• Nenhum resultado encontrado

A educação científica e as pesquisas acerca do Ensino de Ciências em torno de alfabetização científica surgiram tardiamente no sistema educacional brasileiro, visto que, o currículo escolar no Brasil, por muito tempo, foi organizado em um cenário de herança sociocultural dos jesuítas, os quais prezavam pela elaboração literária (SANTOS, 2007). Desse modo, as discussões acerca do letramento científico iniciaram apenas na segunda metade da década de 1980.

Nos últimos anos, emergiu uma crescente inquietação para implantar uma educação científica por parte de vários profissionais da educação e grupos da sociedade devido aos grandes problemas ambientais, como descrito por Santos (2007, p. 477), “[...] com agravamento

de problemas ambientais, começou a surgir uma preocupação dos educadores em Ciência por uma educação científica que levasse em conta os aspectos sociais relacionados ao modelo de desenvolvimento científico e tecnológico”. Diante disso, a inserção de propostas de alfabetização científica e letramento científico, no currículo escolar, tornam-se fundamentais.

No entendimento de Fourez (1997, p. 81),

[...] uma alfabetização científica e técnica deve passar por um ensino de Ciências em seu contexto e não como uma verdade que será um puro fim nela mesma. Alfabetizar técnico-cientificamente não significa que se dará cursos de ciências humanas no lugar de processos científicos. Significará sobretudo que se tomará consciência de que as teorias e modelos científicos não serão bem compreendidos se não se sabe por que, em vista de que e para que foram inventados.

Para essas teorias e modelos científicos serem compreendidos, é necessário que os estudantes sejam estimulados desde os anos iniciais, como descrito por Viecheneski, Lorenzetti e Carletto (2012), que tenham possibilidade de participar de situações investigativas, de conhecer, criar hipóteses, discutir, apresentar suas ideias, desenvolver o olhar artístico e compreensivo do contexto histórico e social representado e debatê-las com as dos outros sujeitos.

Fourez (1997, p. 61) afirma que “uma pessoa que é capaz de representar situações específicas poderá tomar decisões razoáveis e racionais contra uma série de situações problemas”. Para esse especialista, há três características para que um estudante seja considerado alfabetizado cientificamente: “autonomia, capacidade de comunicar e domínio, e responsabilidade frente a uma situação concreta”. (FOUREZ, 1997, p. 61). Diante dessa reflexão, percebe-se a necessidade de inserir a alfabetização científica e tecnológica desde os anos iniciais.

Chassot (2003, p. 99) é mais categórico quando diz que uma alfabetização científica no Ensino de Ciências, em qualquer etapa acadêmica, deve contribuir para a compreensão de conhecimentos, que permitam aos estudantes tomar decisões e perceber tanto as muitas utilidades das Ciências e suas aplicações na melhoria da qualidade de vida, quanto às limitações e consequências negativas de seu conhecimento.

Ser alfabetizado cientificamente não quer dizer dominar todo o conhecimento científico, mas significa ter conhecimento essencial para avaliar os progressos das Ciências e das tecnologias e suas consequências na sociedade, como afirma Costa (2006, p. 73) “[...] você não precisa se tornar um cientista para compreender o que está acontecendo [...]. Não é condição obrigatória saber estabelecer a sequência de uma molécula de DNA para entender notícias de jornais a respeito do assunto”.

Percebe-se que o conhecimento científico oferece benefícios à vida do cidadão, porque traz consigo a compreensão e as habilidades que poderão consentir a ele apreciar a vida de maneira sistematizada, sendo capaz de observar criticamente e questionar o meio no qual está inserido. Chassot (2014) inclui que entender a Ciência ajuda e contribui para o entendimento, equilíbrio e prevenção das diversas mudanças que ocorrem no mundo. Deste modo, esse cidadão seria apto a realizar alterações de comportamentos por meio de um olhar crítico e analítico, pautado na conquista de conhecimentos científicos e tecnológicos inseridos no cotidiano.

Nesse sentido, é preciso ter um “nível mínimo de compreensão em ciência e tecnologia que as pessoas devem ter para poderem operar, em nível básico, como cidadãos e consumidores na sociedade científico-tecnológico” (GERMANO, 2011, p. 290, 291). E as expressões artísticas, sejam quais forem, manifestam-se como mais uma ferramenta no desenvolvimento do ensino aprendizagem de Ciências ao proporcionar por meio do conhecimento científico, novas visões e compreensão dos fatos.

Assim, entende-se que a alfabetização científica corresponde à aquisição de vários conhecimentos científicos e tecnológicos que ajudariam as pessoas a fazerem uma leitura do mundo em que estão inseridas, com o propósito de compreendê-lo e modificá-lo. Para Santos (2007, p. 475), é importante que os conhecimentos “não ficam restritas às academias, universidades e/ou mesmo nos laboratórios. Os conteúdos [...] tomaram os meios de comunicação, abrindo espaços para divulgação de novas e velhas descobertas científicas em diversas áreas do saber”.

Por isso a importância da alfabetização científica. De acordo com Chassot (2003, p. 38), alfabetização científica “[...] é o conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem”. O autor diz, ainda, que seria esperado que o sujeito não colocasse limite ao fazer essa leitura, mas que fosse, inclusive, capaz de compreender e averiguar a necessidade de intervir de forma a mudar o mundo, aperfeiçoando- o.

Visando a isso, à alfabetização científica e tecnológica, Sasseron e Carvalho (2011) mencionam algumas habilidades próprias aos alfabetizados cientificamente. Essas habilidades estão desenvolvidas em três segmentos denominados como eixos estruturantes da Alfabetização Científica. Esses eixos indicam elementos fundamentais na elaboração de planos de ação que contribuem com a alfabetização científica.

O primeiro eixo estruturante aborda a compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais, sendo relacionado à compreensão de informações,

conceitos e conhecimentos científicos e tecnológicos possíveis de serem usados em várias situações do cotidiano.

O segundo eixo estruturante refere-se à compreensão da natureza da Ciência e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática, isso viabiliza a compreensão de conhecimentos científicos e tecnológicos, informações, reflexões críticas e prováveis ações perante esses conhecimentos científicos.

O terceiro eixo estruturante trata-se do entendimento das relações existentes entre Ciência, Tecnologia e Sociedade e Ambiente (CTSA). Esse eixo mostra a necessidade de se compreender as aplicabilidades dos saberes em suas vidas e o desejo de contribuir para um futuro sustentável para o planeta.

Segundo Sasseron e Carvalho (2011), as sugestões didáticas que aparecerem, respeitando esses três eixos estruturantes, possibilitam a alfabetização científica desde os anos iniciais, pois oportunizam a diminuição de problemas, envolvendo a sociedade e o ambiente.

Ao refletir acerca da alfabetização científica, percebe-se que ela está associada à capacidade de usar o conhecimento científico, não somente considerando a propensão de ler e compreender, mas de apresentar capacidades em compreender e utilizar princípios científicos na escola e no dia a dia por meio de uma obra ou do uso de um gráfico, o qual tem a finalidade de esclarecer, organizar e sintetizar informações e dados quantitativos encontrados nos mais diversos meios de comunicação.

Já outros autores usam o termo “letramento científico”. De acordo com Santos (2007, p. 479), a diferença entre letramento e alfabetização científica é a seguinte:

[...] na tradição escolar a alfabetização científica tem sido considerada na acepção do domínio da linguagem científica, enquanto o letramento científico, no sentido do uso da prática social, parece ser um mito distante da prática de sala de aula. Ao empregar o termo letramento, busca-se enfatizar a função social da educação científica contrapondo-se ao restrito significado de alfabetização escolar.

A BNCC aponta o letramento científico a partir dos Direitos de Aprendizagem e das Competências Gerais, como segue:

[...] ao longo do Ensino Fundamental, a área de Ciências da Natureza tem um compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, que envolve a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais da ciência. Em outras palavras, apreender ciência não é a finalidade última do letramento, mas, sim, o desenvolvimento da capacidade de atuação no e sobre o mundo, importante ao exercício pleno da cidadania (BRASIL, 2017, p. 273, grifo nosso).

Percebe-se, então, que para apropriar-se de linguagens específicas da área das Ciências e Tecnologia é importante ter certo domínio da língua portuguesa culta, uma vez que o letramento está associado à leitura e escrita também. Scarpa e Trivelato (2012, p. 47) confirmam: “é importante que os currículos e os professores de Ciências deem a devida importância para a leitura em Ciências e que a concepção de leitura como investigação esteja presente de forma mais intensa da educação científica”.

Entende-se que Soares e Coutinho (2009, p. 5) consideram a leitura e escrita na alfabetização e letramento científico como fundamentais:

A leitura e a discussão dos fragmentos de artigos científicos e a produção da resenha acadêmica, ambas compreendidas como ações de linguagem, foram utilizadas como ferramentas no desenvolvimento do Letramento Científico, ou seja, no desenvolvimento da competência dos alunos nesta área específica, a das Ciências Naturais.

Diante dessa discussão estabelecida entre alfabetização e letramento, entende-se que a alfabetização pode ser apontada como o procedimento mais fácil da linguagem científica, ao passo que o letramento, além desse domínio, abrange a prática social, a educação científica desejada em seu vasto grau, requer procedimentos cognitivos e domínios de alto nível. (SANTOS, 2007, p. 479).

Nesse sentido, mais importante do que a discussão terminológica entre alfabetização e letramento é a construção de uma visão de Ensino de Ciências associada à formação científico- cultural dos estudantes, à formação humana centrada na discussão de valores. (SANTOS, 2007, p. 488).

É necessário reconhecer que não há uma única semântica relacionada ao termo “alfabetização científica”, devido aos processos de tradução. Em concordância à revisão efetuada por Sasseron e Carvalho (2011), há estudiosos que empregam o termo “letramento científico”, outros que empregam o termo alfabetização científica, e ainda aqueles que utilizam a expressão “enculturação científica”. Todavia, para essas autoras, esses conceitos assumem um único sentido e propósito: “a formação cidadã dos estudantes para o domínio e uso dos conhecimentos científicos e seus desdobramentos nas mais diferentes esferas de sua vida.” (SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 60).

Com base nessas reflexões, optou-se por empregar nesta dissertação a nomenclatura “alfabetização científica”, por entender que se trata de um processo que se inicia nos primeiros anos iniciais do Ensino Fundamental e que se finda no Ensino Médio e/ou Superior.

Diante dessas reflexões, é importante que novas ações didáticas devam ser implantadas nas aulas de Ciências, principalmente nos anos finais do Ensino Fundamental, para que os estudantes adquiram conhecimento científico satisfatório para dar continuidade às discussões acerca da Ciência e tecnologia presentes no cotidiano.

Pensa-se que essa mudança deva partir do planejamento das aulas envolvendo Arte e Ciência, Ciência e Matemática, e demais disciplinas, mesmo sabendo que cada uma possui suas peculiaridades. O interessante é pensar que essa interdisciplinaridade pode melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem em Ciências dos estudantes, a sua formação como leitores críticos e autônomos, além de proporcionar aos professores saírem da rotina e da burocracia, com as quais são diariamente confrontados pelas instituições de ensino. Isso porque, a alfabetização científica ultrapassa o ensino de conceitos isolados, compromete-se, também, em ensinar o estudante a como utilizar os conceitos aprendidos em sua vida, no seu cotidiano, proporcionando seu pertencimento ao mundo e sua compreensão do mesmo. (CHASSOT, 2003).

3 METODOLOGIA

Neste capítulo, será apresentada a metodologia desta pesquisa, a qual está composta pelos aspectos éticos e legais, seu delineamento, sua amostragem, além dos instrumentos de coleta e critérios de análise dos dados.