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Alínea “b”: declaração de inconstitucionalidade de tratado ou le

No documento Repercussão geral no Supremo Tribunal Federal (páginas 140-143)

1 CONTROLE E UNIFICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO DAS

2.3 A REPÚBLICA E A CONSTITUIÇÃO 1891 101

2.8.1 Hipóteses de cabimento do recurso extraordinário: artigo 102,

2.8.1.2 Alínea “b”: declaração de inconstitucionalidade de tratado ou le

A alínea “b” do inciso III do artigo 102 da CF contém duas hipóteses: inconstitucionalidade de tratado e inconstitucionalidade de lei federal, ambas declaradas na decisão recorrida. Frisa-se que o cabimento do recurso está condicionado à existência de declaração de inconstitucionalidade, não sendo preenchido o requisito se a decisão afirmar a constitucionalidade de tratado ou lei federal. Mas, mesmo nessa segunda circunstância, o sucumbente ainda poderá valer-se da via extraordinária com fundamento na alínea “a”, pois se a decisão recorrida aplicou tratado ou lei federal inconstitucional, configurada está a

contrariedade à Constituição.141

É possível notar, portanto, que a hipótese ora retratada configura o inverso da previsão disposta na alínea “a”. Nessa condição, questiona- se a inconstitucionalidade declarada na decisão impugnada, ou seja, analisa-se a decisão recorrida de única ou última instância que, ao julgar o caso, resolveu por bem declarar determinado dispositivo de tratado ou

de lei federal inconstitucional e, portanto, contrário à CF.142

                                                                                                               

141

BARIONI, Rodrigo. Ação rescisória e recursos para os Tribunais

Superiores... 2013, p. 190.

142 MIRANDA DE OLIVEIRA, Pedro.

Recurso extraordinário e o requisito da

repercussão geral... 2013, p. 122. O autor, nesse sentido, ressalta a afirmação

que: “Por mais óbvia que possa parecer a assertiva, não caberá recurso extraordinário – com fundamento na alínea b – da decisão que declarar a

Pode-se constatar que, dentre as hipóteses de cabimento do recurso extraordinário, a prevista na alínea “b” é a mais simples. Será preenchido o requisito previsto na referida letra quando o órgão judicial negar a aplicação de norma federal, declarando-a formalmente

inconstitucional.143

A hipótese de cabimento do recurso extraordinário pela alínea “b” exige, outrossim, que a discussão da questão seja elevada ao patamar constitucional, não bastando o mero interesse de controle da interpretação das normas contidas em tratado ou em lei federal, circunstância essa que diz respeito, na verdade, à interposição de recurso especial. O debate deve girar em torno da esfera da validade das normas

jurídicas rotuladas pelo Tribunal de origem como inconstitucionais.144

Tanto a declaração de inconstitucionalidade por vício formal quanto por vício material pela instância ordinária ensejam o cabimento do recurso extraordinário pela alínea ora em estudo. Entretanto, é indispensável, para utilização desse permissivo, a observância da regra

de reserva de plenário prevista no artigo 97 da CF145 e disciplinada

procedimentalmente nos artigos 948 a 950 do CPC/2015.

                                                                                                                                                                                                                                         

constitucionalidade de tratado ou lei federal, mas apenas da decisão que se

manifestar pela inconstitucionalidade. [...] A diferença básica entre o recurso extraordinário fundamentado na alínea a e o fundamentado na alínea b, portanto, reside no fato de que, no primeiro caso o recorrente deve demonstrar que a decisão ofendeu a Constituição, enquanto no segundo deve demonstrar que a lei ou tratado internacional é constitucional”. (MIRANDA DE OLIVEIRA, Pedro. Recurso extraordinário e o requisito da repercussão geral... 2013, p. 122).

143

ASSIS, Araken de. Manual dos recursos... 2015, p. 779-780.

144 BARIONI, Rodrigo. Ação rescisória e recursos para os Tribunais

Superiores... 2013, p. 190.

145

“Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”. Sobre o assunto: “Os órgãos do Poder Judiciário de qualquer grau (singular ou coletivo) estão autorizados a recusar, de ofício, a aplicação da lei se a reputarem inconstitucional. Portanto, qualquer juiz ou tribunal pode exercer o controle de constitucionalidade, por meio do controle difuso. Todavia, isso não quer dizer que um juiz pode declarar uma norma inconstitucional. Com efeito, deixar de

aplicar uma norma por considerá-la inconstitucional não significa, de forma

alguma, declará-la como tal. Apenas o plenário dos tribunais tem competência para declarar uma norma inconstitucional, por meio do controle difuso, fenômeno este conhecido como reserva de plenário, expressamente previsto na Constituição (art. 97) e regulado pelo Código de Processo Civil (arts. 480 a

O próprio STF já se pronunciou no sentido de que: “viola o dispositivo constitucional o acórdão proferido por órgão fracionário, que declara a inconstitucionalidade de lei, sem que haja declaração anterior

proferida por órgão especial ou plenário”.146

Assim, poderia ocorrer que o tribunal inferior, ao pronunciar a inconstitucionalidade, deixe de respeitar a regra de reserva de plenário. Nesse caso, abrir-se-ia a possibilidade de cabimento de recurso extraordinário não pela letra “b” do dispositivo, mas pela letra “a” no

tocante ao descumprimento do referido artigo 97 da CF.147

Vale, por fim, esclarecer que, para que determinada norma seja considerada constitucional, o seu controle pode observar dois parâmetros: um no âmbito formal, outro, no material. A constitucionalidade no âmbito formal refere-se ao processo legislativo, isto é, dizer que uma norma é formalmente constitucional significa expressar que obedeceu rigorosamente aos requisitos necessários ao processo legislativo previstos na CF. Já a constitucionalidade material

                                                                                                                                                                                                                                         

482). Esse mecanismo tem dupla função: conceder maior segurança jurídica às partes litigantes e uniformizar a jurisprudência no âmbito dos tribunais inferiores”. (MIRANDA DE OLIVEIRA, Pedro. Recurso extraordinário e o requisito da repercussão geral... 2013, p. 38-39).

146

“Controle incidente de constitucionalidade de normas: reserva de plenário (CF, art. 97): viola o dispositivo constitucional o acórdão proferido por órgão fracionário, que declara a inconstitucionalidade de lei, sem que haja declaração anterior proferida por órgão especial ou plenário. (STF, 1ª Turma, RE 371.744 AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 26.09.2006, DJ 20.10.2006).

147 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito

processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos

tribunais. vol. 3. 13 ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 359. Os autores ressaltam, todavia, que nessa circunstância, primeiramente, é necessária a oposição de embargos de declaração, para fins de suprir a omissão sobre a aplicação do artigo 97 da CF. “No julgamento dos referidos embargos, o tribunal poderá, suprindo a omissão, anular o acórdão para atender à exigência constitucional, remetendo o caso ao plenário ou ao órgão especial. Se já houver julgamento anterior pelo plenário ou órgão especial do próprio tribunal ou pelo plenário do STF, poderão ser acolhidos os embargos para suprir a omissão quanto à juntada ou referência ou transcrição do precedente (art. 949, parágrafo único, CPC). Poderá, ainda, o tribunal entender que não se aplica, ao caso, o art. 97 da Constituição Federal, deixando explícita a razão pela qual não o fez incidir na espécie. Com isso, estará pré-questionado o dispositivo, podendo ser interposto recurso extraordinário por ofensa ao disposto no art. 97 da CF/1988”. (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito

está relacionada ao conteúdo das normas jurídicas. Caso o texto constitucional seja contrariado por lei infraconstitucional, essa carece de

constitucionalidade.148

2.8.1.3 Alínea “c”: validade de lei ou ato de governo local em face da

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