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REGIÃO QUANTIDADE

4.6 Algumas Considerações

Por fim, a pedagogia imbricada nos Movimentos Sociais bebe na fonte das concepções de Paulo Freire, educador que lutou por uma Pedagogia que possibilitasse a afirmação de direitos historicamente negados. A pedagogia dos movimentos parte da prática, igualmente como a pedagogia que defendia Freire, ou seja, uma pedagogia que toma por referência a prática social, a história de vida dos sujeitos, seus ‘saberes de experiência feito’. Essa junção de fatores é que favorece que os sujeitos conheçam melhor os saberes construídos na sua prática social e emancipadora e, ainda, que ampliem estes saberes, conhecendo o que ainda não sabem.

Dessa forma, os movimentos assumem seu papel ativo na elaboração, escolha e atuação das estratégias educativas, mesmo diante das multiplicidades sociais que lhe são inerentes. Ou seja, há uma lógica social própria na formação do sujeito, nos Movimentos Sociais que buscam a constituição de relações sociais e diálogos, baseados na solidariedade, na igualdade, na participação, na emancipação, na colaboração para a formação de sujeitos plenos (autônomos e livres). Arroyo diz que (2003, p. 35) “os movimentos sociais repõem a centralidade dos sujeitos.”

Essa dialogicidade dos processos educativos dos Movimentos Sociais está circunscrita na resistência ao sistema econômico-político e surge das experiências e ações concretas que envolvem a multiplicidade de sujeitos. Portanto, resulta de um diálogo presente nas discussões dos temas que envolvem as demandas, as análises, as táticas e estratégias de mobilização, de ação, de saberes das experiências, de saberes populares e de conhecimentos sistematizados, construídos socialmente e cooperativamente. Em linhas gerais, essa é a função social e política da educação no pensamento freiriano.

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A Secadi é composta por 4 departamentos: Departamento de Educação de Jovens e Adultos;

Departamento de Educação para Diversidade e Cidadania; Departamento de Desenvolvimento e

Articulação Institucional; Departamento de Avaliação e Informações Educacionais. Fonte: MEC. Publicado em 11/04/2008; disponível em: http://www.contee.org.br/noticias/educacao/nedu449.asp acessado em 21 de janeiro de 2014.

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A compreensão do movimento interno aos eixos e entre eles nos ajuda a responder, afinal, qual é o problema ou a questão específica da Educação do Campo. No eixo identificado como campo entendemos que o confronto específico fundamental é o que se expressa na lógica incluída nos termos “agronegócio” e “agricultura camponesa”, que manifesta, mas também constitui, em nosso tempo, a contradição fundamental entre capital e trabalho. E que coloca em tela (essa é uma novidade de nosso tempo) uma contradição nem sempre percebida nesse embate: há um confronto entre modos de fazer agricultura, e a pergunta que os movimentos sociais situados no polo do trabalho estão colocando à sociedade se refere ao modo de fazer agricultura que projeta futuro, especialmente considerando a necessidade de produzir alimentos para a reprodução da vida humana, para a humanidade inteira, para o planeta. Essa é uma questão que não tem como ser formulada desde o polo do capital (ser agenda do agronegócio) senão como farsa ou cinismo. Por isso também o capital pode admitir (em tempos de crise) discutir “segurança alimentar”, mas não pode, sem trair a si mesmo, aceitar o debate acerca da “soberania alimentar” (pautado hoje pela agricultura camponesa) (CALDART; PEREIRA; ALENTEJANO; FRIGOTO, 2012, p. 14-15).

Para os movimentos, a pedagogia pode ser analisada como uma estratégia essencial para o seu fortalecimento, tendo como referência primordial o sentido político- pedagógico emancipatório. Os conhecimentos edificados nos Movimentos Sociais, segundo Arroyo (2003) “geram um saber e um saber-se para fora.” Ele acrescenta ainda que:

Um ser que alarga seu saber local e se amplia. Os sujeitos que participam nesses movimentos vão sendo munidos de interpretações e de referenciais para entender o mundo fora, para se entender como coletivo nessa “globalidade.” São munidos de saberes, valores, estratégias de como enfrentá-lo. Na perspectiva educativa podemos ver que não se dá uma reprodução de autorepresentações tradicionais, conformistas, fechadas, mas ao contrário há uma abertura para fora a partir de necessidades, de valores e experiências de luta [...] (ARROYO, 2003, p.39).

Une-se a esta reflexão o entendimento de que a educação dos Movimentos auxilia na fundamentação das reivindicações dos Movimentos, pronunciadas pela construção de uma política pública de educação dos povos do campo, dentro de uma compreensão de educação ampla. Em síntese, os movimentos do campo conjugam a educação como “todos os processos sociais de formação das pessoas como sujeitos de seu próprio destino. Portanto a educação tem relação com cultura, com valores, com jeito de produzir, com formação para o trabalho e para a participação social” (CERIOLI, CALDART, 2002, p. 63).

Desta forma, consideramos que as parcerias com as universidades e Movimentos Sociais são emergentes para o fortalecimento do ensino nas escolas do campo. Reflexões estas que apontam tanto para os avanços bem como para os desafios

entre parceiros de um processo em construção ao longo dos 20 anos. Ao identificarmos que uma expressiva parcela de pesquisadores das Universidades envolvidas com os Movimentos apresenta estarem sensibilizados com as demandas educacionais do campo. Trata-se de um processo que não se extenuará na oferta do Curso de graduação e ou de pós-graduação, sendo que o fortalecimento desta política se implica na formação de professores, na valorização do profissional docente, em cujo processo está o fortalecimento de efetivação de políticas públicas e a emancipação humana dos povos do campo.

5 DIÁLOGOS ENTRE AS PRÁXIS FORMATIVAS NO MST E NAS UNIVERSIDADES

Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas (Friedrich Nietzsche)

Este capítulo se propõe analisar as tessituras das trilhas desenvolvidas ao longo da pesquisa, nos capítulos anteriores, combinados com a coleta de dados dos sujeitos pesquisados.

Essa pesquisa procura retratar o contexto da formação dos militantes do MST, que denominada de interna (aquela que leva em consideração os conhecimentos que os sujeitos já possuíam, combinados com os conhecimentos adquiridos no interior do MST) e externa, que leva em consideração a formação superior nas universidades. Concebemos a formação (interna e externa) a partir da centralidade da luta pela terra.