• Nenhum resultado encontrado

“Cultura de cooperação é resultado de um fazer humano pontuado no diálogo das diferenças. Um diálogo que se dá numa relação de interdependência visando invariavelmente, o bem coletivo, onde diferentes atores, em lugares diferentes, em interação, complementando- se, sem opor ou se mesclar, experimentam o desafio de serem autônomos na ação e interdependentes na missão” (BARRETO, 2003).

De acordo com Pacheco (2009), as pessoas cooperam mais entre si quando são diferentes. Ao se analisar a conduta das pessoas baseando-se nos modelos econômicos, se tem uma visão sombria da humanidade. Somos todos egoístas e gananciosos. Como explicar que em alguns setores das relações sociais somos capazes de nos mobilizar por causas comuns e cooperar.

Barreto (2003) ressalta que a resposta está na diversidade cultural e social. Quando o interesse coletivo colide com o pessoal, aí a cooperação se torna difícil. No entanto, durante o convívio social, observa-se que há pessoas desapegadas e altruístas. “Seres humanos possuem uma predisposição natural para cooperar entre si”. De acordo com o autor, as motivações que levam à cooperação partem de sentimentos e necessidades geralmente individuais. Essas necessidades pessoais são desencadeadas por motivações ou desejos coincidentes entre duas ou mais pessoas, pela possibilidade futura de um ganho pessoal, seja cultural ou material, ou pela lembrança de uma situação passada similar que resultou em benefício pessoal. O valor associado ao benefício pessoal pode ser contábil, econômico, de marketing, moral ou cultural, ou ainda de estratégia empresarial. Cada ser humano retira da cooperação o que mais lhe convém, no que resulta numa característica individual obtida como resposta ao processo de participação colaborativa.

Em análise recente sobre redes sociais, o pesquisador Pacheco (2009) observa que a

web possui um pequeno número de “nodos” interligados por links com muitas ligações, e um

grande número de “nodos” ou páginas com poucas ligações. Esse fato de certa forma reproduz a sociedade humana, tanto em relação à distribuição de riqueza quanto nas relações sociais. Essa diversidade torna a cooperação mais fácil, por que indivíduos fazedores de opinião ou com maior capital intelectual são vistos pela sociedade como influenciadores e cooperadores a serem seguidos.

Os conceitos de interação/colaboração estão intimamente relacionados aos conceitos de autonomia e consciência. Piaget (1984), Freire (1996), Maturana e Varela (1980) são alguns dos autores que trabalham com o conceito de autonomia e consideram-na intrinsecamente ligada a tomada de consciência. Tanto para Piaget (1984) quanto para Freire (1996), o processo que resulta na cooperação acontece quando autonomia e consciência estão envolvidas.

Recursos resultantes da tecnologia computacional e da comunicação e informação aplicados na aprendizagem colaborativa se constituem em instrumento que propicia uma mudança no modelo tradicional do aprendizado para um modelo no qual os participantes interagem e buscam desenvolver o próprio conhecimento mediados por computadores. Computadores funcionam como uma extensão cognitiva no processo dinâmico do ensino- aprendizagem do grupo participante e por meio da interação e colaboração mediada pela tecnologia pode unificar diferentes idéias imprimindo um consenso (AYALA, 2001).

2.3.1 Teoria sociocultural

Segundo a teoria sociocultural de Vigotsky (1991), a inteligência humana resulta das interações e experiências vivenciadas entre o homem e o meio social, que resulta no desenvolvimento cognitivo, na estimulação e na exploração de uma zona de desenvolvimento a qual chamou de proximal. Esta zona de desenvolvimento proximal determina a diferença entre o nível atual e real de conhecimentos solucionados, seja pela resolução própria de seus problemas ou pela orientação de alguém com mais experiência. Agrega conhecimento intencional, varia com a cultura e com a experiência de cada indivíduo. Para se criar a zona de desenvolvimento proximal entre aluno e professor deve-se possibilitar uma interação entre ambos por meio de um instrumento ou técnica, que permita confrontar diferentes níveis de experiência individual. Nesta aplicação colaborativa, a interação social é fundamental para a modelagem do conhecimento e monitoramento da evolução do aluno. A aprendizagem colaborativa estimula o raciocínio e o questionamento, resulta na participação ativa de todos os componentes do processo (SÁ; SOBRINHO, 2005). A construção do conhecimento colaborativo tem como resultado o confronto de novas idéias até alcançar um consenso. O conhecimento final resultante do consenso exige uma participação prévia com lançamento das

idéias e envolvimento dos participantes no assunto discutido. Esse conhecimento colaborativo de consenso é complexo, resulta de uma estratégia participativa interativa colaborativa do trabalho, em que cada um dos participantes tem uma dinâmica e um conhecimento próprio.

2.3.2 Teoria da flexibilidade cognitiva

Capacidade da mente humana de reestruturar espontaneamente o próprio conhecimento, adaptando-o aos processos que operam as formas de representação mental. Enfoca a aprendizagem baseada em casos que reflitam a realidade e resultem em experiência, quanto maior o número de casos, maior será a base conceitual de apoio. O trabalho colaborativo on-line é fundamental para descobertas e soluções de novos desafios e consequente desenvolvimento da flexibilidade cognitiva. A flexibilidade cognitiva objetiva capacitar pessoas para que solucionem questões variadas (JONASSEN, 2000).

2.3.3 Construtivismo e aprendizagem autoregulada de Piaget

Para Piaget (apud RAMOS, 1996), a formalização do conhecimento é um processo de tomada de consciência. Isso só é possível porque somos capazes de refletir sobre o nosso próprio pensar e construir o próprio conhecimento. Com o desenvolvimento, atinge-se a tomada de consciência que possibilita a reflexão sobre os próprios pensamentos e conjeturar o pensamento hipotético, capaz de nos tornar autônomos. Esta capacidade autônoma é que nos permite sociabilizar e cooperar. Para a efetiva cooperação é importante uma escala de valores que normatize o grupo, garanta a individualidade, o respeito e que se mantenha durante o processo.

Autores ainda divergem entre o significado de “cooperação” e “colaboração”. Roschelle e Teasley (1995) consideram que trabalho cooperativo ocorre quando há divisão de tarefas entre os participantes do grupo, em que cada pessoa é responsável por uma parcela da solução de determinado problema e a colaboração envolve empenho mútuo para juntos solucionarem os problemas. A cooperação envolve vários processos no qual indivíduos

trabalham alternadamente em grupo compartilhando informações e sozinhos refletindo sobre o problema. O aprendizado cooperativo socializa as idéias, aumenta a criatividade e desenvolve o pensamento lógico; nesse sentido a cooperação envolve vários processos: comunicação, negociação, coordenação, co-realização e compartilhamento (MACEDO, 2009).

Nos sistemas cognitivos construtivistas e aprendizagem autoregulada de Piaget (1984) encara-se o conhecimento como uma forma de aprendizagem que pode utilizar ferramentas que envolvam alunos, especialistas, professores em práticas colaborativas na busca de bons modelos nos quais o indivíduo constrói o conhecimento e é capaz de interagir e trocar informações. As diferentes abordagens e interpretações resultam no conhecimento colaborativo oriundo de diferentes soluções construídas individualmente e compartilhadas, baseadas em contexto sócio-politico-cultural distintos.