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“Você é meu destino”

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 85-89)

HELLINGER para a participante De que se trata?

PARTICIPANTE Trata-se de um jovem, cujo pai sofreu um acidente mortal com uma moto no ano passado. Um...

HELLINGER interrompe Qual é o problema dele?

para o grupo Antes que me comecem a contar a história, quero saber qual é a questão do cliente. para a participante Então talvez possamos nos poupar de toda a história.

PARTICIPANTE Trata-se de um conflito de lealdade. HELLINGER O que é isso?

PARTICIPANTE ri Preciso realmente contar um fato importante. O pai sofreu o acidente um dia antes que a mulher dele, a mãe do cliente, abandonou-o.

Quando ela quer continuar a contar, Hellinger dá a entender que não.

HELLINGER para o grupo Devo permitir que ela se alivie?

Risadas no grupo.

HELLINGER Portanto, escutando o que ela disse, o que devo fazer?

após uma pausa de reflexão Bom, vou simplesmente fazer.

Hellinger escolhe representantes para o cliente e seu pai e os coloca um em frente ao outro.

HELLINGER para o representante do pai Deite-se no chão pois você está morto.

Depois de um tempo, Hellinger escolhe uma representante para a mãe e a posiciona.

HELLINGER para a mãe Olhe para ele e diga: ―Foi isso que eu desejei.‖ MAE Foi isso que eu desejei.

O filho vai chorando para o pai, acaricia a sua cabeça e deita-se ao lado dele. Então se ergue e olha para a mãe. O pai também olha para a sua mulher. O filho levanta-se e olha furioso para a mãe. Hellinger o recua ainda mais. O filho está de punhos cerrados.

HELLINGER para o grupo O que vai ser dele? Um assassino.

para o filho Agora, vire-se.

Hellinger o vira. O filho segura o pescoço.

HELLINGER Você não precisa se enforcar.

Hellinger o leva cada vez mais longe. O filho ainda está muito tenso. Hellinger o vira para o pai e para a mãe.

HELLINGER Olhe para a sua mãe e diga: ―Você é meu destino.‖ FILHO com voz agressiva Você é meu destino.

HELLINGER com voz normal ―Você é meu destino.‖

FILHO respira fundo, agora com voz calma Você é meu destino. Você é meu destino, mamãe.

Hellinger o vira e o coloca em frente a um homem.

Os dois se olham carinhosamente. O destino estende a mão em direção ao filho. Este se dirige até o destino e os dois se dão as mãos.

HELLINGER para a participante Posso deixar assim? PARTICIPANTE Sim.

HELLINGER para os representantes Ok. Agradeço a vocês.

para o grupo Não precisamos levar isso até o fim. Mesmo se tivesse trabalhado com o cliente, pararia aqui.

O essencial ficou claro. para a participante Para você também?

PARTICIPANTE Para falar a verdade, não. Não sei quem devo identificar como o representante do destino.

Hellinger coloca a participante e o cliente em frente a ela.

HELLINGER para o filho Olhe para ela e diga: ―Você é meu destino.‖

O filho ri e sacode a cabeça.

HELLINGER Ok, basta.

Risadas no grupo.

HELLINGER para a participante Está claro para você?

Ela concorda com a cabeça.

HELLINGER para o grupo Vocês percebem quão perigosos podem ser os terapeutas? Só se pode ajudar com medo e temor. E o mais perigoso é quando se ama o cliente como pai ou mãe. Então é perigoso para todos. para a participante Agora ficou claro para você?

PARTICIPANTE Sim.

HELLINGER Ok, tudo de bom.

A impotência

HELLINGER para uma participante Então, do que se trata?

PARTICIPANTE Trata-se de uma mulher. Ela tem um filho de 28 anos que tem psoríase nas articulações, não apenas na pele. A sua irmã também teve uma psoríase forte com 30 anos de idade e está doente desde então. Mas o problema para a mulher é o filho.

HELLINGER O que você deve fazer?

PARTICIPANTE Eu devo ajudá-la a esclarecer o que está acontecendo, o que deu errado para que o filho sofra tanto. Ele tem inflamações fortes nas articulações.

HELLINGER Em quem eu pensei agora? PARTICIPANTE No filho?

HELLINGER Na pessoa que não foi mencionada.

PARTICIPANTE O pai, o marido dela teve uma noiva antes, que ele abandonou sem uma razão importante, e ela ficou muito zangada com ele.

HELLINGER A psoríase ou neurodermite surge quando existe uma maldição, portanto quando alguém está zangado. Você já disse quem está zangado. Onde está a solução?

quando ela hesita com a resposta É bem simples. Uma boa definição contém sempre a solução. Eu disse a

solução. Mas vou demonstrar isso.

Hellinger escolhe representantes para a mãe e para a noiva anterior do pai e as coloca uma em frente à outra.

Depois de um tempo, Hellinger posiciona o filho. O filho começa a tremer e olha para o chão. Hellinger escolhe um representante do pai e o coloca ao seu lado.

O filho respira aliviado. O pai olha também para o chão. A noiva anterior do pai recua um passo. Hellinger escolhe um homem e o deita no chão entre as duas mulheres.

HELLINGER para o grupo O pai está tremendo. Vocês estão vendo isso? Ele está tremendo. Antes o filho estava tremendo também.

O filho coloca a cabeça no ombro do pai.

HELLINGER depois de um tempo Deite-se ao lado dele. HELLINGER para o pai Como você está, melhor ou pior? PAI Melhor.

HELLINGER para a participante Você sabe do que se trata?

PARTICIPANTE O pai do pai teve uma mulher que faleceu ao dar à luz e a criança também faleceu.

HELLINGER Eu permaneço no presente. Ela aqui é a sua noiva anterior. Você sabe quem é a pessoa que está no chão?

PARTICIPANTE Nunca pensei nisso.

HELLINGER É uma criança abortada dos dois.

Hellinger pede ao filho para levantar-se e pede ao pai para se deitar. Quando o pai se deita ao lado do homem que está no chão, os dois se aproximam um do outro e se olham.

HELLINGER para o grupo Os dois estão reconciliados. para o filho Como você está? FILHO Lá no chão estava bem. Aqui também é bom.

Hellinger pede que ele se coloque ao lado da mãe e que os dois se virem.

HELLINGER para a mãe Que tal para você? MÃE Melhor.

HELLINGER para o filho E para você? FILHO Com o pai era melhor.

HELLINGER para a participante Você não conseguirá ajudá-lo. A atração é muito forte. Está claro? PARTICIPANTE Está claro para mim.

HELLINGER para os representantes Ok. Agradeço a todos vocês.

para o grupo Vou dizer algo ainda sobre as minhas observações. A primeira coisa foi que o filho olhava para

o chão e tremia. Então coloquei o pai do lado. Ele também começou a tremer e a olhar para o chão. Portanto, lá estava um morto. Quando coloquei o filho ao lado, no chão, o pai sentiu- se melhor. Aqui o filho diz: ―Eu morro em seu lugar‖.

Quando o pai estava deitado, estava totalmente em sintonia com o morto.

para a participante Portanto, para o pai é adequado que morra. Mas o filho continua querendo salvar o pai. E

esse é o destino dele e é um destino bonito. Ele se sentiu bem lá no chão. Você tem algo melhor para ele?

Ela diz que sim com a cabeça.

HELLINGER Você tem algo melhor? Seria bonito, mas ele ficou feliz lá no chão. Vou fazer mais uma intervenção, agora como supervisão.

Hellinger coloca o filho em frente à participante. Depois de um tempo, a participante recua alguns passos e sorri para o filho.

HELLINGER para a participante Diga a ele: ―O papai é melhor.‖ PARTICIPANTE O papai é melhor.

O filho acena com a cabeça.

FILHO para Hellinger Com ela senti uma taquicardia semelhante à que senti no início da constelação antes de começar a tremer. Semelhante, mas sem o tremor.

para a participante Se eu fosse continuar, colocaria o filho em frente ao pai e você de fora, para você só

olhar para o que se desenrola. Então você tem força porque não se encontra mais no meio dos dois.

Ida ao cemitério com uma criança

HELLINGER para o menino de aproximadamente cinco anos quando ele está descendo a escada do palco Venha até aqui. Sim, até mim.

O menino vai até Hellinger e senta-se ao seu lado. Hellinger coloca o braço direito em torno dele e olha para ele por um tempo. O menino está bem quieto.

HELLINGER Vou contar uma história para você. MENINO Hum, hum.

HELLINGER Nós dois vamos ao cemitério. Pego você pela mão — ele o pega pela mão — e nós vamos ao cemitério. Então vamos olhar para os túmulos, um após o outro. Lá estão deitados muitos mortos. Nós nos curvamos perante cada túmulo, nós dois — simplesmente assim. — O menino curva-se levemente — E nós desejamos paz a eles.

MENINO Hum, hum.

HELLINGER E você diz a eles: ―Eu fico vivo.‖ MENINO Eu fico vivo.

HELLINGER ―Olhem para mim com carinho.‖ MENINO Olhem para mim com carinho.

HELLINGER ―Embora vocês estejam mortos, eu vivo.‖ MENINO Embora vocês estejam mortos, eu vivo.

HELLINGER ―E eu gostaria de viver por um longo tempo.‖ MENINO alto E eu gostaria de viver por um longo tempo.

HELLINGER Sim, e: ―Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo.‖ MENINO Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo.

HELLINGER Exato. Então vamos nós dois, de túmulo em túmulo. Sim? Pelo cemitério. Então saímos do cemitério. Saímos através do portão do cemitério e chegamos a uma relva bonita. Lá existem flores maravilhosas. E nós colhemos flores. Sim?

MENINO concorda com a cabeça Sim. HELLINGER Um lindo buquê.

MENINO Um lindo buquê.

HELLINGER Então voltamos ao cemitério e o colocamos sobre um túmulo. MENINO Sim.

HELLINGER Então os mortos se alegram porque alguém pensa neles. MENINO Sim.

HELLINGER Tudo de bom para você.

A felicidade completa

HELLINGER no dia seguinte Na verdade, sou um filósofo. Além disso, faço terapia. No fundo é Filosofia Aplicada. Nesse sentido não sou terapeuta. Contudo eu reflito sobre a vida. Assim gostaria de continuar a trabalhar a serviço da vida, como ela é, sem desejar que ela seja diferente. Não existe nada melhor do que aquilo que é. Sem pais melhores do que aqueles que temos, nenhum futuro melhor do que aquele que está à nossa frente. O que é, é o maior. E felicidade significa que eu tome isso em meu coração do jeito que é, e me alegre com isso. Essa é a felicidade completa, quando se alegra com a realidade, como ela é, com nossos pais, como são, com nosso passado como ele foi, com nosso parceiro como ele ou ela é, com os filhos, como são, exatamente como são. Esse é o bonito. A alegria é a felicidade completa.

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 85-89)