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4.1 Enquadramento teórico

4.1.2 Os centros escolares republicanos

Em 1910, os republicanos encontraram uma realidade educativa que nos afastava da maioria dos países da europa. A taxa de analfabetismo era muito elevada. Perante tal situação o combate ao analfabetismo impunha-se com objetivo prioritário, pelo que a república, mais uma vez numa solução de continuidade, opte pelo recurso às chamadas Escolas Móveis, criadas pela monarquia, em 1882, para divulgar o método de João de Deus.

Com um decreto de 1911, proclama-se o propósito de as bibliotecas tornarem os livros uteis aos cidadãos, permitindo o acesso aos livros e a leitura domiciliária. Surge assim a primeira referência a coleções e bibliotecas móveis. As bibliotecas itinerantes devem disponibilizar os seus serviços de igual modo a todos os membros da comunidade local, independentemente à idade, raça, estatuto social ou religião. Os objetivos destas bibliotecas visam o desenvolvimento pessoal e intelectual dos leitores, o combate à iliteracia, possibilitar o acesso e o conhecimento à cultura local, regional e nacional, promover iguais possibilidades de aquisição e utilização de informação.

Durante a ditadura salazarista, que assentava a sua ação na manutenção da censura e do obscurantismo da sociedade portuguesa, o livro e a leitura eram um luxo e também atividade arriscada. Foi, no entanto a ação levada a cabo pela fundação Calouste Gulbenkian que dotou o país de uma rede de bibliotecas com o objetivo principal de alcançar e promover o gosto pela leitura.

No plano educativo estava em causa a regeneração da Pátria, fazer da utopia uma realidade, alcançar a plena cidadania, a dignificação de um Homem crítico e livre. Para os republicanos educação e formação para a cidadania eram indissociáveis, colocando este regime a escola como um verdadeiro critério da participação cívica. Alguns pedagogos encaravam a escola como um templo cívico, que desenvolveria um projeto de formação integral, auto-regulada, orientando os cidadãos na construção do seu próprio futuro, contribuindo para a formação de um Homem Novo. Outros defendiam a criatividade, a autonomia e contrariavam a função moralizadora, social e integradora do ensino, a manipulação educativa pelo poder.

Apesar dessas divergências, a maior parte dos pedagogos associou a modernidade pedagógica aos valores da Educação Nova: o aluno devia conhecer a realidade, valorizar a experiência, sair do espaço escolar, aprender um ofício.

Surgiram escolas pedagogicamente diferentes das tradicionais, tentando conciliar as descobertas da psicologia do desenvolvimento cognitivo com os recursos pedagógicos proporcionados pelo meio, a adequação ao nível etário, o aperfeiçoamento da aprendizagem prática a partir das «lições de coisas».

A reforma da instrução de 29 de Março de 1911 insistiu sobretudo no ensino primário. João de Barros e João de Deus Ramos desejavam implementar uma reforma pedagógica revolucionária que não atendia, no entanto, aos constrangimentos financeiros e até culturais do País.

“O homem vale, sobretudo, pela educação que possui, porque só ela é capaz de desenvolver harmonicamente as suas faculdades, de maneira a elevarem-se –lhe ao máximo de proveito dele e dos outros(…) Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria prima de todas as pátrias”…(Preâmbulo do decreto de 29 de março de 1911)

Foi criado oficialmente o ensino infantil para os dois sexos, Jardins-Escolas em cada um dos bairros de Lisboa e do Porto, nas capitais de distrito e nas sedes dos principais concelhos.

A Educação Nova emergiu, assim, de um espesso e riquíssimo caldo de cultura, tendo como matriz a importante produção científica e pedagógica da viragem do século XIX para o século XX.

“Centrando a sua acção educativa na psicologia da criança, a Educação Nova conduzirá ao surgimento da pedologia e à ― constituição de uma pedotecnia científica” (Gomes, 1996: 192).

Na opinião de Ferrière, (s.d) as Escolas Novas não deviam ser tidas como modelos das escolas do futuro mas antes entendidas como laboratórios vivos de uma pedagogia diariamente praticada. Também não deviam ser a cópias exatas umas das outras mas, ao invés, refletir as peculiaridades dos seus próprios países, ainda que

necessidades fisiológicas e psicológicas próprias da criança, de todas as crianças, preparando-as para viver o tempo presente e, em especial, o futuro que as esperava. Efetivamente, a Escola Nova não é um repositório lógico de teorias pedagógicas, antes se revelando um aglomerado de tendências psicológicas e sociais, não raro em oposição umas com as outras, mas todas com uma imensa virtualidade: a de mudar a escola. Como afirma Fernandes (1979), um dos aspetos mais emblemáticos do movimento pedagógico português durante a primeira república, foi sem dúvida o impulso de uma pedagogia científica.

Nóvoa considera a Escola Nova o mais importante movimento pedagógico que atravessou a sociedade portuguesa, o qual teve em João de Deus um dos seus mais notáveis percursores. (Nóvoa, 1991: 9).

Ao comparar o método de Maria Montessori com as conceções pedagógicas de João de Deus considera que aquele método não provocou um espanto excessivo no nosso país, sabida já a existência dos nossos Jardins-Escolas João de Deus,

…”tão semelhantes às Case dei Bambine pelos princípios educativos em que se inspiram, se bem que tão essencialmente, tão fundamentalmente portugueses pela aspiração nacionalizadora que realizam. “ (Barros, 1916: 162).

Era, assim, nos Jardins-Escolas João de Deus, que João de Barros via as bases da escola nacional moderna, onde se fornecia à criança um ensino concreto, realístico. Ali, a criança vivia num ambiente de alegria, de higiene e de harmonia artística que lhe afina a sensibilidade, que lhe aviva a inteligência e que lhe vigoriza o corpo.

“…e ali se praticavam três grandes virtudes da democracia: ― a liberdade, o civismo e a solidariedade.” (Barros, 1916: 14-15).

A escola infantil, ou jardim-de-infância, nasceu com a revolução industrial, em consequência das profundas transformações sociais operadas na sociedade de então, tendo o desenvolvimento da educação pré-escolar ficado a dever-se, sobretudo, à necessidade de assegurar a guarda das crianças enquanto as mães trabalhavam. Esta situação começou a verificar-se em resultado da mobilização da mão-de-obra feminina pelos grandes centros fabris e, ao mesmo tempo, de uma crescente preocupação

assistencial tendente a garantir melhores condições de vida às crianças oriundas de meios desfavorecidos, sobretudo no seguimento da concentração da população nos centros urbanos.

O primeiro jardim-de-infância Froebel foi fundado em Lisboa em 1882.

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