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A importância das escolas móveis, João de Deus, como antecedente da animação sociocultural

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Academic year: 2021

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ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS MÓVEIS, JOÃO DE DEUS,

COMO ANTECEDENTE DA ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, especialização em Animação Sociocultural

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ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS MÓVEIS, JOÃO DE DEUS,

COMO ANTECEDENTE DA ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação, especialização em Animação Sociocultural

Helga Luísa Gomes de Almeida e Silva Ferreira Orientador: Doutor José António de Matos Esteves das Neves

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Mestre em Ciências da Educação, especialização em Animação Sociocultural, ao abrigo do artigo 16.º do Decreto -Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, com as alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.ºs 107/2008, de 25 de Junho, e 230/2009, de 14 de Setembro.

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À Iara e ao Igor, meus filhos, a quem tantas vezes disse: “Agora não posso…”

Ao Marco, pela determinação e palavras de incentivo quando as dificuldades trouxeram dúvidas.

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Agradecimentos

À UTAD, na pessoa do Magnífico Reitor Professor Doutor António Fontainhas Fernandes, pelos meios colocados à minha disposição.

Ao Doutor José António de Matos Esteves das Neves, pela simpatia e incentivo, pelo apoio e sabedoria com que sempre me ouviu, pelos esclarecimentos e sugestões oportunas que tornaram possível a concretização deste trabalho.

Aos Professores Doutores Agostinho Gomes e Marcelino Lopes por todos os conselhos e incentivos.

Uma tese de mestrado é o resultado de um percurso que não teria sido possível realizar sem o precioso apoio e colaboração de várias pessoas a quem este trabalho muito deve e às quais desejo expressar os meus sinceros agradecimentos.

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Resumo

Com o aparecimento da Escola Nova e com os seus seguidores, um novo marco na área educativa ocidental surgiu no último quartel do século XIX e no início do século XX, descrevendo os fenómenos sociais, políticos, científicos e económicos subjacentes à Escola Nova. O mesmo se tentou relativamente ao panorama nacional português tendo em conta a emergência da república e a construção de um Homem Novo, alfabetizado e possuidor de ferramentas que lhe permitissem assumir uma cidadania de pleno direito. Investigados e categorizados os elementos da pesquisa, procurou-se sobretudo saber se João de Deus Ramos, o universitário já atento aos problemas da educação de infância, o jovem colaborador das missões de alfabetização das Escolas Móveis, o criador da primeira rede portuguesa de jardins-de-infância e, também, da primeira escola portuguesa para educadoras de infância, o legislador de reformas educativas, o ex-ministro da instrução, o conferencista sobre temas de educação João de Deus Ramos, contribuíra ou não para a construção do Homem Novo que a república preconizara e se as suas convicções pedagógicas se inscreviam ou não no movimento da Escola Nova. Pretende-se também proceder a uma breve apresentação da história das bibliotecas móveis portuguesas e, também, a uma reflexão sobre a sua atividade e evolução que operaram uma revolução no panorama cultural português, contribuindo simultaneamente para o ressurgimento das novas bibliotecas móveis.

Esta comunicação tem por objetivo avalia o percurso das bibliotecas móveis em Portugal desde a sua fundação, referindo-se ao seu apogeu nos anos sessenta, com a rede de bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian e, como não poderia deixar de ser, à realidade dos nossos dias, em que se assiste ao reaparecimento desses serviços nas novas bibliotecas públicas municipais. Face a tudo isto, a biblioteca móvel assumiu-se como a porta de acesso local ao conhecimento, ao levar até às populações recursos de informação e entretenimento aos quais não poderiam aceder com facilidade.

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Abstrat

With the emergence of the New School and his followers, a new milestone for the educational system in the western world emerged in the last quarter of the nineteenth century and early twentieth century, describing social, political, scientific and economic phenomena underlying the New School. The same is tried for the Portuguese national scene taking into account the emergence of the republic and the construction of a New Man, literate and possessed of tools required to take a citizenship by operation of law. Investigated and categorized the elements of the research, we tried to learn above all is João de Deus Ramos, the university already aware of the problems of early childhood education, young collaborator of literacy missions Schools Furniture, the creator of the first Portuguese network of gardens- for children and also the first Portuguese school for kindergarten teachers, the legislature of educational reforms, the former minister of education, lecturer on education topics João de Deus Ramos, contributed or not to build the New Man that the republic and advocated their pedagogical convictions were part or not in the New School movement.

We also intend to make a brief presentation of the history of the Portuguese mobile libraries, and also to reflect on their activity and evolution that operated a revolution in the Portuguese cultural, while contributing to the resurgence of new mobile libraries. This communication aims to assess the route of mobile libraries in Portugal since its foundation, referring to its heyday in the sixties, with the network of mobile libraries and the Calouste Gulbenkian Foundation, as it should be, the reality of our days, that we are witnessing the re-emergence of these new services in public libraries. Given all this, the mobile library was assumed as the local gateway to knowledge, to take up the population information resources and entertainment to which they could not reach easily.

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Índice Agradecimentos...I Resumo ...II Abstrat ... III Índice ... IV Introdução... 2 Pertinência do estudo... 5 1.1 Definição do problema... 5 1.2 Motivação ... 7 1.3 Objetivos gerais ... 9

A Animação Socioeducativa na Animação Sociocultural... 11

2.1 Origem, evolução e âmbitos da A.S.C... 11

2.2 Animação Socioeducativa – animação na infância e a pedagogia do ócio... 13

2.3 Animação sociocultural e os contextos formais, não formais e informais ... 16

Metodologia... 21

3.1 Tipo de estudo... 21

3.2 Técnicas de investigação ... 21

As escolas móveis como antecedente da Animação Sociocultural ... 26

4.1 Enquadramento teórico ... 26

4.1.1 A Escola Nova... 26

4.1.2 Os centros escolares republicanos... 31

4.1.3 Alfabetização... 34

4.2 João de Deus e o combate à iliteracia ... 38

4.3 João de Deus Ramos e as Escolas Móveis... 41

4.3.1 Biografia... 41

4.3.2 O 1º Jardim Escola João de Deus... 43

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4.4.1 A Associação de Jardins Escola João de Deus... 59

4.5 As bibliotecas móveis da Gulbenkian ... 61

4.5.1 A Fundação Calouste Gulbenkian ... 61

4.5.2 As primeiras bibliotecas rolantes... 61

4.5.3 Bibliotecas em movimento: as novas bibliotecas móveis... 65

4.5.4. Perspetivas sobre a promoção e desenvolvimento das bibliotecas móveis . 66 5. Futuro das bibliotecas móveis ... 68

Conclusões... 70

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Introdução

Em Portugal, como no resto do mundo, a educação vem assumindo uma crescente centralidade no debate da problemática educativa. Por outro lado, o seu campo de ação torna-se cada vez mais vasto, multiplicando-se as suas práticas, com as mais variadas origens, finalidades e estratégias, sinais claros de uma expansão que se perspetiva decisiva nos tempos vindouros. Esta ação tanto abrange modalidades de intervenção puramente educativa, como intervenções socioeducativas através de projetos de animação das comunidades, visando o seu desenvolvimento endógeno, global e integrado.

A Lei de bases do Sistema Educativo - LBSE de 1986, abriu uma nova fase no reconhecimento da autarquia como agente educativo, conferindo-lhe competências para a criação de estabelecimentos ou desenvolvimento de ações educativas na educação pré-escolar, educação especial, na educação recorrente de adultos e na formação profissional.

De facto, o município deixa de ser considerado apenas um contribuinte do sistema educativo ou um gestor de interesses privados no domínio da educação para ser entendido como uma instituição que participa na gestão dos interesses públicos educativos ao lado do estado e com o mesmo estatuto de instituição pública.

A importância deste estudo para além de ser um tema atual, é importante porque é um assunto pouco estudado e, é uma exigência do mundo atual (reestruturação produtiva, economia competitiva, globalização).

Devido à complexidade do tema estudado, pensou-se desenvolver o trabalho em quatro capítulos.

Este trabalho inicia-se com uma introdução geral; a identificação do problema; os objetivos e limitações do estudo.

O Capítulo II diz respeito à animação socioeducativa na Animação Sociocultural.

O Capítulo III destina-se à investigação empírica, recolha de dados, seleção da metodologia utilizada.

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No Capítulo IV vamos tentar explicar a importância das Escolas Móveis, pelo método João de Deus como antecedente da Animação Sociocultural, comparando também com as bibliotecas itinerantes e fixas da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Capítulo I

Pertinência do estudo

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Pertinência do estudo

1.1 Definição do problema

No âmbito da pós - graduação em Animação Sociocultural - A.S.C. levada a cabo na Universidade de Trás dos Montes e Alto Douro - UTAD, pretendemos elaborar um projeto com o tema “A importância das Escolas Móveis, João de Deus, como antecedente da Animação Sociocultural”.

Tendo em conta que a Animação Sociocultural só após o 25 de abril de 1974 é que atingiu o seu ponto mais alto, já que até então, os seus antecedentes remontam de tempos longínquos da 1ª república, prolongando-se até ao Estado Novo.

É durante a 1ª república que se encontram os primeiros sinais de Animação.

“Sente-se que durante a 1ª república, uma atitude generosa e romântica, talvez utópica, esteve presente em muitas decisões. A aposta, a nível, pelo menos do discurso, na dignificação do Homem e na sua promoção moral e social através da educação manifestou-se em inúmeras situações. Por isso o combate ao analfabetismo, a difusão da cultura popular e o empenho na educação transformaram-se numa bandeira que uniu na actuação muitos republicanos:”(Cortesão, 1981:14)

Foi nessa época para combater o analfabetismo que surgiram as primeiras iniciativas de educação e cultura popular.

“…em Portugal, a acção pedagógica das escolas móveis, uma modalidade educativa itinerante que pelo método João de Deus procedeu a uma acção alfabetizadora em inúmeras localidades e cuja intervenção se ligava já a processos educativos não formais:” (Lopes, 2007: 58).

Este método tem uma longa tradição na educação em Portugal e tem caraterísticas muito próprias que lhe conferem uma sólida consistência. Como primeiro tipo de influências podem citar-se as conceções das novas correntes psicológicas e pedagógicas de Froebel, Pestalozzi, Montessory e Decroly que pensaram numa escola diferente, na qual a criança viveria intensamente os interesses lúdico-práticos em ligação ao meio envolvente.

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Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino na primeira metade do século XX. Um conceito onde as escolas deviam de deixar de ser meros locais de transmissão de conhecimentos e tornarem-se pequenas comunidades. Esta corrente recebeu muitas críticas e foi, inclusivamente, acusada de abrir mão dos conteúdos tradicionais.

Estão por detrás da reforma do ensino primário, em 1911, João de Barros e João de Deus. Por ele é igualmente fundado o ensino infantil particular, com a criação dos primeiros “Jardins - Escolas”, ainda hoje existentes, com métodos pedagógicos inovadores e onde as primeiras noções de liberdade, civismo e solidariedade eram ministradas.

As ideias de João de Deus (1830 - 1896) originaram a Associação de Escolas Móveis. Esta Associação, tendo tido como principal mentor o seu filho João de Deus Ramos, a sua neta Maria da Luz Ramos e atualmente continuada pelo seu bisneto António de Deus Ramos Ponces de Carvalho nos Jardins Escolas João de Deus tinha como objetivos, não só a valorização da cultura popular e o combate ao analfabetismo, mas também o grande interesse a outras atividades, como as lúdicas, as sensoriais, as estéticas, as de interação social. Entre estas atividades passamos a citar o desenho, a modelagem, a pintura, as histórias, os temas de vida, a expressão gestual, o canto, estabelecendo, assim, a ligação entre objetivos cognitivos e objetivos de desenvolvimento estético e sensorial.

Estas iniciativas tiveram já os seus antecedentes na monarquia constitucional, tendo sido em 1882 fundada por Casimiro Freire a Associação de Escolas Móveis, numa modalidade itinerante em ensino pelo Método João de Deus (1830- 1896).

Em 1908 por proposta de João de Deus Ramos, filho do poeta / educador, passou a designar-se “Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas ambulantes e Jardins- Escolas”, que tinha como vetores não só a valorização da cultura popular e o combate ao analfabetismo, mas também o grande interesse, pelo estudo da infância, estendendo-se às outras atividades como as lúdicas, as sensoriais, as estéticas, as de interação social.

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"(...) reuniram-se algumas dezenas de cidadãos e fundaram a Associação de Escolas Móveis, com o fim de ensinar a ler, escrever e contar pelo método de admirável rapidez, do Senhor Dr. João de Deus, os indivíduos que o solicitarem, até onde permitam os seus meios económicos, enviando nesse intuito às diversas povoações da nação portuguesa professores devidamente habilitados – não se envolvendo em assuntos políticos, nem quaisquer outros alheios ao seu fim".(Escritura de Constituição de Escolas Móveis pelo Método Educativo João de Deus, Maio de 1882.)

Muitos consideravam a Associação de Jardins - Escolas dos melhores legados da 1ª república.

” O culto de João de Deus, esse, é mais íntimo, mas não menos fecundo. Em volta do nome do grande lírico, autor da Cartilha Maternal, juntaram-se muitos professores, intelectuais, artistas e construtores que lançam os verdadeiros alicerces da Pátria”. (Cortesão, 1981:14)

A Associação de Jardins Escolas João de Deus através do método João de Deus enriqueceu o número de alfabetizados do nosso país.

1.2 Motivação

Toda a ciência/investigação parte de um questionamento constante, sustentado com o espírito de curiosidade e persistência do investigador. Assim, a questão que nos moveu prendeu-se com a influência que as Escolas Móveis, João de Deus, tiveram na génese da Animação Sociocultural em Portugal.

A principal motivação para a realização deste estudo foi a minha experiência nesta “grande família João de Deus” como docente do ensino básico, nas escolas João de Deus, e consequentemente analisar a sua relação com a Animação Sociocultural. Assim pensamos que é chegada a altura de contribuir para o aumento do interesse do estudo dos antecedentes da A.S.C.

Quando se nos colocou a questão de eleger um tema para a dissertação de mestrado, a escolha estava feita. Tentar conhecer tão profundamente quanto possível a obra e o

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pensamento deste homem, bem como, a sua vida, enquanto suporte e estrutura do que pensou e do que realizou.

“O investigador não parte totalmente em branco, sendo certo que tem motivações muito diversas, só passíveis de serem conhecidas pela contextualização do problema. Tal processo inclui factores pessoais, profissionais e organizacionais, em cujos elementos de análise se podem encontrar as potenciais definições do problema e suas exigências específicas.”(Pacheco, 2006: 14,15)

Algumas limitações deste estudo, podem resultar da proximidade do autor à realidade vivida na região, e também do fato de ser um ator neste processo. Assim, o facto de estar por dentro dos problemas e das realidades em estudo, pode levá-lo a generalizar, e até mesmo a valorizar determinadas evidências.

Esta dificuldade tem tendência a aumentar devido a uma reconhecida e constante presença no terreno.

Pois falar com pessoas, inquiri-las, participar em atividades sociais poderá ser um fator que vá interferir na investigação.

Contudo é, também, necessário existir uma familiarização com o objeto, pois proporciona um maior contacto e interajuda entre o investigador e as pessoas inquiridas visto que esta interação é muitas vezes mais eficaz e melhor do que as informações que foram recolhidas pelo investigador.

“Algumas das informações mais significativas não são as que o investigador obtém através das perguntas que faz, mas das perguntas que lhe fazem a ele”.(Costa, 1989:134)

Torna-se, então, necessário existir um meio-termo, uma situação em que conseguia a familiarização e o distanciamento de atitudes.

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1.3 Objetivos gerais

João de Deus Ramos viveu, numa época de acentuada efervescência política, social e económica, tendo conhecido de perto dois modelos (quase) antagónicos de organização do Estado, a monarquia constitucional e a república, tendo assistido ao derrube de uma e à instauração de outra.

É, também, por esta época que a pedagogia se vai impondo como ciência, aberta à experimentação. Surge a denominada Escola Nova, movimento de rutura com as antigas práticas de educar e cuja vocação é também a de forjar um Homem Novo.

Neste pano de fundo, pretendemos indagar se:

- João de Deus Ramos contribuiu para a realização desse Homem Novo que a República preconizava;

- pela sua prática e pelas suas caraterísticas pessoais, pode ser visto como um político;

- as suas conceções pedagógicas se inscreviam na referida Escola Nova.

Tendo em vista a finalidade de compreender a importância das Escolas Móveis, João de Deus como antecedente da A.S.C. os objetivos a alcançar visam:

- saber a importância / influência das Escolas Móveis como antecedente da Animação Sociocultural;

- caraterizar / contextualizar o público alvo;

- conhecer as várias perspetivas (opiniões) sobre o método;

- analisar a opinião dos docentes sobre o contributo das Escolas Móveis na Animação Sociocultural.

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Capítulo II

A Animação Socioeducativa na Animação

Sociocultural

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A Animação Socioeducativa na Animação Sociocultural 2.1 Origem, evolução e âmbitos da A.S.C.

Nos dias que correm, a sociedade em que vivemos transforma-se a um ritmo alucinante. Cada vez mais a vida profissional é mais absorvente uma vez que a competitividade é cada vez maior e mais exigente para as famílias.

Desta forma, o tempo para a família fica mais reduzido e como consequência há um afastamento das famílias com as crianças.

As crianças de hoje nascem em hospitais (instituições), ainda muito pequenas, vão para o infantário (instituição), na infância continuam a frequentar o infantário e o ensino básico (instituições).

Por esta razão as crianças de hoje, devido às necessidades impostas pela família e das novas tecnologias de informação e de comunicação, não tem um convívio de “qualidade” em família. Isto é, os laços afetivos com a família diluem-se nas instituições dando origem a uma indiferença do sentido da família.

Na atual sociedade a criança tem necessidade de brincar, de jogar e de ter tempo livre para tais atividades. O jogo infantil, é sem dúvida, um agente fundamental para o desenvolvimento a todos os níveis da educação não formal.

É importante que a educação seja vista como algo mais do que um meio de transmitir conhecimentos, mas, e principalmente, um meio de ligação do individuo à comunidade, pois todos nós temos alguma coisa para ensinar e para aprender.

No entanto, esta aprendizagem não se pode limitar à escola, uma vez que esta é permanente e comunitária.

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…”Mais recentemente, um conjunto de notáveis pedagogos têm-nos demonstrado que há educação fora dos muros de Escola. Esta evidencia tem sido manifestada por Freire (1964), Faure (1972), Dumazidier (1973), Besnard (1991), Quintana (1992), Leif (1992), Ucar (1992), Trilla (1993), Ventosa (1993), Silva (1993), Ander-Egg (1995), Grácio (1995), Delors (1996), Marchioni (1997), Lima (1998),Viché (1999), Peres (1999), Caride (2000),Merino (2000) e muitos outros.

Tendo como base as ideias expressas, que consideram que a vida e os nossos ensinamentos como meio formativo, somos levados a pensar que não podemos confundir educação com escolaridade.” (Lopes,2008:396)

Antes de existirem escolas já o ser Humano desenvolvia práticas educativas, as quais tinham como principal centro definir “família”, não descorando a influência do meio que a rodeia.

“ Este deve tornar possível a coabitação da educação formal, da não formal e da informal, de forma a equilibrar, harmonizar, humanizar e a valorizar a referida ligação do ensino à vida. (…) Uma educação ligada à Animação rejeita o modelo de escola / armazém de jovens, valorizando, antes a partilha de saberes entre as educações formal e não formal, a interacção com o outro, o aprender fazendo, a valorização da diferença…”( Lopes,2008:396)

De Norte a Sul do país, várias eram as problemáticas e as quais não era possível dar resposta sem recorrer a projetos “alternativos” que de forma lúdica, procurassem dar resposta às necessidades das crianças e das famílias, abrindo desta forma as portas para a sua integração na sociedade, e proporcionando a igualdade de oportunidades. E por isso importante promover a integração das mesmas para que haja um adequado desenvolvimento socio afetivo.

A Animação Sociocultural na infância prima por educar no ócio utilizando o jogo, como recurso educativo e metodologia de intervenção.

Assim, a educação deve ser vista como um processo constante ao longo da vida e com uma abrangência em todos os contextos.

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2.2 Animação Socioeducativa – animação na infância e a pedagogia do ócio Uma criança quando nasce necessita de muitos cuidados e atenção. Pretende ser amada e cuidada, dependendo temporariamente dos adultos que a rodeiam. No entanto, esta criança está sujeita e exposta às regras de socialização. A família e a escola são bases do processo educativo e de sociabilização através dos quais o individuo vai adquirindo “educação” que vai ao longo do tempo formar e transformar a personalidade de cada um, com o objetivo de o tornar autónomo

A Unesco contempla “quatro pilares da educação: o saber, o saber - fazer, o saber - estar e o saber - ser”. Está-se perante educação, sempre que a criança vive diferentes experiências quer na escola ou fora desta.

A educação escolar (educação formal) é muito diferente da familiar (educação não formal) devido a sua estrutura e formalismos a que está sujeita, enquanto a educação não formal rege-se pelo aumento de conhecimentos/saberes fora de escola.

Com a entrada das mulheres para o mundo do trabalho e devido às exigências e a competitividade dos dias que correm, a criança “cresce muito rápido” também devido às exigências da sociedade. Outrora, as crianças brincavam, riam, jogavam em grupo, hoje, estão isoladas, sedentárias em frente a televisão ou ao computador.

A criança deve ter direito ao tempo livre, ao repouso e à participação de cariz cultural/artístico (Unicef,2004). A criança a brincar aprenderá a crescer.

“O desenvolvimento da Animação infantil corresponde a uma necessidade básica, sentida do estabelecimento do regime democrático em Portugal e que ganhou expressão como forma de Animação Socioeducativa.” (Lopes, 2008:315)

Teve como objetivo complementar as funções atribuídas tradicionalmente à escola, pela via da educação não formal.

A Animação Socioeducativa é uma vertente da Animação Sociocultural, que surge nos finais dos anos 70 e era encarada como uma educação não formal, sendo um conjunto de atividades que eram realizadas fora da escola e com raízes na educação popular.

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Estas atividades consistiam em: colónias de férias, visitas de estudo e passeios pelas regiões, permitindo às crianças visitarem e conhecerem lugares e regiões diferentes dos seus locais de residência.

Deste tipo de atividades resulta a partilha e a interação das crianças entre si e dos adultos que as acompanhavam, como é defendido por Jammes Trillar (1998).

A Animação Sociocultural na infância é diferente de outras atividades educativas que também têm lugar nos tempos livres, e aqui considera-se mais adequado falar de atividade de ócio infantil. O grande atributo da animação sociocultural é o de educar no tempo de ócio, desenvolver atividades de carater lúdico – pedagógico

“Como uma forma de utilizar tempos livres, que acentua o valor da liberdade em relação ao da necessidade de promover o prazer do individuo enquanto realiza determinada actividade. Ou seja, o essencial no ócio não está na actividade em si, mas na actividade do individuo enquanto a realiza.”(Trilla,1998:208)

Assim, existe uma relação entre pedagogia do ócio e a animação sociocultural dando origem à interação de ambas, na qual encontramos a Animação Sociocultural infantil. No entanto, é fundamental que esta aconteça de forma consciente e estruturada para que a autonomia, a criatividade não surjam substituídas por atividades que servem apenas para passar o tempo.

A animação infantil aproveita o potencial educativo do ócio para criar processos de desenvolvimento social e pessoal, ou seja, a animação sociocultural na infância tem como objetivo educar e pretende formar o individuo para que viva o seu ócio de uma forma positiva.

A Animação Socioeducativa assume-se como uma educação não formal e permanente, atuando sempre que possível durante o ócio. Comportando na sua constituição as componentes sociais, educacionais e culturais.

O principal objetivo da Animação Socioeducativa é permitir à criança que possa brincar, mas em simultâneo se vá desenvolvendo a nível pessoal e em grupo. As atividades postas em prática pretendem, atravessado seu carater lúdico, estimular a criatividade e a

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assimilação de identidades e integração do meio envolvente. Segundo Lopes (2008:315) o desenvolvimento da Animação Socioeducativa surgiu com o objetivo de complementar as funções atribuídas à escola, mas pela via da educação não formal. Sendo traduzida em atividades de carater lúdico que podem ser desenvolvidas de forma independente ou em conjunto com a educação formal. Sendo que a estimulação da criatividade é um dos grandes propósitos desta área, pois pretende estimular as crianças para todos os campos da criação artística (expressão musical, expressão plástica, expressão teatral e corporal).

Nos dias de hoje, não é a escola o único agente educativo (educação formal) pois à nossa volta encontramos inúmeros meios e atividades que a complementam (educação não formal/educação informal) e que pode ser desenvolvida de uma forma independente ou em conjunto com a escola.

Não pode ser esquecido que a educação informal está constantemente presente e que é o resultado dessa interação, que a educação formal muitas vezes poderá obter sucesso. Na opinião de Lopes e Soler (2008) a importância da educação não formal é sem dúvida, grande devido à riqueza e a diversidade experiências que se podem desenvolver sendo um complemento à escola tradicional.

Lopes (2008) defende que qualquer ação a levar a cabo no domínio da animação infantil deve contemplar: a criatividade, a componente lúdica, a atividade, a sociabilização, a liberdade e a participação.

Trilla (1998) é da opinião que seria um erro pensar que a Animação Sociocultural no meio infantil tenta dar resposta ao reconhecimento do tempo livre infantil com o espaço educativo, possuindo um vasto leque de ações muito distintas. Segundo o mesmo autor, quando se fala em atividades de tempo livre infantil é mais correto falar-se em “ócio infantil”, que é entendido como uma forma de usar o tempo livre e promover o bem-estar da criança enquanto realiza a atividade.

A diversão pode ser para a animação infantil, um instrumento, mas é principalmente um fim, e aqui diferencia-se o sentido lúdico da animação infantil das outras atividades lúdicas educativas.

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Quando a criança brinca/joga está a conhecer a sua individualidade, os outros e o meio. Está a crescer e a evoluir. O jogo a as brincadeiras aumenta o seu bem-estar, o desenvolvimento físico, intelectual e social.

“(…) a animação sociocultural sempre se preocupou com o correcto uso do tempo do ócio e tradicionalmente, tem mantido um dialogo enriquecedor com a denominada pedagogia do tempo livre(…)”(Cuenca, 1997:343)

Nesta faixa etária, a Animação Sociocultural deve ter como principais objetivos dar prazer à criança, dar/desenvolver a criatividade/imaginação, estimular a participação, promover a sociabilização e valorizar a educação formal, não formal e informal.

Considera-se que as metodologias e práticas usadas pela Animação Sociocultural recorrem muitas vezes a outras áreas como as artes, a ciência, a literatura, entre outras, e que são um precioso contributo no sentido de gerar respostas criativas e inovadoras com vista ao desenvolvimento da criança, pois são um meio de reduzir as desigualdades sociais e facilitar a aprendizagem, porque o lúdico “da sabor e gusto a la vida”( Egg.2000, 370).

2.3 Animação sociocultural e os contextos formais, não formais e informais Um dos conceitos fundamentais em redor do qual surgiu o estudo da animação sociocultural foi a cultura. A ideia de cultura na animação sociocultural é muito ampla. É um conceito que continua a estar bem expresso na definição citada por Trilla (1998, 20), cultura é “o modo complexo que inclui conhecimentos, convicções, arte, leis, moral, costumes e qualquer outra capacidade de hábitos adquiridos pelo homem na qualidade de membro da sociedade.”

A ideia de cultura, refere-se pois ao conhecimento, valores, tradições, costumes e técnicas de relacionamento que se transmitem e adquirem através da aprendizagem. É a informação que se transfere socialmente e não geneticamente.

O aparecimento da Animação Sociocultural está ligada à Revolução Industrial, devido às grandes modificações que se deram, tendo havido um forte movimento migratório

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dos centros rurais para os centros urbanos, originando grandes modificações nas estruturas sociais.

Estas transformações tão bruscas e extremosas dificultaram a integração e adaptação das populações ao novo modo de vida, no qual, não encontravam muitas referências culturais com as quais se identificassem. Perante tal cenário, o ócio favorece a disponibilidade para a necessidade de criar laços entre a comunidade, servindo para relacionar experiências, confrontar perspetivas. É então que surge a Animação sociocultural como estratégia facilitadora da integração e adaptação que as populações ambicionavam. Deu-se assim, importância às atividades lúdicas para que os indivíduos se tornaram agentes transformadores da realidade em que estavam inseridos, apelando ao trabalho comunitário para o bem comum.

Na realidade, a animação sociocultural, dedica-se mais ao conceito de “comunidade” do que sobre a “sociedade”. A intervenção sociocultural não se dirige à “sociedade em geral” mas a grupos concretos no âmbito de “comunidade”, é um tipo de intervenção muito contextualizada, em territórios concretos e favorecendo as relações “comunitárias”.

A diversidade de âmbitos, de contextos e público da Animação Sociocultural e a variedade de instrumentos a que pode recorrer e de atividades concretas torna difícil arranjar uma definição com facilidade.

De acordo com a definição de Lopes (2008, 95) e Ander Egg (2000) “A animação sociocultural é um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa, bem como a participação das comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integradas “ não podendo esquecer as relações da animação sociocultural com todas as áreas com as quais está envolvida para que os seu objetivo seja alcançado.

Na animação sociocultural os parentes próximos são entre outros, a

educação permanente, a educação não formal, a educação popular, a educação (e pedagogia) social, a educação nos tempos livres, o desenvolvimento comunitário e a gestão cultural.” Trilla (1998).

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No que respeita a educação formal, a chamada escola tradicional, a animação sociocultural pretende motivar, articular os saberes e valorizar as aprendizagens.

Na educação informal, a animação sociocultural atua fora da escola, completando os saberes e os conhecimentos com os que nos rodeiam.

A educação informal considera como agente educativo a comunidade e sobretudo a família.

Nos dias que decorrem, a educação deve ser comunitária e permanente, dando valor e ênfase à partilha de conhecimentos e saberes diferentes, de modo a completar e enriquecer o individuo. O meio que envolve o indivíduo não pode ser esquecido, visto que é também muito enriquecedor para o seu desenvolvimento.

É nesta interação entre sociedade e educação que o ato de animar deve ter um papel de participação / ação que segundo Ander Egg (2000) a educação permanente deve ser completada por ações de animação.

A instituição do ócio foi a grande contribuição da Revolução Industrial para a implementação da Animação Sociocultural, uma vez que as atividades decorreriam durante o tempo de ócio originando assim uma cumplicidade entre os conceitos de animação sociocultural e tempo livre.

Esta estratégia pretende proporcionar a integração e adaptação das populações no meio em que vivem, estimulando a participação ativa, mais participativa e mais criativa, cooperando melhor na vida em sociedade para o seu melhor desenvolvimento quer a nível individual quer a nível de grupo/ comunidade.

“A animação sociocultural é uma metodologia para desenvolver a educação. Metodologia essa que assenta nas palavras que a descrevem: animar, potenciar, desenvolver a sociocultura como meio de optimizar o potencial das pessoas.”, como referido em Lopes (2008) por José Herrerias (2002).

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“(…) a animação sociocultural não é manipulação , é um trabalho directo com as pessoas a partir de acção e não de discursos em abstracto. A animação sociocultural é um acto na liberdade que leva as pessoas a fazerem uma caminhada para poderem evoluir de uma forma mais acelerada.”, (Lopes, 2008:141)

Para Lopes e Peres Cardoso (2002) a animação sociocultural é um modo de interação, que assenta num conjunto de práticas sociais que originam processos de participação com o objetivo do desenvolvimento pessoal, social, cultural e educativo do ser humano. Tendo este desenvolvimento início no indivíduo, no grupo e na comunidade não sendo capaz por si só de se desenvolver.”

Conferindo um caráter multidisciplinar à animação sociocultural, é esta a base para o seu desenvolvimento e para o seu campo de trabalho.

Desta forma,

“A animação sociocultural trata de superar e vencer atitudes de apatia e fatalismos em relação ao esforço por “aprender durante toda a vida” que é o substancial da educação permanente” (Lopes, 2008:403)

Ainda segundo a opinião de Ander Egg (2000) o indivíduo ao promover a Animação Sociocultural anula a apatia, a passividade, enriquecendo o indivíduo e a comunidade. A Animação Sociocultural, tem a função de orientar o indivíduo e de fornecer apoios técnicos e de conhecimento necessários para que cada indivíduo consiga por si próprio esse enriquecimento, não limitando ao espaço “escola”, mas sim a tudo e a todos que o rodeiam estimulando a iniciativa, a criatividade e o desenvolvimento do próprio indivíduo e favorecendo a forma de comunicação entre todos, levando à troca e enriquecimento de conhecimentos, saberes diálogo e convívio de modo a formar homens livres, conscientes, participantes com os que o rodeiam.

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Capítulo III

Metodologia

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Metodologia

3.1 Tipo de estudo

João de Deus Ramos dedicou-se, durante toda a vida, ao estudo e à divulgação de temas relacionados com a alfabetização e com a educação, em especial com a educação da infância, bem como ao desenvolvimento e à criação de instituições escolares onde pôs em prática o seu ideário. Tendo deixado algumas obras escritas sobre estes temas, não quis, ou não lhe sobrou o tempo para compilar e organizar metodicamente, em obra de maior envergadura, todo o seu pensamento pedagógico. Daí que este se encontre disperso, diríamos mesmo pulverizado, por uma infinidade de suportes, tanto na primeira pessoa, quando escreveu, proferiu conferências, concedeu entrevistas ou prelecionou, como na terceira pessoa, quando outros se lhe referiram ao percurso, ao pensamento e à obra.

O conhecimento da realidade destes serviços em Portugal permitiu delimitar os objetivos desta investigação.

O objetivo deste estudo tem um carácter essencialmente conceptual, efetuando uma análise de dados documentais e utilizando técnicas qualitativas de análise refletida na operacionalização dos documentos específicos, quer de técnicas quantitativas.

A investigação qualitativa é uma forma de estudo dinâmica entre a relação das pessoas e o meio em que estão inseridas, para assim tentar compreender a realidade social das culturas, grupos e das pessoas.

Para estudar qualquer fenómeno é necessário definir os métodos, de modo a conseguir a veracidade dos factos. Nas Ciências Sociais o método ou investigação qualitativa tem maior preponderância. O método de investigação qualitativa tem por objetivo uma abordagem de investigação utilizada para o desenvolvimento do conhecimento a descrever ou interpretar, mais do que avaliar. “(Fortin, 2003:22).

3.2 Técnicas de investigação

Em termos exploratórios, a base do trabalho foi desenvolvida sobre a leitura e análise bibliográfica existente sobre a temática. As fontes que utilizámos no presente trabalho:

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- as obras do autor;

- textos de conferências por ele proferidas;

- lições que proferiu enquanto docente do ―Curso de Didática Pré-Primária pelo Método João de Deus;

- obras de outrem acerca do seu pensamento pedagógico ou da sua vida; - jornais portugueses e brasileiros da época dos factos a investigar; - revistas;

- estatutos e relatórios da direção da ―Associação das Escolas Móveis pelo Método de João de Deus (sucessivamente redenominada);

- vários números do ―Diário do Governo; - legislação avulsa;

A pesquisa bibliográfica e documental realizámo-la em distintos locais, a saber: a biblioteca do Museu Pedagógico João de Deus, em Lisboa, onde acedemos a artigos de imprensa pedagógica, revistas, atas de palestras, lições pedagógicas, prospetos, fotografias, e à documentação relativa à Associação das Escolas Móveis;

- a Biblioteca Nacional de Lisboa, onde consultámos jornais, obras de autores e legislação;

- as Bibliotecas do Instituto de Inovação Educacional e da Escola Superior de Educação de Lisboa, onde consultámos obras de autores.

O método de análise escolhido foi a análise documental, incidindo sobre uma realidade concreta.

A análise documental pretende analisar como se manifesta um determinado fenómeno e os seus componentes e permite estudar o fenómeno de uma forma pormenorizada através da avaliação de um ou mais dos seus atributos.

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Este tipo de estudo é elaborado a partir de documentos já existentes e publicados, nomeadamente livros, artigos periódicos, jornais e revistas.

Podemos assim considerar que se trata apenas de uma “fotografia” da situação estudada, descrevendo determinada realidade.

“O modo como vivenciamos uns aos outros, como vivenciamos as tradições históricas, as ocorrências naturais da nossa existência do nosso mundo…”(Gadamer,2002:35)

Este tipo de investigação utiliza critérios sistemáticos que permitem estudar a estrutura e o comportamento dos fenómenos em estudo, no qual o investigador descreve uma situação e a maneira como esta se manifesta, procurando especificar as propriedades importantes do grupo que foi submetido à análise.

“ O mundo é um conjunto organizado de relações significativas, no qual a pessoa existe, e de cujo projeto participa. Tem realidade objetiva, mas não se limita a isso. O mundo inter-relaciona-se com a pessoa a todo o momento.” ( May, 1991:195)

Este tipo de análise permite ao investigador uma ampla cobertura de fenómenos, visto que esta a trabalhar com materiais já elaborados.

“A compreensão a partir do contexto do todo requer agora, necessariamente, também a restauração histórica do contexto de vida, a que pertencem os documentos…” (Gadamer,2002:278)

No entanto, se as fontes que foram recolhidas e processadas tiverem sido defeituosas, também o nosso trabalho ficará com falsas bases e com erros que por sua vez irão ser passados e amplificados.

Para evitar que tal aconteça, devemos ter atenção as condições em que foram obtidas as informações e estudar em profundidade cada informação para poder descobrir qualquer incoerência ou até contradições que possam existir sobre a mesma informação em fontes distintas.

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Em termos exploratórios, a base de trabalho foi desenvolvida sobre a leitura e análise da bibliografia existente sobre a temática. A primeira fase passou, por isso, pela pesquisa de literatura que enquadrasse o tema, tal como será apresentado no capítulo 4 e por encontrar documentos normativos que pudessem fornecer indicações sobre as características técnicas que estes serviços devem possuir. Numa segunda perspetiva procurou-se encontrar bibliografia de análise de casos práticos de aplicação destes serviços nas suas mais diversas vertentes (práticas de promoção da leitura, gestão de coleções, gestão do serviço, etc.).

Finalmente procurou-se obter informação que permitisse caracterizar o universo das bibliotecas móveis em Portugal, através da escassa bibliografia existente.

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Capítulo IV

As Escolas Móveis como antecedente da

Animação Sociocultural

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As escolas móveis como antecedente da Animação Sociocultural 4.1 Enquadramento teórico

4.1.1 A Escola Nova

Segundo Rousseau, é na infância que a educação deverá ser um largo treino dos sentidos, obtido pelo contacto íntimo com os fenómenos da natureza, porque quando a criança aprende a utilizar os dados sensoriais começa a ser capaz de condutas humanas informadas pela razão.

“A primeira razão do homem é uma razão sensitiva; é ela que serve de base para a razão intelectual.” (Rousseau, 1999: 141).

A infância deve ser sinónimo de ociosidade, jogo e brincadeira. Toda a educação da criança deve surgir do desenvolvimento livre da sua própria natureza, das suas próprias potencialidades, das suas inclinações naturais. A criança, ao crescer num ambiente de liberdade e ao ter oportunidade de exercitar os sentidos, facilmente atingirá a idade em que começa a fazer uso da razão.

“Quanto mais o seu corpo se exercita, mais o seu espírito se ilumina; sua força e sua razão crescem juntas e se ampliam uma à outra.” (Rousseau,1999: 130). As doutrinas de Rousseau exerceram grande influência no pensamento pedagógico de Pestalozzi e de Fröebel, cujos trabalhos estão na génese das ideias educacionais modernas. Irão servir de referência à maior parte das reflexões e trabalhos pedagógicos do século XIX e do princípio do século XX em Portugal. Num certo sentido pode dizer-se que, em relação ao saber pedagógico, eles vão asdizer-segurar a passagem dum ― saber revelado para um saber científico. (Nóvoa, 1987:747).

Pestalozzi foi quem primeiro fez notar a insuficiência destas escolas.

“…faltava o essencial: faltavam escolas para formar homens” (Ramos, 1916:4).

Propõe-se reeducar crianças desprotegidas, transmitindo-lhes a essência do saber e da cultura e ensinando-lhes um ofício que lhes permitisse ganhar a vida.

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Defende que a educação deveria começar desde tenra idade e, ao considerar a educação materna como:

“A primeira e a mais necessária de todas as educações, pretende impor às mães o dever de educar, o que faz na sua obra O Livro das Mães, onde desenvolve uma concepção pedagógica de educação das faculdades das crianças em idade pré-escolar” (Cousinet, 1976: 41).

Assinala que o papel da mãe é fundamental para a educação da criança e considera a família como o ponto de partida de toda a educação. Segundo ele, na família predominam o amor e o trabalho em comum, a base de toda a educação.

Para Pestalozzi, não é possível qualquer educação intelectual e artesanal se primeiro não tiverem sido educados os sentimentos e as disposições práticas em geral. O amor e a confiança necessitam de tanto ou mais cultivo do que a inteligência e o juízo. Diz-nos o pedagogo que:

“Se, no despertar da vida sensorial da criança, se pode notar que os olhos querem ver, que os ouvidos querem ouvir, que os pés querem andar e as mãos agarrar, não esqueçamos que o seu coração quer crer e amar.” (Santos, 1946: 12).

Pestalozzi concebia a educação escolar como um complemento da educação familiar e como um meio de preparação para a educação pela vida e a escola era para ele um lar onde se buscavam os mesmos fins: o desenvolvimento moral e intelectual e o bem- estar da criança.

O objetivo de Froebel era criar uma instituição pedagógica intermédia entre a educação familiar e a educação escolar, onde pudesse aplicar o seu método, baseado este na criatividade e na educação pelo jogo.

Froebel defendia que a melhor educadora para as crianças deveria ser a mãe de família e que era indispensável que esta tivesse uma formação específica. Para ele, o papel de educadora era explicitamente para as mulheres e, inicialmente, prelecionou em cursos destinados as mães.

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As práticas educativas deviam ser elaboradas com sensatez e precaução, para se adaptarem à especificidade da criança. Defende ainda que a educação é o processo em que o indivíduo desenvolve a condição humana da sua consciência em harmonia com a natureza e a sociedade, implicada num desenvolvimento de evolução individual e universal.

Os jogos ao ar livre, nomeadamente as marchas, as rodas e as canções, satisfazem nas crianças a necessidade de movimento, habituam-nas a uma atividade de grupo, com todas as suas regras, e levam-nas a conjugar as palavras, os movimentos e a música Os jogos ao ar livre representam qualquer cena da vida quotidiana: trabalhos no campo, o voo de uma ave, o comboio, etc. As histórias, as poesias e os contos de fadas, tanto do agrado das crianças, são um meio para incutir certos princípios morais (Wolff, 1905, Novembro, Dezembro).

Trazendo nos genes o respeito pelas exigências fundamentais da natureza da criança, a Educação Nova vai-se apropriando das sucessivas descobertas que no âmbito das várias ciências se vão fazendo no sentido de ampliar o conhecimento daquela natureza. Não espanta, pois, que os nomes sonantes daquela Escola não sejam apenas, nem especialmente, professores, mas outros: médicos, psicólogos, investigadores, criadores de métodos e de técnicas, tais como, entre muitos outros, Dewey, Binet, Cláparede, Bovet, Ferrière, Piaget, Wallon e os fundadores de métodos, como Montessori, Decroly, Freinet, Couisener, isto é, …”a melhor geração pedagógica de sempre.” (Nóvoa, 1995:26).

De um modo geral, os primeiros métodos que integraram a Escola Nova colocaram o acento tónico no trabalho individual da criança, como sucedeu, por exemplo, com o método Montessori.

Montessori, influenciada por Itard e Séguin, e depois de se ter interessado por crianças deficientes, cria em 1907, em Roma, a primeira Casa dei Bambini, para crianças normais. Segundo o seu pensamento pedagógico, a educação do indivíduo deveria ser abordada de uma forma científica, com base na observação e na experimentação.

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…”primeiro, a criança, como centro de toda a educação; segundo, - o meio, onde a criança vive e age, uma vez que a educação é uma adaptação ao meio; terceiro, - a sociedade, pois a criança não está destinada a viver isoladamente, sendo necessário contar com as reacções recíprocas entre o indivíduo e a sociedade” (Planchard, 1979:245).

Partindo das leis da educação funcional e da finalidade da escola, Decroly defende que cada uma das atividades constitui um centro de interesse em redor do qual gravitam todas as investigações, procuras e trabalhos necessários ao seu desenvolvimento natural. Os centros de interesse conseguem fazer concorrer todas as atividades do espírito para a aquisição de um conhecimento ou de um conjunto de conhecimentos.

Montessori atribui grande importância à educação social, embora o processo que nesta área preconiza seja fortemente individualizado. Esta individualização é em parte compensada com os exercícios de ajuda mútua e as atividades coletivas mas, no essencial, o trabalho das crianças continua a ser individual, ou seja, trata-se de um método essencialmente individual quanto ao trabalho mas que também evidencia uma vertente social quando atende a certos aspetos da colaboração das crianças em ambiente escolar.

Tal como Froebel, também Montessori acreditava que o desenvolvimento da criança decorria naturalmente.

Destacamos no liberalismo os contributos educativos significativos, entre outros de Alexandre Herculano e as propostas de uma educação nacional e geral de Almeida Garrett.

João de Deus Ramos, ilustra as intensões dessa educação nacional daquele escritor pedagogo:

“Eu tenho que nenhuma educação pode ser boa, se não for eminentemente nacional. Nem o próprio cidadão de Genebra (J.J.Rousseau) era capaz de educar bem um cidadão estrangeiro. Devemos examinar as escolas, estudar os sistemas de educação dos países mais civilizados…” (Ramos, 1915:17-18)

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A. Garrett propunha as bases de uma educação nacional que tivesse em conta as experiências pedagógicas do estrangeiro, mas adaptadas à cultura portuguesa. Apostava num regime de coeducação.

De facto, a irradiação do analfabetismo, o ensino elementar chamaram a atenção de muitos pedagogos, entre eles: F. Castilho, João de Deus, Adolfo Coelho, Faria de Vasconcelos, etc.

Nos alvores do século XIX existiam poucos colégios particulares, e poucas escolas oficiais.

Não admira, por isso, que num país tão atrasado culturalmente como Portugal, a Maçonaria tenha desempenhado um papel de relevo na luta contra o analfabetismo e no fomento de toda e qualquer atividade cultural.

Nos finais do século XIX e XX, a maçonaria foi responsável pela fundação de um sem número de escolas e grupos ligados à cultura.

Nos inícios do século XX, a chamada “escola livre”, com a sua correspondente “ escola oficial” preconizada pelo maçon Bernardino Machado, foram fundadas gradualmente em todo o país. Entre muitas instituições de educação permanente, destacam-se: a sociedade de instrução “A voz do Operário” (1883), a academia dos Estados Livres (1889), os Jardins - Escolas João de Deus (1911), a Liga de ação educativa (1926). Quase todas elas desapareceram durante a ditadura do Estado Novo, quer por dissolução governamental, quer por impossibilidade de prosseguir na sua ação educativa.

João de Deus Ramos

“Em 10 de Março de 1951 e nos anos seguintes, presidiu, na Casa do Algarve em Lisboa, à sessão solene comemorativa do 21º aniversário da Fundação da Casa do Algarve e do nascimento do poeta João de Deus.

Foi iniciado na Maçonaria em 1909, na loja Solidariedade, em Lisboa, com o nome simbólico de Antero. Em 1913, passa para a loja Redenção, regressando em 1922 à loja onde fora iniciado. Em 1924 atingiu o 7º grau do Rito Francês.”(Marques, 1986;1193-1194)

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4.1.2 Os centros escolares republicanos

Em 1910, os republicanos encontraram uma realidade educativa que nos afastava da maioria dos países da europa. A taxa de analfabetismo era muito elevada. Perante tal situação o combate ao analfabetismo impunha-se com objetivo prioritário, pelo que a república, mais uma vez numa solução de continuidade, opte pelo recurso às chamadas Escolas Móveis, criadas pela monarquia, em 1882, para divulgar o método de João de Deus.

Com um decreto de 1911, proclama-se o propósito de as bibliotecas tornarem os livros uteis aos cidadãos, permitindo o acesso aos livros e a leitura domiciliária. Surge assim a primeira referência a coleções e bibliotecas móveis. As bibliotecas itinerantes devem disponibilizar os seus serviços de igual modo a todos os membros da comunidade local, independentemente à idade, raça, estatuto social ou religião. Os objetivos destas bibliotecas visam o desenvolvimento pessoal e intelectual dos leitores, o combate à iliteracia, possibilitar o acesso e o conhecimento à cultura local, regional e nacional, promover iguais possibilidades de aquisição e utilização de informação.

Durante a ditadura salazarista, que assentava a sua ação na manutenção da censura e do obscurantismo da sociedade portuguesa, o livro e a leitura eram um luxo e também atividade arriscada. Foi, no entanto a ação levada a cabo pela fundação Calouste Gulbenkian que dotou o país de uma rede de bibliotecas com o objetivo principal de alcançar e promover o gosto pela leitura.

No plano educativo estava em causa a regeneração da Pátria, fazer da utopia uma realidade, alcançar a plena cidadania, a dignificação de um Homem crítico e livre. Para os republicanos educação e formação para a cidadania eram indissociáveis, colocando este regime a escola como um verdadeiro critério da participação cívica. Alguns pedagogos encaravam a escola como um templo cívico, que desenvolveria um projeto de formação integral, auto-regulada, orientando os cidadãos na construção do seu próprio futuro, contribuindo para a formação de um Homem Novo. Outros defendiam a criatividade, a autonomia e contrariavam a função moralizadora, social e integradora do ensino, a manipulação educativa pelo poder.

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Apesar dessas divergências, a maior parte dos pedagogos associou a modernidade pedagógica aos valores da Educação Nova: o aluno devia conhecer a realidade, valorizar a experiência, sair do espaço escolar, aprender um ofício.

Surgiram escolas pedagogicamente diferentes das tradicionais, tentando conciliar as descobertas da psicologia do desenvolvimento cognitivo com os recursos pedagógicos proporcionados pelo meio, a adequação ao nível etário, o aperfeiçoamento da aprendizagem prática a partir das «lições de coisas».

A reforma da instrução de 29 de Março de 1911 insistiu sobretudo no ensino primário. João de Barros e João de Deus Ramos desejavam implementar uma reforma pedagógica revolucionária que não atendia, no entanto, aos constrangimentos financeiros e até culturais do País.

“O homem vale, sobretudo, pela educação que possui, porque só ela é capaz de desenvolver harmonicamente as suas faculdades, de maneira a elevarem-se –lhe ao máximo de proveito dele e dos outros(…) Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria prima de todas as pátrias”…(Preâmbulo do decreto de 29 de março de 1911)

Foi criado oficialmente o ensino infantil para os dois sexos, Jardins-Escolas em cada um dos bairros de Lisboa e do Porto, nas capitais de distrito e nas sedes dos principais concelhos.

A Educação Nova emergiu, assim, de um espesso e riquíssimo caldo de cultura, tendo como matriz a importante produção científica e pedagógica da viragem do século XIX para o século XX.

“Centrando a sua acção educativa na psicologia da criança, a Educação Nova conduzirá ao surgimento da pedologia e à ― constituição de uma pedotecnia científica” (Gomes, 1996: 192).

Na opinião de Ferrière, (s.d) as Escolas Novas não deviam ser tidas como modelos das escolas do futuro mas antes entendidas como laboratórios vivos de uma pedagogia diariamente praticada. Também não deviam ser a cópias exatas umas das outras mas, ao invés, refletir as peculiaridades dos seus próprios países, ainda que

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necessidades fisiológicas e psicológicas próprias da criança, de todas as crianças, preparando-as para viver o tempo presente e, em especial, o futuro que as esperava. Efetivamente, a Escola Nova não é um repositório lógico de teorias pedagógicas, antes se revelando um aglomerado de tendências psicológicas e sociais, não raro em oposição umas com as outras, mas todas com uma imensa virtualidade: a de mudar a escola. Como afirma Fernandes (1979), um dos aspetos mais emblemáticos do movimento pedagógico português durante a primeira república, foi sem dúvida o impulso de uma pedagogia científica.

Nóvoa considera a Escola Nova o mais importante movimento pedagógico que atravessou a sociedade portuguesa, o qual teve em João de Deus um dos seus mais notáveis percursores. (Nóvoa, 1991: 9).

Ao comparar o método de Maria Montessori com as conceções pedagógicas de João de Deus considera que aquele método não provocou um espanto excessivo no nosso país, sabida já a existência dos nossos Jardins-Escolas João de Deus,

…”tão semelhantes às Case dei Bambine pelos princípios educativos em que se inspiram, se bem que tão essencialmente, tão fundamentalmente portugueses pela aspiração nacionalizadora que realizam. “ (Barros, 1916: 162).

Era, assim, nos Jardins-Escolas João de Deus, que João de Barros via as bases da escola nacional moderna, onde se fornecia à criança um ensino concreto, realístico. Ali, a criança vivia num ambiente de alegria, de higiene e de harmonia artística que lhe afina a sensibilidade, que lhe aviva a inteligência e que lhe vigoriza o corpo.

“…e ali se praticavam três grandes virtudes da democracia: ― a liberdade, o civismo e a solidariedade.” (Barros, 1916: 14-15).

A escola infantil, ou jardim-de-infância, nasceu com a revolução industrial, em consequência das profundas transformações sociais operadas na sociedade de então, tendo o desenvolvimento da educação pré-escolar ficado a dever-se, sobretudo, à necessidade de assegurar a guarda das crianças enquanto as mães trabalhavam. Esta situação começou a verificar-se em resultado da mobilização da mão-de-obra feminina pelos grandes centros fabris e, ao mesmo tempo, de uma crescente preocupação

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assistencial tendente a garantir melhores condições de vida às crianças oriundas de meios desfavorecidos, sobretudo no seguimento da concentração da população nos centros urbanos.

O primeiro jardim-de-infância Froebel foi fundado em Lisboa em 1882.

4.1.3 Alfabetização

Neste período histórico, uma das medidas importantes de alfabetização foi a Associação das Escolas Móveis, por Casimiro Freire (1882), para difundir o método de leitura de João de Deus.

Junto a estas iniciativas, e tendo em conta o lento progresso de industrialização, foram-se deforam-senvolvendo instituições de carácter social de tipo asilar, destinadas a crianças de classes sociais desfavorecidas, e circunscrevendo-se às grandes cidades.

Nos centros republicanos dos bairros da capital havia atividades socioeducativas e recreativas como forma de educação moral, social e cívica.

Nos finais do século XIX observa-se uma grande preocupação em desenvolver a instrução popular e reconhece-se a necessidade de criar instituições para crianças Começa a valorizar-se a função educativa atribuída às instituições destinadas à guarda de crianças pequenas,

“…Observando-se gradualmente a substituição do espírito caritativo e assistencial por uma nova conceção educativa” (Cardona, 1997: 27)

Em 1865, João de Deus, a pedido do gerente da editora Rolland em Lisboa, criou um Método de Leitura. Acabou por publicar a Cartilha Maternal, em 1867, pela Livraria Universal de Magalhães & Moniz. Nesta situação transitória, de polémica – com e contra a Cartilha - formou-se uma Associação de Escolas Móveis para a difusão da mesma, com uma escola diurna para crianças e noturna para adultos. Para os que já tinham ultrapassado a idade escolar ou nas localidades onde não existiam edifícios escolares, optou-se pelo recurso às Escolas Móveis. Estas foram um importante veículo da propaganda republicana e era injusta a crítica que lhes era movida sobre a deficiente

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preparação dos seus docentes. A par das escolas móveis o estado apostou na expansão da rede escolar primária.

Como primeiro tipo de influências podem citar-se as conceções das novas correntes psicológicas e pedagógicas de Froebel, Pestalozzi, Montessory e Decroly que pensaram numa escola diferente, na qual a criança viveria intensamente os interesses lúdico-práticos em ligação ao meio envolvente.

Os objetivos de Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus referia-se à necessidade de

“Instituir Jardins Escolas para crianças dos 3 aos 7 anos onde aplicado em toda a sua plenitude, o espírito e a doutrina da obra educativa de João de Deus, modelando assim um tipo português de escola infantil” (estatutos da Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas Ambulantes e Jardins Escola: 1908).

A Associação de Escolas Móveis que tinha como objetivos, não só a valorização da cultura popular e o combate ao analfabetismo, mas também o grande interesse a outras atividades, as lúdicas, as sensoriais, as estéticas, as de interação social. Entre estas atividades passo a citar: o desenho, a modelagem, a pintura, as histórias, os temas de vida, a expressão gestual, o canto, estabelecendo assim a ligação entre objetivos cognitivos e objetivos de desenvolvimento estético e sensorial. O método João de Deus dá valor à nossa literatura infantil de expressão oral (rimas, contos, lendas, mitos, fabulas) onde se pode encontrar o melhor da nossa pedagogia popular.

João de Deus, idealista, perseguia o rumo de alfabetizar o povo, o caminho de elevar o nível cultural das populações mais desfavorecidas e desprotegidas.

São alguns do objetivos do projeto João de Deus,

“Promover o direito a brincar, estimular a criatividade e a iniciativa, utilizar o jogo para desenvolver competências e conhecimentos, estimular os alunos para o prazer da leitura, acompanhar e colaborar na execução de tarefas e atividades escolares, favorecer um trabalho de interação com as escolas da comunidade e outras instituições, despertando o espírito da tolerância e

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João de Deus Ramos já estava dentro do movimento das ideias: preservação da identidade cultural, necessidade de cuidar e preparar convenientemente o ambiente, tanto sobre o seu plano físico como nos seus aspetos humano e cultural.

Aceita as ideias de Froebel e o nome de “kindgarden” (jardim de infância), não como uma imagem retórica, mas como uma necessidade de ligação entre a natureza e a criança.

O João de Deus e o João de Deus Ramos pertencem a bela ideia de Jardim – Escola. É o jardim que é escola e é a escola que é jardim. Tudo pela positiva: o jardim e a escola; espaço de ócio e tempo de ócio, do lazer. Neste espaço vão florir a ciência, a arte, o teatro, a dança, a experiencia cívica…

O projeto dos Jardins - Escolas foi posta em prática pelo seu filho João de Deus Ramos que defendia que a escola era uma preparação para a vida, a que todas as crianças têm direito.

João de Deus Ramos pretendia acabar com as escolas de elite, desejava que se cultivasse na escola verdadeiros laços de fraternidade e solidariedade. Uma disciplina muito doce, sem prémios nem castigos. Esta disciplina, a que chamava de “ativa”, deveria ser o mais possível orientada como uma verdadeira educação cívica.

Na base da sua metodologia existia sempre uma ideia de simpatia, no real sentido da palavra: simpatia como convergência de pontos de vista e de sentido. Um ambiente de simpatia cria o meio ideal, a firmeza e a calma, tão importantes para dar à criança um sentimento de segurança.

Contemporâneo de Decroly e de Montessori, João de Deus Ramos foi o instigador em Portugal de um movimente de interesse pelas crianças.

Na sua época e em Portugal, raramente as crianças saiam de casa familiar para frequentarem um centro escolar.

Com as Escolas Móveis tenta-se oferecer à criança um ambiente familiar, favorável ao seu desenvolvimento: os jogos, as canções, a rítmica de arcos, as histórias, os jogos

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simbólicos seriam bons instrumentos para adquirir bons hábitos e favorecer a sua integração no grupo. A criatividade da criança é estimulada de várias formas.

Depois de ter ensinado as crianças a observar e a entender são incitadas a exprimirem-se por gestos, pelo corpo, pelo desenho, mas sobretudo oralmente. A expressão verbal e não-verbal é privilegiada; trabalha a linguagem e a expressão oral através do diálogo, das histórias, dos contos, das pequenas poesias e dramatizações.

“Meu avô foi extremamente atual, quando no início do século XX, mesmo antes da república, defendeu que e escola infantil não serve só para os meninos saberem “coisas”, O mais importante, considerou, é desenvolver capacidades, destrezas, habilidades, conhecimentos, valores e atitudes.” (Carvalho,2011) Efetivamente a educação da criança foi muito descurada pela monarquia, apesar de terem sido criadas várias organizações e associações nos finais do século XIX onde eram ministrados aos trabalhadores e aos respetivos filhos, cursos noturnos. No entanto, a organização escolar era deficiente provocando o desinteresse e um fraco aproveitamento.

O grande atributo da animação sociocultural é o de educar e desenvolver atividades de carater lúdico – pedagógico.

A Animação Socioeducativa é uma vertente da Animação Sociocultural, que surge nos finais dos anos 70 sendo encarada como uma educação não formal, da qual resulta um conjunto de atividades que levam à partilha e à interação das crianças entre si e dos adultos que as acompanhavam, como é defendido por Jammes Trillar (1998), comportando na sua constituição as componentes sociais, educacionais e culturais. Segundo Lopes (2008) o desenvolvimento da animação socioeducativa surgiu com o objetivo de complementar as funções atribuídas à escola mas pela via da educação não formal. Sendo traduzida em atividades de caráter lúdico que podem ser desenvolvidas de forma independente ou em conjunto com a educação formal. Conferindo um caráter multidisciplinar à animação sociocultural, é esta a base para o seu desenvolvimento e para o seu campo de trabalho.

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