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Alguns países da América Latina

A bioenergia têm se tornado em um foco de interesse para os governos de diversos países no mundo, para investidores privados, para agricultores e para o público em geral, especialmente por ser una oportunidade de redução das emissões de gases de efeito estufa.

Vários países na América Latina têm políticas de fomento à produção de bioenergia, utilizando matérias primas e resíduos disponíveis em seu território. Utilizadas de forma ambiental, social e economicamente sustentável, estas opções energéticas representam boas oportunidades para o desenvolvimento local e para diversificar as matrizes energéticas locais e nacionais.

No entanto, o aproveitamento energético do biogás está em sua infância no continente latino-americano. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e, em menor grau, os

Nationally Appropriate Mitigation Actions (NAMA) dos acordos internacionais de clima sob

gestão da ONU são vistos como fundamentais para o fortalecimento desta atividade no continente (CARVALHO et al., 2016).

5.5.1 Chile

O Chile está tentando inserir em sua matriz energética uma maior participação de fontes renováveis de energia não convencionais. O objetivo para o ano 2020 é atingir até 20% da matriz com tais fontes (FAO, 2013).

O Chile é um país importador de recursos energéticos, cujos altos preços têm incrementado os custos marginais de geração de energia elétrica e o preço da eletricidade. O país, que é membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem um dos preços da eletricidade mais altos da América Latina; eles são superiores à média do resto de países da OCDE.

Entre as medidas para incentivar as fontes renováveis de energia não convencionais foram propostas: (i) políticas de longo prazo diferenciadas para cada uma das fontes – solar, eólica, bioenergia, pequenas centrais hidrelétricas, energia geotérmica e energia maremotriz; (ii) licitações por grupos de fontes renováveis; (iii) novas linhas de crédito, com financiamento de órgãos internacionais; (iv) disponibilização de uma plataforma georeferenciada que identifica locais adequados para a instalação de projetos envolvendo estas fontes; e (v) subsídios para projetos piloto que permitam recolher experiências e gerar maior conhecimento sobre as fontes de energia incentivadas.

5.5.2 Uruguai

No Uruguai, em 1º de outubro de 2002 foi aprovada a Lei 17.567, que fomenta o desenvolvimento dos biocombustíveis:

Art. 1° - É declarada de interesse nacional a produção em todo o território do país, de combustíveis alternativos, renováveis e substitutos dos derivados do petróleo, elaborados com matéria nacional de origem animal ou vegetal.

Art. 2° - O Poder Executivo, através do Ministério da Indústria, Energia e Mineração, do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, do Ministério da Habitação, Ordenamento do Território e Meio Ambiente, junto com os representantes da Administração Nacional de Combustíveis, Álcool e Portland, analisarão a viabilidade, os requerimentos, exigências e o regime jurídico aplicável para o desenvolvimento da produção, distribuição e o consumo de biodiesel no país. Art. 3° - O Poder Executivo pode exonerar total ou parcialmente, de todo tributo que cobram aos combustíveis derivados do petróleo, até cem por cento (100%) do combustível alternativo elaborado por derivados de matéria prima nacional de origem animal ou vegetal. No ano 2006 se estabelecerão as Diretrizes de Estratégia

Energética pelo Poder Executivo, com a finalidade de estabelecer um Plano Energético Nacional abrangente e de longo prazo.

Em novembro de 2007, foi promulgada a Lei Nº 18.195, com o objetivo de fomentar a produção, a comercialização e a utilização de agrocombustíveis com matérias primas nacionais. No ano seguinte, foi publicado o Decreto N° 523/008, que regulamenta aspectos relacionados com os agrocombustíveis.

Ainda em 2008, a Direção Nacional de Energia (DNE), pertencente ao Ministério da Indústria, Energia e Mineração, propôs ao poder executivo políticas energéticas de curto, médio e longo prazo e um plano estratégico baseado em quatro eixos: diretrizes definidas pelo Estado, com a participação de agentes privados; diversificação da matriz energética (fontes e fornecedores); promoção da eficiência energética; e garantia de acesso universal de todos os setores sociais à fontes de energia de boa qualidade.

Em 2010, o governo uruguaio formou a Comissão Multipartidária do Setor Energético. Chegou-se a um consenso com todos os partidos políticos do país com representação parlamentar sobre a necessidade e relevância de se ter esta política energética e seu correspondente plano estratégico.

Das metas de curto prazo da política energética uruguaia para 2015 destacam-se: (i) a participação das fontes renováveis deve atingir 50% energia primaria produzida no país; (ii) fontes renováveis não convencionais, como a energia eólica, resíduos de biomassa e micro- geração hidráulica devem ser responsáveis por, pelo menos, 15% da geração de energia elétrica; e (iii) ao menos 30% dos resíduos agroindustriais e urbanos do país devem ser utilizados para gerar diversas formas de energia, transformando um passivo ambiental em um ativo energético.

6 CADEIA DE VALOR NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS COMO

VETOR ENERGÉTICO NO BRASIL

Conforme ilustrado na Figura 6.1, há vários tipos de agentes que compõem a cadeia de valor na produção de biogás como vetor energético: produtores de biogás a partir dos vários tipos de substratos, fabricantes de equipamentos, empresas de engenharia, empresas de consultoria, instituições de pesquisa e vários níveis de governo (instituições dos governos federal, estadual e municipal).

Figura 6.1 Agentes que atuam na cadeia de valor na produção de biogás

Neste capítulo são analisadas algumas características destes agentes, assim como suas opiniões sobre as principais barreiras e oportunidades encontradas no desenvolvimento desta atividade no Brasil.

Operadores de aterros sanitários

Estações de tratamento de esgoto

Instalações agrícolas que geram dejetos

Empresas agroindustriais que geram resíduos

Empresas que desenvolvem projetos de engenharia para a cadeia do biogás

Fabricantes de equipamentos para a cadeia do biogás

Empresas de consultoria que atuam nesta área

Insituições de pesquisa que atuam nesta área

Estas opiniões, no caso do biogás oriundo de aterros sanitários, foram compiladas através de entrevistas realizadas no âmbito de um projeto sobre política industrial, inserido na Chamada ANEEL n° 14/2012 sobre: “Desenvolvimento de arranjos técnicos e institucionais para o aproveitamento de biogás, através da geração de energia elétrica, oriundo de resíduos sólidos urbanos” (CARVALHO et al., 2016a). As informações sobre o biogás produzido a partir de outros substratos foram obtidas na literatura técnica consultada.

Um aterro sanitário é, de fato, um biodigestor ineficiente, que apresenta muitas perdas e cujo controle da produção de biogás é precário. A produção de biogás com outros tipos de resíduos - agrícolas, industriais, ou o esgoto - requer a utilização de biodigestores projetados para as suas características.

O biogás pode ser queimado em caldeiras, fornos ou secadores e, para este tipo de utilização, não precisa de muito tratamento prévio. O seu uso na geração de eletricidade já requer um nível mais elevado de tratamento. A transformação do biogás em biometano, sobretudo quando se pretende misturá-lo com o gás natural, requer um processo de purificação que o deixe com propriedades físicas e químicas próximas das do gás natural.

Neste capítulo há duas seções que tratam dos dois vetores energéticos usualmente comercializados a partir do biogás: a geração de eletricidade e a produção de biometano.

6.1 Barreiras e oportunidades segundo as empresas que atuam na cadeia de valor do