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Considerações prévias

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 50-53)

Um grupo de quatro tutores, dentre eles um psiquiatra, perguntou- me neste curso se poderia trazer um homem autista para que trabalhasse com ele. Eles queriam descobrir se o seu autismo seria também algo sistêmico. Esse homem, de aproximadamente 35 anos, tinha pronunciado apenas duas palavras até então. Concordei, sob a condição de que eles o acompanhassem. No dia seguinte, quando vieram com o homem até o palco este ficou andando nervoso de lá para cá, abria e fechava alternadamente as mãos e olhava intensamente para as palmas.

HELLINGER para o grupo Gostaria de trabalhar com este homem que está sentado à minha direita. Ele é autista e não fala. Ao lado dele estão sentados os seus quatro tutores, entre eles, um psiquiatra. Vou trabalhar junto com eles para ver se podemos fazer algo por este homem. Um dos tutores já me relatou algo sobre a família dele.

para este tutor Você poderia repetir isso para o grupo?

TUTOR A mãe do trisavô paterno, sua tataravó, foi assassinada. Ela era viúva e vivia com um capitão que a matou.

HELLINGER para o grupo Quando vi que este homem ficava olhando constantemente para suas mãos abertas, disse aos tutores: ―Ele está olhando para sangue.‖ Vamos ver agora se podemos fazer algo por ele do ponto de vista sistêmico. Em sua família existem duas pessoas que são importantes aqui: a mãe do trisavô e o capitão que a matou.

Com relação à esquizofrenia — e talvez seja semelhante com este homem — descobri que na família existe frequentemente uma morte oculta, muitas gerações atrás. Um cliente esquizofrênico precisa representar tanto a vítima quanto o agressor. Não consegue unir essas energias diferentes. Por isso está desnorteado. Quando se conseguem reconciliar essas energias que se excluem originalmente, então o cliente fica melhor. Mas isso somente acontece quando o agressor e a vítima se dirigem um ao outro, encontrando- se. Essa reconciliação precisa começar no coração do ajudante. Isso significa que os dois recebam ao mesmo tempo um lugar em seu coração e se reconciliem aí, primeiro.

Shakespeare descreve em sua tragédia Macbeth, como a mulher de Macbeth disse ao seu marido, quando este recuou sobressaltado com a morte do rei: ―Esse pouco de sangue lavamos com facilidade.‖ Entretanto, depois do assassinato, ficou perambulando pelo castelo sem conseguir dormir, olhando continuamente para sua mãos.

Quando vi como este homem ficava olhando para suas mãos tive exatamente esta imagem à minha frente. É claro que ele próprio é inocente. Uma outra pessoa precisa olhar para as suas mãos sangrentas. Aqui seria o assassino da mãe do trisavô.

Antes gostaria de dizer algo sobre emaranhamentos. Uma pessoa excluída será representada mais tarde por uma pessoa da família. Os mais excluídos em uma família são os assassinos. Por isso, é bem natural que sejam representados por alguém. Para muitos da família é difícil dar um lugar a eles. Mas enquanto os assassinos não são amados, não existe solução para os posteriores que precisam representá-los.

Para alguém que precisa representar um assassino, e isso pode ser muito perigoso, uma possível solução seria ele afastar-se totalmente. Isso seria sua proteção contra impulsos assassinos. Mas não são seus os impulsos, eles pertencem a uma outra pessoa. Por isso deve-se ajudar uma pessoa assim, libertando-a da substituição e identificação com o assassino. Ao mesmo tempo, ele representa também a vítima, porque fica sem poder agir através de seu afastamento. Se conseguir libertar-se da identificação com o assassino, conseguirá também libertar-se da vítima e vice-versa.

Disse a vocês quais as ideias que me ocorrem e como precisarei trabalhar aqui, provavelmente. Vou começar com a mãe do trisavô que foi assassinada.

Hellinger escolhe uma representante para essa mulher e a posiciona.

A mulher respira com dificuldade e suspira alto. Hellinger escolhe um representante para o marido, o tataravô, e o posiciona também.

Ambos olham-se longa e intensamente, virando-se um para o outro. O homem autista, que até agora estava com as mãos fechadas e olhava interessado, fica inquieto. Abre as mãos, olha para as palmas, fecha e abre as mãos muitas vezes.

O marido da mulher também estende suas mãos para a frente e olha intensamente para as palmas. Ele não pode ver o homem autista porque este está sentado atrás dele.

Depois de um certo tempo deixa as mãos caírem. Então as estende novamente para a frente, levanta lentamente a sua mão direita e a cerra em forma de punho, como se quisesse bater. Nesse meio tempo, Hellinger colocou um representante para o capitão.

HELLINGER para o grupo, enquanto aponta para o marido da mulher Aqui houve um assassinato. Ele é na verdade o assassino.

A mulher começa a gritar e cai no chão, em frente ao marido. Este faz um movimento com a sua mão estendida como se fosse matar a mulher agora. A mulher cai totalmente no chão e deita-se do lado direito, virada para o marido.

Hellinger deixa o representante do capitão sentar-se novamente, porque este obviamente não tem nada a ver com isso. O homem autista olha novamente mais vezes para as palmas das mãos.

HELLINGER para o grupo Podemos esquecer o capitão. O marido da mulher é o assassino.

O marido da mulher faz um movimento com a mão, como se fosse puxar algo e jogar fora. Hellinger coloca agora o homem autista na constelação.

Hellinger pega o tataravô pela mão para levá-lo até a sua vítima. O cliente fica andando de lá para cá, inquieto, olhando continuamente para as palmas das mãos. De vez em quando senta-se ao lado de um tutor. Depois de um certo tempo, anda novamente de mãos abertas, para lá e para cá. O tataravô estende a mão direita com a palma para cima em direção ao cliente. Hellinger conduz o cliente até que ele fique em frente ao outro.

O cliente olha algumas vezes para o homem, mas desvia o olhar imediatamente. Ele está com as palmas abertas. Depois de um certo tempo, Hellinger pede à mulher que se levante e a coloca ao lado do marido. O cliente se afasta.

O marido coloca o braço em volta da mulher. Ela coloca a cabeça em seus ombros. O marido continua segurando a sua mão direita com as palmas para cima e na direção do cliente. Este olha algumas vezes para o marido e para a mulher e desvia novamente o olhar. Então fica novamente inquieto e quer sentar-se. Hellinger pega-o pela mão e o conduz para que fique em frente ao marido e à mulher. Ele não quer olhar para eles e desvia o olhar. Depois de um certo tempo, Hellinger coloca o braço da mulher e do marido ao redor do cliente. Eles o abraçam e o puxam para si. Ele permite isso, mas fica com os braços estendidos para o lado e olha fixamente para a frente.

Depois de um certo tempo, o cliente se solta e senta. Ele olha para as palmas das mãos abertas. O marido e a mulher se abraçam intimamente. Depois de um certo tempo, soltam-se. O marido ajoelha-se em frente à mulher e curva-se profundamente. A mulher junta as mãos, então se agacha e dá um beijo no marido. Depois de um certo tempo endireita-se, permanece de mãos juntas, ajoelhada em frente a ele. O cliente desvia o olhar a maior parte do tempo. Algumas vezes olha para as palmas das mãos.

O marido endireita-se e olha para a mulher. Hellinger pega a mão direita do cliente, que está sentado ao seu lado quando este olha para as sua mãos novamente e pergunta: “Você sabe o que tem em suas mãos? Água.” O cliente olha então para o marido e para a mulher. Ele abre novamente as mãos, mas sem olhá-las. O marido e a mulher viram-se para ele. O marido está com as palmas das mãos abertas. O cliente olha longamente para eles.

Hellinger senta-se ao lado dele e coloca a mão esquerda em seu coração. Primeiro o cliente desvia o olhar. Então, olha alternadamente para o marido, para a mulher e para as suas mãos abertas.

Hellinger puxa-o suavemente para si, coloca o braço direito ao redor dele, enquanto este ainda está com a mão esquerda segurando o coração. Depois de um certo tempo, o cliente solta-se e olha novamente para as

suas mãos.

Hellinger dá um sinal para ele ir novamente para o marido. O cliente levanta-se, vai até ele, mas anda inquieto, para lá e para cá, enquanto olha continuamente para as suas mãos abertas. Então senta-se entre os seus tutores.

HELLINGER depois de um certo tempo, para o marido e a mulher Deitem- se agora no chão, um ao lado do outro.

HELLINGER para o cliente, quando os dois estão deitados Deite-se no chão ao lado do homem.

O cliente levanta-se e anda inquieto para lá e para cá. Então coloca- se ao lado do homem que está deitado no chão. Um tutor dá um sinal para ele deitar-se, ajudando-o a fazer isso.

Quando ele está deitado, Hellinger coloca o braço do homem ao redor do cliente. O homem abraça-o e puxa-o para si, abraçando a mulher com a outra mão. Esta coloca a cabeça em seu peito.

O cliente olha brevemente de novo para as suas mãos abertas. Então junta as mãos e fica deitado assim. Abre as suas mãos mais duas vezes e junta-as novamente. Permanece assim por um longo tempo. Então o homem abre os braços, soltando-se do abraço. O cliente levanta a cabeça, deixa-a cair, olha novamente para as suas mãos, levanta a cabeça por um longo tempo, olha ao seu redor, deixa-a cair novamente e olha para as suas mãos abertas. Então junta as mãos e permanece deitado dessa maneira.

HELLINGER para o grupo, após um longo tempo Essa é a solução. Ele junta as mãos como o cliente. HELLINGER para os representantes Ok, vou deixar assim.

Os representantes levantam-se. O cliente senta-se ao lado de Hellinger. Ele continua com as mãos juntas. Hellinger coloca sua mão nas mãos dele. Ambos se olham. Então o cliente olha para os seus tutores.

HELLINGER para o grupo Ele tem tutores muito bons e também os merece.

depois de um certo tempo É estranho o que vem à luz, quando começamos com o mínimo. Imaginem o que

teria acontecido se tivesse colocado primeiro o capitão e a mulher, embora este passo tivesse sido o que estava mais próximo. Mas comecei somente com a mulher. Não sabia o porquê, mas para mim estava claro que deveria começar apenas com ela. Ocorreu-me que uma pessoa não foi mencionada aqui. Frequentemente a pessoa que não foi mencionada é a pessoa importante. Aqui foi o marido da mulher. De repente pudemos ver: tratava-se dele realmente. Aquilo do capitão foi somente uma história.

Aqui veio à luz que a alma sabe de tudo. A alma que atua aqui abrange todos, é comum a todos. Por isso os representantes puderam sentir como as pessoas reais, que estavam representando. Nesta alma nada foi esquecido, tudo está presente. A verdade veio à luz, porque nós nos deixamos levar totalmente pelos movimentos dessa alma. Teoria alguma teria nos conduzido ali. Através dos movimentos da alma pudemos ver onde está a solução: na reconciliação entre o assassino e a vítima. Ela começa aí. Os representantes encontraram o caminho para lá, de uma forma especial. A alma os conduziu.

O cliente também sabia o que deveria ser feito, quando permitiu ser abraçado pelos dois. A reconciliação começa quando damos, simultaneamente, um lugar ao agressor e à vítima em nosso coração.

Depois disso não sabia como iria continuar. Mas já que o homem e a mulher estavam mortos, pedi que se deitassem no chão. De repente ficou claro para mim que o cliente deveria deitar-se ao lado deles. Ali ele começou a juntar as suas mãos.

Depois de um certo tempo, quando os dois o incluíram no abraço, ele pôde se soltar, estava livre de algo. Ele levantou a cabeça por um longo tempo, e eu pensei, talvez ele se levante. Isso teria sido a solução, porque assim teria deixado tudo para trás.

para os tutores Continuará a atuar em sua alma. O cuidado de vocês vai ajudá-lo. Não é necessário fazer

nenhum comentário até que a sua alma aflore. Isso ainda precisa de tempo. Mas eu vejo que o tataravô e a tataravó o abraçam. É a imagem que tenho. E vocês também têm que confiar em um poder maior que lava todo o sangue.

O cliente olha novamente para as suas mãos.

HELLINGER para o cliente Desejo tudo de bom para você.

esquerda e o segura firmemente. O cliente senta-se novamente e olha para Hellinger. Então olha para longe.

HELLINGER para o cliente Agora você pode ficar.

Hellinger está com a mão sobre as mãos do cliente. Este puxa a sua mão direita e olha novamente para a mão aberta. Então junta as mãos. Isso foi o final deste trabalho.

No documento Ordens Da Ajuda - Bert Hellinger (páginas 50-53)