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Alunos intermediários

No documento Bases Cientificas Do Treinament - Paulo Gentil (páginas 140-145)

Elaboração e prescrição de treinos

5.3 Alunos intermediários

Volume máximo de 20 séries por dia.

Recomendável o uso de, no máximo, seis séries (dois exercícios) para grandes grupos musculares, à exceção da coxa.

Manter o foco nas cadeias musculares (treino de músculos acessórios em 2º plano). Dividir o treino em partes.

Frequência: três a quatro dias por semana.

Reforçar o processo de conscientização sobre intensidade, com uso de repetições máximas Técnicas de respiração

Volume

Sugere-se que se use um volume total por sessão menor que o do período anterior, pois agora já se pode treinar máximo e iniciar a aplicação de técnicas para aumentar a intensidade do treino, o que deve ser contrabalançado com a diminuição do número de séries. O princípio do controle do volume sempre deve ser observado, um aluno neste estágio não necessita de mais que seis séries para os grandes grupamentos musculares, à exceção da coxa, em alguns casos.

Kraemer et al (2002) atentam para o cuidado com a progressão do volume para que não ocorram exageros, se até o terceiro mês os benefícios podem ser obtidos com apenas uma série para cada grupamento muscular, há estudos comprovando que até o primeiro ano de treino, o uso de quatro séries por grupamento muscular, três vezes por semana é ideal para se promover ganhos de força, superando protocolos com volumes superiores (Rhea et al., 2003). Nesta fase a utilização de duas a quatro séries por grupamento muscular será suficiente para produzir os resultados desejados.

Manter o foco em cadeias musculares (treino de músculos acessórios em 2º plano)

Em um trabalho apresentado na 23º conferência da NSCA (National Strength and Condition Association), Rogers et al (2000), analisaram a utilidade dos exercícios direcionados a pequenos grupos musculares em homens treinados. A amostra, composta por jogadores de beisebol de nível nacional, foi dividida em dois grupos: um executava supino reto, supino inclinado com halteres, puxada e remada unilateral com halteres; o outro realizava o mesmo treino com acréscimo de rosca bíceps e rosca tríceps. Os resultados não mostraram diferenças significativas nos testes de força nem na circunferência do braço, levando os autores à seguinte conclusão:

“Os achados deste estudo sugerem que exercícios de isolamento não são necessários para aumentar a força em movimentos compostos nem aumentar a circunferência do braço (...) Estes achados também sugerem que treinadores de força podem economizar tempo não incluindo exercícios de isolamento e ainda assim conseguir obter aumento na força e tamanho”.

Portanto, o uso de exercício para os músculos acessórios deve ser sempre mantido em segundo plano. Só será necessário inserir exercícios de bíceps e tríceps, por exemplo, se forem utilizados exercícios uniarticulares para exercitar os grandes grupos, com é o caso do crucifixo e do pullover. Caso sejam prescritos exercícios para pequenos grupamentos, eles devem ser encarados como complementos e não como um treino a parte.

Como haverá o aumento da intensidade, ocorrerá maior necessidade de recuperação e maior cansaço geral, portanto torna-se recomendável um menor volume por sessões de treinos. Pode-se iniciar a divisão do treino em duas partes como, por exemplo, membros inferiores e superiores.

Frequência de três a quatro dias por semana

Por haver a divisão do treino será preciso que o aluno compareça mais vezes à academia durante a semana, mas não se deve descuidar do intervalo entre os treinos para assegurar a recuperação adequada do músculo.

Iniciar a aplicação de métodos com sobrecarga metabólica (super-set, repetições parciais, pré- exaustão...)

É importante frisar que, via de regra, os métodos não serão utilizados em intermediários. A utilização dos métodos só se justifica quando o aluno já treina até a falha, do contrário, deve-se primeiro ensiná-lo a utilizar repetições máximas para depois lançar mão dos métodos.

Como vimos anteriormente, os estímulos para a hipertrofia podem ser divididos em tensionais e metabólicos. E nesta fase recomendamos que, caso se usem os métodos, a ênfase seja dada nos métodos metabólicos.

Com a popularidade da ênfase na fase excêntrica, sua aplicação foi irresponsavelmente generalizada, inclusive em alunos iniciantes e intermediários. Em 2001, Folland et al conduziram um estudo em pessoas ativas sem experiência com musculação para verificar o efeito de uma sessão de treino excêntrico durante as semanas subseqüentes à sua realização. Dois tipos de intervenção foram testados: 1) treinos com quatro séries de 10 repetições com freqüência de três vezes por semana; 2) o mesmo protocolo anterior, no entanto foi feita uma única seção com ações excêntricas quatro dias antes do início dos treinos. Após o treino excêntrico houve significativa queda força máxima, com os ganhos sendo comprometidos por cinco semanas, sem haver supercompensação (Folland et al., 2001). Mostrando que, em alguns casos, o uso de ações excêntricas intensas não é bem tolerado.

Portanto, por questões de eficiência e segurança, é sugerido que se controle a utilização dos métodos tensionais em alunos intermediários, até porque a utilização de ênfase na fase excêntrica (seja por maior tempo sob tensão nesta ação muscular, seja pelo uso de repetições roubadas ou forçadas) é uma das características destes treinos. Alguns métodos que seriam particularmente interessantes para aplicação nessa fase seriam a pausa-descanso e as repetições parciais pós-fadiga, para ajudar que o aluno aprenda a treinar com séries máximas.

Isto não impossibilita que sejam usados treinos de repetições baixas, mas sim que se tenha cautela com acentuação das ações excêntricas.

Reforçar o processo de conscientização sobre intensidade, com uso de repetições máximas

De agora em diante o aluno será habituado a treinar até a falha, aprendendo a conhecer e respeitar seus limites. Usar repetições máximas é bem diferente da mera suposição que não se conseguirá, significa verificar objetivamente a impossibilidade de continuar o exercício. Há muita dificuldade em se chegar a este ponto, tanto que em muitos casos, pede-se para o executante realizar uma nova tentativa, mesmo após a falha aparente, para que se tenha certeza que se chegou ao objetivo. Outra abordagem, é a caracterização da falha somente após uma insistência isométrica de alguns segundos. Nessa fase, é importante a atenção do professor, pois verificamos que, quando não há supervisão adequada, há uma tendência em não se treinar em intensidade adequadas, especialmente nos exercícios de membros inferiores (Gentil & Bottaro, 2010).

É verificado que normalmente não se consegue manter o mesmo número de repetições sem reduzir a carga quando se realiza séries intensas, principalmente em treinos metabólicos. Diversos estudos em pessoas treinadas verificam quedas expressivas da capacidade de gerar força de uma série para outra, tanto em

homens treinados (Richmond & Godard, 2004; Willardson & Burkett, 2005, 2006a, 2006b) quanto em mulheres treinadas (Oliveira et al., 2009) e essas quedas são mais elevadas quando se realizam mais repetições. Por exemplo, uma avaliação no supino reto com homens treinados revelou que, após a realização de oito repetições na primeira série, um intervalo de dois minutos permite a realização de seis repetições na segunda série e quatro na terceira, caso a carga seja mantida constante (Willardson & Burkett, 2005), no entanto, quando são realizadas 15 repetições na primeira série, a utilização dos mesmos dois minutos de intervalo de descanso leva à realização de nove repetições na segunda série e seis na terceira (Willardson & Burkett, 2006b).

Tendo em vista a queda de desempenho ao longo das séries, para se treinar com repetições máximas deve-se estar totalmente desvinculado do aspecto quantitativo das cargas em prol da qualidade do treino, pois normalmente será necessário reduzir expressivamente a carga para se manter uma determinada margem de repetições e, consequentemente, o estímulo fisiológico e o tempo sob tensão.

Técnicas de respiração

Devido ao progressivo aumento das cargas é importante educar o aluno quanto às técnicas corretas de respiração. Isto pode ser feito com alunos iniciantes, no entanto as baixas cargas utilizadas e a confusão que tal indicação poderia gerar normalmente nos fazem recomendar que o aluno siga a tendência natural de respiração nas fases iniciais de treinamento.

Na preparação para um esforço intenso, instintivamente se inspira e prende a respiração, iniciando a manobra de Valsalva, que nada mais é que a exalação forçada contra a glote fechada. Durante esta manobra, a pressão intratoráxica aumenta bastante (cerca de 50 vezes, ou mais), comprimindo as veias da região toráxica, o que reduz o retorno sanguíneo para o coração. A queda no fluxo sanguíneo, aliada à subseqüente diminuição da pressão arterial, leva à tontura, muito comum no fim dos levantamentos pesados. Durante a manobra de vassalva, a pressão arterial sobe consideravelmente, podendo passar de 300 mmHg. Devido a estas respostas fisiológicas, pessoas com problemas cardiovasculares e iniciantes devem ter muito cuidado com exercícios de sobrecarga elevada, apesar de haver indícios que a Manobra de Valsalva possa proteger o atleta de acidentes vasculares cerebrais, devido a correção da pressão transmural (Haykowsky et al., 2003).

A manobra de Valsalva é necessária e eficiente em casos de levantamentos intensos, ajudando a estabilizar o tronco e até mesmo aumentando os níveis de força, Weineck (2000) cita estudos onde se verificou que a força de contração dos músculos é maior durante a manobra de Valsalva, seguida pela expiração e menor na inspiração, fato confirmado por Zatsiorsky (1999), que explica esta resposta através do reflexo pneumomuscular. Em um estudo de Ikeda et al. (2009), com exercícios isométricos, os efeitos da respiração também foram verificados, mas havia variação entre os exercícios.

Ao recomendarmos a respiração durante atividades físicas podemos fazê-lo com base em dois parâmetros: o equilíbrio anatômico e o equilíbrio biomecânico. Quando levamos em conta o equilíbrio anatômico, como em movimentos em pé que envolvem flexão do tronco recomenda-se que a expiração seja feita com a aproximação entre tronco e coxa. Porém, nos movimento que exigem altas taxas de força a respiração deve seguir o equilíbrio biomecânico, com a expiração sendo executada durante a fase forçada do movimento (geralmente a fase concêntrica), portanto a recomendação geral na musculação é: inspirar na fase excêntrica e expirar na concêntrica, só fechando a glote quando a manobra ocorrer naturalmente. Isto serve também para melhorar os rendimentos no exercício, pois sabemos que a fase onde temos maior dificuldade neuromuscular é a concêntrica, então se pode utilizar a expiração ou, se necessário, a manobra de Vassalva, já a fase excêntrica proporciona relativa facilidade, e pode ser aproveitada para inspirar.

Exemplos: Exercícios

Séries Repetições Velocidade Intervalos Treino 1

Supino reto 2 12-10 2020 60-90”

Supino inclinado 2 12-10 2020 60-90”

Puxada pela frente 2 12-10 2020 60-90”

Remada sentada 2 12-10 2020 60-90” Treino 2 Agachamento 2 12-10 3030 60-90” Leg press 2 12-10 2020 60-90” Mesa flexora 2 12-10 2020 60-90” Flexão plantar 3 12-10 2020 60-90” Flexão de tronco 2 12-10 2020 60-90”

No documento Bases Cientificas Do Treinament - Paulo Gentil (páginas 140-145)