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PERÍODO IMPERIAL E A CONSTITUIÇÃO 1824 97

1 CONTROLE E UNIFICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO DAS

2.2 PERÍODO IMPERIAL E A CONSTITUIÇÃO 1824 97

Após a Independência do Brasil, a estrutura judiciária foi alterada pela Constituição de 1824, dispondo no Título VI, que tratava do Poder Judiciário, a instituição de um Supremo Tribunal de Justiça, sendo que a Casa da Suplicação do Brasil foi abolida, definitivamente, pela Lei de 18 de setembro de 1828 e, então, substituída pelo referido Tribunal

Supremo.9

                                                                                                                                                                                                                                         

julgamento dos feitos em suprema instância recursal”. (FERREIRA, Pinto. Supremo Tribunal Federal – I. In: FRANÇA, R. Limongi. (Coord.)

Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 397).

6 Por oportuno, colaciona-se o texto do referido dispositivo: “I. A Relação desta

Cidade se denominará Casa da Supplicação do Brazil e será considerada como Superior Tribunal de Justiça, para se findarem alli todos os pleitos em ultima instancia, por maior que seja o seu valor, sem que das ultimas sentenças proferidas em qualquer das Mesas da sobredita Casa se possa interpor outro recurso que não seja o das revistas nos termos restrictos do que se acha disposto nas minhas Ordenações, Leis e mais disposições. E terão os Ministros a mesma alçada que têm os da Casa da Supplicação de Lisboa”. (sic). (Collecção das leis

do Brazil. Reimpressão pelo 1º escripturario do Thesouro Nacional Joaquim

Isidoro Simões. v. 4 Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1891, p. 24).

7 BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal... 1968, p. 17-18. 8 BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal... 1968, p. 17-18.

9 FERREIRA, Pinto. Supremo Tribunal Federal – I... 1977, p. 398. Cotrim Neto

relata que: “Sob muitos pontos de vista – que não é de interesse aqui detalhar – a Constituição outorgada por D. Pedro I foi uma obra revolucionária e

O Supremo Tribunal de Justiça foi instalado na Capital do Império, isto é, no Rio de Janeiro, e era composto por juízes letrados

retirados dos próprios Tribunais de Relações por antiguidade.10 A

competência estava prevista no artigo 164 e respectivos incisos da Constituição de 1824, que, por oportuno, menciona-se: competia ao Supremo Tribunal de Justiça do Império a concessão ou denegação das Revistas nas Causas, pela forma que a lei determinar; o conhecimento de delitos e erros do Ofício cometidos por seus Ministros, os das Relações, os empregados no Corpo Diplomático e os Presidentes das Províncias; e, por fim, conhecer e decidir sobre os conflitos de jurisdição e competência das Relações Provinciais.

Entretanto, referida disposição constitucional de um Supremo Tribunal de Justiça não foi suficiente para tornar mais célere o processo de aperfeiçoamento da organização judicial, no intuito de tornar mais eficiente o funcionamento da Justiça, que, a partir desta Constituição, passou a fazer parte dos poderes políticos e independentes do país. Tão apenas com a Lei de 18 de setembro de 1828 que se instituiu o referido órgão de cúpula da organização judiciária, legislação essa que, igualmente, definiu as atribuições do Tribunal da mesma forma que já

havia estabelecido a Constituição.11

                                                                                                                                                                                                                                         

progressista, em relação às instituições então vigentes nos regimes monárquicos: e o seria, também, quando exaltou o papel da justiça no quadro dos Poderes do Estado”. (COTRIM NETO, A. B. Supremo Tribunal Federal – II...1977, p. 402).

10 “Art. 163. Na Capital do Imperio, além da Relação, que deve existir, assim

como nas demais Provincias, haverá tambem um Tribunal com a denominação de - Supremo Tribunal de Justiça - composto de Juizes Letrados, tirados das Relações por suas antiguidades; e serão condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira organisação poderão ser empregados neste Tribunal os Ministros daquelles, que se houverem de abolir”. (sic). (Constituição Política do Império do Brasil de 1824).

11 BOMFIM, Edson Rocha. Supremo Tribunal Federal... 1979, p. 14. Nesse

mesmo sentido: “Mas, dispunha, ainda, a Constituição do Império que na capital deste houvesse um Supremo Tribunal de Justiça, o qual, pela sua natureza, teria a envergadura de órgão máximo do referido Poder Judicial. Faltava, todavia, a instituição desse Tribunal Supremo, o qual deveria ser criado por uma espécie de lei que hoje qualificaríamos de complementar, e foi promulgada aos 18-9- 1828: por esse diploma, o Supremo seria formado por dezessete juízes, com o título de ‘conselheiro’ e o tratamento de ‘excelência’. [...]”. (COTRIM NETO, A. B. Supremo Tribunal Federal – II...1977, p. 402).

É interessante mencionar, outrossim, que as revistas direcionadas ao Supremo Tribunal de Justiça, de acordo com o artigo 6º do Capítulo II da Lei de 18 de setembro de 1828, somente seriam concedidas nas causas cíveis e criminais, se fosse identificada uma de duas hipóteses, quais sejam: manifesta nulidade ou injustiça notória nas sentenças

proferidas pelos juízos de última instância.12 Tendo isso em mente,

Edson Rocha Bomfim relaciona a dificuldade de se compreender o que seria uma situação de “manifesta nulidade e injustiça notória” com a dificuldade de identificar o que seria uma “questão federal relevante”, requisito exigido na época de vigência da arguição de relevância no

recurso extraordinário.13 Atualmente, o paralelo poderia ser procedido

em relação à conceituação de repercussão geral.

Ainda que a estrutura política centralizada imperial distinguia-se da estrutura política federativa republicana, já se iniciava a concessão de certa autonomia provincial, uma vez que se reconhecia que as decisões dos Tribunais de Relação eram definitivas, juízos de última instância. Desse modo, visualizam-se determinadas características das revistas no instituto posteriormente desenvolvido na primeira República brasileira,

o denominado recurso extraordinário.14

Em que pese a possível aproximação entre os dois recursos, o Brasil foi buscar sua inspiração para a criação do recurso extraordinário

no writ of error norte-americano,15 deixando de lado o antigo recurso de

revista, que era destinado, segundo José Afonso da Silva, “‘à defesa da lei em tese e ao respeito do seu império, de seu preceito abstrato, indefinido, sem se envolver diretamente na questão privada ou no

interesse das partes litigantes’”.16 Características, contudo, que de certo

modo, estão presentes também no writ of error e no recurso extraordinário.

Logo, já existia, no período imperial, um recurso que servia às necessidade de uma Federação, sendo que se poderia ter o transformado no atual recurso extraordinário, sem que fosse preciso buscar a

                                                                                                               

12 Impende transcrever o texto do artigo 6º da Lei de 18 de setembro de 1828:

“Art. 6º As revistas sómente serão concedidas nas causas civeis, e crimes, quando se verificar um dos dous casos: manifesta nullidade, ou injustiça notoria nas sentenças proferidas em todos os Juizos em ultima instancia”. (sic).

13 BOMFIM, Edson Rocha. Supremo Tribunal Federal... 1979, p. 25. 14 COTRIM NETO, A. B. Supremo Tribunal Federal – II...1977, p. 403. 15 Para maiores detalhes, ver a origem do recurso extraordinário no item 2.3.3.1. 16 SILVA, José Afonso da. Do recurso extraordinário no direito processual

inspiração no Direito norte-americano. Ocorre que, naquele momento, a influência das instituições americanas foram fortes no Brasil e o recurso foi importado sem que se houvesse uma transportação, de igual forma, da tradição jurisprudencial e doutrinária da América do Norte. Com isso, aconteceu o que geralmente sucede quando se adota uma técnica existente em sistemas culturais distintos, o recurso suportou os “azeres da incompreensão,” situação que não ocorreria caso fosse uma evolução

da revista.17

A estrutura estabelecida pela Constituição de 1824 foi mantida até a Constituição de 1891, que deu início ao período republicano no Brasil, em que se pode notar a concessão de maior expressão ao Poder

Judiciário.18

Aliomar Baleeiro identifica que o Supremo Tribunal de Justiça do Império unificava, em certa medida, a interpretação do Direito que era aplicado nos Tribunais de Relação das Províncias. Não bastasse isso, visualiza uma certa influência sobre a primeira fase do Supremo Tribunal Federal da República, uma vez que seus primeiros juízes foram importados do antigo órgão judicial do Império, o que, para o autor, foi um “aproveitamento contraproducente”, pois com perfis de avançada idade e conservadores, “foram chamados à missão política, extremamente complexa, e de todo diversa daquela a que se

acostumaram em longa e rotineira existência”.19

                                                                                                               

17 José Afonso da Silva complementa: “No caso, não houve aquele fenômeno,

tantas vezes verificado, da recepção de normas de Direito estrangeiro, ou seja, aquela comunicabilidade do Direito, de que nos fala Del Vecchio, pela qual as normas jurídicas podem ser transmitidas de um povo a outro. Houve transporte mecânico e material das normas do Recurso Extraordinário, do Writ of error, sem aquela adaptação natural e reelaboração psicológica, por se ter esquecido de que o Direito é um fenômeno de cultura”. (SILVA, José Afonso da. Do

recurso extraordinário no direito processual civil brasileiro... 1963, p. 29-30).

18 ROSAS, Roberto. Supremo Tribunal Federal – III. In: FRANÇA, R. Limongi.

(Coord.) Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 412.

19

BALEEIRO, Aliomar. O Supremo Tribunal Federal... 1968, p. 19. A função uniformizadora do Supremo Tribunal de Justiça do Império também é identificada por Roberto Rosas que, inclusive, visualiza o desempenho desse papel por esse Tribunal como antecedente para a criação da hipótese de interposição de recurso extraordinário por divergência jurisprudencial na Constituição de 1891: “Criando o Supremo Tribunal de Justiça (1828), o Decreto de 10-3-1876 autorizou-o a tomar assentos. A preocupação continuou na unificação da interpretação do direito, e isso se refletiu na Constituição de