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4.1 Enquadramento teórico

4.1.1 A Escola Nova

Segundo Rousseau, é na infância que a educação deverá ser um largo treino dos sentidos, obtido pelo contacto íntimo com os fenómenos da natureza, porque quando a criança aprende a utilizar os dados sensoriais começa a ser capaz de condutas humanas informadas pela razão.

“A primeira razão do homem é uma razão sensitiva; é ela que serve de base para a razão intelectual.” (Rousseau, 1999: 141).

A infância deve ser sinónimo de ociosidade, jogo e brincadeira. Toda a educação da criança deve surgir do desenvolvimento livre da sua própria natureza, das suas próprias potencialidades, das suas inclinações naturais. A criança, ao crescer num ambiente de liberdade e ao ter oportunidade de exercitar os sentidos, facilmente atingirá a idade em que começa a fazer uso da razão.

“Quanto mais o seu corpo se exercita, mais o seu espírito se ilumina; sua força e sua razão crescem juntas e se ampliam uma à outra.” (Rousseau,1999: 130). As doutrinas de Rousseau exerceram grande influência no pensamento pedagógico de Pestalozzi e de Fröebel, cujos trabalhos estão na génese das ideias educacionais modernas. Irão servir de referência à maior parte das reflexões e trabalhos pedagógicos do século XIX e do princípio do século XX em Portugal. Num certo sentido pode dizer- se que, em relação ao saber pedagógico, eles vão assegurar a passagem dum ― saber revelado para um saber científico. (Nóvoa, 1987:747).

Pestalozzi foi quem primeiro fez notar a insuficiência destas escolas.

“…faltava o essencial: faltavam escolas para formar homens” (Ramos, 1916:4).

Propõe-se reeducar crianças desprotegidas, transmitindo-lhes a essência do saber e da cultura e ensinando-lhes um ofício que lhes permitisse ganhar a vida.

Defende que a educação deveria começar desde tenra idade e, ao considerar a educação materna como:

“A primeira e a mais necessária de todas as educações, pretende impor às mães o dever de educar, o que faz na sua obra O Livro das Mães, onde desenvolve uma concepção pedagógica de educação das faculdades das crianças em idade pré-escolar” (Cousinet, 1976: 41).

Assinala que o papel da mãe é fundamental para a educação da criança e considera a família como o ponto de partida de toda a educação. Segundo ele, na família predominam o amor e o trabalho em comum, a base de toda a educação.

Para Pestalozzi, não é possível qualquer educação intelectual e artesanal se primeiro não tiverem sido educados os sentimentos e as disposições práticas em geral. O amor e a confiança necessitam de tanto ou mais cultivo do que a inteligência e o juízo. Diz-nos o pedagogo que:

“Se, no despertar da vida sensorial da criança, se pode notar que os olhos querem ver, que os ouvidos querem ouvir, que os pés querem andar e as mãos agarrar, não esqueçamos que o seu coração quer crer e amar.” (Santos, 1946: 12).

Pestalozzi concebia a educação escolar como um complemento da educação familiar e como um meio de preparação para a educação pela vida e a escola era para ele um lar onde se buscavam os mesmos fins: o desenvolvimento moral e intelectual e o bem- estar da criança.

O objetivo de Froebel era criar uma instituição pedagógica intermédia entre a educação familiar e a educação escolar, onde pudesse aplicar o seu método, baseado este na criatividade e na educação pelo jogo.

Froebel defendia que a melhor educadora para as crianças deveria ser a mãe de família e que era indispensável que esta tivesse uma formação específica. Para ele, o papel de educadora era explicitamente para as mulheres e, inicialmente, prelecionou em cursos destinados as mães.

As práticas educativas deviam ser elaboradas com sensatez e precaução, para se adaptarem à especificidade da criança. Defende ainda que a educação é o processo em que o indivíduo desenvolve a condição humana da sua consciência em harmonia com a natureza e a sociedade, implicada num desenvolvimento de evolução individual e universal.

Os jogos ao ar livre, nomeadamente as marchas, as rodas e as canções, satisfazem nas crianças a necessidade de movimento, habituam-nas a uma atividade de grupo, com todas as suas regras, e levam-nas a conjugar as palavras, os movimentos e a música Os jogos ao ar livre representam qualquer cena da vida quotidiana: trabalhos no campo, o voo de uma ave, o comboio, etc. As histórias, as poesias e os contos de fadas, tanto do agrado das crianças, são um meio para incutir certos princípios morais (Wolff, 1905, Novembro, Dezembro).

Trazendo nos genes o respeito pelas exigências fundamentais da natureza da criança, a Educação Nova vai-se apropriando das sucessivas descobertas que no âmbito das várias ciências se vão fazendo no sentido de ampliar o conhecimento daquela natureza. Não espanta, pois, que os nomes sonantes daquela Escola não sejam apenas, nem especialmente, professores, mas outros: médicos, psicólogos, investigadores, criadores de métodos e de técnicas, tais como, entre muitos outros, Dewey, Binet, Cláparede, Bovet, Ferrière, Piaget, Wallon e os fundadores de métodos, como Montessori, Decroly, Freinet, Couisener, isto é, …”a melhor geração pedagógica de sempre.” (Nóvoa, 1995:26).

De um modo geral, os primeiros métodos que integraram a Escola Nova colocaram o acento tónico no trabalho individual da criança, como sucedeu, por exemplo, com o método Montessori.

Montessori, influenciada por Itard e Séguin, e depois de se ter interessado por crianças deficientes, cria em 1907, em Roma, a primeira Casa dei Bambini, para crianças normais. Segundo o seu pensamento pedagógico, a educação do indivíduo deveria ser abordada de uma forma científica, com base na observação e na experimentação.

…”primeiro, a criança, como centro de toda a educação; segundo, - o meio, onde a criança vive e age, uma vez que a educação é uma adaptação ao meio; terceiro, - a sociedade, pois a criança não está destinada a viver isoladamente, sendo necessário contar com as reacções recíprocas entre o indivíduo e a sociedade” (Planchard, 1979:245).

Partindo das leis da educação funcional e da finalidade da escola, Decroly defende que cada uma das atividades constitui um centro de interesse em redor do qual gravitam todas as investigações, procuras e trabalhos necessários ao seu desenvolvimento natural. Os centros de interesse conseguem fazer concorrer todas as atividades do espírito para a aquisição de um conhecimento ou de um conjunto de conhecimentos.

Montessori atribui grande importância à educação social, embora o processo que nesta área preconiza seja fortemente individualizado. Esta individualização é em parte compensada com os exercícios de ajuda mútua e as atividades coletivas mas, no essencial, o trabalho das crianças continua a ser individual, ou seja, trata-se de um método essencialmente individual quanto ao trabalho mas que também evidencia uma vertente social quando atende a certos aspetos da colaboração das crianças em ambiente escolar.

Tal como Froebel, também Montessori acreditava que o desenvolvimento da criança decorria naturalmente.

Destacamos no liberalismo os contributos educativos significativos, entre outros de Alexandre Herculano e as propostas de uma educação nacional e geral de Almeida Garrett.

João de Deus Ramos, ilustra as intensões dessa educação nacional daquele escritor pedagogo:

“Eu tenho que nenhuma educação pode ser boa, se não for eminentemente nacional. Nem o próprio cidadão de Genebra (J.J.Rousseau) era capaz de educar bem um cidadão estrangeiro. Devemos examinar as escolas, estudar os sistemas de educação dos países mais civilizados…” (Ramos, 1915:17-18)

A. Garrett propunha as bases de uma educação nacional que tivesse em conta as experiências pedagógicas do estrangeiro, mas adaptadas à cultura portuguesa. Apostava num regime de coeducação.

De facto, a irradiação do analfabetismo, o ensino elementar chamaram a atenção de muitos pedagogos, entre eles: F. Castilho, João de Deus, Adolfo Coelho, Faria de Vasconcelos, etc.

Nos alvores do século XIX existiam poucos colégios particulares, e poucas escolas oficiais.

Não admira, por isso, que num país tão atrasado culturalmente como Portugal, a Maçonaria tenha desempenhado um papel de relevo na luta contra o analfabetismo e no fomento de toda e qualquer atividade cultural.

Nos finais do século XIX e XX, a maçonaria foi responsável pela fundação de um sem número de escolas e grupos ligados à cultura.

Nos inícios do século XX, a chamada “escola livre”, com a sua correspondente “ escola oficial” preconizada pelo maçon Bernardino Machado, foram fundadas gradualmente em todo o país. Entre muitas instituições de educação permanente, destacam-se: a sociedade de instrução “A voz do Operário” (1883), a academia dos Estados Livres (1889), os Jardins - Escolas João de Deus (1911), a Liga de ação educativa (1926). Quase todas elas desapareceram durante a ditadura do Estado Novo, quer por dissolução governamental, quer por impossibilidade de prosseguir na sua ação educativa.

João de Deus Ramos

“Em 10 de Março de 1951 e nos anos seguintes, presidiu, na Casa do Algarve em Lisboa, à sessão solene comemorativa do 21º aniversário da Fundação da Casa do Algarve e do nascimento do poeta João de Deus.

Foi iniciado na Maçonaria em 1909, na loja Solidariedade, em Lisboa, com o nome simbólico de Antero. Em 1913, passa para a loja Redenção, regressando em 1922 à loja onde fora iniciado. Em 1924 atingiu o 7º grau do Rito Francês.”(Marques, 1986;1193-1194)

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