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Durante sua etapa de elaboração e de reelaboração, os conceitos incluídos neste documento foram submetidos à consideração de representantes das principais instituições relacionados com as atividades agropecuárias de todos os países da América Latina.

A grande maioria das opiniões recebidas foram de total apoio a estas propostas. Não obstante, também houve manifestações de aparente desacordo sobre alguns aspectos que serão esclarecidos a seguir:

Primeiro questionamento

Ao enfatizar a necessidade de formular e executar políticas agrícolas que respondam às necessidades dos pequenos agricultores, não se estaria marginalizando a agricultura comercial e empresarial e subestimando sua importância como "alimentadora" das agroindústrias e geradora de excedentes exportáveis, especialmente se considerarmos que a abertura dos mercados internacionais exige maior competitividade?

Comentário: A estratégia aqui proposta prioriza as necessidades dos pequenos agricultores; em primeiro

lugar porque eles representam 78% do total das unidades de produção agropecuária da América Latina; em segundo lugar porque o crescimento com equidade e o desenvolvimento global dos países exige a contribuição eficiente de todos os agricultores. Se se deseja oferecer oportunidades iguais a todos, é necessário proporcionar mais aos que têm menos (maiorias silenciosas) e não aos que pressionam ou reivindicam mais (minorias ruidosas); quer dizer, é necessário discriminar em favor dos pequenos agricultores.

Por outra parte, mesmo que se esteja insistindo nos pequenos produtores, muitos dos problemas aqui indicados ocorrem também com os médios e grandes produtores agropecuários. Além do mais, muitas das soluções propostas são aplicáveis, com as devidas adaptações, a todos eles. A título de exemplo, as tecnologias economizadoras de insumos, energia e capital, não só deveriam ser adotadas pelos pequenos agricultores, que virtualmente não têm acesso a estes fatores escassos, mas também pelos produtores comerciais e empresariais que têm acesso a eles e que, às vezes, os utilizam mal e desperdiçam, elevando

desnecessariamente os custos de produção (maquinaria superdimensionada, excessiva preparação do

solo, exageradas aplicações de pesticidas, adubação sem análise de solo, etc).

Grande parte dos conceitos e princípios (que não devem ser confundidos com receitas ou fórmulas) incluídos neste documento, depois de adaptados a cada escala de produção, podem ser de aplicação universal.

Finalmente, é lógico que não se pode subestimar a importância da agricultura comercial e empresarial, entre outras razões, pelo muito que significa a sua contribuição ao volume da produção agropecuária nacional; à geração de empregos, diretos e indiretos; ao desenvolvimento das agroindústrias; ao abastecimento das grandes cidades; e à geração de divisas necessárias para impulsionar o desenvolvimento nacional. No entanto, estes agricultores, pelo seu nível educativo, econômico e organizacional, têm seus próprios recursos e condutos para solucionar seus problemas. Em outras palavras, não se está propondo uma estratégia que

exclua aos agricultores comerciais do processo de desenvolvimento, mas sim uma alternativa que inclua a

todos os produtores agropecuários. Se os países necessitam (e de fato necessitam urgentemente) da contribuição eficiente de todos os agricultores, é fundamental que em contrapartida ofereçam a todos eles, reais e efetivas oportunidades para conseguir tal eficiência. Já pertencem ao passado os maniqueísmos do tipo "agricultura camponesa x agricultura empresarial"; porque ambas necessitam ser eficientes.

Segundo questionamento

Ao propor que se priorize a adoção de tecnologias apropriadas, de baixo custo e menor dependência de insumos e equipamentos externos, não se estaria subestimando a importância das tecnologias de ponta e dos insumos e equipamentos modernos, necessários para aumentar a produção e a produtividade, e através destas últimas conseguir uma maior competitividade nos mercados internacionais? Não se estaria propondo algo muito pequeno para uma agricultura que requer dar um grande salto qualitativo para a modernidade?

Comentário: Para satisfazer as necessidades de todos os estratos de agricultores é necessário dispor e

oferecer-lhes todas as alternativas tecnológicas (desde a época adequada de semeadura até o transplante de embriões); também é necessário contar com todos os tipos de insumos e equipamentos (desde o adubo orgânico produzido no sítio até o computador que controlará a composição e distribuição das rações para o gado leiteiro). Neste aspecto também já não tem muito sentido seguir polarizando entre "tecnologia autóctone e tecnologia de ponta", todas são importantes e necessárias e portanto devem complementar-se.

O que se propõe é que a adoção de tecnologias e a utilização dos insumos e equipamentos pelos agricultores de baixos recursos seja feita de forma gradual. Iniciar pelas inovações que não dependem de recursos externos à propriedade, por aquelas que são de menor risco, de menor custo e de mais fácil aplicação, de modo que se possa universalizar as oportunidades de adoção e de desenvolvimento; depois - e só depois - de esgotar tais alternativas, avançar até as inovações de maior custo e complexidade, se isto for realmente necessário. Em outras palavras, se propõe inverter a ordem cronológica de introdução de tecnologias e de utilização de insumos, começando pelas "tecnologias de processo" e depois que estas tenham sido incorporadas, potencializá-las com as "tecnologias de produto".

A introdução de tecnologias não necessariamente é sinônimo de uso de insumos e maquinarias; o uso destes, ainda que desejável, nem sempre é garantia de aumentos significativos e automáticos na produtividade. A título de exemplo, no Brasil, no período de 1964 a 1979, a produtividade das 15 principais culturas aumentou em 16,8% enquanto que o uso de insumos e equipamentos aumentou durante o mesmo período nas seguintes percentagens:

- fertilizantes químicos 124,3% - inseticidas 233,6%

- fungicidas 584,5% - herbicidas 5.414,2% - tratores 389,1% [13]

Este documento critica a tendência de iniciar a tecnificação através de medidas e recursos mais caros, complexos e escassos, sem haver adotado e utilizado correta e previamente aquelas medidas e recursos que são de menor custo, mais simples e mais abundantes. É frequente encontrar culturas com

insuficiente quantidade de plantas e grande quantidade de ervasdaninhas, em cujos terrenos se fez grandes gastos de fertilização e irrigação, sem haver corrigido prévia ou paralelamente aqueles fatores restritivos. Também existem muitos produtores de leite que gastam grandes somas na

aquisição de rações e concentrados, sem haver eliminado previamente os endo e ectoparasitos dos seus animais ou sem melhorar suas pastagens, como formas de diminuir as despesas com as rações antes indicadas.

Neste documento se critica a atitude de considerar as tecnologias de ponta, os insumos e equipamentos modernos como únicas alternativas ou único recurso para tecnificar a agricultura; pelo fato de que são escassos e caros, eles deveriam ser os recursos complementares, depois de ter esgotado todas as alternativas de menor custo e menor dependência.

Se propõe esta inversão na ordem cronológica de tecnificação por múltiplos motivos, porém especialmente para que todos os agricultores tenham reais e efetivas oportunidades de iniciar a introdução de inovações, de modernizar-se e de desenvolver-se; do contrário, não se poderá falar em crescimento com

equidade, porque isto só será uma realidade quando todos tenham tais oportunidades.

Se sugere partir do que é possível fazer com os recursos realmente disponíveis e mais abundantes;

começar com aquelas inovações que para ser adotadas só requerem que os agricultores sejam

capacitados; depois de haver conseguido acumular alguns excedentes de produção e de renda, continuar com o que é mais escasso, mais caro e que depende de recursos externos. Se queremos ser coerentes com o postulado do crescimento com equidade e se não podemos oferecer tecnologias de ponta e insumos de alta produtividade a todos os agricultores porque não temos os recursos suficientes para fazê-lo, devemos

iniciar com tecnologias de baixo custo e menos dependentes de insumos externos. Depois que os

agricultores tenham adotado corretamente todas as tecnologias de baixo custo, seria até um contra-senso não potenciá-las ou não complementá-las com as tecnologias e insumos de maior custo, com o propósito de aumentar rendimentos e garantir melhores colheitas.

Seria uma ingenuidade pensar que se poderia abastecer as cada vez maiores metrópoles da América Latina, "alimentar" as agroindústrias e gerar os imprescindíveis excedentes exportáveis a custos competitivos sem usar fertilizantes, pesticidas, tratores, irrigação, etc. No entanto, pelo fato de que estes fatores externos são escassos e insuficientes para oferecê-los a todos os agricultores, com muito mais razão é necessário criar os pré-requisitos ou condicionantes para que tais fatores, quando estejam disponíveis, produzam todo o efeito potencializador que possuem; isto ocorrerá com maior eficiência se tais condicionantes (as alternativas tecnológicas incluídas no capítulo 5) precederem o uso dos fatores externos.

A título de exemplo:

i) a irrigação terá um grande efeito nos rendimentos se se semeia uma semente de boa qualidade, na época

e espaçamento adequado, se se elimina as ervas daninhas, se se fertiliza corretamente, etc.;

ii) um suplemento concentrado terá um efeito positivo (técnico e econômico) na produção de leite de uma

vaca de bom potencial genético, sadia, desverminada e alimentada com uma boa pastagem; com tais antecedentes ou pré-requisitos, provavelmente seria até um contra-senso não dar-lhe o referido suplemento concentrado, se o adicional de leite produzido resultar em uma relação custo/benefício favorável.

Aqui cabe perguntar: Como seria a agricultura latinoamericana se a maioria dos agricultores adotasse no

mínimo as tecnologias de baixo custo que não requerem de fatores adicionais aos que os agricultores já possuem? Em quanto aumentariam a produção e a produtividade? Quanto economizariam os governos e os

agricultores em créditos, em obras de irrigação e drenagem, em tratores e colheitadeiras, em terras, em animais e seus alimentos e em instalações, pelo simples fato de aumentar a produtividade dos fatores antes mencionados? Se aumentasse a produtividade destes fatores é evidente que os agricultores necessitariam adquiri-los em menor quantidade. Em princípio se se conseguisse multiplicar por dois os rendimentos de cada um destes fatores se poderia dividir por dois a necessidade de cada um deles; é com este pragmatismo que é necessário buscar a equidade, quando não se pode fazê-lo pela via cômoda e convencional de obter recursos adicionais.

Em quanto aumentaria a produção e se reduziriam os custos de produção (e por conseguinte aumentaria a renda) pelo simples fato de que os agricultores adotassem tecnologias elementares para eliminar os gastos

invisíveis e os custos ocultos, que são causados por ineficiências e subutilizações dos recursos já

disponíveis? O simples, porém infelizmente muito frequente, fato de não executar as atividades a tempo provoca prejuízos que jamais poderão ser recuperados; por exemplo: levar a fêmea ao reprodutor depois de haver perdido vários cios; vacinar os animais quando a enfermidade já chegou à comunidade; desverminar depois que os parasitas já fizeram um grande dano; capinar depois que as ervas daninhas já afetaram de maneira irreversível o rendimento da cultura; colher depois que grande parte da produção já está perdida, etc.

É absolutamente necessário aplicar corretamente as tecnologias, usar racionalmente os recursos produtivos, melhorar a administração da propriedade, utilizar parcimoniosamente os insumos e reduzir os gastos com investimentos. Tal necessidade se faz ainda mais imperiosa se se leva em consideração que temos que atuar num mercado internacional altamente competitivo, no qual participam países desenvolvidos que subsidiam fortemente seus agricultores, em circunstâncias que nossos países infelizmente não dispõem do poder político para impedir que eles o façam, nem do poder econômico para subsidiar nos mesmos níveis aos nossos agricultores.

Terceiro questionamento

Ao propor um modelo de desenvolvimento agropecuário menos dependente de fatores externos e ao sugerir que as próprias famílias rurais deveriam protagonizar a solução dos seus problemas, não se estaria dando a sensação de que os serviços de apoio ao agro e os agricultores mantêm recursos ociosos que estão sendo desperdiçados e que, portanto, não deveria alocar-lhes recursos adicionais? Não se estaria legitimando e contribuindo a que o Estado, que já destina recursos insuficientes ao setor agropecuário e faz muito pouco pela grande maioria dos agricultores, lhes ofereça e faça por eles cada vez menos? Pelo contrário, não deveria o Estado fortalecer as suas estruturas operativas de apoio ao meio rural e destinar recursos adicionais ao desenvolvimento agropecuário?

Comentário: Evidentemente, seria desejável que o Estado fizesse tudo o antes mencionado e muito mais;

que oferecesse mais terra, concedesse créditos adicionais a todos os agricultores, subsidiasse a agricultura, garantisse a comercialização a preços remuneradores, etc. Todavia, o Estado ainda que quisesse, não poderia fazer tudo isto em favor de todos; devido a que existe um evidente desequilíbrio entre as

múltiplas necessidades de um grande contingente de agricultores e as reconhecidamente reduzidas possibilidades do Estado em satisfazê-las.

Por este motivo, é necessário liberar o Estado daquelas ações delegáveis que os agricultores organizados podem assumir e permitir que o poder público se ocupe só daquelas que os produtores agropecuários não podem executar. Desta forma, o Estado poderia concentrar os seus esforços e recursos em algumas atividades estratégicas e executá-las de maneira realmente eficiente em favor de todos os agricultores. Entre estas atividades podemos mencionar: educação primária rural, geração e difusão de tecnologias, capacitação dos agricultores e execução de algumas obras de infraestrutura.

Se o Estado continuar fazendo aquilo que é prescindível em favor de uma minoria de agricultores, não disporá de tempo nem de recursos para fazer o que é imprescindível, em favor da totalidade dos produtores. Os recursos que o Estado aplica atualmente na execução de serviços delegáveis; na concessão de subsídios e subvenções destinados a corrigir as consequências de uma agricultura ineficiente; na importação de alimentos e na manutenção de instituições que gastam recursos, porém não produzem resultados, poderiam ser canalizados a programas de geração de tecnologias apropriadas e capacitação dos produtores. Com isto, os próprios agricultores se tornariam mais eficientes e rentáveis e consequentemente menos dependentes do paternalismo e dos subsídios (eliminada a causa desaparece o efeito).

Os agricultores organizados deveriam complementar as ações do Estado, facilitá-las e ajudar a torná-las mais eficientes, compartilhando com o governo os esforços em prol do desenvolvimento agropecuário. É necessário advertir que de pouco servirá diminuir a dependência que tem os agricultores dos recursos e serviços do Estado e permitir que, devido a sua fragilidade e desorganização, continuem expostos à excessiva dependência do sistema agroindustrial e comercial privado. Por este motivo, se insiste na necessidade de capacitar, sensibilizar e organizar aos produtores agropecuários para que constituam os seus

próprios serviços e desta forma diminuam, até onde seja possível, sua dependência de ambos (do

Estado e do sistema agroindustrial(49*) e comercial privado); é desejável que, na medida do possível, os próprios agricultores:

a) sejam os proprietários das agroindústrias (ainda que estas sejam familiares e/ou comunitárias) tanto

daquelas que produzem alguns insumos como daquelas que fazem a primeira etapa de processamento dos produtores que colhem;

b) sejam os comercializadores dos insumos que adquirem e dos excedentes que vendem. Quarto questionamento

Ao enfatizar a solução dos problemas internos das propriedades e comunidades rurais, não estariam sendo subestimados alguns fatores externos de fundamental importância para promover o desenvolvimento rural, tais como a posse da terra e a alocação de recursos governamentais para fortalecer os serviços agrícolas de apoio?

Comentário: No que se refere à posse da terra, a distribuição extremamente injusta deste fator de

produção na maioria dos países da América Latina por si só justifica o esforço em prol do melhoramento da situação vigente; especialmente se se considera que com frequência os grandes proprietários não exploram racionalmente a sua terra ou a mantém ociosa e com fins especulativos, enquanto muitos pequenos produtores não dispõem do mínimo indispensável para a sua própria subsistência. Em alguns casos, a superfície de terra dos minifundiários é tão reduzida que mesmo utilizando-a intensiva e racionalmente não lhes permitiria sair da marginalidade social na qual se encontram e requeririam de opções adicionais de emprego e de renda. Porém também é verdade que, em muitos casos os agricultores dispõem de uma razoável superfície de terra, têm acesso ao crédito e a outros fatores externos, suas propriedades são servidas por boas estradas e mesmo assim não produzem satisfatoriamente e não geram receitas suficientes.

Promover a distribuição da terra, mesmo que seja necessário e em muitos casos imprescindível, não será suficiente nem eficaz, se por falta de capacitação e de organização dos agricultores persistirem dentro das propriedades e comunidades profundas distorções na administração dos recursos, no acesso aos insumos, na produção e na comercialização (como as que aparecem no desenho no.4) . Em outras palavras, ambas reformas, a da posse e a do uso da terra são necessárias; todavia, quando este último não depende da primeira, não se justifica esperar por mudanças estruturais para iniciar a solucionar os problemas daqueles agricultores que não estão afetados pelo fator externo antes mencionado. Não deve pedir recursos adicionais quem previamente a isto não utilizou integralmente os recurso que possui.

No que se refere à alocação de maiores recursos governamentais para fortalecer a institucionalidade de apoio à agricultura, é evidente que eles são necessários. Porém, além dos acentuados déficits orçamentários dos governos, que limitam tal possibilidade, é necessário reconhecer que não é razoável destinar mais recursos se se permite que em tais instituições continuam ocorrendo graves distorções e deficiências. Frente a este paradoxo entre insuficiência de recursos por um lado e sua má utilização por outro, parece lógico e sensato outorgar absoluta prioridade à utilização eficiente e racional dos recursos disponíveis; só depois de ter utilizado plenamente os recursos adicionais, se poderá justificar a necessidade de auxílios externos. Fazer o contrário, significaria estimular a ociosidade e premiar a ineficiência.

Nos países desta Região, existem muito exemplos nos quais os governos concederam os recursos adicionais solicitados pelas instituições como necessários para melhorar o seu desempenho. Lamentavelmente, em muitos destes casos, os recursos foram aplicados na ampliação de suas estruturas operativas; na construção de sedes administrativas; na aquisição de veículos, computadores, processadores de textos e fax; na contratação de mais diretores e assessores; e apesar disto, lamentavelmente não houve melhoramento na eficiência e produtividade pessoal e institucional. Porque os recursos foram destinados para satisfazer as necessidades da instituição e dos seus funcionários (corporativismo); e não do público, em nome do qual tal instituição foi constituída.

Devido a que os recursos são realmente escassos e insuficientes, com mais razão deverão ser utilizados com racionalidade e eficiência. A concessão de maiores recursos governamentais para continuar "fazendo mais do mesmo", não parece ser a solução mais adequada; a alocação de recursos adicionais deveria estar

condicionada à eliminação das deficiências, ociosidades e desperdícios que continuam existindo dentro de

muitos organismos públicos. Normalmente existe uma excessiva ênfase e empenho em conseguir recursos adicionais para o desenvolvimento (caminho mais fácil), porém lamentavelmente é minúsculo o esforço para garantir (caminho mais difícil) que tais recursos sejam aplicados com parcimônia e racionalidade para melhorar a produtividade; e sem aumentá-la, qualquer adicional de recursos será irracional e artificial. Não se deve julgar as instituições pelo montante que elas dispõem para promover o desenvolvimento agropecuário, porém sim pelos benefícios concretos que proporcionam aos agricultores.

Quinto questionamento

A proposta de capacitar as famílias rurais, organizar as comunidades, utilizar racionalmente os recursos disponíveis, introduzir inovações de baixo custo e eliminar ociosidades, tem tal coerência que dificilmente poderia provocar desacordos. Se existe aceitação e um relativo consenso a respeito e se além do mais os seus componentes são suficientemente conhecidos, porque se "ressuscita" uma proposta antiga e se insiste em algo que já se conhece e que se sabe que deveria ser adotado?

Comentário: No contexto da dramática situação de endividamento dos países, de debilidade das suas

instituições e de pobreza da grande maioria dos agricultores da América Latina e Caribe, só uma proposta de baixo custo será capaz de compatibilizar os quatro grandes desafios que atualmente enfrenta o setor agropecuário (sustentabilidade, rentabilidade, competitividade e equidade) com o neoliberalismo que contribui a reduzir ainda mais os serviços e recursos que o Estado destina ao setor agropecuário. Esta proposta é antiga em sua concepção, porém moderna em sua adequação à atualidade latinoamericana, porque ela concilia as limitadas possibilidades do Estado com as urgentes necessidades dos agricultores. Por outro lado, o fato de que uma proposta seja sensata, que seja consensual, que seja antiga e conhecida, não é suficiente para solucionar os problemas existentes se ela não é adotada. Um pensador inglês afirmou que "o valor nutritivo de uma maça é zero, a menos que ela seja comida".

Por ser tão óbvias e elementares, se dá por certo que as propostas deste documento já estão sendo ou pelo