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Onde está inserido o fator credibilidade na profissão de jornalista

1.2.8 Intervenientes nas notícias e em estúdio

10. Onde está inserido o fator credibilidade na profissão de jornalista

Dois dos entrevistados - curiosamente os dois mais ligados à área da política - responderam à questão “Na sua função, enquanto jornalista, onde é que está inserido o fator credibilidade?” inicialmente com a expressão “Em tudo”, e só depois continuaram as suas respostas e respetivas justificações. Esses dois entrevistados foram Paula Santos e José Manuel Mestre. Para a editora da área de política, a credibilidade está em tudo o que ela faz. No entanto, explica que, consoante as áreas, pode haver mais ou menos preocupação com esse fator, isto é, quem por exemplo faça futebol pode brincar um pouco com as situações, na forma como diz ou mostra as coisas; mas, na política, já não há brincadeira possível, na política os jornalistas devem ser objetivos, dar notícias concretas e tentar explorar um pouco mais as questões com as fontes que têm - contudo, só acrescentam mais informação se esta acrescentar alguma coisa àquilo que já seja público, mas quando têm a certeza absoluta, e aqui frisa a expressão “certeza absoluta”, dessa mesma informação. Também para o jornalista o fator credibilidade está em tudo o que faz. Para ele, a credibilidade é uma coisa que se constrói a cada gesto, e mesmo nas questões mais simples, como numa palavra, tem de se pensar sempre duas vezes, pois se não der valor a essa pequena palavra e pensar para si “ninguém vai ligar a isto”, está a matar toda a sua credibilidade, porque basta uma pessoa achar que o jornalista não está a ser cuidadoso para se desiludir, e levar a desiludir todo o circulo de pessoas à sua volta, pois vai com certeza contar esse episódio menos bom do

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jornalista. “É muito difícil conquistar, mas é muito fácil de perder”, conclui José Manuel Mestre acerca de credibilidade. Ana Luísa Galvão não foi tão direta, e nomeou um fator onde a credibilidade mais se salienta na sua função, que é o rigor. O jornalista tem procurar ser sempre rigoroso e claro na informação que transmite, porque se, por exemplo, há uma notícia que diz que uma tal conferência é às 15 horas, e outra notícia relembra essa mesma conferência, mas diz 17 horas em vez de 15, isto afeta a confiança que o espectador tem no canal. Por isso, é necessário que o jornalista diga sempre a verdade, mas há as meias verdades, e os jornalistas têm de tentar chegar à verdade toda, embora às vezes só lhes seja também transmitida essa meia verdade, admite a coordenadora da agenda de informação. 11. A importância do pivô na transmissão de credibilidade

Questionados sobre a importância do pivô, os entrevistados foram bastante coerentes e concordantes nesta resposta. O pivô é uma peça fundamental no telejornal, porque é através dele que as notícias chegam a casa, torna-se assim quase um amigo, quase um companheiro, afirma Ana Luísa Galvão. Salientando ainda que o pivô é como se fosse a porta de entrada na casa de cada um, ele é a imagem dos trabalhos de todos os jornalistas presentes na redação SIC; por isso, mesmo que alguém erre, é o pivô que fica mal e se, pelo contrário, alguém age muito bem, é também o pivô que fica bem, não sendo, assim, um trabalho solitário ou individual, mas na verdade um trabalho de equipa. José Manuel Mestre acrescenta, ao que disse Ana Luísa, que “o pivô é o rosto credível, ou a pessoa acredita ou não, e todos nós já ouvimos dizer, a pessoas mais velhas, não, este pivô não me engana, o que ele disser eu acredito”, realçando ainda que o facto de as pessoas acreditarem nele é o sonho de qualquer jornalista, e este facto demora anos e anos a construir e segundos a destruir. “O pivô transporta à notícia toda a credibilidade que ele próprio possui”, diz Bento Rodrigues, que explica, também, que o pivô é a primeira razão para perceber ou tornar confusa uma reportagem. Isto porque, como refere Maria João Ruela, a cultura e o conhecimento que um pivô revela também são importantes, porque o pivô tem de saber fazer entrevistas, tem de contextualizar as notícias, tem de saber improvisar para poder, de um minuto para o outro, estar no estúdio e, em caso de acontecer algo de última hora que não tenha nenhuma matéria de sustentação, transmitir a notícia em primeira mão aos espectadores; é por isso essencial que tenha um background que lhe permita falar sobre tudo, sobre um acontecimento de economia, de política, de desporto, de sociedade, ou até um 11 de setembro. Paula Santos, aqui, chama a atenção para outro fator muito importante: um pivô tem de ter uma imagem sóbria, ao nível do aspeto físico, para passar uma imagem de credibilidade, e se por exemplo, um pivô feminino tiver brincos muito grandes, as pessoas detêm-se mais no que veem no ecrã do que naquilo que estão a ouvir. Juntamente com esta chamada de atenção, também Ana Luísa Galvão salienta que a credibilidade do pivô passa por questões técnicas, por exemplo, se o pivô estiver a falar e o técnico de áudio não puxar a via do microfone do pivô, isso torna- se penalizador para a imagem do apresentador e para a credibilidade do canal televisivo. As pessoas esquecem-se que, atrás da cara que apresenta o jornal, está todo um lado técnico

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que complementa todo aquele momento. Mais exemplos: a câmara do plano do pivô tem de estar estável, não pode balançar, pois isso dá um ar de principiante e amadorismo, e por muito verdadeira e confirmadíssima que esteja a informação, leva a que haja uma descredibilização. Portanto, conclui a coordenadora da Agenda de Informação, “os conteúdos e a forma das coisas têm de estar equilibradas, porque tudo está a trabalhar para que a mensagem passe de forma eficaz”.