas. Alguns ficam para trás. O ajudante os inclui também em seu campo de visão. Ele sabe que alguns ficam para trás. Se formos nos ocupar com eles, perderemos a guerra. Passamos por cima disso até que o decisivo apareça, seja visto e superado.

O guerreiro não é corajoso, é esperto e trabalha estrategicamente. Estratégia significa: como enfraqueço o inimigo? Como tiro a força dele? Talvez também a coragem? Ele enfraquece quanto mais eu espero. Então, no momento decisivo, cai a palavra significativa, a pessoa significativa é introduzida e o passo decisivo é feito.

Quando se ganhou a batalha, não se vê mais o ajudante. Ele já se encontra na próxima guerra. Ele perde a festa da vitória. Ele não precisa disso. Porque quem ganhou foram as forças com as quais estava de acordo.

A ordem

Gostaria de dizer algo sobre a ordem. A ordem é equilibrada. Quando algo está equilibrado de tal forma que se complementa, se sustenta mutuamente, se apoia e está direcionado a uma meta, de modo que a ordem sirva a esta meta, então temos uma boa ordem. Algumas vezes as metas e as circunstâncias mudam e então a ordem muda também. Ela precisa entrar em um novo equilíbrio.

E a ajuda ocorre segundo uma ordem. Mas qual é a ordem na ajuda? O que deve estar em equilíbrio aqui, de maneira que possa servir à meta de uma forma completa?

Quando um ajudante encontra um cliente, como é que os dois podem ter uma ordem para si? O que acontece se os dois começam uma relação terapêutica? O que entra talvez em desordem com isso, em um sistema maior? Por isso, quando se ajuda, deve-se considerar o todo maior em que tanto o ajudante quanto o cliente estão inseridos.

Primeiro, faz parte desse todo maior os pais do cliente, sua família, sua origem e seu destino especial, que resulta do sistema a que ele pertence. E quando trabalho com o cliente, poderei reconhecer se aquilo para o qual ele se direciona é benéfico para todo este sistema e serve à ordem nesse sistema? E vou reconhecer onde está a desordem e o desequilíbrio nesse sistema? Quando reconheço, coloco isso em ordem, mas servindo, por assim dizer, a partir de uma posição inferior. Na verdade, esta é a posição correta do ajudante. No

sistema todo ele tem a posição inferior. Só assim o que faz está em ordem, pode estar em ordem, pode fomentar a ordem para um sistema maior. Depois que isso aconteceu, ele não é mais importante para esse sistema. Então ele se recolhe.

É nisso que devemos pensar, quando ajudamos.

Cartas de “amor”

PARTICIPANTE Trata-se de duas meninas que tem oito anos de idade e moram num orfanato. Elas expressam o desejo de ir para uma família de criação, mudar de região.

HELLINGER O que há com os pais?

PARTICIPANTE A menina mais velha foi dada pela mãe logo após o parto. Segundo a mãe de criação, a mãe queria matar a criança, então eles a pegaram. A mãe de criação tinha perdido sua própria criança antes, quando tinha cerca de cinco ou seis meses. Estava novamente grávida, quando a criança veio para ela e teve depois uma menina. As duas meninas cresceram com a mãe de criação e respectivamente, com a mãe biológica...

HELLINGER Isso é demais para mim. Senão vou ficar desnorteado. Tenho uma imagem clara e vou trabalhar primeiro com uma das meninas. Vou constelar três pessoas: a mãe biológica, a criança e a pessoa que está faltando.

PARTICIPANTE ri O pai.

HELLINGER Você esqueceu-se dele também. Qual é a mudança de região que a criança procura? PARTICIPANTE Ela quer ir morar num sítio.

Hellinger ri.

PARTICIPANTE Para o pai? Não sei se isso agora...

HELLINGER continua rindo É assim com as terapeutas maternais. O que está mais próximo foge de sua visão.

PARTICIPANTE O pai de uma das meninas... HELLINGER Vamos constelar isso.

Hellinger coloca o pai e a mãe um em frente ao outro. Ele coloca a filha à mesma distância dos pais.

A filha olha primeiro para a mãe e depois para o pai. A mãe vira-se e olha para o chão. Hellinger deixa uma mulher deitar-se em frente a ela.

A filha dá um passo para o lado e vira-se para o seu pai. Ele vai em sua direção. Ambos se abraçam intimamente.

A mãe aproxima-se da mulher morta. Esta rola no chão e afasta-se da mãe, que quer aproximar-se.

HELLINGER para o participante Essa é a criança assassinada. Não precisamos continuar mais.

para os representantes Agradeço a todos vocês. Já chegamos ao final. para o participante Está claro para você?

PARTICIPANTE Não.

Os dois se olham por um longo tempo.

HELLINGER Portanto, seu amor por essa menina é bem incompleto. E como ele fica completo? Se você olhar para ela e nela respeitar e amar o pai dela. Faça isso. Feche os olhos. Sinta a força que você adquire com isso. E sinta o amor da menina por você. Faça isso apenas internamente. Então você estará em ordem e terá força a partir daí.

O participante concorda com a cabeça.

HELLINGER Agora vou fazer ainda um exercício com você. Feche novamente os olhos. Imagine que você encontre o pai. Mas você não faz nada, a não ser escrever toda semana uma carta a ele e simplesmente conte sobre isso para a menina. Toda semana uma carta. O que muda em você, na menina e no pai? Simplesmente porque você escreve essas cartas?

O participante abre os olhos e olha para Hellinger.

HELLINGER A menina vai pular no seu pescoço, morrendo de amor por você.

Os dois riem alto.

HELLINGER Agora está claro para você? PARTICIPANTE Sim, está bom.

HELLINGER Vamos deixar assim, apenas com uma dessas meninas. Acho que você percebeu algo essencial e nós aprendemos algo essencial. Eu também imaginei isso vivamente e fiquei feliz com isso. Ok?

PARTICIPANTE Sim.

HELLINGER para o grupo Se formos seguir rigidamente a ordem que imaginamos e exigirmos que o pai assuma a responsabilidade, no que isso ajudaria?

para o participante É melhor entrar suavemente em sua alma, fazer um pouco de cócegas nela, e algo se

desenvolverá lentamente em amor.

Este não é absolutamente um trabalho difícil, e ele causa prazer. Você será criativo em tudo aquilo que escrever a ele. Não é necessário ser uma longa carta, mas sempre algo. Como já estou vendo você será irresistível.

Ambos riem.

A retirada

PARTICIPANTE A cliente é divorciada e tem três filhos. O mais velho tem problemas com drogas, a do meio se fere e tem grandes problemas na escola e a mais nova adora tudo que é militar. O pai da cliente tinha uma posição de liderança no distrito de Posen, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial.

HELLINGER Vamos nos centrar da maneira que fizemos antes.

Feche os olhos. Vou conduzi-lo nesta meditação. A primeira coisa é que você curve-se perante o pai dela e suas vítimas — foram talvez um milhão de vítimas — e perante o seu líder e o destino poderoso atrás de todos. — O destino é o véu que está na frente de algo grande que está atrás, oculto, e revela simultaneamente o divino, para além do bom e do mau. — O pai pega agora seus filhos pela mão. A mãe está à direita e as crianças estão no meio. Todos se seguram pelas mãos e curvam-se perante esse destino, deitam- se de bruços no chão, estendem os braços para frente e choram. Você se recolhe. Você os deixa lá, seja lá o que for que aconteça com eles.

Depois de um certo tempo, Hellinger coloca a sua mão sobre a mão do participante. Ele abre os olhos e olha para Hellinger. Os dois concordam com a cabeça.

HELLINGER Isso é a única coisa adequada.

A concordância

PARTICIPANTE Trata-se de um homem de 23 anos de idade que nasceu com uma deficiência. Ele tem paralisia, costas abertas e também uma paralisação da bexiga9. Tem surtos psicóticos e está, no momento, em uma clínica. De tempos em tempos, fica agressivo.

HELLINGER Quem veio até você? PARTICIPANTE A mãe.

HELLINGER após refletir por uns instantes O que esse jovem quer de coração? PARTICIPANTE Eu acho que ele quer ir para a sua mãe.

HELLINGER Ele quer morrer.

A participante concorda com a cabeça, comovida.

9

Meningomielocele: má formação congênita caracterizada pelo defeito de fechamento posterior das vértebras sacrais e lombares, levando à exposição da medula espinal e como consequência, paralisia dos membros inferiores e

HELLINGER É isso que ele quer. E devemos permitir. Está claro para você? PARTICIPANTE Está claro para mim.

HELLINGER A questão é: como você vai lidar com a mãe? Ela é a sua cliente. O que você deve fazer quando ela vier para você? Nós podemos falar sobre isso agora.

PARTICIPANTE Posso dizer algo ainda? Tenho um determinado papel. Sou a representante da instituição de tutela. E ela veio para mim porque ocupo essa função.

HELLINGER Bom, acho que isso não faz diferença. Aqui se trata de algo de ser humano para ser humano, não de papel para papel.

Nós dois vamos fazer, agora, algo juntos. Você é a mãe e eu sou você. Ok? Você me diz algo agora. PARTICIPANTE Não consigo mais cuidar dele. Por favor, faça isso.

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 119-122)