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Cap 2 O jornalismo televisivo e as suas especificidades

2.3 Jornalismo televisivo

2.3.1 Importância do jornalismo televisivo

Ver televisão é a prática comunicacional mais generalizada na vida quotidiana dos portugueses: 99,3% da população portuguesa vê televisão, de acordo com o inquérito realizado pelo CIES2 em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian. (Ver anexo 6, tabela 1, p. xvi) E é também por este mesmo motivo que o jornalismo televisivo é importante. A televisão, ao ser o meio de comunicação central na vida das pessoas, faz com que elas não tenham de procurar outro meio de comunicação para se sentirem informadas sobre o mundo. Assim, e apesar de uma ou outra situação, “90,6% dos portugueses procura a televisão como a principal fonte informativa para acontecimentos internacionais e 84,5% também a procuram no caso de acontecimentos mais próximos (nacionais ou locais).” (Espanha, Soares & Cardoso, 2005, p. 4) (Ver anexo 6, tabela 2, p. xvi)

A televisão é tanto visual como auditiva (Vizeu, 2002a, p. 8), dois pontos fortes do jornalismo televisivo, pois mostra e relata. “A imagem, a principal qualidade que a TV acresce à notícia impressa ou radiofónica, alterou muito do conteúdo e da forma de apresentação da notícia na TV.” (Gomes, 2007, p. 10) E foi essa mesma qualidade que veio revolucionar o jornalismo, dando origem ao jornalismo televisivo. Pois a imagem é algo que capta, poderosamente, a atenção do recetor, de tal modo que quanto mais chamativa e emocionante for, mais audiência tem o jornal e mais importante se torna.

Todavia, e como sabemos, a imagem não é o único elemento do jornalismo televisivo. “A mensagem informativa em televisão é muito mais complexa, pois soma a palavra (com elementos próprios da linguagem escrita), o som (com elementos próprios da linguagem radiofónica) e a imagem, que tem os seus códigos próprios.” (Fontcuberta, 2010, p. 77) Como já foi referido, o jornalismo televisivo veio revolucionar o mundo da comunicação, ao unir num só a imagem em movimento e o som. São as imagens em movimento que dão a

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importância ao jornalismo televisivo, pois elas conseguem mostrar às pessoas o que elas estão a ouvir, captando assim a sua maior atenção. “Não há narrativa, falada ou escrita, por mais detalhada que seja, que consiga ser tão próxima e tão concreta como uma imagem.” (Fidalgo, 1996, p. 5)

“Ver para crer” é a expressão que traduz o poder que a imagem trouxe ao jornalismo. Pois a sua intenção, como diz o ditado, é mostrar os factos para que os telespectadores acreditem no que está a ser dito, e para que vejam que não há qualquer tipo de parcialidade, ou mentira, e também porque, como refere Alfredo Vizeu (2002a), “a televisão dá uma maior importância ao espetáculo”. (p. 9)

Claro que, por exemplo, quando um acidente é motivo de notícia, não é preciso ser mostrado o acidente em si para as pessoas acreditarem, basta mostrar os carros desfeitos, os bombeiros no local, e ter testemunhos que aos olhos do recetor sejam credíveis, e neste caso, um testemunho credível seria o de um bombeiro ou de um polícia. No entanto, há casos, como os da “última hora” mencionada atrás, em que, por vezes, não há imagens para mostrar o que aconteceu, não sendo por isso que a notícia não é apresentada; simplesmente é tratada de forma mais simples, como por exemplo um off do pivô, e mais tarde, quando existirem as imagens, a notícia é de novo apresentada, já completa. Isto para dizer que, apesar de a imagem ser a força maior no jornalismo televisivo, a falta desta não impede que as notícias sejam relatadas, o que pode suceder é o telespectador não dar a atenção desejada. Como afirma, mais uma vez, António Fidalgo (1996), “a televisão pode dar notícias sem imagens, e também as dá, mas a tendência natural desse meio é de cada notícia ter imagens por base”. (p.5)

Outro fator que ajudou a dar valor ao jornalismo televisivo foi o facto de ele e a internet serem os únicos meios de comunicação com informação atualizada 24 horas por dia, consecutivamente. E isto só se tornou possível através dos canais 24 sobre 24 horas, como a CNN e a SIC Notícias, que apenas transmitem informação “nua e crua”, e que pode variar entre programas de opinião pública, telejornais, reportagens, entrevistas, entre outros. Para Fidalgo (1996), “o sucesso das cadeias de rádio e televisão a transmitirem continuamente notícias as 24 horas do dia reside no imperativo da atualização da curiosidade informativa.” (p. 3)

Ao informar, o jornalismo televisivo também tem como intuito chamar a atenção e avisar os espectadores. Avisar não diretamente: por exemplo, ao dar uma notícia sobre um assalto numa certa zona de Lisboa, às tantas horas, isso vai fazer com que as pessoas fiquem mais cautelosas em relação a esse mesmo local. Deste modo, “hoje as relações do homem com o mundo são cada vez mais construídas pelo campo mediático” (Vizeu, 2002a, p. 2). A televisão é, sem dúvida, um dos mais importantes elementos desse campo mediático; e o jornalismo televisivo uma das mais importantes formas de jornalismo, uma vez que está presente na vida das pessoas diariamente. São muitas as pessoas que no seu dia-a-dia, comentam com outras

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pessoas situações que viram no telejornal, ou assuntos que, apesar de serem do dia-a-dia, foram mencionados no telejornal.

As pessoas confiam nos jornalistas, em particular nos de televisão, uma vez que estes têm recursos visuais, sonoros e presenciais que os defendem e apoiam. Pôr em causa o que eles dizem é desconfiar de algo que está visualmente provado. Tal e qual um livro, eles são uma fonte de conhecimento, tendo um papel decisivo na sua transmissão “devido ao poder e influência da televisão na sociedade” (Brandão, 2010, p. 151)

Assumindo que “os meios de comunicação social ensinam-nos a comportar numa determinada sociedade” (Fontcuberta, 2010, p. 29), o jornalismo televisivo deve explorar matérias que sejam significativas para o público em geral, pois só assim este lhe dará a devida importância. “É na base da interpretação das notícias que se constitui a opinião pública.” (Brandão, 2010, p. 158)

Sendo assim, podemos mesmo afirmar que “quanto maior o peso dos programas de informação, quantos mais jornais vendidos, tanto maior será a consciencialização sociopolítica de um povo e, correspondentemente, maior a sua capacidade de participação e decisão”. (Fidalgo, 1996, p. 1) E o facto de a televisão ser o meio de comunicação mais presente na vida das pessoas é significativo pois, como afirma Fidalgo (1996), quanto mais as pessoas estiverem dentro dos assuntos, mais elas são capazes de participar e decidir. Embora haja sempre o outro lado, o de que as pessoas só veem os telejornais para estarem a par do que se passa no mundo. (p. 2)

A responsabilidade e a importância do jornalismo deve-se, assim, “à dimensão da sua representatividade e importância na formação de uma opinião pública esclarecida”. (Brandão, 2010) Toda esta importância exige um especial cuidado na seleção e no alinhamento das notícias.

O facto de que “o telejornal é transmitido em direto” (Gomes, 2012, p. 206), também confere bastante importância ao jornalismo televisivo, porque, como já foi mencionado, ele organiza-se no tempo, tudo neste formato é em tempo real, e não é possível ser realizado se não houver peças feitas a determinado momento – ainda que a sua apresentação em direto possa conter gafes ou situações menos normais.

O jornalismo é uma profissão que tem determinadas funções: “as tradicionalmente apontadas ao jornalismo são três: informar (refletir a realidade); formar (interpretá-la); e distrair (ocupar os tempos livres).” (Fontcuberta, 2010, p. 28) As primeiras duas funções são muito óbvias, e dizem respeito a todas as pessoas; a última função é, sem dúvida, mais importante para as pessoas idosas, uma vez que se servem da televisão como companhia, e aqui entra também o jornalismo que, apesar de informar e formar, também distraí e faz companhia.

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Em resumo, a união entre a imagem e o som, as 24horas diárias e as transmissões do telejornal em direto são três dos fatores que tornam o jornalismo televisivo importante, talvez mesmo o mais importante de todos os tipos de jornalismo.