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Alterações do equilíbrio corporal nos indivíduos idosos 30

Ruwer, Rossi e Simon (2005) relatam que um dos principais fatores limitantes na vida do indivíduo idoso é o desequilíbrio corporal. Estes autores citam que, em 80% dos casos a instabilidade postural não é relacionada a uma causa específica, mas ao comprometimento dos sistemas de manutenção do equilíbrio como um todo. Mais de 50% das pessoas idosas começam a apresentar alterações do equilíbrio entre 65 e 75 anos de idade, com piora progressiva com o passar dos anos. A instabilidade postural está relacionada à idade, pois quanto maior for esta maior será a instabilidade, tendo como danosas conseqüências as quedas (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005).

O envelhecimento, em si e por si, não é sinônimo de patologia. Ele é caracterizado por declínios em várias funções biológicas, o que torna os indivíduos idosos mais susceptíveis às patologias. Dentre estes declínios, destaca-se o do controle e o da organização dos movimentos, levando à lentificação do movimento, à deterioração da qualidade deste e à perda da força e potência musculares, o que pode dificultar a manutenção da independência funcional da pessoa idosa. Entretanto, compensações podem preservar a função motora adaptativa, sugerindo que regiões corticais substitutas sejam recrutadas à medida que a perda das sinapses neuronais aumenta, constituindo processo plástico de recuperação, assim como o que ocorre em pessoas jovens que sofrem lesões nervosas (PATTEN; CRAIK, 2002).

A capacidade de equilíbrio diminui quando envelhecemos, assim como outros mecanismos corporais sob estresse, o que pode ser resultado das próprias mudanças relacionadas ao envelhecimento nos sistemas responsáveis pela manutenção do controle postural, inclusive com déficit no processamento central das informações aferentes. A queda pode ser o primeiro indicador de que está ocorrendo falha de caráter neuronal e/ou músculo-esquelético, o que deve ser investigado. A queda, portanto, pode representar o início de processo de deterioração do equilíbrio corporal e de fragilidade (SWIFT, 2001).

Alterações do sistema visual são comuns em pessoas idosas. Além do próprio envelhecimento das estruturas oftalmológicas, catarata, glaucoma e degeneração macular, são

patologias prevalentes nos indivíduos idosos. Somam-se, ainda, possíveis alterações no nervo óptico (IIº par craniano), tálamo e córtex occipital, o que pode dificultar a correção funcional destas patologias (PATTEN; CRAIK, 2002).

A alteração visual mais comum nos indivíduos idosos é a presbiopia, ou seja, a dificuldade de focalizar objetos próximos, também ocorrendo redução na acuidade visual e na identificação das cores e contrastes, bem como nas respostas pupilares e no diâmetro da pupila. Alterações do sistema óculo-motor podem levar à convergência diminuída, ptose palpebral e restrição simétrica do olhar para cima (PATTEN; CRAIK, 2002). O limiar visual (luz mínima necessária para ver um objeto) aumenta com o avançar da idade, levando a pessoa idosa a ter maior dificuldade para enxergar nitidamente em lugares escuros (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003, 209-231).

A audição também exibe alterações atribuídas à presbiacusia, ou seja, ao declínio da função auditiva, que é relacionado à idade, refletindo o envelhecimento das vias auditivas e do SNC, bem como redução da capacidade funcional do sistema periférico, o que pode levar ao aumento de cerúmen no ouvido (PATTEN; CRAIK, 2002).

Alterações proprioceptivas, tais como sensação de vibração diminuída, redução da capacidade de detectar movimentos passivos do pé e aumento do tempo de reação principalmente da extremidade inferior (insuficiência da flexão dorsal do tornozelo, por exemplo, facilitando ao idoso cair sentado), estão presentes com o avançar da idade (WHITNEY; POOLE; CASS, 2002). Estas alterações são facilmente observáveis no paciente idoso, podendo ser exemplificadas por dificuldades para perceber alterações do piso, como pequenos degraus ou inclinações; falta de reação a estímulos desequilibradores em tempo hábil; falta de correta detecção de distância entre seu corpo e os objetos, demonstrando redução do senso de posição do corpo em relação ao espaço e aos objetos ao seu redor, levando a sentar-se antes de chegar à cadeira (fora desta) e cair, ou de bater seu corpo nos móveis e desequilibrar-se (PATTEN; CRAIK, 2002; WHITNEY, 2002)

Os déficits proprioceptivos podem estar relacionados à diminuição da velocidade de condução nervosa por alterações na mielina, bem como a outras alterações de caráter periférico ou central. O número de receptores periféricos também diminui, havendo a partir dos 40 anos de idade perda de cinco a oito por cento das fibras nervosas periféricas a cada década (PATTEN; CRAIK, 2002).

O comprometimento do sistema vestibular está também envolvido na instabilidade postural do indivíduo idoso, ocorrendo degeneração das estruturas labirínticas devido ao estreitamento dos capilares sanguíneos provocado pelo envelhecimento e más condições do sistema circulatório. Estas alterações causam presbivertigem (vertigem senil), presbiataxia ou presbiastasia (desequilíbrio senil), presbitinnitus (zumbido senil), e contribuindo também na presbiacusia (GANANÇA; CAOVILLA, 1998).

A partir dos 55 anos, estima-se que há redução gradual na densidade dos receptores das células ciliadas, bem como alterações degenerativas nas otocônias do utrículo e do sáculo. Pode haver perda em torno de 40% das células vestibulares ciliares e nervosas aos 70 anos, complicando a tarefa magna do sistema vestibular, que é a de comparar as informações advindas dos sistemas visual e proprioceptivo, combiná-las e calibrar as respostas de acordo com a necessidade do momento, ou seja, fazer o “consenso” entre as informações obtidas dos três sistemas sensoriais para elaborar uma resposta combinada eficaz (WHITNEY, 2002; SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003, p. 209-231.).

A oscilação em repouso aumenta com a idade e, aliada à postura anteriorizada típica do indivíduo idoso (devido a desgaste das estruturas de sustentação da coluna vertebral e das próprias vértebras por osteoporose), facilita a ocorrência de desestabilização. O RVO e o RVE ficam também menos efetivos e sua latência de resposta alonga, impossibilitando um tempo de reação adequado ao estímulo desequilibrador, bem como dificultando a visão nos movimentos mais velozes da cabeça em relação ao corpo (KESHNER, 2002).

Portanto, o comprometimento da estabilidade postural da pessoa idosa, portanto, pode estar relacionado a reações reflexas vestíbuloespinhais e proprioespinhais retardadas, o que resulta de limiares sensoriais mais elevados e do envelhecimento do sistema músculo-esquelético. Há, ainda, possibilidade de agravo decorrente de patologias próprias dos sistemas de equilíbrio, como as labirintopatias, ou patologias que interferem no funcionamento deste sistema, as quais devem ser investigadas quanto a seu diagnóstico definitivo, possibilitando intervenção adequada (KESHNER, 2002).

Além do comprometimento neurológico, do qual também faz parte a redução do número de neurônios motores na medula espinhal, temos a sarcopenia, que é a perda de massa muscular, a qual ocorre lenta e progressivamente levando à substituição das fibras musculares por colágeno e gordura, com conseqüente perda da força muscular. Após os 30 anos de idade, a secção

transversa do músculo diminui, surgindo maior conteúdo gorduroso entre as fibras. Estas alterações são mais pronunciadas nas mulheres, sendo que o número de fibras musculares no indivíduo velho é aproximadamente 20% menor do que no adulto (FRONTERA; LARSSON, 2001; ROSSI; SADER, 2002).

A força do quadríceps (músculo anterior da coxa e um dos mais importantes para a estabilidade postural) aumenta progressivamente até os 30 anos, começa a declinar após os 50 e diminui acentuadamente após os 70 anos. Esta alteração leva o sujeito a ter dificuldade para manter seu membro inferior em extensão durante a postura ereta, o que também irá dificultar a subida de degraus e a transposição de obstáculos no caminho, aliada à perda de força do músculo flexor do quadril, o íliopsoas. A diminuição da força muscular na cintura pélvica e nos extensores do quadril resulta em maior dificuldade para a impulsão e o levantar-se, enquanto a diminuição da força da mão e do tríceps (extensor do cotovelo) pode tornar difícil o uso de bengalas (ROSSI; SADER, 2002).

Fatores associados ao envelhecimento, tais com inatividade, subnutrição e doença crônica desempenham também importante papel no declínio funcional associado à idade. Entretanto, não se sabe em que extensão um estilo de vida mais ativo e o treinamento por exercícios podem alterar o processo de envelhecimento. Deve-se ressaltar que o envelhecimento progride a velocidades diferentes em indivíduos distintos e que existe uma grande variabilidade, de indivíduo para indivíduo, no grau de perda funcional com a idade (FRONTERA; LARSSON, 2001).