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Nos países asiáticos, assim como no resto do mundo, tem crescido a importância das questões ambientais. Existem três grandes crises ambientais que a humanidade está enfrentando: a crise do aquecimento global, a crise de recursos e a crise do ecossistema. Estas crises estão intimamente relacionadas com os resíduos e sua gestão (PARIATAMBY; TANAKA, 2014).

O aumento da população e do crescimento econômico nos países em desenvolvimento pode exacerbar o aquecimento global, aumentar o consumo de recursos e degradar ainda mais os ecossistemas globais, causando graves carências alimentares e aumento da pobreza.

Neste contexto, os países asiáticos têm enfatizado a necessidade urgente de se criar uma sociedade baseada na reciclagem e, assim, livrar-se do risco de causar problemas aos recursos disponíveis, ou ao meio ambiente.

Em alguns países asiáticos, como a Índia, Bangladesh e Vietnã, os resíduos orgânicos são convertidos, em geral, em fertilizantes, ou passam pelo processo de digestão anaeróbia para produção de energia. (PARIATAMBY; TANAKA, 2014).

5.4.1 China

A China é uma das maiores nações do mundo, abrangendo uma vasta área, com nacionalidades e culturas diversificadas e uma população muito grande. Ela também é o maior país em desenvolvimento e que ainda tem infraestruturas relativamente pobres e uma indústria pouco desenvolvida (LIANGHU et al., 2014).

A China possui o maior programa de biogás do mundo, com mais de 40 milhões de biodigestores, a maioria de pequeno porte e utilizando resíduos da agricultura e da pecuária. Mesmo assim, estima-se que somente 19% do potencial rural do biogás é aproveitado no país e é com o intuito de aproveitar essa energia que o governo chinês anunciou planos de aumentar para 80 milhões o número de moradias produtoras e 8.000 a quantidade de plantas de grande porte. Até 2020, a meta é produzir 45 bilhões de m3 de biogás (CARVALHO et al., 2016).

A China sofreu um processo de urbanização muito intenso, resultando em uma enorme geração de RSU. Em termos de gestão de resíduos sólidos urbanos, nenhum país jamais

experimentou um aumento tão rápido, ou tão grande em quantidade de RSU como a China está enfrentando agora.

O biogás de RSU chegou de maneira tardia nos planos de biogás do governo, sendo foco de política pública somente com a legislação de 2006 sobre fontes renováveis de energia. Essa lei estipula uma meta de 15% de energia oriunda de fontes renováveis no consumo final energético chinês até 2020. Para incentivar esta atividade, o governo age em duas frentes: (i) reformas estruturais com o objetivo de reduzir o uso de lixões a céu aberto e aumentar a quantidade de lixo depositado em aterros sanitários; e (ii) incentivos tarifários para a eletricidade produzida nos aterros sanitários (CARVALHO et al., 2016).

Os governos locais são responsáveis pela coleta dos resíduos, seu transporte, seu eventual tratamento e a disposição final. A maior parte dos RSU na China é recolhida e tratada por empresas estatais pertencentes aos governos locais e os investimentos e custos operacionais associados têm sido cobertos com recursos dos orçamentos das administrações locais, situação esta diferente de muitos países industrializados (LIANGHU et al., 2014). Esta dependência dos orçamentos dos governos locais tem limitado avanços mais rápidos no tratamento dos RSU naquele país. Além disso, muitos chineses ainda acham que a gestão de resíduos sólidos é dever do governo.

O governo central e os governos locais têm elaborado políticas públicas incentivando empresas privadas a investirem no tratamento de RSU, incluindo aterros sanitários e incineração para geração de energia. A China abriu seu mercado de gestão de RSU para o setor privado, especialmente para empresas estrangeiras, desde 1990. Estima-se que cerca de 30 a 40% dos projetos de tratamento de RSU são de propriedade do setor privado, ou joint

ventures com o setor público. Empresas com reconhecida competência na França, Japão,

Alemanha e EUA atualmente operam no processamento de RSU na China (LIANGHU et al., 2014).

Atualmente, aterros sanitários e UREs são as principais formas de tratamento e disposição final de RSU na China, seguidos pela compostagem e lixões. Em 2010, cerca de 158 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos foram coletados nas cidades chinesas. A capacidade de tratamento de resíduos sólidos urbanos em 656 municípios atingiu 143 milhões de toneladas até o final de 2010. Dos resíduos recolhidos naquele ano, 66,94% foram depositados em aterros sanitários, 16,20% foram incinerados, 1,29% foram compostados e o resto foi despejado em lixões (LIANGHU et al., 2014).

O Governo da China está fazendo um grande esforço para melhorar o nível de tratamento do lixo. De acordo o Plano de Vida Urbana, aprovado pelo Conselho da China,

mais de 2.200 instalações de tratamento de RSU estavam previstas serem construídas nas cidades chinesas entre 2012 e 2015: 264 UREs com capacidade para processar 223 mil t/dia; 1875 aterros sanitários, que podem receber 323 mil t/dia, e 112 outras instalações com uma capacidade de tratamento de 35.000 t/dia.

5.4.2 Japão

A gestão de RSU no Japão foi iniciada após a promulgação da “'Lei da remoção da sujeira” em 1900. Concebida após uma epidemia de disenteria, pragas e outras doenças infecciosas, esta lei definiu diretrizes para a superação dos problemas sanitários nas cidades japonesas naquela época.

O Japão é um país densamente povoado, em comparação com outros países do mundo, com as indústrias e a população concentradas em áreas urbanas. Nas grandes cidades, a densidade de geração de resíduos é elevada e o espaço disponível para a sua disposição é muito escasso; assim, a aquisição de locais adequados para o tratamento e disposição final dos resíduos torna-se um desafio a cada ano. A fim de prolongar a vida dos aterros sanitários disponíveis, esforços têm sido enveredados para reduzir o volume dos resíduos depositados nos aterros, por meio de vários pré-tratamentos. A incineração, que pode reduzir bastante o volume dos resíduos, além de eliminar eventuais riscos biológicos após a sua disposição final, é utilizado extensivamente no Japão (TANAKA, 2014).

As URE são muito populares no Japão: 79% dos resíduos sólidos urbanos gerados em 2010 foram incinerados em 1.221 unidades e em 306 delas houve a recuperação de energia (TANAKA, 2014).

A Lei de Gestão de Resíduos do Japão estipula que os cidadãos e as empresas devem cooperar com o governo central e os governos locais em suas atividades de redução de resíduos. As empresas devem gerir adequadamente os resíduos deixados como resultado de suas atividades de negócios e esforçar-se por reduzir a quantidade de resíduos. Elas devem, também, desenvolver seus produtos e respectivas embalagens de tal forma que não apresentem dificuldades no seu manuseamento e transformação após o seu descarte pelos consumidores.

O Japão introduziu uma política de “responsabilidade estendida do produtor” na gestão de resíduos com a promulgação da Lei de Reciclagem de Recipientes e Embalagens, em 1995.

Esta lei introduz um sistema de reciclagem em que entidades empresariais especificadas (fabricantes, varejistas, atacadistas e importadores) têm a responsabilidade de reciclar recipientes e embalagens, enquanto os municípios têm a responsabilidade pela coleta ordenada desses itens.

A Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos, promulgada em 1998, estabelece um sistema de recolhimento e reciclagem. O comércio varejista de eletrodomésticos ficou encarregado de recolher eletrodomésticos usados, enquanto que os fabricantes de eletrodomésticos têm que reciclar os aparelhos usados. Os consumidores que descartam aparelhos eletrodomésticos devem pagar o custo da reciclagem (TANAKA, 2014).