• Nenhum resultado encontrado

Sabe-se hoje que o sistema estomatognático é dotado de mecanismo adaptativo complexo com alta especificidade, que é responsável pelo seu funcionamento e proteção. O mecanismo proprioceptor, presente nas estruturas que o compõe, é capaz de perceber estímulos de aproximadamente 8µ a 10µ (micrometros). Uma boa referência para se quantificar essa percepção passa a ser um fio de cabelo, que apresenta em média 40µ.

O mecanismo proprioceptor por meio de fibras sensitivas do trigêmeo percebe a presença do estímulo, desencadeado pelo bolo alimentar, pela presença de um contato dental, por um toque da língua, etc. Esse estímulo é levado por fibras sensitivas do trigêmeo ao SNC, onde no córtex sensitivo se toma consciência dele. Após este momento, ocorre uma sinapse com córtex motora onde então por meio de fibras motoras também trigeminal se obtém a resposta necessária ao estímulo desencadeador. Quando a resposta está relacionada com a função da mastigação, teremos ação e reação adequada para aquele momento, ou seja, para se efetivar a mastigação com um bolo alimentar de consistência diversa, a triagem feita pelo mecanismo proprioceptor que está coordenando o movimento ocorre com resposta de força exata à dureza, para a trituração específica de determinado alimento. Se observarmos com mais atenção este fato, e o localizarmos em um contexto social, a função da mastigação pode ser realizada com a atenção direcionada em outra pessoa ou outro fato. Porque isso é possível? O mecanismo proprioceptor é adaptativo, desenvolve-se com o indivíduo, executa estas tarefas utilizando-se de um mecanismo chamado arco reflexo. O arco reflexo coordena

e protege simultaneamente. Quando somos submetidos a algum tipo de procedimento odontológico, e temos modificada a superfície ou posição dental, ou quando há um detrito no meio do bolo alimentar, percebemos este fato por meio desse mecanismo descrito acima. No caso da alimentação, com a presença de um detrito, o ciclo do movimento é interrompido, e o detrito eliminado. Com relação ao procedimento do profissional que resultou em alteração anatômica da superfície do dente, a adaptação a este novo contato dental, acontecerá pelo mecanismo proprioceptor, que é adaptativo. No primeiro momento percebe-se esse novo toque dental prematuro, desencadeado pela nova restauração. Isso ocorre por meio de fibras sensitivas do trigêmeo, é levado ao SNC até o córtex sensitivo, de onde vai a córtex motor, quando então se tem a resposta muscular. Dependendo do limiar de tolerância de cada paciente, após algum tempo pode-se ter como resposta a adaptação a esta nova situação, ou não. O que ocorreu no primeiro caso foi a adaptação do sistema à nova posição de fechamento dental, o contato dental prematuro foi percebido tantas vezes, e tantas vezes levado ao SNC, que pela freqüência do estímulo se transformou num arco reflexo o fato de mudar a posição de fechamento para adaptar-se ao novo contato. Uma segunda situação provável é quando o paciente possui um baixo limiar de tolerância e não se adapta a esse novo contato. Este tipo de paciente com baixa capacidade de adaptação possui uma predisposição para desenvolver disfunções miofaciais e desordens de ATM.

Baixo limiar de tolerância é um fator predisponente para as manifestações parafuncionais de hábitos conhecidos como bruxismo. As parafunções oclusais levam à sobrecarga do sistema como um todo e resultam com freqüência seqüelas musculoesqueléticas. Músculos mais fortes como masseter, pterigóideo interno se adaptam hipertrofiando, músculos mais rápidos como temporal e principalmente o pterigóideo lateral fica hipertônico, apresentando cansaço e dor.

A cefaléia tensional na região temporal tem origem na contratura isométrica muscular, característica em pacientes portadores de hábito parafuncional de aperto dental. O temporal é o principal músculo mantenedor da posição postural mandibular. É ele que se contrapõe a ação da gravidade sobre a mandíbula. Esta função é desenvolvida de forma a não causar fadiga muscular na medida em que a percepção do estímulo é distribuída alternadamente por grupos de fibras musculares, comandadas por diferentes neurônios motores.

O músculo pterigoídeo lateral é formado por dois feixes, um inferior e outro superior. O feixe inferior origina-se na asa externa do processo pterigóideo e se insere no colo do

côndilo mandibular, sendo que a sua contração provoca deslocamento láteroanterior do mesmo. A contração simultânea dos músculos direito e esquerdo resulta no deslocamento para anterior dos côndilos mandibulares, é o principal responsável pelo movimento de translação realizado pela ATM durante o movimento de abertura bucal. A hiperatividade deste músculo é um dos principais responsáveis pela descoordenação na posição côndilo/disco articular. O feixe superior tem a mesma origem do feixe inferior, porém sua principal inserção se dá no disco articular. Sua contração se contrapõe à tração exercida pela lâmina elástica da zona bilaminar que traciona o disco posteriormente durante o fechamento mandibular, estabilizando-o sobre o côndilo.

A presença de dor espontânea neste músculo é difusa e repercute na área do ouvido, o que confunde o sintoma com alteração otológica.

As dores temporomandibulares têm prevalência relevante na população em geral e, frequentemente, a causa dessa dor é o deslocamento do disco articular da ATM.

Funções corretamente realizadas estimulam o crescimento facial e as relações sociais. A face se reveste de profundo significado psicológico e físico para os seres humanos. O limiar de tolerância à dor varia de indivíduo para indivíduo.

A dificuldade de diagnóstico da DTM ocorre devido à riqueza de funções de vascularização e inervação presentes na área de manifestação dos sintomas, onde pelo menos quatro pares de nervos cranianos estão envolvidos.

O trigêmeo ou o V par é o responsável pela sensibilidade dos terços superior, médio e inferior da face, respectivamente inervados pelos ramos oftálmico, maxilar e mandibular.

O facial ou VII par, através do ramo intermediário, participa na sensibilidade do ouvido e pavilhão auditivo, enquanto o glossofaríngeo ou IX par dá sensibilidade à garganta e ao terço inferior da língua. O vago ou X par, também inerva a base da língua e a garganta. Há ainda que se acrescentar a participação dos três primeiros ramos de nervos cervicais eventualmente envolvidos na dor ou desordem facial. A região crâniocérvicofacial se constitui numa das áreas mais complexas para se estabelecer diagnóstico de uma patologia. Possui múltiplas estruturas anatômicas que interagem funcionalmente entre si. A partir da embriologia, há vários processos de desenvolvimento com a mesma origem que se desenvolvem em órgãos diferentes.

Partindo-se da percepção dos estímulos, da condução e resposta observa-se vias nervosas aferentes e eferentes com origem no sistema nervoso central. Várias áreas do SNC participam da sensação e exteriorização da dor como, por exemplo, a simples estimulação de um dente envolve: tronco encefálico, o tálamo, o sistema límbico e a córtex frontal e parietal.

O conhecimento médico adquirido em experiências anteriores, o espírito de investigação clínico aplicado pela anamnese, o exame local podem evidenciar a presença de alterações associada a queixa do paciente e propiciar o correto diagnóstico. Após uma observação geral sobre as características dos sinais e sintomas o exame poderá ser direcionado para uma área específica de atuação. O grande número de estruturas complexa concentradas na região facial, divide atenção de profissionais das áreas de otorrinolaringologia, oftalmologia, neurologia, neuroradiologia, cirurgia de cabeça e pescoço, odontologia com suas múltiplas especialidades, e ainda a similaridade dos sintomas. Esse fato aumenta a responsabilidade do profissional envolvido no exame.