• Nenhum resultado encontrado

REGIÃO QUANTIDADE

4.2 O funcionamento das parcerias do MST e as Universidades

A despeito dos números desfavoráveis referentes ao acesso do sujeito do campo nas universidades públicas, os Movimentos Sociais apostam nas parcerias com as universidades, pautando-se pela função social que a instituição deve cumprir em atendimento à sociedade, de modo geral.

Os movimentos do campo, como os Sem Terra (MST); Atingidos por Barragens (MAB); Pequenos Agricultores; Quilombolas; Ribeirinhos; Indígenas; Movimentos de Mulheres; Movimentos Sindicais, Levante Popular da Juventude, entre outros, vêm incluindo cada vez mais em suas pautas de lutas as bandeiras, como já apontamos anteriormente, cujos emblemas são ‘ocupar as universidades’ e ‘ocupar o latifúndio do saber’.

Para tanto, os sujeitos, em suas determinações sociais, ainda que não consigam avançar e romper com mais vigor as forças dominantes, determinam a luta pela educação coligada com a centralidade da luta pela terra. E nas parcerias com as universidades encontram ecos para essas lutas nas figuras de alguns professores comprometidos com as causas sociais. Ou seja, esses parceiros que fazem parte da estrutura das universidades contribuem para que os Movimentos Sociais possam percorrer os caminhos burocráticos que a universidade apresenta. Ainda mais em se tratando de parcerias com Movimentos Sociais que carregam suas próprias dinâmicas formativas.

Esses parceiros são fundamentais para mostrar as rotas possíveis que alcance os objetivos, por exemplo, do MST, que busca, como já apontamos, a articulação de suas práticas com a teoria, principalmente, na formação de professores para atuarem nas escolas do campo. E no pensamento do Movimento, para que esse projeto obtenha êxito, é necessária uma nova concepção metodológica, pedagógica, de tempo e espaço diferenciados, respeito aos saberes que os sujeitos já trazem consigo, dinâmicas próprias dentro dos cursos, além da construção de propostas de matrizes pedagógicas que atendam às demandas educativas do Movimento. Esses esforços não podem, segundo o MST, ser restritos apenas aos cursos de graduação, mas também nos cursos de extensão e pós-graduação.

O MST inaugura sua parceria institucionalizada com a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÉ), no denominado curso de

Pedagogia da Terra, que aconteceu entre 1998-2001, e graduou 48 professores para atuarem nas primeiras séries dos anos iniciais do ensino fundamental. Esta primeira experiência serviu como base para todas as parcerias firmadas entre o Movimento e as Universidades.

Anos depois, o Movimento conseguiu implantar a primeira Licenciatura em Educação do Campo (LeCampo), na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2005-2010. Esse curso estabelece novas concepções a partir da primeira experiência de um curso de Licenciatura (carinhosamente também identificado como Peterra). Nesse momento, o curso contava também com o apoio das políticas públicas voltadas para os sujeitos do campo, sobre as quais discorreremos detalhadamente mais adiante.

Com o término das turmas desse curso, essa experiência serviu, também, para se transformar em curso regular da UFMG e mantém o mesmo nome, porém, com alterações curriculares. Anteriormente eram quatro áreas de conhecimento no mesmo curso e agora elas passam a funcionar como cursos desmembrados, ou seja, as habilitações foram transformadas em curso separados, como veremos na seção específica sobre MST e UFMG, mais à frente.

Pensamos ser importante mostrar quantas universidades públicas existem no Brasil. Fizemos um levantamento para situar quais são as universidades e onde estão localizadas. O país conta com um total de 112 universidades públicas distribuídas nas cinco regiões, destas, o MST tem parceria, como citamos acima, com mais de 60 universidades públicas.

Porém, o coletivo nacional de educação do MST, que é o setor responsável pelos dados sobre essas parcerias institucionais, até os dias atuais, não consolidou os dados concretos. Diante dessa imprecisão, nesta pesquisa, e para fazermos um retrato aproximado dessas universidades parceiras, tomamos como referência as universidades que participaram da II Jornada Universitária pela Reforma Agrária, que aconteceu nos meses de março e abril deste ano. Essa jornada homenageou o Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária32. E um dos objetivos foi pautado pela centralidade da luta pela terra e seus desdobramentos, como, por exemplo, os da educação. Esse encontro foi

32

Essas Jornadas Universitárias pela Reforma Agrária surge a partir da data comemorativa do mês de abril que ficou conhecido como “o abril vermelho”, em decorrência ao massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em abril de 1996, quando dezenove militantes do MST foram assassinados.

156

organizado pelo conjunto de Movimentos Sociais da Via Campesina e das universidades. Um detalhe interessante é que a iniciativa em organizar as Jornadas partiu das universidades.

A II Jornada Universitária pela Reforma Agrária foi um momento importante de concretizar ainda mais as parcerias dos Movimentos Sociais, com essas instituições, em particular o MST. Desta forma, vemos que a iniciativa das próprias universidades em tomar à frente na organização de um evento dessa envergadura mostra a preocupação coletiva dos parceiros em alertar para a necessidade de pautar as políticas públicas que apóiem as práticas da agricultura sustentável e promovam as condições de produção nos assentamentos e em pautas que unificam esse debate como: da educação, produção, saúde e a Reforma Agrária Popular.

Abaixo o levantamento das 112 universidades públicas brasileiras, que serão apresentadas por região e suas localizações, segundo dados do MEC (2014).

a) A região Nordeste possui o total de 32 universidades, que seguem:

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-

Brasileira (UNILAB); Universidade de Pernambuco (UPE); Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN);

Universidade Estadual da Paraíba (UEPB); Universidade Estadual de

Alagoas (UNEAL); Universidade Estadual de Ciências da Saúde de

Alagoas (UNCISAL); Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Universidade Estadual do Ceará (UECE);

Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); Universidade Estadual do

Piauí (UESPI); Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); Universidade Federal da Bahia (UFBA); Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Universidade Federal da Região do Cariri (UFRCa); Universidade Federal de Sergipe (UFS); Universidade Federal do Ceará (UFC); Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Universidade Federal do Piauí (UFPI); Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB); Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF); Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE); Universidade Federal Rural do Semi-

Árido (UFERSA); Universidade Regional do Cariri (URCA). NORDESTE: 9 universidades: Bahia (UNEB, UEFS, UESB, UESC, UFBA, UFRB, UNIVASF, UFOB, UFSB); 7 universidades; Ceará (UNILAB, UECE, UVA, UFRCa, UFC, URCA, UFCA); 4 universidades; Pernambuco (UPE, UFPE, UFRPE, UNIVASF); 3 universidades; 3 em Alagoas (UNEAL, UNCISAL, UFAL); 3 em Paraíba (UEPB, UFPB, UFCG); 3 em Piauí (UESPI, UFPI, UNIVASF); 3 em Rio Grande do Norte ( UERN, UFRN, UFERSA); 2 universidades no Maranhão (UEMA, UFMA); 1 em universidade em Sergipe (UFS).

b) A região Sudeste totaliza 30 universidades, que seguem:

Faculdade de Tecnologia (FATEC); Faculdade de Medicina de

Marília (FAMEMA); Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP); Universidade de São Paulo (USP); Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG); Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Universidade Estadual da Zona Oeste (UEZO); Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES); Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF); Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP); Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL); Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI); Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Universidade Federal de Lavras (UFLA); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ); Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Universidade Federal de Viçosa (UFV); Universidade Federal do ABC (UFABC); Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Triângulo

Mineiro (UFTM); Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri (UFVJM); Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). TOTAL: 13 Universidades em Minas Gerais: (UEMG, UNIMONTES, UNIFAL, UNIFEI, UFJF, UFLA, UFMG, UFOP, UFSJ, UFU, UFV, UFTM, UFVJM); 9 universidades em São Paulo (FATEC, FAMEMA, FAMERP, USP, UNICAMP, UNESP, UNIFESP, UFSCAR, UFABC); 7 Universidades no Rio de Janeiro (UFRJ, UFF, UERJ, UNIRIO, UFRRJ, UENF, UEZO); 1 universidade no Espírito Santo (UFES).

c) A região Sul tem 24 universidades, que seguem:

Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÉ), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC); Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL); Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); Universidade Estadual do Centro- Oeste (UNICENTRO); Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE); Universidade Estadual do Paraná (UEPR); Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS); Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS); Universidade Federal da Integração Latino- Americana (UNILA); Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Universidade Federal de Pelotas (UFPEL); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA); Universidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Universidade Regional de Blumenau (FURB); Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Total 10 Universidades no Paraná: (UEL, UEM, UEPG, UNICENTRO, UENP, UNIOESTE, EUPR, UNILA, UFPR, UTFPR); 8 Universidades no Rio Grande do Sul: (UNIJUÉ, UERGS, UFCSPA, UFPEL, UFSM, UNIPAMPA, FURG, UFRGS). 6 Universidades em Santa Catarina: (UDESC, UNESC, UNISUL, UFFS, UFSC, FURB).

158

d) Na região Norte são 16 universidades, que seguem:

Universidade do Estado do Amapá (UEAP); Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Universidade do Estado do Pará (UEPA); Universidade do Tocantins (UNITINS); Universidade Estadual de Roraima (UERR); Universidade Estadual do Saber Tradicional da Amazônia (UESTA); Universidade Federal de Rondônia (UNIR); Universidade Federal de Roraima (UFRR); Universidade Federal do Acre (UFAC); Universidade Federal do Amapá (UNIFAP); Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); Universidade Federal do Pará (UFPA); Universidade Federal do Tocantins (UFT); Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); Universidade Federal do Carajás (UFCA). 4 universidades na Amazonas (UFAM, UEA, UFRA, UESTA); 4 no Pará (UEPA, UFPA, UFOPA, UFCA) 2 universidades no Amapá (UNIFAP, UEAP); 2 em Roraima (UFRR, UERR); 2 em Tocantins (UFT, UNITINS); 1 universidade no Acre (UFAC); 1 em Rondônia (UNIR).

e) A região Centro-Oeste conta com 9 universidades, que seguem:

Universidade de Brasília (UnB); Universidade de Rio Verde (FESURV); Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT); Universidade Estadual de Goiás (UEG); Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS); Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); Universidade Federal de Goiás (UFG); Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); 3 universidades em Goiás (UFG, UEG, FESURV); 3 em Mato Grosso do Sul (UFMS, UEMS, UFGD); 2universidades em Mato Grosso (UFMT, UNEMAT); 1 no universidade no Distrito Federal (UNB).

Desse conjunto de universidades, 38 participaram II Jornada Universitária pela Reforma Agrária, sendo elas as seguintes:

Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" de São José do Rio Preto (UNESP SP); Universidade Federal do Cariri (UFCA); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho” de Presidente Prudente (UNESP); Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB); Universidade Federal da Bahia (UFBA); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ); Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Campus Maracanã (UERJ); Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG); Universidade Federal de Lavras (UFLA); Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULMINAS); Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); Universidade Federal de São Paulo - campus Osasco (Unifesp);

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Universidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade Estadual do Ceará (UECE); Faculdade de Educação de Crateús (FAEC); Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); Universidade Federal do Ceará (UFC); Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM); Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Universidade Federal de Brasília (UnB); Universidade Integração Latino-americana (UNILA); Instituto Federal do Paraná (IFPR); Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE); Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universidade Estadual de Santa Cruz (BA UESC); Universidade Federal Fluminense Rio das Ostras (UFF); Universidade Estadual do Rio de Janeiro Campus São Gonçalo (UERJ); Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (IFESSPA); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade Federal de Goiás (UFG);; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRS); Universidade Federal Fronteira Sul ; UENF ;Universidade Estadual do Norte Fluminense (UFFS); Instituto Federal Fluminense – Campos (IFF); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), dentre outras. Também contou com a participação da Universidade de Coimbra (Portugal) (MST, 2014).

Essa e outras iniciativas nos colocam questões para que o Movimento reflita criticamente essas parcerias e, principalmente, a educação que delas decorrem para os sujeitos. Na medida em que se afirma a especificidade do campo como um lugar de produção de vida, se assegura a especificidade da educação como processo formativo da militância de maneira ampla. Também mais se afiança a necessidade de incluir a função social da educação e da formação em um projeto de inserção do campo no conjunto da sociedade. A concordância de que a terra se conquista com a organização e luta dos trabalhadores fez o Movimento atrelar a ela o direito à educação.

Para um melhor entendimento dessas parcerias em funcionamento, na seção seguinte fizemos um recorte contextual de duas Universidades Federais Brasileiras onde estão inseridos os estudantes sujeitos de pesquisa deste estudo. Caracterizamos assim a Universidade Federal de Minas Gerais, através da primeira experiência do Curso de Licenciatura em Educação do Campo no Brasil, e na sequência a Universidade Estadual Paulistana “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente, através do Curso de Geografia, ambos os cursos já concluídos em parceria com o PRONERA, Movimentos Sociais e Universidades Públicas.

160

.