• Nenhum resultado encontrado

DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO: DA DEPENDÊNCIA AO PROTAGONISMO DO AGRICULTOR POLAN LACKI

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO: DA DEPENDÊNCIA AO PROTAGONISMO DO AGRICULTOR POLAN LACKI"

Copied!
80
0
0

Texto

(1)

DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO: DA DEPENDÊNCIA

AO PROTAGONISMO DO AGRICULTOR – POLAN LACKI

CAPITULO 1. CRESCIMENTO AGROPECUÁRIO COM EQÜIDADE E

NEOLIBERALISMO ECONÔMICO: DOS DITOS AOS FATOS

Os países da América Latina necessitam que todos os seus agricultores façam uma agricultura rentável e competitiva; não só por imperativos de justiça social, mas também porque a agricultura em sua globalidade tem potencialidades para oferecer uma contribuição muito mais significativa à solução dos grandes problemas nacionais.

No entanto, não poderá proporcionar tal contribuição enquanto a grande maioria dos agricultores da América Latina e o Caribe continuar praticando uma agricultura arcaica e rudimentar e cometendo algumas, várias ou todas as distorções que estão ilustradas no desenho no.4 deste documento. Porque as ineficiências de produção, gestão, comercialização de insumos e produtos ali indicadas, são as principais causas do subdesenvolvimento imperante no meio rural, o qual por sua vez contribui para o subdesenvolvimento nacional.

Enquanto os agricultores não puderem introduzir inovações para eliminar estas ineficiências e aumentar seus baixos rendimentos, será virtualmente impossível que se tornem rentáveis e competitivos. Agora que já não existem subsídios para compensar estas distorções, os agricultores terão que eliminá-las ou aceitar que elas os expulsem do campo.

No entanto, não é suficiente que tais inovações sejam apenas tecnológicas e que sejam introduzidas somente na etapa de produção propriamente dita.É necessário introduzir inovações tecnológicas, gerenciais e organizacionais e, além disso fazê-lo em todos os elos da cadeia agroalimentar; isto é no acesso aos insumos, na produção, na administração da propriedade, na transformação dos produtos e na comercialização dos excedentes; porque estes são os pré-requisitos para que eles se transformem em eficientes (ainda que sejam pequenos) empresários, capazes de obter insumos a preços mais baixos, de reduzir custos de produção, de melhorar a qualidade dos excedentes e de incrementar os seus preços de venda; e, como conseqüência da adoção destas medidas realistas, obter maiores receitas (ingressos, renda). A necessidade de que os agricultores sejam muito mais eficientes como requisito para se tornarem rentáveis e competitivos está fora de discussão; o problema reside em "como" e "com que" fazê-lo. Infelizmente, as tentativas feitas com tal propósito nos últimos 45 anos nos países da América Latina e Caribe, demonstraram que é virtualmente impossível consegui-lo, através do modelo convencional de desenvolvimento agropecuário; porque os governos, ainda que quisessem, não disporiam dos recursos na quantidade suficiente para oferecer todos os fatores clássicos de modernização (1*) à totalidade dos agricultores.

O problema central é que existe uma profunda contradição entre:

a) a urgência de tecnificar e modernizar a agricultura para aumentar a produção e a produtividade de todos os agricultores; e

b) a não disponibilidade de recursos para fazê-lo pela via convencional fortemente dependente dos

fatores

clássicos recém mencionados. Se os países têm o imperativo de que todos os seus agricultores se modernizem e se não dispõem dos meios convencionais para fazê-lo, é necessário que, no mínimo, os governos proporcionem aos agricultores os conhecimentos (tecnologia e capacitação) para que eles possam desenvolver-se prescindindo ou pelo menos diminuindo sua dependência:

- das nem sempre favoráveis nem oportunas decisões do governo; - dos insuficientes e muitas vezes ineficientes serviços do Estado;

- dos geralmente inacessíveis recursos externos à propriedade (crédito, tecnologias de ponta,insumos de alto rendimento, maquinaria sofisticada, etc.) (2*)

(2)

Se não se diminui a dependência destes fatores reconhecidamente escassos, o crescimento com equidade continuará sendo o que tem sido até agora, ou seja, seguirá sendo um simples postulado de boas intenções; e o modelo vigente continuará negando oportunidades de tecnificação e por tal motivo excluindo a mais de 90% dos agricultores da América Latina, de qualquer possibilidade de tornarem-se rentáveis e competitivos; condenando-os a que sigam no arcaísmo tecnológico,gerencial e comercial, ilustrado no desenho no. 4 e que dali sejam expulsos ao mundo da miséria das periferias das grandes cidades.

Nas atuais circunstâncias dos países da Região (neoliberalismo, enxugamento da máquina do Estado, restrição ao crédito, eliminação dos subsídios, etc), não existe qualquer possibilidade de que os agricultores possam desenvolver-se, se continua tentando fazê-lo através do referido modelo convencional; a equidade é incompatível com o modelo vigente. Insistir nele significaria seguir desperdiçando tempo e recursos cada vez mais escassos, criando falsas expectativas nos agricultores e postergando a solução dos angustiantes problemas deles e dos países.

No entanto, por imperativos econômicos, sociais, políticos e especialmente éticos, os governos não podem renunciar ao objetivo da equidade; isto significa que o Estado deverá adotar medidas que sejam capazes de compatibilizar as urgentes necessidades de uma enorme quantidade de agricultores com as cada vez mais limitadas possibilidades dos governos em satisfazê-las. Os governos estão sendo obrigados a oferecer oportunidades de modernização a todos os seus agricultores porque os países necessitam urgentemente:

a) aumentar a produção, a produtividade e a renda de todos os agricultores;

b) abastecer de alimentos a crescente número de habitantes urbanos a preços que sejam compatíveis

com o baixíssimo poder aquisitivo da maioria deles;

c) gerar excedentes agrícolas de melhor qualidade e menor custo, sem os quais não poderão:

- fazer economicamente viável o desenvolvimento das agroindústrias nacionais; - competir com êxito nos cada vez mais abertos mercados internacionais; - gerar as divisas necessárias para financiar as importações.

Se os governos não o fizerem estarão em grande parte comprometidos os esforços para promover o desenvolvimento nacional, porque na maioria dos países este depende muito estreitamente do desempenho da sua agricultura.

Esta modernização, no entanto, já não poderá ser conseguida pela via paternalista, fortemente dependente de crédito, subsídios e protecionismo. Isto significa que a partir de agora:

a) Agricultura rentável e competitiva terá que ser sinônimo de agricultura eficiente, no acesso

aos insumos, na produção, na administração da propriedade, no processamento e conservação dos produtos e na comercialização dos excedentes.

b) Só poderá ser rentável a agricultura que graças a sua eficiência: - reduza custos unitários de produção e

- incremente preços de venda dos excedentes. c) Só poderá ser competitiva a agricultura que: - melhore a qualidade dos excedentes e

- reduza custos de produção.

d) Só poderá existir equidade se oferece a todos os agricultores alternativas de modernização que sejam compatíveis com os recursos que eles realmente possuem, por escassos que sejam. Para a imensa maioria

dos agricultores só poderá haver equidade se lhes oferecem tecnologias de baixo ou custo zero que possam ser adotadas sem necessidade de recorrer a fatores externos, porque tal maioria simplesmente não pode adquiri-los.

e) Terão maior possibilidade de êxito econômico os agricultores que, além de produzir com muita eficiência,

se organizarem para fazer investimentos em conjunto e se encarregarem eles mesmos de uma maior parte das demais etapas da cadeia agroalimentar (ou negócio agrícola).(4*)

f) De pouco servirão as cada vez mais distantes e improváveis promessas de macrodecisões políticas de âmbito nacional se dentro das propriedades, por falta de adequadas medidas tecnológicas e gerenciais, os agricultores:

(3)

- continuarem obtendo tais excedentes com baixos rendimentos e consequentemente com altos custos unitários de produção;

- continuarem tendo grandes perdas na colheita e posteriores a ela; - continuarem vendendo os excedentes no atacado sem agregar-lhes valor e ao primeiro elo de uma longa cadeia de intermediários. Ainda que existissem subsídios, estes não seriam suficientes para corrigir as graves ineficiências e distorções que ocorrem nos distintos elos da cadeia agroalimentar (dentro e fora da propriedade).

g) Em grande parte, os insumos materiais que são insuficientes ou inacessíveis, terão que ser substituídos

por (ou potencializados com) insumos intelectuais (tecnologias apropriadas, capacitação e estímulos); os agricultores terão que utilizar integral e racionalmente seus recursos próprios e aplicar corretamente tecnologias que sejam compatíveis com tais recursos; ao otimizar o rendimento dos recursos que

possuem, estarão seguindo o caminho lógico para tornarem-se menos dependentes de recursos que não possuem.

h) O principal fator de produção será o conhecimento adequado e não tanto o recurso abundante.

Terão mais possibilidades de êxito os agricultores que saibam solucionar seus problemas e não tanto os que tenham com que fazê-lo; dispor de recursos materiais não será suficiente se os agricultores não tiverem os conhecimentos para aproveitar as potencialidades e oportunidades de desenvolvimento que existem em suas propriedades.

1.Créditos, insumos de alto rendimento, animais de alto potencial genético, equipamentos modernos, obras de infraestrutura, subsídios, garantias oficiais de preços e de comercialização, etc.

2.Esta proposta de menor dependência não significa que os fatores externos sejam desnecessários; não significa que os países poderão modernizar sua agricultura, sem decisões de governos, sem serviços do Estado e sem insumos e equipamentos modernos; seria irracional e ingênuo propor que no mundo moderno se faça uma agricultura rentável e competitiva sem irrigação, fertilizantes, maquinaria, etc. O que se advoga é proporcionar aos agricultores às condições descritas nos capítulos 4 e 5 deste documento para que eles possam começar a tecnificar as suas atividades mesmo que não tenham acesso, como de fato não o tem, a imensa maioria dos agricultores da América Latina, aos fatores externos de modernização antes mencionados.; só assim poderá haver equidade.

3.Se estima,baseando-se em fontes confiáveis, que na média dos países da América Latina, sequer 10% dos agricultores têm acesso a estes fatores de modernização, de forma eficiente, completa e permanente) 4. Como por exemplo: produzir em suas propriedades parte dos insumos; fazer o processamento primário das colheitas a nível de propriedade ou comunidade para incorporar-lhes valor; e comercializar os insumos e os excedentes em conjunto para fazê-lo com menor intermediação,

(4)

CAPITULO 2. EQÜIDADE E RENTABILIDADE: COM MAIS RECURSOS

OU COM MELHORES CONHECIMENTOS?

A profunda contradição que existe entre: a) ter a urgente necessidade de que todos os agricultores se modernizem; e b) não dispor no presente (e provavelmente em um futuro previsível) dos recursos para fazê-lo pela via convencional, nos conduz à óbvia necessidade de dotar os agricultores de conhecimentos, habilidades, destrezas e atitudes para que eles mesmos queiram, saibam e possam protagonizar a solução dos seus próprios problemas através de um modelo:

- mais endógeno, no sentido de que seja baseado no desenvolvimento dos recursos que os agricultores

realmente possuem (mão-de-obra, um pouco de terra e alguns animais) e não daqueles que

desejaríamos que possuíssem;

- mais autogestionário no sentido de que os próprios agricultores possam solucionar seus problemas, mesmo que não contem com decisões favoráveis e nem com serviços eficientes do Estado;

- mais auto-suficiente de modo que, parte dos recursos financeiros necessários para adquirir os insumos modernos, possam ser gerados nas próprias propriedades; e sobre tudo

- muito mais eficiente, no sentido de que os recursos próprios ou adquiridos produzam na plenitude de

suas potencialidades (5*); porque tal como o demonstra este documento, os baixíssimos rendimentos da

agricultura latino-americana são conseqüência, em grande parte do mau uso dos recursos disponíveis e da aplicação em forma equivocada de tecnologias que são inadequadas aos recursos existentes.

Neste modelo mais endógeno e mais autogestionário a equidade, a rentabilidade e a competitividade dos agricultores terão que passar obrigatória e inexoravelmente:

1- por uma forte introdução de "insumos intelectuais" para que os agricultores sejam muito mais eficientes nos aspectos produtivos, gerenciais e comerciais;

2- pela correta adoção de tecnologias que sejam poupadoras de fatores escassos e ocupadoras de fatores abundantes;

3- pela maior produtividade do homem e da terra, como formas de contrapor a insuficiência de recursos produtivos e de "produzir mais e melhor com menos recursos";

4- pela eficiente administração das propriedades para usar integral e racionalmente os recursos disponíveis e eliminar eventuais ociosidades e superdimensionamentos; estes dois últimos podem ser diminuídos na medida em que aumenta a produtividade e o rendimento dos fatores de produção;

5- pela diminuição no custo e na quantidade dos insumos, especialmente dos externos a propriedade; 6- pela redução nos custos unitários de produção e pelo melhoramento da qualidade dos excedentes (como consequência natural da correta adoção das cinco medidas anteriores);

7- pela diminuição das perdas durante e posteriores à colheita;

8- pelo processamento primário das colheitas, ainda que seja, em pequenas agroindústrias familiares ou comunitárias, com o fim de incorporar valor e conservá-las para poder vendê-las na entressafra, obtendo assim melhores preços;

9- pela redução dos elos da cadeia de intermediação (de insumos e produtos) com o propósito de diminuir o custo dos insumos e incrementar o preço dos excedentes.

Devido a eliminação dos subsídios, somente serão rentáveis aqueles agricultores que adotarem em forma

integral e correta estas nove medidas, porque só através delas poderão reduzir ao mínimo a quantidade

e o custo das entradas e simultaneamente, incrementar ao máximo, a quantidade, a qualidade e o preço das saídas. Fora deste caminho, difícil porém realista, parece que nas atuais circunstâncias não existe outra alternativa para tornar economicamente viáveis a todos os agricultores.

Pelas razões já analisadas, este conjunto de indispensáveis mudanças já não poderá ser tão fortemente dependente das ineficazes e inacessíveis medidas que tradicionalmente os agricultores solicitam aos governos(créditos abundantes com prazos mais longos e juros mais baixos; mais subsídios; mais anistias e refinanciamentos de dívidas, maiores impostos para as importações; protecionismos e taxas compensatórias; taxa de câmbio mais favorável frente ao dólar; etc). Ainda que estas medidas sejam desejáveis, infelizmente é cada vez menos provável que os governos as adotem.

Por tal motivo, os agricultores terão que mudar a sua pauta de reivindicações e exigir que os governos lhes proporcionem o conhecimento, porque este é o mais importante fator de desenvolvimento no mundo moderno; entre outras razões porque:

(5)

- em muitos casos, o fator conhecimento é suficiente para solucionar os problemas mais imediatos dos agricultores;

- O referido fator é o único que tem o grande mérito de torná-los menos dependentes do fator mais escasso(capital) e de outros fatores que os governos não lhes proporcionam e provavelmente não

lhes proporcionarão (créditos, subsídios, etc). Em suas reivindicações os líderes sindicais deverão

outorgar menos ênfase em solicitar aqueles fatores que contribuem a perenizar a sua dependência de decisões, serviços e recursos externos; e outorgar mais ênfase em exigir os conhecimentos, porque estes são os únicos que lhes permitirão emancipar-se das dependências externas. O fator conhecimento (tecnologias apropriadas, capacitação, etc) lhes daria as condições para que aplicassem integral e corretamente as nove medidas recém mencionadas e ao fazê-lo tornar-se-iam:

a) mais eficientes, mais auto-suficientes, mais autodependentes e mais autogestionários na solução dos seus próprios problemas; e

b) consequentemente muito menos dependentes de subsídios, créditos e outras decisões e serviços do Estado. A comparação entre os desenhos no.4 e no.8 confirma este postulado.

A agricultura dos tempos modernos já não pode estar submetida a improvisações emergenciais; a correção das suas ineficiências e distorções já não pode continuar esperando pelos cada vez mais improváveis artificialismos efêmeros que dependem de recursos que os agricultores não possuem e de serviços estatais aos quais eles não têm acesso.

A agricultura é uma atividade econômica e como tal só poderá sustentar-se se é rentável; e para que isso seja possível deverá ser encarada com uma visão empresarial. A forma profissional e empresarial de fazer agricultura requer que os agricultores tenham melhores conhecimentos, habilidades, aptidões e destrezas; porque estas lhes proporcionarão a auto-suficiência técnica e especialmente a autoconfiança anímica para

que eles mesmos possam assumir o protagonismo na solução de seus próprios problemas.

É necessário proporcionar-lhes os conhecimentos para que possam solucionar os seus próprios problemas, de forma mais endógena e autogestionária, pelas seguintes razões:

1. As distorções produtivas, gerenciais e comerciais ilustradas no desenho no. 4, cujas correções não necessariamente dependem de decisões externas nem de recursos adicionais, causam muitíssimo mais

dano econômico aos agricultores que a falta de leis, de decisões políticas,de crédito, de subsídios e de

protecionismo; além do mais a correção das referidas distorções está ou deveria estar ao alcance dos próprios agricultores; enquanto que as decisões e recursos externos não estão ao alcance deles; isto sugere que é mais frutífero e pragmático enfatizar os fatores controláveis pelos agricultores que os

incontroláveis por eles.

2. Os governos dos endividados países da América Latina e Caribe não dispõem dos recursos em quantidade suficiente:

a) para enfrentar os subsídios que os poucos países desenvolvidos concedem aos seus agricultores; (6*)

b) para fabricar ou importar os insumos e maquinaria, em quantidade suficiente para proporcioná-los à totalidade dos agricultores;

c) para financiar as caras obras de infra-estrutura (irrigação, drenagem, armazenagem, etc);

d) para outorgar a todos os agricultores o crédito que seria necessário para financiar os insumos, as maquinarias e custear as políticas oficiais de garantias de preços mínimos e comercialização.

É por esta razão de fundo, que as boas intenções das pessoas que propõem modernizar a agricultura especialmente através de ajudas exógenas, continuam permanecendo como boas intenções, porque não existem recursos nem agilidade institucional para levá-las à prática. De pouco serve adotar

boas decisões políticas se não existem abundantes recursos financeiros para transformar as

intenções em realidades. Onde obter os recursos para chegar à equidade (oferecer os fatores exógenos a 100% dos agricultores), se na atualidade sequer 10% dos produtores tem acesso aos referidos fatores?

(6)

3. Os fatores externos pelos quais os agricultores esperaram durante as últimas décadas, mesmo que sejam sempre desejados e às vezes desejáveis; ainda que sejam facilitadores e aceleradores de inovações tecnológicas, nem sempre são imprescindíveis nem tão eficazes como pensam as pessoas que não conhecem outras alternativas de tecnificação.

Inumeráveis experiências têm demonstrado que, mesmo quando estes fatores não estão disponíveis: a) é perfeitamente possível começar (7*) a modernizar a agricultura e que depois que isto ocorra;

b) é possível gerar nas propriedades, parte dos recursos que são necessários para adquirir aqueles insumos externos requeridos somente nas etapas mais avançadas de modernização; com a única condição de que se lhes proporcionem as tecnologias e a capacitação para que os produtores possam fazê-lo com os recursos que já possuem.

Trabalhos de pesquisa agropecuária e numerosas experiências de campo têm demonstrado que para melhorar a sua produção e produtividade, os pequenos agricultores não necessariamente precisam adotar,

desde o princípio, as chamadas "tecnologias de produto", as que para ser aplicadas dependem de

fertilizantes sintéticos, pesticidas e equipamentos caros e escassos. Tais pesquisas e experiências demonstram que a grande maioria dos agricultores necessitam em primeiro lugar, das chamadas "tecnologias de processo ou de conhecimento" que estão incorporadas ao desenho no. 6, como por exemplo: rotação de culturas, diversificação, execução das atividades em forma correta e no momento adequado, espaçamento ideal de semeadura, eliminação oportuna das ervas daninhas utilizando mão-de-obra familiar ou animais de tração, redução das perdas pós-colheita, manejo dos animais, etc.

Estas tecnologias de processo têm a vantagem que para ser aplicadas não necessitam de crédito nem de insumos de alto custo e, consequentemente poderiam estar ao alcance dos agricultores de escassos recursos; elas apenas exigem conhecimentos.

Ao cometer o crônico equívoco de priorizar o uso das "tecnologias de produto", sem haver adotado previamente as "tecnologias de processo", os insumos externos caros e escassos se desperdiçam, não produzem os resultados que potencialmente poderiam e deveriam produzir(8*) e, por fim frustram os esforços que governos e agricultores fazem para modernizar a agricultura.

Muitos projetos de modernização da agricultura fracassam porque:

a) se superestima a importância e eficácia dos fatores externos à propriedade e a comunidade rural, e se

subestima a importância de capacitar aos agricultores para que possam desenvolver-se com menor

dependência dos fatores externos;

b) se propõem aos agricultores que se desenvolvam através de um modelo não viável, porque dependente de recursos sempre insuficientes, geralmente inexistentes e muitas vezes desnecessários;

c) se solicita aos agricultores que façam o que não podem e com recursos que não possuem, em vez de pedir-lhes que façam o que podem com os meios que estão disponíveis em suas propriedades;

d) se espera que o Estado solucione os problemas dos agricultores, em vez de proporcionar-lhes os conhecimentos para que eles mesmos possam fazê-lo;

e) se ignora o fato de que as melhores decisões políticas de pouco servem se dentro das propriedades e comunidades não existe eficiência tecnológica e racionalidade gerencial;

f) e finalmente se tenta corrigir com subsídios e outros artificialismos efêmeros e excludentes as ineficiências dos distintos elos da cadeia agroalimentar, em vez de oferecer conhecimentos aos agricultores para que eles reduzam seus custos de produção e incrementem seus preços de venda; e, através destas duas medidas realistas, se tornem menos dependentes dos inacessíveis e insuficientes subsídios.

(7)

Estes e muitos outros erros cometidos nos últimas décadas estão demonstrando que a solução dos principais problemas dos agricultores não necessariamente depende de decisões políticas, nem sempre depende da alocação de recursos adicionais; mas sim depende especialmente de que os agricultores tenham conhecimentos para saber adotar em forma correta medidas tecnológicas e gerenciais que sejam

compatíveis com os recursos que possuem.

Quando o êxito da agricultura dependia fortemente dos fatores externos antes mencionados e quando nos organismos (9*) nos quais se decidiam os créditos e os subsídios, realmente existiam recursos para fazê-lo, era lógico que as decisões fossem políticas, que fossem adotadas na capital do país e formuladas

pelos profissionais urbanos que lá trabalhavam. Porém, agora que o êxito da agricultura depende da

eficiência tecnológica e gerencial, as decisões deverão ser técnicas, deverão ser adotadas nas

propriedades e comunidades rurais e consequentemente deverão ser formuladas e executadas pelos profissionais agrários; estes ao dominar os temas de tecnologias agropecuárias e administração rural,

são os que têm (ou deveriam ter) a auto-suficiência técnica e a autoconfiança anímica para conseguir que os agricultores adotem de forma correta as nove medidas indicadas neste documento; porque são estas medidas realistas as que têm o mérito de ser passíveis de ser adotadas por todos os agricultores e de ser

eficazes na solução dos problemas cotidianos da grande maioria deles.

No próximo capítulo se fará um diagnóstico, sem eufemismos, sobre os seguintes temas:

- quais são os problemas reais (não os aparentes) da grande maioria dos agricultores da América Latina; - quais são as causas elimináveis que originam tais problemas;

- quais são seus problemas solucionáveis;

- quais são as necessidades mais imediatas (não os desejos) desses agricultores para que eles possam solucionar os seus problemas.

Sublinhamos intencionalmente alguns vocábulos deste último parágrafo com o propósito de indicar que muitos projetos de modernização da agricultura tem fracassado por tentar: solucionar os problemas aparentes em vez de solucionar os problemas reais; remover causas não controláveis em vez de eliminar as controláveis; tentar resolver problemas não solucionáveis em vez de resolver os solucionáveis; e finalmente satisfazer aos agricultores no que eles solicitavam em vez de proporcionar-lhes o que necessitavam.

c) se solicita aos agricultores que façam o que não podem e com recursos que não possuem, em vez de

pedir-lhes que façam o que podem com os meios que estão disponíveis em suas propriedades;

d) se espera que o Estado solucione os problemas dos agricultores, em vez de proporcionar-lhes os

conhecimentos para que eles mesmos possam fazê-lo;

e) se ignora o fato de que as melhores decisões políticas de pouco servem se dentro das propriedades e

comunidades não existe eficiência tecnológica e racionalidade gerencial;

f) e finalmente se tenta corrigir com subsídios e outros artificialismos efêmeros e excludentes as

ineficiências dos distintos elos da cadeia agroalimentar, em vez de oferecer conhecimentos aos

agricultores para que eles reduzam seus custos de produção e incrementem seus preços de venda; e, através destas duas medidas realistas, se tornem menos dependentes dos inacessíveis e insuficientes subsídios.

Estes e muitos outros erros cometidos nos últimas décadas estão demonstrando que a solução dos principais problemas dos agricultores não necessariamente depende de decisões políticas, nem sempre depende da alocação de recursos adicionais; mas sim depende especialmente de que os agricultores tenham

conhecimentos para saber adotar em forma correta medidas tecnológicas e gerenciais que sejam

compatíveis com os recursos que possuem.

Quando o êxito da agricultura dependia fortemente dos fatores externos antes mencionados e quando nos organismos (9*) nos quais se decidiam os créditos e os subsídios, realmente existiam recursos para fazê-lo, era lógico que as decisões fossem políticas, que fossem adotadas na capital do país e formuladas

pelos profissionais urbanos que lá trabalhavam. Porém, agora que o êxito da agricultura depende da

eficiência tecnológica e gerencial, as decisões deverão ser técnicas, deverão ser adotadas nas

(8)

profissionais agrários; estes ao dominar os temas de tecnologias agropecuárias e administração rural,

são os que têm (ou deveriam ter) a autosuficiência técnica e a autoconfiança anímica para conseguir que os agricultores adotem de forma correta as nove medidas indicadas neste documento; porque são estas medidas realistas as que têm o mérito de ser passíveis de ser adotadas por todos os agricultores e de ser

eficazes na solução dos problemas cotidianos da grande maioria deles.

No próximo capítulo se fará um diagnóstico, sem eufemismos, sobre os seguintes temas: - quais são os problemas reais (não os aparentes) da grande maioria dos agricultores da América Latina;

- quais são as causas elimináveis que originam tais problemas; - quais são seus problemas solucionáveis;

- quais são as necessidades mais imediatas (não os desejos) desses agricultores para que eles possam solucionar os seus problemas.

Sublinhamos intencionalmente alguns vocábulos deste último parágrafo com o propósito de indicar que muitos projetos de modernização da agricultura tem fracassado por tentar: solucionar os problemas

aparentes em vez de solucionar os problemas reais; remover causas não controláveis em vez de eliminar as controláveis; tentar resolver problemas não solucionáveis em vez de resolver os solucionáveis; e finalmente satisfazer aos agricultores no que eles solicitavam em vez de proporcionar-lhes o que necessitavam.

5.(A necessidade de contar com recursos externos é inversamente proporcional à eficiência e a racionalidade com que o agricultor utiliza os recursos internos da propriedade; mais eficiência produz menos dependência e vice-versa.)

6. Só em 1992, tais países concederam aos seus agricultores subsídios no valor de US$ 356 bilhões; para efeito comparativo é interessante mencionar que o montante atual da dívida externa dos 33 países da América Latina e Caribe, é aproximadamente 438 bilhões de dólares.

7. A comparação entre as figuras 2 e 6 corrobora esta afirmação.

8. O fato de fazer uma agricultura de monocultura, mais química que biológica, sem diversificação, nem rotação de culturas, está exigindo a incorporação de crescentes quantidades de fertilizantes sintéticos e de pesticidas, com o inconveniente de que estes são cada vez menos eficazes e menos eficientes; esta é uma importante razão pela qual a relação insumo/produto é cada vez mais desfavorável para o agricultor, porque este se vê obrigado: a) a adquirir uma quantidade cada vez maior de insumo para obter a mesma

quantidade de produto colhido; e b) entregar uma maior quantidade de produto para adquirir a mesma quantidade de insumo.

(9)

CAPITULO 3. OS GRANDES PROBLEMAS DOS PEQUENOS

AGRICULTORES

Na América Latina, mais de 13,5 milhões de pequenos agricultores vivem uma realidade produtiva e comercial similar a que aparece no desenho no.4 [1]. Eles representam 78% do total das unidades de produção agropecuária desta Região [2]. Esses agricultores enfrentam múltiplos problemas e dificuldades, os quais para efeitos didáticos classificamos em duas categorias:

a) problemas externos: aqueles que se originam fora das propriedades e comunidades, ou cuja solução não

depende ou está fora do controle dos agricultores;

b) problemas internos: os que se originam dentro das propriedades e comunidades, e cuja solução está (ou

poderia estar) ao alcance das famílias rurais.

3.1 PROBLEMAS EXTERNOS

Os principais problemas externos são os seguintes:

a) Ausência de políticas agrícolas claras e estáveis.

b) Na formulação das políticas globais de desenvolvimento os governos discriminam a agricultura; e na

formulação das políticas agrícolas, discriminam os pequenos produtores agropecuários e especialmente as mulheres agricultoras.

c) As políticas agrícolas são definidas em forma centralizada e vertical, sem considerar as reais necessidades

dos pequenos agricultores e sem levar em conta se eles estão em condições ou não de levá-las à prática; os agricultores não têm canais para encaminhar suas demandas nem têm força política para reivindicar que elas sejam atendidas.

d) A terra é insuficiente, de má qualidade e localizada em áreas marginais; além disso, muitas vezes os

camponeses não detém os respectivos títulos de posse.

e) Os recursos de capital, tais como maquinaria, instalações e animais de trabalho e produção, são de

acesso muito limitado para os pequenos agricultores.

f) Os serviços agrícolas de apoio são insuficientes em sua cobertura e ineficientes em seu funcionamento,

com o que excluem a grande maioria dos produtores agropecuários e não respondem as suas necessidades concretas.

g) O crédito rural oficial é escasso e burocratizado; a ele não tem acesso a grande maioria dos agricultores

e muito menos as agricultoras.

h) As tecnologias agropecuárias em grande parte são inadequadas para as circunstâncias específicas dos

pequenos agricultores; agrava esta situação o fato que, quando são adequadas, não chegam aos seus destinatários, em virtude das evidentes e lamentáveis debilidades dos serviços de extensão rural.

i) Os insumos industrializados são caros, os preços de venda da produção são baixos e a comercialização é

instável, com o que se origina uma relação insumo/produto desfavorável.

j) O poder aquisitivo da maioria dos consumidores urbanos é baixo, este fato limita a expansão do mercado

(10)

k) As restrições, subsídios e protecionismos impostos pelos países desenvolvidos dificultam as exportações e

estimulam as importações de alimentos a preços subsidiados, prejudicando duplamente os produtores nacionais.

l) A contínua baixa no câmbio real(dólar x moedas nacionais) estimula a importação e desestimula a

exportação de produtos agrícolas, ambas prejudiciais aos agricultores.

m) Os pagamentos correspondentes ao serviço da dívida externa e outras formas de exportação de capitais,

limitam as possibilidades dos governos de alocar recursos adicionais ao desenvolvimento nacional em geral e ao desenvolvimento do setor agropecuário em particular.

n) Existe uma permanente transferência de recursos do setor rural-agrícola ao setor urbanoindustrial.

Como é fácil constatar, os problemas externos antes mencionados são reais e incidem negativamente no desenvolvimento agropecuário. Infelizmente suas soluções dependem de fatores que estão fora do

controle dos agricultores e alguns deles até dos próprios governos. É improvável que os agricultores

consigam solucioná-los, a menos que através de um processo de organização canalizem suas demandas e obtenham o poder político para reivindicá-las.

3.2 PROBLEMAS INTERNOS

Além dos problemas externos antes mencionados, os pequenos agricultores têm também crônicos e gravíssimos problemas internos, gerados dentro das suas propriedades e comunidades. Ao contrário dos problemas externos, que têm sido objeto de permanentes e profundos estudos, os problemas internos têm sido minimizados e ignorados. É lamentável que sua importância tenha sido subestimada porque:

- sua eliminação poderia minimizar em grande parte os problemas externos ou reduzir sua importância relativa;

- e sua solução está ou poderia estar ao alcance dos próprios agricultores, se o Estado lhes oferecesse o apoio mínimo que reconhecidamente está dentro de suas possibilidades proporcionar.

Os problemas internos mais importantes são os seguintes:

a) Em virtude de que não se oferecem aos agricultores oportunidades de desenvolver o seu potencial

humano e elevar sua autoconfiança e desejo de superação, os produtores geralmente nem sequer estão conscientes de que eles mesmos poderiam solucionar muitos dos seus problemas produtivos e econômicos;e que em suas propriedades estão disponíveis os recursos mínimos para começar o seu autodesenvolvimento.

b) Os pequenos agricultores não estão capacitados para identificar as causas internas (geralmente de

difícil percepção, porém de fácil eliminação) que originam os seus problemas; ao não conhecê-las ou ao subestimar a sua importância, não se preocupam em eliminá-las ou atenuá-las; em vez disso se dedicam a identificar as causas externas, a corrigir conseqüências (de fácil percepção, porém de difícil solução) e a buscar em vão agentes também externos que lhes ajudem a solucionar os seus problemas; quer dizer,

deixam de fazer o que podem por tentar fazer o que não podem.

c) Os pequenos agricultores também não estão treinados para administrar as suas propriedades com

eficiência; utilizar plena e racionalmente os recursos mais abundantes, economizando os mais escassos; introduzir corretamente tecnologias apropriadas e menos dependentes de insumos externos; aumentar rendimentos por superfície e por animal; produzir maiores e melhores excedentes para o mercado; agregar valor aos produtos; e reduzir custos unitários de produção.

d) Tampouco estão organizados para adquirir os insumos e outros fatores de produção, nem para

comercializar seus excedentes em condições mais favoráveis. Estas circunstâncias mantêm o círculo vicioso, no qual a agricultura ineficiente não gera os recursos necessários para aumentar a sua renda (receita). Na falta desta, os agricultores não podem comprar alguns insumos externos que são necessários para modernizar a agricultura, melhorar a capacidade produtiva e gerar renda adicional.

(11)

É evidente que estas distorções não ocorrem por culpa dos agricultores ou porque eles são resistentes às mudanças, mas sim:

i) por não ter-lhes sido oferecidas alternativas tecnológicas e gerenciais compatíveis com os recursos que

efetivamente possuem; e

ii) por não ter sido treinados adequadamente para que utilizem racionalmente tais recursos, adotem corretamente as referidas alternativas tecnológicas, organizem as suas comunidades e, com estas

medidas, solucionem os seus problemas mais imediatos. Para reafirmar a importância destes problemas

internos e sua forte e crucial incidência negativa na renda das famílias rurais, a seguir se analisará quais

são os procedimentos que adotam os agricultores, da porteira para dentro e da porteira para fora.

3.2.1 O QUE ACONTECE NA ETAPA ANTERIOR AO PROCESSO PRODUTIVO PROPRIAMENTE DITO?

Os pequenos agricultores compram no varejo os poucos insumos que adquirem, o fazem de forma

individual, em pequenas quantidades, adquirindo produtos processados com alto valor agregado. Além

disso, compram a crédito e do último elo de uma longa cadeia de intermediação. É o vendedor quem fixa o preço, pesa o produto, faz os cálculos; enfim, ele é o protagonista da transação e os agricultores se mantêm numa postura de passividade e subordinação, sem nenhuma condição para negociar melhores preços.

Muitas vezes, estimulados pelo aparato publicitário e comercial, compram produtos desnecessários, outras vezes os compram em quantidades excessivas (10*) Em outras ocasiões gastam seus escassos recursos adquirindo insumos cujos sucedâneos poderiam produzir a nível de propriedade (fertilizantes químicos em vez de adubos orgânicos, concentrados industrializados em vez de forragens leguminosas produzidas na própria propriedade, etc). Outras vezes compram produtos inadequados para as suas necessidades, adulterados, ou com data de vencimento já expirada.

Com freqüência adquirem maquinaria desnecessária ou superdimensionada para sua pequena escala de produção e fazem investimentos que, técnica ou economicamente, não se justifica fazê-los em forma

individual.

Como conseqüência pagam por tais fatores preços muito superiores aos que poderiam e deveriam pagar. Isto ocorre devido a que todos os procedimentos que eles adotam (ver o desenho no.1) contribuem para que os preços sejam muito altos. Assim, os pequenos agricultores gastam mal os seus escassos recursos ao aumentar desnecessariamente os custos dos fatores ainda antes de iniciado o processo produtivo. Posteriormente os seus custos unitários de produção aumentarão ainda mais, em virtude das distorções

produtivas e gerenciais analisadas no próximo item.

3.2.2 O QUE ACONTECE DURANTE O PROCESSO PRODUTIVO?

Por falta de tecnologias apropriadas e por não estar capacitados para aplicá-las corretamente, muitos pequenos agricultores adotam procedimentos produtivos e gerenciais rudimentares, similares aos que aparecem no desenho no.2, como por exemplo:

- não preparam o solo no momento oportuno e em forma adequada;

- usam sementes de má qualidade e as semeiam fora de época e com espaçamento inadequado (por falta de teste de germinação e regulagem das plantadeiras);

- não efetuam os trabalhos agrícolas em forma correta e na época oportuna; - não fazem rotação de culturas com leguminosas inoculadas ou com pastagens;

- não adotam medidas elementares (de baixo ou custo zero) para conservar o solo e melhorar a sua fertilidade;

(12)

- desperdiçam o esterco e queimam os restos de culturas e outros dejetos orgânicos;

- ainda que disponham de abundante mão-de-obra familiar e de animais de tração não eliminam as ervas daninhas no momento oportuno;

- por falta de conhecimentos elementares sobre administração rural, não fazem um uso ótimo dos seus recursos, não diversificam as atividades produtivas e não planejam adequadamente as atividades para distribuí-las durante todo o ano.

Por falta de conhecimentos (e não tanto de recursos) subutilizam os fatores produtivos disponíveis em suas propriedades (terra, mão-de-obra familiar, animais de produção e trabalho, etc); contraem dívidas para comprar maior número de animais de produção, em circunstâncias nas quais normalmente a prioridade não seria possuir mais animais, e sim melhorar o seu manejo e produzir mais forragens para alimentá-los adequadamente, de modo que os animais já existentes produzam na plenitude de suas potencialidades. Além disso, utilizam insumos caros em excesso e os aplicam em forma incorreta ou fora de tempo (por exemplo, aplicam fertilizantes compostos, sem fazer análise prévia para conhecer as reais necessidades do solo, ou efetuam aplicações exageradas de pesticidas quanto a freqüência ou a quantidade). Também sofrem inaceitáveis perdas de produção agrícola durante o processo produtivo, na colheita, no transporte e no armazenamento, ocasionadas por manejo inadequado ou por pragas e doenças.

Na América Latina se perde aproximadamente 40% da produção agrícola potencial [3], em circunstâncias de que grande parte de tais perdas poderiam ser evitadas através de tecnologias de reconhecido baixo custo

e fácil aplicação. Igualmente, sofrem perdas na produção pecuária potencial (menor número de partos e

de animais desmamados; menor produção de leite; baixo desfrute; alongamento desnecessário da idade de abate; mortalidade; etc.). Estas perdas poderiam ser evitadas se os agricultores melhorassem a alimentação do seu rebanho com forragens produzidas na propriedade, adequassem o manejo dos animais, melhorassem a higiene e aplicassem vacinas e antiparasitários.

Como conseqüência deste conjunto de distorções (cujas causas são fáceis de evitar, porém seus efeitos são difíceis de corrigir), os rendimentos por unidade de terra e de animal são muito baixos;

o excedente produzido para o mercado é escasso e de qualidade inferior; e os custos unitários de produção, que já haviam sido afetados pelas razões mencionadas no item 3.2.1, aumentam ainda mais.

É interessante realçar que muitas das distorções aqui analisadas não necessariamente ocorrem por

insuficiência de recursos,mas sim porque os agricultores não possuem conhecimentos para que os fatores de produção já disponíveis aumentem a sua produtividade ou rendimento. Por exemplo: muitas vezes a produtividade da terra é baixa porque o agricultor não sabe aplicar algumas tecnologias de baixo ou custo zero; a produtividade da mão-de-obra familiar é baixa por esta mesma razão e também porque os agricultores não planejam nem diversificam adequadamente as suas atividades para distribuí-las ao longo do ano; os animais produzem pouco leite, carne e lã e parem e desmamam poucos animais porque estão qualitativa e quantitativamente mal alimentados e porque o seu manejo sanitário e reprodutivo é inadequado; as culturas têm baixos rendimentos porque não se conserva o solo, porque não se incorporam a palhada e o esterco, porque se semeia em época e com espaçamento inadequados, porque não se eliminam oportunamente as ervas daninhas, etc.

É fácil constatar que a correção destas distorções não sempre nem necessariamente depende de decisões políticas de alto nível nem da alocação de recursos adicionais; elas poderiam ser eliminadas ou diminuídas se os agricultores conhecessem alternativas tecnológicas compatíveis com os seus recursos e se recebessem capacitação para adotar corretamente tecnologias mais produtivas e menos custosas. Isto

significa que, por falta de tecnologias adequadas e de capacitação, eles gastam desnecessariamente mais do que deveriam gastar e produzem menos do que poderiam produzir.

(13)

Nesta etapa, e novamente devido a que os pequenos agricultores não estão suficientemente capacitados nem organizados, ocorrem as distorções ilustradas no desenho no.3, as que se analisam a seguir.

Seus excedentes, que além de pequenos são de má qualidade e foram produzidos com altos custos unitários, são vendidos como produtos primários (sem valor agregado), no atacado (11*), em forma individual, ao primeiro elo de uma longa cadeia de intermediação que compra na propriedade (provavelmente o mesmo comprador que lhes vendeu os insumos e lhes concedeu o crédito informal). Além disso, devido a urgência em obter dinheiro para pagar compromissos adquiridos na etapa de produção e ao não dispor de instalações para armazenar as suas colheitas, vendem a totalidade da sua produção de uma só vez, na pior época do ano; porque o fazem na época da colheita ou antes dela, momento no qual todos querem vender e aparentemente poucos querem comprar. Por esta razão os preços baixam.

Tal como sucedia na etapa anterior ao processo produtivo propriamente dito (item 3.2.1), aqui também todos os procedimentos adotados atuam contra os agricultores. Naquela etapa (3.2.1) todos os procedimentos contribuíam para que eles pagassem preços muito altos pelos insumos; nesta etapa (3.2.3) todos os procedimentos contribuem, sem exceção, a que obtenham preços mais baixos na venda dos seus excedentes. Nesta etapa, é o comprador quem fixa o preço e as condições de pagamento, avalia e define a qualidade do produto, pesa, faz os cálculos, etc.; e os agricultores outra vez mantêm sua postura de passividade e subordinação; quer dizer, não têm nenhum poder de negociação. A relação é muito desigual porque se trata de muitos agricultores desorganizados, que tentam vender a uns poucos

compradores organizados, em um momento (época de colheita) na qual geralmente a oferta é superior a

demanda.

Em tais condições:

a) Ao haver escassez de produção, os preços sobem para os consumidores, porém não necessariamente

para os produtores, porque a produção geralmente é adquirida pelos intermediários antes que os preços se elevem.

b) Ao haver excesso (12*) de produção, os preços baixam para os agricultores, porém não necessariamente

para os consumidores, especialmente se estes produtos passam por algum processo industrial que lhes agrega valor (muitas vezes diminui o preço do porco vivo nas propriedades, porém nunca diminui o preço do presunto nos supermercados).

Em ambos os casos, é o sistema agroindustrial e comercial que processa e distribui a produção e, portanto, se beneficia da grande parte dos ganhos que deveriam e poderiam ser dos agricultores. Se estes estivessem organizados poderiam postergar a venda de uma parte da sua colheita, incorporar valor aos seus produtos através de processamento primário a nível familiar ou comunitário (seleção, classificação, limpeza, debulhamento, transformação, conservação, secagem, embalagem, etc.) e poderiam reduzir o número de elos de intermediação. Se aplicassem apenas estas três medidas, aumentariam os preços de venda dos seus produtos.

3.2.4 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS FATORES INTERNOS QUE CONDICIONAM O DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO

A partir do que foi analisado neste capítulo e está ilustrado no desenho no.4, pode-se concluir o seguinte:

1) Se por falta de capacitação e organização os agricultores compram insumos e equipamentos a preços

muito altos, às vezes em quantidades excessivas e adquirem produtos prescindíveis ou superdimensionados; se adotam tecnologias inadequadas; se desperdiçam insumos e subutilizam equipamentos caros; se desperdiçam os recursos mais abundantes que possuem em suas propriedades; se obtém baixos rendimentos por unidade de terra e de animal; se produzem com altos custos unitários; se sofrem perdas durante e depois da colheita; se não incorporam valor a seus produtos; se os vendem ao primeiro elo de uma longa cadeia de intermediação e, em conseqüência a preços baixos; enfim se acontece tudo isto é

evidente que não podem ter ganhos suficientes porque estes dependem dos custos de produção (os

(14)

quais devido às referidas distorções, são muito baixos). Se eles perdem ou deixam de ganhar nos custos de

produção e nos preços de venda, a sua renda não melhorará e eles não disporão de recursos para: a) comprar alguns bens que são realmente imprescindíveis (tais como sementes melhoradas, inoculantes,

vacinas, parasiticidas, ferramentas, etc.);

b) fazer investimentos produtivos; e

c) melhorar o bem estar familiar. Este é o problema de fundo dos pequenos produtores rurais; é necessário

e urgente romper este círculo vicioso porque...

2) Se persistem as distorções internas nas três etapas mencionadas nos itens 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3 (que

geralmente são subestimadas), mesmo que as restrições externas incluídas no item 3.1 (que geralmente são superestimadas) sejam eliminadas, será muito difícil melhorar a renda dos agricultores e fazer viável o seu desenvolvimento econômico e social. Enquanto prevaleçam as distorções ilustradas no desenho

no.4, de pouco servirá o empenho que façam os agricultores para obter mais terra, mais crédito, mais animais, mais subsídios, mais maquinaria, mais infraestrutura, mais tecnologia sofisticada, etc. Especialmente se considerarmos que a eliminação das distorções do desenho no.4 não necessariamente depende dos componentes (de alto custo) indicados na parte inferior do desenho

no.9; e que depende muito especialmente dos componentes (de baixo custo) ilustrados na parte superior do desenho no.9. Ante tal situação e considerando que os recursos (dos agricultores e dos governos) são escassos, é evidente que antes de oferecer-lhes os recursos adicionais é necessário capacitar os agricultores para que utilizem integral e racionalmente os recursos que já possuem; do contrário, é provável que se contribua a agravar o subaproveitamento ilustrado no desenho no. 2.

Outra prioridade para viabilizar economicamente aos pequenos agricultores é reduzir os custos desnecessários e as perdas que ocorrem nas três etapas antes descritas; especialmente porque esta redução depende de conhecimentos tecnológicos e gerenciais (fatores de baixo custo) e não tanto da alocação de recursos adicionais; isto é, depende de fatores que são ou poderiam ser manejáveis e solucionáveis pelos

próprios agricultores.

3) A existência dos problemas externos antes mencionados, cuja solução está fora do alcance imediato dos agricultores, não pode e não deve ser motivo para que eles não solucionem os problemas internos, quando isto esteja (e geralmente está ou deveria estar) dentro das suas possibilidades imediatas de fazê-lo; especialmente, quando a solução de muitos dos problemas internos não necessariamente depende da solução dos problemas externos.

Como se pode constatar, muitos dos problemas dos agricultores estão principalmente dentro das suas propriedades ou em suas proximidades (dentro e fora das porteiras); é ali também onde se originam muitas das suas causas. Por estas duas razões, é ali onde se deve encontrar as soluções e dali deverão sair os

recursos para alcançá-las. Estas soluções serão realmente eficazes na medida em que os agricultores se

tornarem eficientes em todos os elos da cadeia agroalimentar; se eles comprarem, produzirem, processarem e comercializarem com eficiência.

4) Por todas as razões até aqui mencionadas, as ações em prol o desenvolvimento agropecuário deverão começar pela solução dos problemas internos, em base aos recursos que os agricultores realmente

possuem em suas propriedades (não em base aos que não possuem); e através da iniciativa e do esforço das próprias famílias. Cumprida esta etapa, poderão avançar em forma gradual e organizada até a solução dos problemas externos, baseando-se em recursos e ações também externas. Só assim todas as famílias rurais terão reais possibilidades de desenvolver-se e se poderá atingir o crescimento com equidade. Será sempre muito mais frutífero e estimulante começar pelos problemas solucionáveis em vez de frustrar-se ao dar prioridade aos problemas não solucionáveis.

Como se vê:

a) A proposta de começar pela solução dos problemas internos não é uma questão de opção, mas sim

uma necessidade e uma condição para fazer exequível o desenvolvimento de todos os agricultores. Se se continua outorgando prioridade à solução dos problemas externos, o crescimento seguirá sendo

(15)

excludente, porque não haverá recursos em quantidade suficiente para proporcioná-los à totalidade dos produtores agropecuários;

b) O dilema, por tanto, não está entre começar pelos problemas internos ou pelos externos; o dilema está

entre começar o desenvolvimento de forma endógena ou simplesmente condenar a imensa maioria dos agricultores a que continuem subdesenvolvidos.

c) Finalmente, as soluções exógenas, quando necessárias, não deveriam ser buscadas exclusivamente no

Ministério da Fazenda, no Congresso Nacional ou no Banco Central; elas deveriam ser procuradas, muito especialmente, nas Faculdades de Ciências Agrárias, nos institutos de pesquisa agropecuária e nos serviços de extensão rural; porque é lá que estão os instrumentos factíveis e eficazes (conhecimentos), através dos quais os agricultores poderiam incrementar os atuais rendimentos médios da agricultura latinoamericana, que são os seguintes:

No próximo capítulo se indicará que os problemas recém descritos são solucionáveis; e se proporá algumas medidas pragmáticas e realistas que os governos poderiam adotar (não para solucionar com paternalismo os problemas dos agricultores), mas sim para proporcionar-lhes os instrumentos que requerem para que eles

mesmos saibam e possam resolver os seus próprios problemas e satisfazer as suas necessidades.

10. É freqüente que o agricultor necessite vacinar sua única vaca e a vacina seja vendida em frascos de 20 doses; em tais condições desperdiça 19 doses ou não compra tal insumo e consequentemente não protege o seu animal.

11.No item 3.2.1 se indicava que os agricultores são "castigados" nos preços dos insumos, porque os compram no varejo, em pequenas quantidades, com alto valor agregado e os adquirem do último elo da cadeia de intermediação. Agora se indica que ao vender os seus excedentes continuam sendo castigados porque vendem no atacado, sem incorporar valor e o fazem com o primeiro elo da cadeia de intermediação. Isto confirma que os agricultores sempre estão em desvantagem frente ao circuito industrial e comercial; quando compram os insumos pedem que lhes cobrem menos ou perguntam quanto vão lhes cobrar, porém quando vendem pedem que lhes paguem mais ou perguntam quanto vão lhes pagar.Quando vendem os seus excedentes é o comprador quem impõe o preço; quando compram insumos não é o comprador e sim o vendedor quem impõe o preço; isto significa que os agricultores nunca podem impor preços nem na venda de seus excedentes, nem na compra dos insumos.

12. Este "excesso" costuma ser magnificado pelas autoridades governamentais para demonstrar à opinião pública o acerto e o êxito se suas políticas agrícolas. Os intermediários se aproveitam desta aparente supersafra para reduzir ainda mais os preços que pagam aos agricultores.

(16)

CAPITULO 4. ESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO MAIS

ENDÓGENO E AUTOGESTIONÁRIO

Existem múltiplas propostas para conseguir que os agricultores se tornem rentáveis e competitivos. Todavia, nenhuma delas será eficaz enquanto continuar vigente a realidade ilustrada no desenho no.4 e os baixíssimos rendimentos e renda que tais distorções acarretam (13*). Enquanto ambos persistirem, de pouco servirão os artifícios efêmeros tais como subsídios ou protecionismos. É por esta razão básica que a única via realista para alcançar a rentabilidade e a competitividade é através da introdução de inovações tecnológicas e gerenciais; para que os agricultores se tornem mais eficientes e elevem sua própria produtividade e os rendimentos dos escassos recursos que possuem (se são escassos com maior razão é necessário que sejam mais produtivos).

A abrupta retirada dos subsídios (que no passado asseguravam de forma artificial a rentabilidade, mesmo quando a agricultura fosse ineficiente) e a necessidade de enfrentar com êxito os cada vez mais abertos e competitivos mercados internacionais, exigem que os agricultores se tornem muito mais eficientes. Só através da eficiência poderão obter excedentes de melhor qualidade e produzir mais quilos de produto, não só por unidade de mão-de-obra, de terra e de animal, como também por unidade de crédito, de trator, de insumos, de energia, bem como por unidade de tempo. Na medida que cada um destes fatores for mais produtivo, os agricultores necessitarão dispor de uma menor quantidade dos mesmos e consequentemente gastarão menos em investimentos e se tornarão menos dependentes do crédito rural.

Tudo isto contribuirá para que reduzam custos e se tornem mais competitivos, diminuindo, em vez de aumentar as suas necessidades de capital e de subsídios. Fora desta via realista, será difícil encontrar soluções para uma agricultura que infelizmente já não recebe subsídios e que além do mais está sendo obrigada a competir com a agricultura subsidiada dos países desenvolvidos; a partir de agora, só poderá

ser rentável e competitiva a agricultura que for eficiente para incrementar a produtividade e os rendimentos de todos os fatores de produção.

Se os governos não estão em condições de proporcionar a todos os seus agricultores as decisões favoráveis, os serviços eficientes e os recursos abundantes, para que eles possam desenvolver-se pela via clássica de forte dependência externa, devem oferecer-lhes no mínimo os três componentes que analisaremos a seguir.

1. Geração de tecnologias apropriadas

Sem prejuízo de que a pesquisa agropecuária continue gerando tecnologias avançadas (14*) para uma agricultura empresarial moderna que tem o imperativo de competir nos mercados internacionais, é necessário que ela faça um esforço similar em prol dos pequenos agricultores. Para estes últimos, as tecnologias devem ser adequadas às adversidades físico-produtivas (15*), e a escassez de insumos e recursos de capital, porque são estas circunstâncias as que caracterizam a 78% dos agricultores desta Região. Eles necessitam de tecnologias de menor risco, menos exigentes em insumos, energia e capital e mais intensivas em mão-de-obra; tecnologias que substituam, até onde seja possível, capital (fator mais escasso) por trabalho (fator mais abundante); que sejam de baixo custo, fácil aplicação e menor dependência de insumos externos (16*) que enfatizam fatores (sementes por exemplo) que com um custo muito baixo produzem grande impacto nos rendimentos; que priorizem aqueles fatores que sendo de baixo custo (inoculantes) permitam aos agricultores tornarem-se menos dependentes daqueles que são de alto custo (fertilizantes nitrogenados sintéticos); que priorizem a eliminação das causas em vez de corrigir as conseqüências; que utilizem equipamentos mais simples e de menor tamanho para que sejam adaptados a escala de produção dos pequenos agricultores; e finalmente que sejam visivelmente vantajosas e eficazes na solução dos problemas produtivos (e também econômicos) dos agricultores.

Ao dispor de tecnologias com tais características, todos os agricultores teriam reais oportunidades de

começar a tecnificar as suas atividades produtivas, a aumentar a sua produção e incrementar a sua renda;

inclusive aqueles que se desempenham dentro da adversidade e da escassez antes mencionadas. Com esta renda adicional (e não necessariamente com o crédito oficial) poderiam adquirir aqueles fatores externos que são realmente necessários para atingir novos melhoramentos tecnológicos (vacinas, parasiticidas, fertilizantes, etc.).

(17)

Além da pesquisa tradicional (por produto e por disciplina), se deveria investigar em sistemas integrados

e diversificados de produção agrícola, florestal e pecuária; estes ao serem autosustentáveis e de menor

risco, são mais adequados às circunstâncias dos pequenos agricultores. A pesquisa deveria gerar

inovações tecnológicas que se adaptem às circunstâncias normalmente adversas dos agricultores e de seu meio físico, em vez de exigir que sejam o homem e o meio físico os que se adaptem artificialmente a elas. Em fim, a pesquisa deveria gerar tecnologias que permitam aos

agricultores fazer a transformação da deprimente realidade produtiva ilustrada no desenho no.2 para a florescente prosperidade do desenho no.6; e que lhes permita fazê-lo com minimização de dependências, custos e riscos. Além disso, tal transformação deveria ser conseguida fundamentalmente a base do uso dos recursos que realmente possuem em suas propriedades e, consequentemente, com menor dependência dos geralmente inacessíveis fatores externos indicados na parte inferior do desenho no.9. Se a pesquisa não gerar tecnologias com as características antes mencionadas,simplesmente os pequenos agricultores não poderão tecnificar as suas explorações, aumentar seus rendimentos, reduzir seus custos, elevar seus ingressos e romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento. No entanto, de pouco servirá gerar tecnologias adequadas se não se adota a medida decisiva que se propõe a seguir.

2. Capacitação de todos os membros das famílias rurais

A premissa básica deste documento é que só os próprios agricultores podem promover o seu desenvolvimento; outros agentes ou fatores, apenas podem contribuir para que eles o façam. Todavia, devido a sua insuficiente capacitação, na atualidade os agricultores não estão em condições de fazê-lo. A conclusão lógica é que não haverá desenvolvimento, a menos que se forme e capacite as famílias rurais, para que elas queiram (estejam motivadas), saibam e possam solucionar os seus próprios problemas. Qualquer projeto que não priorize o desenvolvimento das capacidades dos agricultores, estará condenado ao fracasso; como de fato tem fracassado, por este mesmo motivo, muitos projetos de alto custo executados nesta Região.

A ênfase que se atribui ao recurso humano como o mais importante fator de desenvolvimento e a necessidade de capacitá-lo, se deve à seguinte justificativa: ele é o recurso mais abundante, o que custa menos (tem o menor custo de oportunidade) e o que oferece o maior potencial de crescimento e desenvolvimento. Os outros fatores além de escassos e caros têm um limite de crescimento, a partir do qual se tornam inócuos ou até prejudiciais, como por exemplo o excesso de revolvimento do solo ou a aplicação exagerada de fertilizantes e pesticidas.

Portanto, é imprescindível capacitar a todos os membros das famílias, com os seguintes propósitos:

a) Liberar o seu imenso potencial latente de desenvolvimento.

b) Ampliar os seus conhecimentos, habilidades e destrezas com o propósito de que estejam em efetivas

condições de introduzir inovações tecnológicas, gerenciais e organizacionais, em todos os elos da cadeia agroalimentar. A ampliação destes conhecimentos, habilidades e destrezas deve ter o duplo propósito de acelerar o ritmo na adoção de tecnologias e elevar o grau de correção e de eficiência na aplicação das mesmas.

c) Torná-los mais capazes para transformar realidades adversas e para protagonizar a solução de seus

próprios problemas, com menor dependência de ajuda externa; colocar em marcha as forças e potencialidades produtivas e de desenvolvimento das famílias, propriedades e comunidades rurais. A

capacitação é o fator externo que tem o grande mérito de libertar o agricultor da dependência dos outros fatores externos; e nisto reside a sua extraordinária importância estratégica, especialmente quando os fatores externos são reconhecidamente escassos, insuficientes e inacessíveis.

d) Elevar a produtividade da mão-de-obra familiar (homens, mulheres e jovens). Esta é a maneira mais

inteligente de contrapor a escassez de recursos, inclusive de mão-de-obra; a sua produtividade aumentará na medida em que todos os integrantes da família rural tenham os conhecimentos que são necessários para incrementar os rendimentos de todos os demais fatores de produção. Em algumas zonas rurais já se começa a sentir claramente também a escassez de mão-de-obra. Em tais circunstâncias, e a título de exemplo: se

Referências

Documentos relacionados

47 Maria José Pinheiro Corrêa – “Sistemas integrados de base ecológica para a agricultura familiar do estado do Maranhão” - Campus São Luís 48 Maria

Na apresentação dos dados estatísticos, ficou demonstrada à todos os participantes a dimensão da pesquisa, abrangendo o setor produtivo como um todo, enfocando a produção

ambiance, audace, avidità, lavoro, certitude, ambiance, audace, avidità estime, tenacité, forza, joy, imperium, pienezza, avidità, azione, certitude ambiance, audace, avidità,

Mova a alavanca de acionamento para frente para elevação e depois para traz para descida do garfo certificando se o mesmo encontrasse normal.. Depois desta inspeção, se não

CLÁUSULA VIGÉSIMA TERCEIRA - A apresentação das faturas pela CONTRATADA ao CONTRATANTE mensalmente, o valor da fatura da mensalidades dos usuários inscritos a cada

potencial de sistemas cooperativos de dados como as horas populares (HP) da ferramenta Google Maps, para prever os custos referentes às externalidades do sector

Distribuição percentual dos valores de recurso aprovado durante a vigência do Projeto e os valores repassados, segundo fonte financiadora (Projeto Vigisus e Teto Financeiro

Seguir uma política de promoção interna não é tarefa fácil. Isto exige, antes de tudo, uma sistemática de avaliação de desempenho. Além disso, teremos o problema de