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ALGUNS OBSTÁCULOS QUE DIFICULTAM A APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO

Quando as propostas em prol de um desenvolvimento agropecuário mais endógeno e menos dependente de fatores externos começaram a surgir na América Latina, seus postulados tinham pouca credibilidade já que soavam a utopia ou lirismo. Contribuíram para este ceticismo a radicalização e a polarização de certas propostas, algumas ingênuas (34*),Como por exemplo, afirmar que se poderia alimentar as multidões das grandes metrópoles latinoamericanas,abastecer o parque industrial e gerar os excedentes que os países necessitam exportar para financiar seu desenvolvimento, sem utilizar fertilizantes sintéticos, pesticidas, tratores, irrigação, tecnologias de ponta, etc. e outras carregadas de forte conteúdo emocional e ideológico. Os interesses contrários atuando de má fé, se aproveitaram das polarizações e da aparente falta de fundamentação científica de tais propostas, para desqualificá-las e desacreditá-las.

Como consequência das contradições e do esgotamento do modelo clássico de desenvolvimento agropecuário, felizmente têm surgido nos países da Região propostas mais consensuais e neutras que buscam diminuir as ideologizações, polarizações e emocionalismos antes mencionados. Estas novas propostas, ao resgatar algumas práticas autóctones e potencializá-las com o auxílio dos avanços científicos mais recentes, tratam de conciliar, em grande parte, as necessidades mais imediatas dos agricultores com as reais possibilidades dos governos em satisfazê-las. O maniqueísmo entre a agricultura orgânica e a da revolução verde está perdendo terreno e credibilidade muito rapidamente. As tendências mais modernas e fidedignas advogam por uma complementação entre ambas, extraindo de cada uma delas os aspectos positivos que inegavelmente ambas possuem. Este documento sugere que se inicie a modernização com as tecnologias da agricultura orgânica, não só para contribuir à sustentabilidade e à equidade, como também para que os chamados insumos modernos da revolução verde, quando disponíveis, se tornem muito mais eficazes e eficientes.

São tantas e tão óbvias as vantagens desta mescla de tecnologias da agricultura orgânica com as da revolução verde, que a adoção de um modelo menos polarizado de tecnificação da agricultura deveria haver-se generalizado rapidamente para contribuir a mudar as atitudes dos profissionais e técnicos e, através deles, dos agricultores. Todavia, a aplicação de um modelo mais consensual tem sido dificultada, entre outras, pelas razões mencionadas a seguir:

1º. Obstáculo

A formação dos profissionais de ciências agrárias. O ensino universitário está fortemente inspirado na

realidade do mundo desenvolvido, no qual o capital é abundante e a mão-de-obra é escassa. Nos países da América Latina e Caribe, ocorre exatamente o contrário; consequentemente os conteúdos do ensino das faculdades, geralmente não são adequados às nossas circunstâncias e, muito especialmente, às da grande maioria dos pequenos agricultores. "Uma escola ou universidade de um país em desenvolvimento é considerada tanto mais adiantada ou progressista quanto mais proximamente simule em seus programas de ensino e pesquisa, o que se faz nas instituições similares de outros países desenvolvidos, sem importar que isto não responde em absoluto às necessidades do próprio país.

Desta forma, o profissional se prepara só para atender às necessidades de um pequeno setor formado pelas grandes unidades de produção, as que também seguem o compasso dos avanços tecnológicos dos países desenvolvidos. A consequência final é que o pequeno produtor que, como vimos antes, representa um setor majoritário, se encontra cada vez mais relegado e arraigado a seus sistemas tradicionais de produção que sem ser muito eficientes, lhes oferecem segurança. Uma ação efetiva para melhorar a produção a nível de pequenas propriedades demanda mudança de enfoque na formação dos profissionais que devem atuar como instrumentos de desenvolvimento. Os programas de ensino devem adequar-se às necessidades da sociedade a que vão servir os futuros profissionais. Isto não significa que tenham que sacrificar a qualidade acadêmica e a base científica por se tratar de países em desenvolvimento. Pelo contrário, se requer formar profissionais com um alto grau de preparação acadêmica, porém conscientes das necessidades da sua própria sociedade" [9].

Durante a sua formação, os estudantes geralmente não têm a suficiente vivência da problemática do campo, nem possibilidades concretas de executar práticas agropecuárias diretamente nos sítios e comunidade rurais. Este desconhecimento se acentua devido a origem crescentemente urbana dos estudantes e docentes das faculdades e às restrições orçamentárias de tais instituições, as quais limitam suas possibilidades de levá-los ao campo. Devido aos conteúdos que as faculdades lhes ensinam, estes profissionais não estão

preparados para solucionar os problemas dos agricultores dentro da escassez e da adversidade produtiva; isto é, para solucioná-los com menos insumos, créditos, tratores, tecnologias de ponta e com menor dependência do Estado. Quando se vêem defrontados com as restrições que aparecem no desenho

no.2, não dispõem dos conhecimentos necessários para solucionar os problemas ali indicados de forma endógena (com os recursos locais e com tecnologias menos dependentes de fatores externos); esta é a razão de fundo pela qual estes profissionais tendem a solicitar mais recursos e soluções externas preconizados pelos modelos clássicos de desenvolvimento agropecuário; e como geralmente não os obtêm, não conseguem transformar as realidades adversas ali existentes.

O imenso e complexo desafio da equidade (35*), Elevar a oferta de efetivas oportunidades de desenvolvimento de 10% para 100% dos agricultores, enquanto os recursos para fazê-lo diminuem, em vez de aumentar.exige a urgente adequação na formação dos profissionais de ciências agrárias para que eles, além de promover o necessário desenvolvimento da agricultura empresarial, também estejam em efetivas condições de transformar a estagnação indicada no desenho no.2 na prosperidade ilustrada no desenho no. 6; mesmo que os agricultores não tenham acesso, como de fato, grande parte deles não o tem, aos fatores clássicos de tecnificação agropecuária. O primeiro passo em tal sentido é "ruralizar" a formação de tais profissionais, para contrabalançar o insuficiente e inadequado conhecimento que os estudantes têm do mundo rural; eles não podem propor soluções para o agro, se previamente não conhecem os problemas ali existentes; também, se requer adotar novos métodos de ensino. A propósito, um recente documento publicado conjuntamente pela ALEAS e pela FAO, menciona:

"A formação é excessivamente teórica, abstrata e desligada da realidade produtiva, com poucas possibilidades para que os alunos executem de forma direta e pessoal, dentro das condições reais que enfrentam os produtores, todas as atividades que estes normalmente realizam em todas as etapas do ciclo agroeconômico (acesso aos insumos e ao crédito; produção propriamente dita; processamento e comercialização). Os programas de estudo estão sobrecarregados com um número muito alto de disciplinas, algumas de escassa relevância ou aplicabilidade e de caráter descritivo, com pouca ou nula profundidade de análise. Os métodos de ensino são, em geral, de caráter letivo e pouco participativos e não conduzem ao questionamento crítico das realidades imperantes nas unidades de produção e nos serviços agrícolas de

apoio; tampouco fomentam a iniciativa, criatividade, compromisso e responsabilidade social dos futuros

profissionais para transformar as adversidades e deficiências existentes nos dois níveis antes mencionados (nas propriedades e uns serviços de apoio)" [10]. O desconhecimento da realidade rural, de suas potencialidades e limitações, das aspirações e necessidades reais (não as aparentes) dos agricultores, contribui a aumentar ainda mais a contradição existente entre o que se investiga nas estações experimentais e o que realmente necessitam as famílias rurais; existe um crescente desencontro entre a oferta universitária urbana e as necessidades concretas da demanda rural.

Os futuros profissionais de ciências agrárias necessitam receber uma formação:

- Mais relevante para o seu exercício profissional e para as necessidades cotidianas da maioria dos agricultores; relevante em termos de conhecimentos, habilidades, destrezas e atitudes.

- Mais realista e pragmática, que lhes proporcione condições técnicas de promover o desenvolvimento dos agricultores, com base nos recursos que eles possuem em maior abundância e não nos que são

mais escassos e inacessíveis; infelizmente existe uma paralizante tendência a fazer exatamente o

contrário e com isto manter os agricultores na dependência, em vez de contribuir a libertá-los e a emancipá- los da mesma.

- Mais objetiva, que lhes permita diagnosticar (37*), os problemas concretos e as causas reais ( não aparentes) que os originam; identificar os recursos, as oportunidades e potencialidades de desenvolvimento ( não só as debilidades e restrições) existentes nas propriedades; e, a partir da utilização dos recursos realmente disponíveis solucionar os problemas concretos dos produtores, com mínima dependência de recursos materiais externos.

- Mais prática, no sentido de que saibam aplicar corretamente as tecnologias adequadas às necessidades

e, muito especialmente, que saibam solucionar de maneira concreta, objetiva e realista, os problemas abaixo mencionados, porque são estes os que, com maior frequência, afligem aos agricultores:

i) como acceder aos fatores de produção para obtê-los a preços ou custos mais baixos;

ii) como produzir eficientemente para aumentar os rendimentos, reduzir os custos e melhorar a qualidade

das colheitas;

iii) como administrar as propriedades para evitar ociosidades e subutilização dos recursos nelas existentes; iv) como conservar e processar os produtos agrícolas para incorporar-lhes valor e reduzir perdas pós-

colheita;

v) como comercializar os excedentes com menor intermediação para obter melhores preços de venda; vi) como organizar suas comunidades para que os agricultores constituam os seus próprios serviços e

através deles facilitem a solução em conjunto dos seus problemas comuns.

- Mais construtiva e mais positiva para que gere nos profissionais a vontade, a autoconfiança anímica, a autosuficiência técnica e o compromisso:

i) de encontrar e aplicar soluções, em vez de limitar-se a diagnosticar os problemas e identificar as

causas que os originam;

ii) de formular o remédio (e saber aplicá-lo), em vez de limitar-se a mostrar a enfermidade; e iii) de assumir

como sua a responsabilidade de solucionar os problemas dos agricultores, tais como eles são e com os recursos que efetivamente possuem.

Se os profissionais não ingressam das faculdades com estes conhecimentos, atitudes, habilidades, destrezas e aptidões, simplesmente não se adéquam às necessidades concretas da grande maioria dos agricultores desta Região. Nossos agricultores necessitam de profissionais "solucionadores" de problemas, "mobilizadores" de pessoas e de vontades e transformadores" das realidades adversas imperantes no meio rural.

Esta formação prática não pode ser ministrada exclusivamente nas salas de aula, nas condições artificiais dos laboratórios ou estações experimentais, nem na simulação dos computadores; ela deve ser proporcionada também nas adversas e difíceis condições do campo, onde vivem e trabalham as famílias rurais; daí a importância de "ruralizar" o ensino das ciências agrárias, dentro do princípio de ensinar e aprender fazendo e produzindo. Isto requer uma maior imersão das faculdades na realidade rural; uma maior vinculação com a produção; e uma maior permanência dos estudantes no campo, praticando e

produzindo. 2º. Obstáculo

A influência dos fabricantes e provedores de insumos e maquinaria. Eles naturalmente têm

interesse em vender mais fertilizantes, pesticidas, rações e máquinas agrícolas. Devido a que este modelo alternativo, não enfatiza o uso intensivo de bens que possam ser comercializáveis ou patenteáveis pelos grupos industriais, não conta então com o apoio dos mesmos. Os representantes destes grupos de interesses têm acesso e exercem forte influência nos governos, parlamentos, universidades, centros de pesquisa e meios de comunicação. É através dessas instituições que influenciam os formuladores e executores das políticas agrícolas dos países. Com estas variadas influências contribuem para que se crie a nível dos profissionais e agricultores, a equivocada convicção de que a única alternativa para

desenvolver a agricultura é através do uso massivo de sementes de alto potencial genético, de fertilizantes, inseticidas, fungicidas, rações, tratores, etc., e que para fazê-lo possível se requer de abundantes créditos e subvenções.

É cada vez mais difícil encontrar no comércio especializado aqueles produtos que contribuam a emancipar aos agricultores da dependência de fatores externos; porém é cada vez mais fácil encontrar aqueles que

perpetuam tal dependência. Mesmo nos rincões mais isolados existe um local comercial que fornece:

sementes híbridas (não as de variedade), fertilizantes compostos (mas não existem sementes de espécies para adubo verde que os tornariam menos dependentes dos fertilizantes químicos); rações balanceadas para todas as espécies animais e para todas as etapas de desenvolvimento (porém é difícil encontrar sementes de espécies que lhes permitiriam melhorar as pastagens ou produzir rações caseiras); fertilizantes nitrogenados sintéticos (porém é difícil encontrar inoculantes), etc. Quer dizer, tudo contribui para manter o agricultor

dependente de comprar, ano após ano, os insumos industrializados, em vez de produzir sucedâneos em

sua própria propriedade. Quando os agricultores querem emancipar-se encontram-se ante a situação de que as galinhas de granja não chocam (porém os agricultores facilmente encontram pintos de um dia ou incubadoras);que existem sementes de melancia, cujos frutos não têm sementes; que não encontram os

ingredientes para preparar a mistura mineral caseira para os seus animais (no entanto encontram, com muita facilidade e em qualquer lugar os sais minerais compostos industrializados).

Ante o lamentável debilitamento dos serviços oficiais de extensão rural, muitos extensionistas já não chegam com sua mensagem educativa (e não comprometida comercialmente) às propriedades e lares rurais; No entanto, chegam os vendedores de insumos (38*), Aos quais se costuma denominar, de modo equivocado, agentes privados de assistência técnica ou, pior ainda, agentes privados de extensão rural.e também as permanentes mensagens radiofônicas e da televisão que estimulam o uso de agroquímicos e maquinarias. Se esta situação não for revertida a agricultura será crescentemente orientada em

função dos interesses do setor industrial/comercial e não em função dos interesses do setor agrícola; os interesses de ambos setores não só são diferentes, como costumam ser antagônicos e

conflitivos. É por este motivo que alguns serviços oficiais do Estado não devem ser substituídos por serviços de empresas privadas com fins de lucro; a responsabilidade pela assistência técnica deveria, na medida do possível, ser gradualmente assumida pelos próprios agricultores organizados, naturalmente depois que o Estado lhes proporcione de forma paulatina as condições (de capacitação e organização) para que eles constituam os seus próprios serviços e com isto diminuam suas dependências externas (do Estado e das empresas privadas com fins de lucro).

Esta influência da indústria produtora de insumos e equipamentos é ainda mais grave na atualidade, devido a crise financeira das instituições oficiais de pesquisa e das universidades; estas, ao não dispor de recursos públicos suficientes para gerar novas tecnologias, recorrem ao apoio financeiro dos fabricantes de fertilizantes, rações, equipamentos, tratores, etc. Não é de se estranhar, então, que as novas tecnologias não apontem, como deveriam fazê-lo, a reduzir o uso de insumos e equipamentos de alto custo. Dificilmente um fabricante de pesticidas financiaria uma pesquisa que contribuiria para diminuir o seu uso; dificilmente um fabricante de fertilizantes nitrogenados contribuiria para a geração e difusão de uma tecnologia sobre adubos verdes ou rotação de culturas com leguminosas previamente inoculadas. Devido às restrições orçamentárias das associações de profissionais e das instituições oficiais de apoio à agricultura, um crescente número de congressos e seminários destinados a discutir políticas agrícolas é financiado pelos mencionados fabricantes de insumos e equipamentos; nestas condições é fácil entender a influência que exercem nas discussões e deliberações de tais eventos. As pessoas não comprometidas por estes interesses meramente mercantis deverão estar advertidas para não se deixar influenciar por postulados que, ainda que em aparência, estão preocupados com a sorte dos agricultores, de fato estão defendendo outros interesses. Esta influência está ampliando-se porque, devido à crise das instituições do Estado, as próprias empresas privadas estão paulatinamente encarregando-se de gerar novas tecnologias. Existe uma tendência a

nível mundial nos fabricantes de fertilizantes e inseticidas a dedicar-se também à produção de sementes e à pesquisa em biotecnologia. Em tais condições, é muito pouco provável que as empresas privadas fabricantes de herbicidas, inseticidas, fungicidas e fertilizantes se dediquem a gerar novas plantas ou a produzir sementes com a preocupação de que sejam menos dependentes dos referidos insumos. Além do mais, é fácil entender que os pequenos agricultores (que

não compram ou compram poucos insumos) não sejam a clientela preferencial das instituições privadas com fins lucrativos, que geram e difundem tecnologias agropecuárias. Esta é um importante razão adicional para que a privatização dos serviços do Estado tenha certos limites porque, do contrário, os pequenos agricultores serão ainda mais marginalizados e o crescimento com equidade continuará sendo apenas uma declaração de boas intenções.

3º. Obstáculo

Os agricultores carecem de autênticos representantes que interpretem as suas necessidades e interesses. Devido a sua fragilidade e a falta de lideranças genuínas, se tornam vulneráveis a propostas populistas de pessoas que estão mais preocupadas em conquistar simpatias (votos) que em solucionar os

problemas das famílias rurais. Costumam ser vítimas da demagogia dos maus políticos os quais dizem aos agricultores apenas o que estes querem ouvir (por exemplo, que eles só poderão ter rentabilidade se o governo os subsidiar) e não o que eles deveriam ouvir (que se eles fossem mais eficientes seriam menos dependentes dos subsídios); com tais procedimentos os induzem a equívocos e desviam sua atenção das verdadeiras causas dos seus problemas e das formas de solucioná-los com realismo e objetividade. Estas propostas populistas geralmente dão a entender às famílias rurais que os seus problemas se devem

- insuficiência de recursos produtivos; - falta de decisões políticas;

- falta de leis e reformas estruturais;

- inadequação do regime ou sistema político;

- injustiça nas relações de intercâmbio a nível internacional; - falta de créditos e subvenções (aos insumos e aos produtos).

Sem desconhecer a existência e incidência de alguns dos fatores externos antes mencionados, não se deve superestimar a sua importância, porque se os problemas internos descritos nos itens 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3 do capítulo 3 não forem solucionados, a eliminação dos obstáculos externos terá pouca utilidade e eficácia. Adicionalmente, os postulados populistas costumam ressaltar uma suposta (ainda que muito discutível) racionalidade e eficiência dos camponeses na alocação de recursos produtivos e na aplicação de tecnologias. Com isto concluem, muitas vezes de forma equivocada, que os seus problemas se devem a falta de recursos e não de conhecimentos. Ao superestimar a importância do fator que eles não podem manejar (recursos) e

subestimar a importância do fator que podem manejar (conhecimentos) apenas contribuem a manter

os agricultores em atitudes de passividade e fatalismo, devido a que os levam a pensar que:

i) se as causas dos problemas são externas e se os recursos que eles dispõem são insuficientes, a conclusão

lógica é que tanto as soluções como os recursos para superar tais problemas deverão ser externos e que, enquanto estes não chegarem, os agricultores não poderão fazer nada em prol da solução dos seus próprios problemas; e

ii) se eles são racionais na alocação dos seus recursos e eficientes na adoção de tecnologias, não requerem

novos conhecimentos, porque não necessitam introduzir mudanças administrativas e tecnológicas em suas propriedades.

Quando os agricultores, estimulados por influências populistas, reivindicam ao governo reformas

estruturais, subsídios, recursos materiais e decisões de alto nível, que estão acima das

possibilidades do Estado, se desgastam, caem no descrédito e perdem seu tempo porque o Estado geralmente não tem recursos nem mecanismos operativos para satisfazer a todos; e perdem também a oportunidade de reivindicar medidas política e economicamente factíveis, que o governo poderia e deveria oferecer a todos os agricultores.

A título de exemplo, os agricultores deveriam exigir e obter insumos intelectuais (tecnologias apropriadas e capacitação) porque estes sim estariam ao alcance do governo e além do mais contribuiriam a emancipá-

los, em grande parte, dos recursos materiais que infrutiferamente reivindicam ao Estado. O melhor

momento para fazer tais reivindicações é nas campanhas eleitorais, porém os agricultores deveriam ser conscientizados para "votar nos seus", quer dizer, votar nos próprios agricultores para que estes sejam realmente confiáveis quando assumem os compromissos de defender as causas dos produtores e da agricultura(39*)

4º. Obstáculo

O desejo legítimo de facilitar a solução dos problemas. Devido à complexidade das atividades

agropecuárias, às adversidades da vida rural e ao baixo nível de capacitação dos agricultores, existe uma natural e legítima tendência a:

- solicitar que o Estado lhes conceda mais terra, em vez de tornar mais produtiva aquela que eles já possuem;

- contratar os serviços de um trator para arar, gradear, semear, capinar e colher, em vez de fazê-lo com