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4.1 Enquadramento teórico

4.1.3 Alfabetização

Neste período histórico, uma das medidas importantes de alfabetização foi a Associação das Escolas Móveis, por Casimiro Freire (1882), para difundir o método de leitura de João de Deus.

Junto a estas iniciativas, e tendo em conta o lento progresso de industrialização, foram- se desenvolvendo instituições de carácter social de tipo asilar, destinadas a crianças de classes sociais desfavorecidas, e circunscrevendo-se às grandes cidades.

Nos centros republicanos dos bairros da capital havia atividades socioeducativas e recreativas como forma de educação moral, social e cívica.

Nos finais do século XIX observa-se uma grande preocupação em desenvolver a instrução popular e reconhece-se a necessidade de criar instituições para crianças Começa a valorizar-se a função educativa atribuída às instituições destinadas à guarda de crianças pequenas,

“…Observando-se gradualmente a substituição do espírito caritativo e assistencial por uma nova conceção educativa” (Cardona, 1997: 27)

Em 1865, João de Deus, a pedido do gerente da editora Rolland em Lisboa, criou um Método de Leitura. Acabou por publicar a Cartilha Maternal, em 1867, pela Livraria Universal de Magalhães & Moniz. Nesta situação transitória, de polémica – com e contra a Cartilha - formou-se uma Associação de Escolas Móveis para a difusão da mesma, com uma escola diurna para crianças e noturna para adultos. Para os que já tinham ultrapassado a idade escolar ou nas localidades onde não existiam edifícios escolares, optou-se pelo recurso às Escolas Móveis. Estas foram um importante veículo da propaganda republicana e era injusta a crítica que lhes era movida sobre a deficiente

preparação dos seus docentes. A par das escolas móveis o estado apostou na expansão da rede escolar primária.

Como primeiro tipo de influências podem citar-se as conceções das novas correntes psicológicas e pedagógicas de Froebel, Pestalozzi, Montessory e Decroly que pensaram numa escola diferente, na qual a criança viveria intensamente os interesses lúdico- práticos em ligação ao meio envolvente.

Os objetivos de Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus referia-se à necessidade de

“Instituir Jardins Escolas para crianças dos 3 aos 7 anos onde aplicado em toda a sua plenitude, o espírito e a doutrina da obra educativa de João de Deus, modelando assim um tipo português de escola infantil” (estatutos da Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas Ambulantes e Jardins Escola: 1908).

A Associação de Escolas Móveis que tinha como objetivos, não só a valorização da cultura popular e o combate ao analfabetismo, mas também o grande interesse a outras atividades, as lúdicas, as sensoriais, as estéticas, as de interação social. Entre estas atividades passo a citar: o desenho, a modelagem, a pintura, as histórias, os temas de vida, a expressão gestual, o canto, estabelecendo assim a ligação entre objetivos cognitivos e objetivos de desenvolvimento estético e sensorial. O método João de Deus dá valor à nossa literatura infantil de expressão oral (rimas, contos, lendas, mitos, fabulas) onde se pode encontrar o melhor da nossa pedagogia popular.

João de Deus, idealista, perseguia o rumo de alfabetizar o povo, o caminho de elevar o nível cultural das populações mais desfavorecidas e desprotegidas.

São alguns do objetivos do projeto João de Deus,

“Promover o direito a brincar, estimular a criatividade e a iniciativa, utilizar o jogo para desenvolver competências e conhecimentos, estimular os alunos para o prazer da leitura, acompanhar e colaborar na execução de tarefas e atividades escolares, favorecer um trabalho de interação com as escolas da comunidade e outras instituições, despertando o espírito da tolerância e

João de Deus Ramos já estava dentro do movimento das ideias: preservação da identidade cultural, necessidade de cuidar e preparar convenientemente o ambiente, tanto sobre o seu plano físico como nos seus aspetos humano e cultural.

Aceita as ideias de Froebel e o nome de “kindgarden” (jardim de infância), não como uma imagem retórica, mas como uma necessidade de ligação entre a natureza e a criança.

O João de Deus e o João de Deus Ramos pertencem a bela ideia de Jardim – Escola. É o jardim que é escola e é a escola que é jardim. Tudo pela positiva: o jardim e a escola; espaço de ócio e tempo de ócio, do lazer. Neste espaço vão florir a ciência, a arte, o teatro, a dança, a experiencia cívica…

O projeto dos Jardins - Escolas foi posta em prática pelo seu filho João de Deus Ramos que defendia que a escola era uma preparação para a vida, a que todas as crianças têm direito.

João de Deus Ramos pretendia acabar com as escolas de elite, desejava que se cultivasse na escola verdadeiros laços de fraternidade e solidariedade. Uma disciplina muito doce, sem prémios nem castigos. Esta disciplina, a que chamava de “ativa”, deveria ser o mais possível orientada como uma verdadeira educação cívica.

Na base da sua metodologia existia sempre uma ideia de simpatia, no real sentido da palavra: simpatia como convergência de pontos de vista e de sentido. Um ambiente de simpatia cria o meio ideal, a firmeza e a calma, tão importantes para dar à criança um sentimento de segurança.

Contemporâneo de Decroly e de Montessori, João de Deus Ramos foi o instigador em Portugal de um movimente de interesse pelas crianças.

Na sua época e em Portugal, raramente as crianças saiam de casa familiar para frequentarem um centro escolar.

Com as Escolas Móveis tenta-se oferecer à criança um ambiente familiar, favorável ao seu desenvolvimento: os jogos, as canções, a rítmica de arcos, as histórias, os jogos

simbólicos seriam bons instrumentos para adquirir bons hábitos e favorecer a sua integração no grupo. A criatividade da criança é estimulada de várias formas.

Depois de ter ensinado as crianças a observar e a entender são incitadas a exprimirem-se por gestos, pelo corpo, pelo desenho, mas sobretudo oralmente. A expressão verbal e não-verbal é privilegiada; trabalha a linguagem e a expressão oral através do diálogo, das histórias, dos contos, das pequenas poesias e dramatizações.

“Meu avô foi extremamente atual, quando no início do século XX, mesmo antes da república, defendeu que e escola infantil não serve só para os meninos saberem “coisas”, O mais importante, considerou, é desenvolver capacidades, destrezas, habilidades, conhecimentos, valores e atitudes.” (Carvalho,2011) Efetivamente a educação da criança foi muito descurada pela monarquia, apesar de terem sido criadas várias organizações e associações nos finais do século XIX onde eram ministrados aos trabalhadores e aos respetivos filhos, cursos noturnos. No entanto, a organização escolar era deficiente provocando o desinteresse e um fraco aproveitamento.

O grande atributo da animação sociocultural é o de educar e desenvolver atividades de carater lúdico – pedagógico.

A Animação Socioeducativa é uma vertente da Animação Sociocultural, que surge nos finais dos anos 70 sendo encarada como uma educação não formal, da qual resulta um conjunto de atividades que levam à partilha e à interação das crianças entre si e dos adultos que as acompanhavam, como é defendido por Jammes Trillar (1998), comportando na sua constituição as componentes sociais, educacionais e culturais. Segundo Lopes (2008) o desenvolvimento da animação socioeducativa surgiu com o objetivo de complementar as funções atribuídas à escola mas pela via da educação não formal. Sendo traduzida em atividades de caráter lúdico que podem ser desenvolvidas de forma independente ou em conjunto com a educação formal. Conferindo um caráter multidisciplinar à animação sociocultural, é esta a base para o seu desenvolvimento e para o seu campo de trabalho.

A escola deve favorecer o movimento de exteriorização do eu, o que pode ser propiciado por atividades no campo da arte, campo esse que favorece a expressão de estados e vivências subjetivas.

É objetivo no seu planeamento de trabalho valorizar, desenvolver e avaliar o desempenho das suas crianças de forma diversificada, onde as relações afetivas e os estímulos positivos são presença constante. A autonomia é também um objetivo primordial um crescimento pessoal e social que permita às crianças enfrentarem desafios e mudanças que lhes surjam no presente e no futuro.

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