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Elaborar suas próprias rações, a partir de matérias primas que produzem ou que poderiam produzir em

CAPITULO 11. COMO ENFRENTAR A ADVERSIDADE PRODUTIVA E A ESCASSEZ DE RECURSOS

6) Elaborar suas próprias rações, a partir de matérias primas que produzem ou que poderiam produzir em

suas propriedades. Nas chácaras dos pequenos agricultores da América Latina se produzem, ou se poderiam produzir, matérias primas com as quais eles poderiam obter forragens e rações de excelente qualidade, tais como milho, sorgo, soja, alfafa, trevo, guandu, gliricidia, desmodium, centrosema, soja perene, algaroba, leucena, stilosantes, cana de açúcar, rami, mandioca, abóbora, batata doce, etc. Com algumas destas

espécies, os agricultores poderiam melhorar as suas pastagens monofíticas, aumentar sua capacidade de

suporte e melhorar seu valor nutritivo; outras lhes permitiriam complementar suas pastagens mediante produção de forrageiras para corte; e por último, certas espécies lhes possibilitariam a produção de suas próprias rações a nível de propriedade; comprando apenas pequenas quantidades de sais minerais e proteínas de origem animal (só para os monogástricos).

Estas rações caseiras podem ser de qualidade superior as industrializadas e seus custos são incomparavelmente mais baixos; quando são complementadas com alfafa verde ou por pastoreio com forrageiras rústicas e palatáveis, os gastos com a alimentação se reduzem de forma muito significativa. Se considerarmos que em certas criações, como a de suínos, a alimentação constitui 80% do custo total de produção, é evidente que comprar ou produzir as próprias rações determinará se o agricultor terá perdas

ou ganhos em sua atividade.

É inaceitável que os pequenos agricultores produzam algumas das valiosas matérias primas antes mencionadas (milho, sorgo, soja, alfafa, etc), as vendam in natura a preços baixos, e posteriormente comprem a altos preços as rações fabricadas, em grande parte com estes mesmos ingredientes. É necessário adverti-los que ao proceder desta maneira, provavelmente estão comprando uma ração que foi fabricada com os mesmos ingredientes produzidos pelos

próprios agricultores; ingredientes que, depois de fazer um longo percurso desde as suas propriedades de origem até o centro industrial, regressam devidamente processados e vendidos a preços elevados. Adotando este procedimento equivocado, os produtores não se dão conta

que estão compartilhando seus escassos ganhos com o comerciante que lhes comprou a matéria prima, com o industrial que a processou e com o intermediário que lhes vendeu a ração; e que além do mais, estão também pagando o frete de ida e volta, os impostos e outros gastos incorporados ao preço final da ração ou concentrado.

Mais dramático ainda é constatar que muitas vezes estes produtores necessitam recorrer aos agentes de crédito, endividar-se e pagar juros para comprar uma ração que, como se disse, muito provavelmente foi fabricada com os ingredientes produzidos em suas propriedades. Estas e outras distorções similares (cujas soluções poderiam e deveriam estar ao alcance dos agricultores) são importantes razões pelos quais os seus lucros são insuficientes. Se eles estivessem devidamente capacitados para fabricar tais rações em suas propriedades ou comunidades, economizariam os recursos que lhes permitiriam pagar, em curto prazo o custo do motor e do triturador necessários para moer os ingredientes. Uma boa capacitação (feita uma só vez) seria suficiente para emancipar os produtores da dependência prejudicial e desnecessária na aquisição de rações que se repete de forma rotineira, durante todas as suas vidas.

Como se vê, os recursos produtivos geralmente estão disponíveis em suas propriedades, as soluções existem e são eficazes; só falta capacitar aos agricultores e demonstrar-lhes que eles mesmos são capazes de solucionar os seus problemas, a partir do melhor uso dos seus próprios recursos.

11.6 O QUE FAZER PARA MELHORAR O POTENCIAL GENÉTICO DOS ANIMAIS?

Os pequenos agricultores normalmente têm poucos animais de produção, em virtude da insuficiência de recursos para adquiri-los em maior quantidade, da reduzida superfície de suas terras e da baixa capacidade de suporte de suas pastagens. Agrava esta situação o fato de que necessitam de um reprodutor e têm poucas fêmeas; por tal motivo geralmente existe um superdimensionamento do primeiro em relação com o número de fêmeas (por exemplo tem um reprodutor para cinco vacas, quando o ideal seria um para 25 ou 30 fêmeas). Em virtude deste superdimensionamento, os produtores contribuem, sem querer, para que a superfície de sua terra escassa seja ainda mais reduzida, porque o reprodutor ocupa o espaço e consome os alimentos que poderiam ser destinados a mais de uma fêmea adicional. O outro agravante é que tanto os reprodutores como as fêmeas geralmente são de baixo potencial genético e cada pequeno agricultor não pode ter um bom reprodutor. Uma alternativa seria a organização dos agricultores para que em conjunto adquirissem um reprodutor de melhor potencial, que possa atender a um número ideal de fêmeas pertencentes a vários integrantes do grupo; os agricultores deverão entender que lhes será muito mais econômico adquirir e alimentar a um único porém bom reprodutor, que comprar cinco reprodutores medíocres e alimentar cinco deles desnecessariamente. A segunda alternativa seria constituir um grupo para contratar os serviços de inseminação artificial (ou organizar o seu próprio serviço).

Com qualquer das duas alternativas se superaria o problema do superdimensionamento; ao eliminar o reprodutor individual, cada produtor poderia ter uma vaca adicional e, sobre tudo, melhoraria a qualidade genética do rebanho obtendo reconhecidas e indiscutíveis vantagens produtivas e econômicas. Infelizmente, a maioria dos produtores não adota estas soluções, não tanto por falta de condições econômicas para fazê- lo; e sim porque não estão convencidos sobre a importância de melhorar o potencial genético do seu rebanho e por desconhecimento sobre suas reais possibilidades de consegui-lo.

É conveniente reiterar que de pouco servirá que os produtores melhorem o potencial genético do seu gado, se antes desta medida eles não aumentarem a produção de forragens, se não produzirem as suas próprias rações, se não armazenarem forragem para épocas de escassez, se não desmamarem precocemente os terneiros, se não melhorarem a eficiência reprodutiva (antecipando a idade de reprodução, reduzindo os intervalos entre partos, aumentando o número de crias por parto e aumentando o número de animais desmamados) e se não vacinarem, mineralizarem e desparasitarem os seus animais.

Uma reflexão sobre os temas incluídos nos itens 11.5 e 11.6

Nestes dois itens foram incluídas algumas alternativas que permitiriam aos produtores pecuários aumentar a produção e a produtividade dos seus rebanhos, através da adoção de medidas compatíveis com os recursos que eles normalmente possuem. Não obstante, eles geralmente não o fazem, entre outras razões

porque não se dão conta das perdas que lhes ocasiona o fato de adotar métodos tradicionais de criação de animais. Também porque não lhes foi demonstrado que eles dispõem dos recursos necessários, que têm reais possibilidades de introduzir inovações de baixo custo e que são capazes de fazê-lo.

Com o propósito de motivar aos produtores para que adotem as medidas antes propostas, é útil fazer-lhes ver, entre outras coisas que:

a) Se uma vaca inicia a parir aos 42 meses podendo fazê-lo aos 28, se tem partos a cada 24 meses

podendo tê-los a cada 13 meses, e se o novilho leva cinco anos para chegar ao mercado podendo fazê-lo aos dois anos e meio, é evidente que o agricultor verá seus ganhos sensivelmente reduzidos; além do mais, necessitará mais terra e maior quantidade de alimentos para manter animais que durante um longo tempo consomem, porém virtualmente não produzem, ou produzem abaixo de suas potencialidades.

b) Se uma vaca produz três litros diários de leite durante 180 dias podendo produzir seis litros durante 300

dias, a renda diminui, já que ela produziu apenas 540 litros de leite por lactação, em circunstâncias que poderia ter produzido 1.800; Ademais, há uma capacidade ociosa correspondente a um fator de produção caro - como são as vacas - que aos produtores lhes custa muito adquirir. Se as vacas produzem pouco leite,

a prioridade não necessariamente deverá consistir em comprar mais vacas, mas sim em melhorar o desempenho produtivo e reprodutivo das já existentes, fundamentalmente com melhor

alimentação e cuidados sanitários; é necessário sensibilizar aos agricultores sobre a importância da produtividade e demonstrar-lhes que aumentar o número de vacas não é a única alternativa (nem a mais importante) para incrementar a produção de leite e melhorar os seus ganhos.

c) Se uma porca tem três partos em dois anos e consegue desmamar neste período apenas 15 leitões

podendo ter cinco partos e desmamar 35; se estes demoram 11 meses para chegar ao peso de mercado em vez de fazê-lo em 6 meses, é evidente que se produzirá desperdício de animais de produção, terra, instalações, mão-de-obra e, muito especialmente, do fator de maior custo que é a alimentação; porque as fêmeas deixaram de produzir 20 leitões e os 15 leitões desmamados consumiram recursos durante cinco meses adicionais, em cujo período não produziram ou o fizeram abaixo de suas potencialidades.

Muitas e reiteradas experiências têm demonstrado que para melhorar a produção pecuária não necessariamente se requer de grandes investimentos, nem de instalações muito sofisticadas, nem de animais de alto potencial genético, nem de transplante de embriões, nem de polivitamínicos ou suplementos de concentrados industrializados. Somente se consegue melhorar a alimentação (com componentes produzidos na propriedade), a sanidade e a reprodução.

11.7 O QUE FAZER PARA EVITAR RISCOS E INCERTEZAS?

As atividades agropecuárias estão sujeitas a riscos tais como a incidência de pragas e efermidades, as adversidades climáticas, as incertezas de preços e de comercialização, etc. É necessário que os agricultores diminuam as probabilidades de se ver afetados por aqueles riscos e incertezas que são evitáveis ou atenuáveis. Com tal propósito, poderiam adotar as seguintes medidas: