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COMO MELHORAR A RELAÇÃO INSUMO/PRODUTO E AUMENTAR OS LUCROS?

CAPITULO 11. COMO ENFRENTAR A ADVERSIDADE PRODUTIVA E A ESCASSEZ DE RECURSOS

6) Adotar medidas contra uma possível incidência de pragas e enfermidades nas culturas ou contra

11.10 COMO MELHORAR A RELAÇÃO INSUMO/PRODUTO E AUMENTAR OS LUCROS?

Os agricultores se queixam, com razão: que a relação insumo/produto na atividade agropecuária é cada vez mais desfavorável; que eles necessitam utilizar uma maior quantidade de insumos para obter a mesma quantidade de produto; que os preços dos insumos aumentam muito mais que os preços de seus produtos (porque existem demasiados elos no circuito industrial e comercial, antes e depois da etapa de produção propriamente dita); e que eles necessitam entregar mais quilos de produto para comprar uma mesma quantidade de insumo.

Como consequência destas condições desfavoráveis os seus lucros são insuficientes. Dentro da tendência neoliberal, talvez a única alternativa realista, é conseguir o aumento dos seus lucros como resultado da oferta de um maior e melhor excedente, da redução dos custos de produção e do aumento dos preços de venda. Através desta via realista, os agricultores ganharão mais dinheiro por aumentar a quantidade do excedente (volume de produção) e por melhorar o preço de cada quilograma vendido. Para que esta alternativa seja eficaz, é necessário que os próprios agricultores executem as 3 etapas do negócio agrícola; isto é, que eles mesmos se encarreguem da produção propriamente dita, mas também da etapa anterior e posterior ao processo produtivo.

Dito de outra forma, é necessário que se encarreguem das atividades "dentro da porteira" (produção) e "fora da porteira" (acesso a insumos, processamento e comercialização); só assim se apropriarão de uma percentagem mais alta e mais justa do preço final que os consumidores pagam pelo produto agrícola. Se eles se responsabilizarem apenas pelas atividades "dentro da porteira", os benefícios que estas produzem serão anulados pelas atividades "fora da porteira". Se eles se dedicarem somente a etapa de produção, as demais serão executadas pelos agentes intermediários, os quais se apropriarão dos excedentes que poderiam melhorar a renda dos produtores agropecuários(47*).

Para aumentar os seus ganhos, é desejável que os agricultores substituam até onde seja possível:

- o habitual e prejudicial procedimento de comprar insumos industrializados, no varejo, com alto valor agregado (e consequentemente a preços altos) e vender os seus produtos no atacado, na época de colheita, sem valor agregado (e consequentemente a baixos preços); por um

- novo procedimento no qual os agricultores produzam em seus sítios e comunidades parte dos insumos (com baixos custos) e vendam os seus produtos no varejo, fora de época de colheita, com algum valor agregado (a preços altos).

Em outras palavras, é necessário que os agricultores gastem menos no que compram e adicionalmente ganhem mais no que vendem; que gastem menos nas entradas e ganhem mais nas saídas; que comprem menos e vendam mais; que os insumos que entram na propriedade custem menos e os produtos que saem valham mais; porém os agricultores necessitam atingir os dois objetivos de forma simultânea, já que alcançar apenas um deles não é suficiente.

Para conseguir uma menor valorização das entradas e uma maior valorização das saídas é conveniente

que as famílias, os lares, as propriedades e as comunidades dos pequenos agricultores se transformem paulatinamente em suas agroindústrias, as quais deverão ser empregadoras da mão-de-obra familiar excedente, produtoras de insumos, processadoras de alimentos e incorporadoras de valor agregado. Isto lhes permitirá, por exemplo:

a) que em vez de comprar rações balanceadas adquiram as sementes dos seus componentes, produzam

estes ingredientes em suas propriedades e com eles fabriquem as rações domésticas; se não podem produzir tais componentes deveriam comprá-los no atacado diretamente dos produtores na época da colheita para reduzir seus custos; e b) que em vez de vender sua soja e milho na época de colheita, no atacado (e in natura) os transformem em suínos e estes em defumados e os vendam no varejo, com um mínimo de intermediação.

Ao propor que os agricultores realizem de forma eficiente as três etapas (antes, durante e depois da produção) do negócio agrícola, não significa que eles não devam integrar-se ao mundo moderno das cadeias agroindustriais e agroexportadoras; significa que devem integrar-se apenas naqueles elos que sejam

vantajosos e convenientes para os interesses dos agricultores (não dos industriais ou

exportadores); significa que devem eliminar aqueles elos que não lhes sejam convenientes; significa que alguns elos deveriam pertencer aos agricultores para que eles não necessitem estar sempre dependentes e subordinados a elos pertencentes às grandes corporações que fabricam insumos e processam suas colheitas.

Ao concluir, cabe fazer uma pergunta: Por que os preços que os agricultores recebem por seus produtos primários flutuam (leite, frutas, cereais, suínos, etc) e os preços que os consumidores pagam por seus derivados (leite em pó, frutas em conserva, farinha, presunto,etc) sempre sobem e jamais baixam?

Uma reflexão final....Sim, é possível!

Neste documento se tratou de demonstrar que: - é possível promover o desenvolvimento agropecuário sem

exclusões e sem protelações; isto é, que se pode fazê-lo em favor de todos os agricultores e de forma imediata.

- nos países da América Latina e Caribe temos um imenso contingente de recursos humanos desejosos de trabalhar, de superar-se e de progredir; temos a terra (geralmente fértil e barata); temos muitas tecnologias reconhecidamente eficazes; muitas vezes temos os recursos materiais; em muitas regiões temos as condições climáticas favoráveis (temperatura, luminosidade e precipitação pluviométrica) que nos permitem produzir biomassa de forma permanente e obter até três colheitas de grãos ao ano (a maioria dos países

desenvolvidos só pode obter uma colheita anual); e, muito especialmente, temos a urgente necessidade

de fazê-lo.

O que faz falta é levar à prática uma estratégia de desenvolvimento pragmática, mesmo que não seja a ideal; pois os agricultores não estão pedindo perfeccionismos inalcançáveis, eles necessitam com urgência de medidas que sejam compatíveis com as soluções que realmente possam adotar (não com as que estão fora do seu alcance).

Porém é necessário fazê-lo de imediato, nas adversas condições de hoje, com os recursos que estão disponíveis na atualidade e não com os que, talvez, tenhamos amanhã; porque o mais provável é que amanhã não teremos condições mais favoráveis, nem recursos em maior quantidade dos que temos na atualidade. Além do mais, é necessário fazê-lo com urgência, devido a que os atuais 59 milhões de latinoamericanos desnutridos necessitam alimentar-se hoje e não no futuro. Com tantas potencialidades humanas, tecnológicas e econômicas não parece lógico continuar dedicando tempo e esforços a identificar

debilidades e restrições, a buscar culpáveis, a formular justificativas e a pedir que outros solucionem

nossos próprios problemas; é necessário atuar e aproveitar as oportunidades existentes.

Quem deve formular e executar esta estratégia?

Pelas razões mencionadas nas páginas 139 a 141 (capítulo 12, comentário ao 6o. questionamento), agora mais do que antes o desenvolvimento agropecuário é um problema fundamentalmente (ainda que não

apenas) tecnológico e gerencial; consequentemente, deverá ser resolvido sob a orientação direta dos profissionais de ciências agrárias, especialmente os que atuam nas instituições de educação agrícola, pesquisa agropecuária e extensão rural; porque a agricultura contemporânea requer como absolutamente imprescindível dispor de boas tecnologias, de bons extensionistas, os que por sua vez exigem que as faculdades formem excelentes profissionais. No entanto, devido a magnitude do desafio não é suficiente contar apenas com o apoio dos executivos das três instituições recém-mencionadas.

É necessário o compromisso e a participação de todos os pesquisadores, docentes e extensionistas, porque: - É importante que os diretores dos organismos de pesquisa tomem a decisão de gerar tecnologias que respondam às circunstâncias reais (não ideais ou artificiais) de todos os estratos de agricultores de cada país; porém é imprescindível que cada um dos pesquisadores proporcione de imediato a contribuição pessoal que está dentro de suas possibilidades, em vez de seguir esperando por decisões superiores ou recursos externos.

- É importante que os diretores das faculdades de ciências agrárias adotem a decisão de formar profissionais mais criativos, inovadores, comprometidos, pragmáticos, realistas, práticos, porém é

imprescindível que cada um (sem exceção) dos docentes de cada faculdade adapte os conteúdos das suas

disciplinas, para que sejam mais pertinentes ao exercício profissional e mais adequados às necessidades e possibilidades da maioria dos agricultores. Nunca será demasiado reiterar: O maior potencial de

mudança e com maior efeito irradiador para o interior de todos os serviços agrícolas de apoio, está nas faculdades de ciências agrárias.

- É importante que os diretores dos serviços de extensão rural tomem a decisão de agilizar operativamente suas instituições e de adequar os conteúdos difundidos e os métodos empregados; porém é

imprescindível que o façam também todos e cada um (sem exceção) dos extensionistas e, muito

especialmente, os agentes locais de extensão.

Enfim, este desafio não é tarefa só para os executivos, o é também e muito especialmente para os

executores. Muitas das mudanças propostas neste documento podem ser adotadas pelos executores sem depender das decisões dos executivos; porém as decisões dos executivos de pouco servirão se não contarem com a ação comprometida de todos os executores que integram cada instituição. As mudanças deveriam vir de baixo para cima; de dentro para fora; e não tanto (ou não apenas) de cima para baixo e de fora para dentro.

Os pesquisadores, os docentes e os extensionistas fizeram muitíssimo em prol da agricultura comercial e de exportação; é necessário que continuem fazendo-o, porque a abertura dos mercados exige a contribuição eficiente dos grandes agricultores. Todavia, agora é fundamental que façam um esforço, ainda mais significativo, em prol dos pequenos e médios agricultores. Conseguirão fazê-lo na medida em que:

a) tenham o compromisso social e a humildade profissional de "fazer o possível, quando não possam fazer o

desejável".

b) sigam o sábio ensinamento do imperador romano Marco Aurélio: "Rogo a Deus que não me faça mudar

aquilo que não se pode mudar; que tenha a coragem de mudar o que deve ser mudado e ter a sabedoria para distinguir o que se pode mudar daquilo que não pode ser mudado".

Felizmente, é muito o que os próprios profissionais de base (não necessariamente os executivos) podem mudar; é necessário, no entanto, que o façam e que o façam todos(48*), que façam tudo o que podem, que o façam bem feito e que o façam já; porque tarde ou cedo terão que fazê-lo e o futuro oferecerá maiores oportunidades profissionais para os rápidos que para os lentos; terão êxito os que fizerem primeiro. É necessário sair do plano dos conceitos e passar ao plano das realizações concretas, porque cada minuto que passa é oportunidade que se perde, e esta muitas vezes já não se pode recuperar.

40. Se a terra é fator limitante, deverá priorizar-se a criação de animais menores (aves, peixes, ovelhas, cabras, abelhas, suínos, coelhos, etc) e obter deles altos rendimentos produtivos e reprodutivos. A escassez da terra será inversamente proporcional aos referidos rendimentos.

41. Esta distorção significa que ao fazer (o Estado) um grande esforço para conceder o crédito a um agricultor, se desperdiça a potencialidade e a oportunidade de introduzir inovações tecnológicas; com isto se perde em grande parte sua razão de ser e os principais motivos para que o Estado o conceda aos agricultores)

42.Quando o crédito foi abundante e subsidiado, às vezes atuou como um "desestimulador" da eficiência e um estimulador do consumismo tecnológico e do superdimensionamento dos investimentos.O Estado não tem capacidade financeira para sustentar no tempo os mecanismos artificiais compensadores das ineficiências do negócio agrícola

43. Um estudo realizado no Brasil indica que o montante de crédito rural oficial diminuiu de 20,830 bilhões de dólares em 1980 para 8,590 bilhões em 1993; e que nesses 13 anos a produção agropecuária aumentou em 44,6%, apesar de que nesse mesmo período a superfície cultivada baixou do índice 100 para 88,7; isto significa que aumentou a produção via incremento da produtividade, mesmo com redução do montante de crédito que o governo concedeu aos agricultores.

44.Adicionalmente esta alternativa tem um extraordinário efeito educativo e motivador, através do qual o próprio agricultor se dará conta que, se ele foi capaz de cultivar com racionalidade e eficiência uma superfície de 100 metros quadrados, porque não será capaz de fazê-lo em uma superfície de 1000 ou de 10.000 metros quadrados ou de fazê-lo em toda a área cultivada. Se foi capaz de fazê-lo com o milho, porque não poderá fazê-lo com o feijão, a soja ou com o amendoim?

45. é freqüente que os agricultores mal orientados comprem fórmulas compostas de fertilizantes que contêm N, P e K, em circunstâncias nas quais a cultura anterior foi uma leguminosa inoculada e em conseqüência, o solo provavelmente requer menos nitrogênio; ou que a mata foi recentemente derrubada e queimada e, nestas condições, o solo possivelmente tem suficiente potássio.

46. A titulo de exemplo, vender o feijão limpo, selecionado e empacotado em pequenos sacos de plástico diretamente aos consumidores proporcionará uma receita incomparavelmente superior que vender tal produto no atacado, ao primeiro intermediário que aparece no sítio, sem limpá-lo, classificá-lo e sem empacotá-lo.

47. De acordo com dados de 1990 da Associação Brasileira de Indústrias de Alimentos (ABIA), apenas 28% da receita total do negócio ou complexo rural é gerado dentro da propriedade e 72% fora dela, sendo 8% antes do processo produtivo e 64% depois da colheita.

48. Que todos o façam, porque ninguém deverá sequer correr o risco de omitir-se quer seja consciente ou inconscientemente, porque "a omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se constata; e o que facilmente se comete e dificilmente se constata, raramente se corrige. A omissão é o pecado que se faz não fazendo". Sermão da Primeira Dominga do Advento (1.650 Padre Vieira).

CAPITULO 12. QUESTIONAMENTOS SUSCITADOS POR ESTA