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3 AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MST: POSSIBILIDADES EM CONSTRUÇÃO

3.4 Quem são os Sem Terrinha do MST

3.4.1 Fechar escola é crime: Sem Terrinha na luta

Segue abaixo imagem dos Sem Terrinha em um dos seus momentos de reivindicações e lutas no MST.

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FIGURA 4: Imagens dos Sem Terrinha na ocupação do MEC em fevereiro de 2014, em suas reivindicações contra o fechamento das escolas do campo.

Fonte: Arquivos de fotos do MST, 2014.

Para a Central Única dos Trabalhadores, um dos momentos mais emocionantes do 6º Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) 22 foi a ocupação do Ministério da Educação (MEC) pelos Sem Terrinha. Acompanhados de pais, mães e educadores, eles chegaram à sede do Ministério, ‘tomaram lanche’ e ‘vaiaram os seguranças’ e ‘a polícia’ que apareceram para acompanhar um ato feito pelos ‘pequeninos’ (CUT, 2014, p. 1).

Educadores e crianças com fotos, cartazes, faixas, discursos, cantos, palavras de ordem e performances denunciavam o fechamento de 37 mil escolas nos últimos 12 anos, devido à pressão do agronegócio e às péssimas condições em que várias escolas do campo se encontram. Tudo isso além das más condições de mobilidade e transporte, necessários para deslocá-los do campo à cidade, onde ficam as escolas. Em leitura no monumento a Paulo Freire, Sem Terrinha reafirmam reivindicações do MST.

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Depois de uma longa espera, o Ministro da Educação, José Henrique Paim, desceu do seu gabinete para ouvir a leitura da carta de reivindicações dos Sem Terrinha e reafirmou o compromisso do governo com a educação do campo (ibidem, p.1). Manifesto dos Sem Terrinha entregue ao Ministro da Educação no MEC:

Nós somos Sem Terrinha de acampamentos e assentamentos de todo o Brasil e estamos participando do VI Congresso Nacional do MST e da Ciranda Infantil Paulo Freire. Viemos protestar pelos nossos direitos, por Reforma Agrária e lutar por um Brasil melhor.

Tem gente que tem preconceito com os Sem Terra e com os Sem Terrinha. Nos acampamentos e assentamentos do MST tem animais, pessoas, escolas, árvores e plantações. A plantação é muito importante para nós, não tem como viver sem alimentos.

O agronegócio é apenas uma monocultura, é uma coisa que só planta uma lavoura. Para que as plantas não estraguem é preciso usar muito veneno, que trazem doenças e perda da qualidade da comida. No agronegócio tudo é mercadoria!

Já nos acampamentos e assentamentos plantamos para comer e para vender para o povo da cidade. É uma policultura, há várias plantações e criações de bichos. Lá tem macaxeira, feijão, milho, melancia, galinha, bode, gado e suíno. E não precisa usar veneno, porque com a criação de bichos pode diminuir bastante os besouros e as lagartas que estragam as plantações. As terras são todas roçadas para poder plantar.

Mas queremos um assentamento melhor, que tenha saúde, divertimento e escolas. As atividades feitas nas escolas têm que melhorar, pois não dá de ser assim. Existem muitas escolas que não estão dentro dos nossos acampamentos e assentamentos e que não têm transporte para nos levar. O transporte é muito difícil, porque quando precisa ir para a escola da cidade é preciso andar muito para conseguir chegar no ponto de ônibus. Quando chove não tem ônibus e faltamos na aula. Queremos que o transporte não vá para lugares muito longe.

Somos dos acampamentos e assentamentos e queremos que lá no campo tenha escola. Precisamos de uma educação melhor. Queremos que nossos professores sejam do assentamento para que não faltem muito. Como é difícil o transporte entre a cidade e o campo os professores acabam faltando e os alunos perdendo aula.

Queremos também umaalimentação saudávelpara que nós, os alunos, não passemos mal na escola. Em nossas escolas precisamos de atividades extra- curriculares, fazer da escola um lugar de lazer, aberta para a comunidade nos finais de semana. Precisamos de cursos de informática, piscina de natação, quadra esportiva e muito mais.

Nós, Sem Terrinha, estamos chamando os outros Sem Terra, os amigos do MST e o povo para ajudar a conquistar nossos direitos e cobrar isso do MEC. Como a luta não é fácil, precisamos de mais gente! (CUT, 2014, p.1).

“Kettely Lorrany da Silva, de Goiás, tem oito anos. Ela precisa sair de casa todo dia às 11h30 para chegar à escola às 13h. O mineiro Caio César tem onze anos. Ele já perdeu aula muitas vezes porque o ônibus que leva as crianças para a cidade estava estragado. Milena Lima de Oliveira é do Pará e tem dez anos. Ela acha que falta material escolar, livro, caderno, lápis” (MST, 2014, p. 1).

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Por essas e outras tensões que levaram as crianças a ocuparem o MEC no dia 12/02/2014 cerca de 800 crianças Sem Terrinha de todas as regiões do país ocuparam o Ministério da Educação (MEC) para denunciar o descaso com a educação.

Alessandro Mariano, do setor de educação do MST, disse que o movimento está cansado de ouvir sempre a mesma promessa. “Eles sempre falam isso. Mas o Ministério tem recursos e não prioriza a educação no campo”. De acordo com o setor de educação do MST, são necessárias mais 400 escolas em áreas rurais. Nos últimos 12 anos, 37 mil escolas foram fechadas. As crianças cobram melhores condições para as 76 mil escolas existentes. “Existem muitas escolas que estão dentro dos nossos acampamentos e assentamentos e que não têm transporte pra nos levar”, dizem, no manifesto. Antes de voltar para o ginásio Nilson Nelson, onde aconteceu o VI Congresso do MST, as crianças ‘cravaram’ suas mãos em tinta na fachada do Ministério (MST, 2014, p. 1).

Edna Rosseto, do setor de educação, ressalta que foi fundamental a participação das crianças no ato político. “As crianças do campo são invisibilizadas nas políticas públicas, e também ficavam invisíveis nos processos de negociação e pressão. Por isso vieram todas para este ato. Desde as crianças de colo até as crianças de 12 anos, protestando por seus direitos onde vivem” (MST, 2014, p. 1). Miguel Arroyo também pactua com esta visão do sujeito invisibizado (ARROYO, 2012).

Na Ciranda Paulo Freire - Desde o começo do Congresso, todo dia, bem cedo, Carlos Rodrigues deixava sua filha Raíssa, de oito anos, na ciranda. “Nunca vi um pessoal que gosta tanto de criança assim, trata igual um filho mesmo. A gente fica até emocionado”, diz Raíssa era só elogio: “a gente brinca, ri, é muito legal”. Com uma equipe de 200 educadores, mais os integrantes da Brigada Semeadores, palhaços que conseguem juntar a alegria e o aprendizado. Maria Luísa, de 10 anos, diz que gosta de estudar num lugar que chama ‘Paulo Freire’. “Ele foi um ótimo professor. Ele ensinava as pessoas que não sabiam ler nem escrever, como a minha avó” (MST, 2014, p. 1).

Após os Sem Terrinha ocuparem o MEC, de acordo com a Agência Brasil, a presidenta Dilma Rousseff sancionou lei que dificulta o fechamento de escolas rurais, indígenas e quilombolas: ‘Fechar escola é crime’. A Lei 12.960, de 27 de março de 2014, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para fazer constar exigência de manifestação de órgão normativo – como os conselhos municipais de Educação - do

sistema de ensino para o fechamento desse tipo de escola. A lei foi publicada em 28 de março de 2014, no Diário Oficial da União23 (AGENCIA BRASIL, 2014, p. 1).

Além de exigir que o órgão normativo opine sobre o fechamento da unidade de ensino nessas áreas, a lei estabelece que a comunidade escolar deverá ser ouvida e a Secretaria de Educação do estado deverá justificar a necessidade de encerramento das atividades da escola. O projeto é de autoria do Executivo e ao justificar a proposta o então ministro da Educação (na época), Aloizio Mercadante, destacou que nos últimos cinco anos foram fechadas mais de 13 mil escolas do campo. Segundo ele, decisões tomadas sem consulta causam transtornos à população rural que deixa de ser atendida ou passa a demandar serviços de transporte escolar (AGÊNCIA BRASIL, 2014, p. 1).

O projeto foi motivado pelo grande número de escolas que foram fechadas nos últimos anos. Segundo a exposição de motivos, ao longo de cinco anos, foram encerrados mais de 13 mil estabelecimentos de ensino desse tipo, trazendo “grandes prejuízos para as populações rurais”. A matéria já tinha recebido parecer favorável nas comissões de Direitos Humanos e de Educação e Cultura. Nesta última, o parecer da senadora Ana Rita (PT-ES) alega que a LDB já prevê que as crianças devem ter acesso ao ensino próximo às suas residências. “O fechamento de unidades escolares nestas regiões significa deslocar esses alunos para regiões ainda mais distantes, tornando o processo de ensino sacrificante” (AGÊNCIA BRASIL, 2014, p. 1).

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Ver informação disponível em:

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=1&data=28/03/2014 diário oficial da união.

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Dados do MST sobre o fechamento das escolas do campo (2003 a 2012)

TABELA 1: Fechamento de Escola no Campo (2003 a 2012)

ESTADOS