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1.Observação direta e participante

1.2. O processo de construção das notícias 1 Surgimento e organização das notícias

1.2.7. O alinhamento de um jornal televisivo

Os jornais televisivos não são todos iguais, consoante os dias, os acontecimentos e as situações, os seus alinhamentos modificam-se; todavia, os fatores credibilidade, atualidade e relevância são os mais tidos em conta para “criar” um bom alinhamento. Esse alinhamento é a ordem pela qual as notícias passam nos telejornais, e por norma “os jornais começam sempre pelas notícias do país, seguindo-se a política, a economia, o desporto, o internacional, e por fim ou a cultura ou algum fait-divers” como refere Marisa Silva, Jornalista da SIC.

Maria João Ruela explica como tudo funciona ao pormenor. Para ela há notícias que são incontornavelmente as notícias do dia, como aconteceu por exemplo no dia 3 de Outubro de 2012, em que Vítor Gaspar falou ao país sobre as medidas alternativas à TSU10, não havia qualquer dúvida que esta seria a peça de abertura do telejornal. Porém, há dias que não são

9 Link da notícia mencionada: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldanoite/2012/11/01/edicao-

de-01-11-2012-1-parte; Anexo 7, em CD

10 Link da notícia mencionada: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldanoite/2012/10/03/edicao-

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assim, e depois é tudo uma questão de sensibilidade, atualidade, relevância e importância. Como é sabido, os jornais mais importantes em televisão são os da hora de almoço e os da hora de jantar, como também pode ser verificado na tabela 11 e no gráfico 3 (p. 113), em que os inquiridos indicaram, na sua maioria, o “Jornal da Noite” como o mais visto. Assim, de certa forma, é necessário um bom começo de telejornal, para prender o telespectador ao noticiário e ao canal.

Tudo poderia ser feito de uma forma simples: ligava-se a rádio no noticiário das 19 horas, falando aqui relativamente ao “Jornal da Noite”, e o que eles transmitissem em primeiro lugar seria, de facto, a abertura do telejornal das 20 horas. Contudo, e ainda que esse processo seja utilizado algumas vezes, o coordenador do jornal em questão pode não ter essa leitura, e achar que a notícia que vai chamar mais a atenção ou aquela que vai ter mais impacto no público é um assunto diferente daquele que foi apresentado na rádio às 19 horas, sendo este, por exemplo, de cariz social ou de desporto - mas esta é uma avaliação um tanto ou quanto subjetiva, que varia de coordenador para coordenador. No entanto, nunca se devem esquecer os critérios editorais da importância que a informação pode ter para o país. A jornalista pivô e coordenadora Maria João Ruela dá um exemplo relativo a esta situação: “Não posso abrir o jornal com uma peça que é só importante em Bragança, não é? Ou então, até posso, se em Bragança tiver havido uma manifestação muito grande que tenha dimensão nacional.” Isto para dizer que, dependendo dos dias, os alinhamentos dos jornais variam, pois fatores como as agendas, as expetativas, ou os programas existentes para o dia seguinte têm impacto nesse mesmo alinhamento. Outro exemplo que dá a jornalista é o seguinte: “Imagine-se que amanhã jogava a seleção e era um jogo de tudo ou nada; se hoje o Cristiano Ronaldo fizesse uma declaração muito importante, talvez fosse essa a abertura do ‘Jornal da Noite’”.

Contudo, há exceções à regra, e o alinhamento do jornal nem sempre é o que foi mencionado atrás. Isso acontece, por exemplo, quando há um tema que interesse ao país, mas que por acaso ocorreu noutro país que não Portugal. Tal foi o caso das manifestações em Madrid11, devido às novas medidas de austeridade na semana de 24 a 28 de setembro de 2012, em que por três ou quatro vezes o telejornal abriu com uma notícia em direto de Madrid (anexo 7, CD, p. xvii). Com isto, podemos dizer que o jornal televisivo, embora apresente quase sempre um alinhamento idêntico, em relação aos temas, não tem uma ordem totalmente certa, como se fosse um guião. Assim, por exemplo, quando nos referimos ao tema “política”, tanto podemos ter um discurso do Vítor Gaspar, que tem muito interesse ao nível do país - como disse Maria João Ruela, “quando este senhor fala é quase sempre notícia de abertura” -, como podemos ter um comício numa aldeia sem qualquer interesse aos olhos do país. Portanto, um tema nunca é certo, e pode ser mais ou menos interessante, consoante as pessoas que o vejam

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Há outra situação: quando se encontram notícias do país, como por exemplo o assalto a um multibanco, no meio de um jornal - e quando digo meio, falo por exemplo no jornal da noite, perto das 20horas e 35 minutos -, tal é simplesmente para prender o telespectador ao canal, e dar-lhe notícias do seu interesse é a forma mais fácil de a SIC conseguir “cativar” o espectador.

O “Primeiro Jornal” e o “Jornal da Noite” são transmitidos numa emissão de cerca de uma hora e meia. E, há dias em que são feitas peças em demasia. Quando isso acontece é porque todas têm importância e todas são credíveis aos olhos do público, e só após a sua realização é que se pode ver, consoante o material que apresentem, se vão ou não para o alinhamento do jornal. Sendo que o alinhamento do jornal só pode totalizar perto de uma hora e meia, como já foi dito, por vezes tem de haver uma seleção prévia das notícias que possam ficar ou para outras emissões, ou para outros dias, ou ainda para outros canais dentro da SIC, como é o caso da Sic Notícias. Essas notícias são as que não têm como valor-notícia a atualidade ou relevância, e que, sendo passadas noutro dia, ou noutra emissão ou noutro canal não perdem credibilidade aos olhos do público. Mas nunca pode ser esquecido que o jornal tem de ser bastante variado, contendo assuntos desde a cultura, à sociedade, ao desporto, à economia, à política, para poder abranger todas as áreas e assim todo o tipo de público.

“A televisão funciona como um jornal escrito, em que existem várias secções, e ainda com a vantagem de ter a imagem como riqueza”, afirma a jornalista Maria João Ruela. No entanto, o jornal tem uma duração máxima quase fixa, que não pode, de todo, ser ultrapassada, podendo esse facto pôr em causa algumas notícias elaboradas. Todavia, Marisa Silva assegura que “é rara a notícia que é feita e não é mostrada aos telespectadores”.

Ainda a respeito do alinhamento, há outro caso a referir, que é quando não existem notícias diárias suficientes para preencher a hora e meia de emissão. Neste caso é necessário ir recolher peças, a outras edições, que contenham quer atualidade, quer relevância, quer interesse público para o espectador. Mas também há casos em que não é por falta de peças, mas sim por serem notícias exclusivas do canal ou muito importantes para a sociedade, que as peças são repetidas em dois ou três jornais, isto porque com a experiência, a redação da SIC já sabe o que deve ou não passar na televisão mais que uma vez.

Continuando com o alinhamento, existe outro tipo de notícias, que por vezes não são de grande importância como notícias em si, mas cuja imagem vale muito a pena, como foi o caso do tufão no Japão12: embora o tufão seja um fenómeno muito comum na altura do inverno, as imagens mostravam os carros a serem arrastados pelo vento. (anexo 7, CD, p. xvii) Ou seja, se a imagem for muito forte e de grande impacto - esse também acaba por ser um critério de eleição para o alinhamento do noticiário.

12 Link da notícia mencionada: http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2012/10/01/passagem-do-tufao-

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As peças jornalísticas não têm um tempo estipulado, a sua duração depende sempre do tempo do jornal em que vão estar inseridas, dos temas que abordam, dos bonecos que têm para se poderem editar com “cabeça, tronco e membros”, da informação que se tenha e do que o jornalista pode fazer delas.