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2.1 A caracterização dos gêneros textuais, segundo estudiosos jornalistas.

2.1.4 A Resenha ou crítica

Os postulados na área de comunicação designam o gênero Resenha, como sendo: todo texto que trata em sua temática de avaliar obras de arte ou produção cultural; todavia, o termo no Brasil não se estabilizou e, na área jornalística, é conhecido como crítica.

... a explicação está na transição por que passou o jornalismo brasileiro, da fase amadorística (quando os espaços dos jornais e revistas estavam franqueados aos intelectuais para o exercício, eventualmente remunerado, da análise estética no campo da literatura, música, artes plásticas) para o período profissionalizante (momento em que a valoração dos produtos culturais passou a ser feita regularmente, e portanto remunerada, adquirindo caráter mais popular). O que ocorreu foi a dupla recusa dos grandes intelectuais e dos editores culturais em relação à crítica esteticamente embasada [...] os grandes intelectuais [...] refugiaram-se nos periódicos especializados ou nos

67 veículos restritos ao segmento universitário [...] autodenominam críticos, em contraposição àqueles que permaneceram nos meios de comunicação coletiva ou que se agregaram ao trabalho de apreciar os novos lançamentos artísticos, cujos textos passaram a chamar de resenhas (MELO J. d., 2003c, p. 130)

Observa-se que a Crítica e a Resenha mudaram em virtude da mudança do jornal; embora a natureza seja semelhante, o público é diferente. Enquanto o jornal se destinava a um grupo seleto de intelectuais, nobres e ricos comerciantes, a imprensa fazia uma crítica artística profunda, pois o público leitor era conhecedor do tema e apreciador das obras analisadas. No momento em que o jornal se mercantiliza e o público se expande, atingindo a classe média e setores do operariado, que não possuíam tanto conhecimento artístico, ocorre uma mudança no uso da linguagem, bem como no conteúdo analisado. A grande massa não aprecia as grandes obras de arte, os clássicos, e sim, os novos produtos industriais culturais que se formavam, destinados a grandes massas.

Segundo Afrânio Coutinho (1975), ao analisar, pelo viés literário, a Crítica e a Resenha apresentam as seguintes diferencias: a Resenha, denominada de rodapé literário, no final e início dos séculos XIX e XX respectivamente, é uma atividade tipicamente jornalística que traz um comentário breve; enquanto a Crítica busca métodos e critérios para analisar a obra, e destina-se a um público universitário e acadêmico.

Pode-se afirmar que a Resenha objetiva “orientar o grande público na escolha dos produtos culturais em circulação” (MELO, 2003C, p.134), produz um julgamento mais leve, mais estético para o leitor, como um serviço de informação rápido e sintético sobre um livro, um filme, um documentário em circulação.

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2.1.5 A Coluna

O termo originou-se nos periódicos de todo mundo, devido à diagramação utilizada naquele momento, isto é, todo o jornal era disposto verticalmente de cima para baixo, da esquerda para direita e, quando a matéria não terminava na coluna, que se iniciava, ela era disposta na coluna seguinte, à direita. Todavia, no Brasil com a mudança do jornal, a partir da década de 70, ocorre uma indecisão em considerar a Coluna um gênero jornalístico ou simplesmente uma variação tipográfica, uma formatação.

Mais tarde, todo texto de determinado autor, publicado com regularidade, assinado, de estilo livre e mais pessoal é denominado Coluna, pela empresa- jornal e jornalistas. Dessa forma, a coluna passa a englobar diversos gêneros jornalísticos, tais como: Artigo, Comentário, Crônica, Notas, Ensaios. Isso porque esses textos apresentam título, são diagramados em posição fixa nos cadernos e nas mesmas páginas.

Segundo Fraser Bond (BOND, F., 1978), a Coluna surgiu nos Estados Unidos, por volta da segunda metade, ao final do século XIX, no momento em que a imprensa norte-americana deixava de ser doutrinária e passava a ter uma função mais informativa. O público ansiava por matérias que não mais apresentassem publicações anônimas, mas que tivessem identificação, personalidade, o que levou ao surgimento das seções jornalísticas sob a responsabilidade de jornalistas consagrados. Assim, o periódico passa a criar espaços nos quais são publicados, com regularidade, textos de opinião pessoal, além do seu conteúdo informativo.

Melo (1985, 2003C) conceitua e afirma que a Coluna é um texto de vínculo pessoal, uma vez que demonstra e apresenta de forma clara a personalidade de seu autor. Esse tipo de jornalismo de caráter mais “informal”, com cunho pessoal, surgiu como forma de sobrevivência da empresa jornalística, pois a empresa-jornal, a partir da segunda metade do século XX, expandiu-se de forma vertiginosa e os leitores, cada vez mais, procuravam identificar-se com os textos, com os ideais apresentados pelos seus autores, já que são membros de uma comunidade discursiva, representando o pensamento dessa comunidade. Por essa razão, os colunistas passam a

69 produzir um texto de mais fácil entendimento, consequentemente não tão rebuscado e com o uso de jargões técnicos.

Nesse contexto, a Coluna surge como um tipo de texto voltado a preencher as necessidades dos leitores, ou seja, trata de temas mais amenos e fúteis, como fatos sociais ocorridos com pessoas da “alta” sociedade, com o uso de uma linguagem direta, simples e de fácil entendimento. Inicialmente, a Coluna compreendia um texto com a extensão de mil palavras, mas posteriormente começou a variar e, atualmente, consiste em um texto contendo 500 palavras.

Tendo como berço o jornalismo norte- americano, a coluna aparece ali segundo quatro tipos: a) Coluna padrão – dedicada aos assuntos editoriais de menor importância [...] o que implica em um tratamento superficial, apenas sugerindo tendências ou propondo padrões de julgamento; b) Coluna miscelânea – combinação de prosa e verso, foge ao padrão tipográfico convencional, [...] grande variedade de temas e atribuindo um dose de humor e sarcasmo aos assuntos tratados; c) Coluna mexericos – centralizada em pessoas, principalmente as figuras da alta sociedade, personalidades famosas [...] divulga confidências, indiscrições, faz elogios [...] subdivide-se depois por ramos de atividades: cinema, teatro, música, esporte, economia; d) Coluna dos os bastidores da política – variante da coluna de mexericos [...] situa o leitor no mundo do poder, mostrando-o em sua intimidade. (MELO J. d., 1985, pp. 105-106)

Apesar dessas classificações expostas, há a classificação de Fraser Bond (1962) que afirma ser o Editorial uma coluna assinada, por isso pode denominá-lo Comentário. Todavia os jornalistas conceituam a Coluna como sendo um texto opinativo, pois já que há a seleção de um fato ou de um personagem a partir de um ponto de vista, isso caracteriza o seu valor opinativo. “Não se limita a emitir uma simples opinião. Vai mais longe: conduz os que formam opinião pública [...]” (MELO J. d., 2003c, p. 142)

O colunismo desenvolve-se, no Brasil, a partir da década de 50, dando destaque e dinamismo à alta sociedade. O maior nome e grande impulsionador desse tipo de texto foi Ibraim Sued, inspirado nas colunas dos jornais

70 americanos. Ele publicou suas Colunas em diversos meios midiáticos, adquirindo grande popularidade; é considerado o “pai” do colunismo social brasileiro. O seu legado é indiscutível para imprensa nacional, uma vez que procurou tratar das figuras públicas e dos políticos de forma pessoal, expondo as suas convicções de maneira direta e clara, e por isso foi o que mais agradou seus leitores ou telespectadores.

Dessa forma, pode-se afirmar que a Coluna é um tipo de texto opinativo, como afirmam os estudiosos do jornalismo, além de manter hibridismo com gêneros mais próximos. Todavia a conceituação não esclarece as características organizacionais, semânticas, discursivas dos textos denominados “colunas”. Logo, alguns autores denominam de formas diferenciadas, mas não antagônicas, tais como : “crônicas sociais” - Gilberto Freyre e “colunas socias” – Wilson Nunes Coutinho. Esses textos passaram a tratar de temas de interesse do público como esporte, política, teatro, cinema ou fatos que se destacavam durante um período de tempo variável.

2.1.6 A Crônica

Os estudiosos jornalistas dos gêneros textuais do jornal apresentam caracterizações superficiais e muito sintéticas para a Crônica jornalística: texto que aborda assuntos da vida cotidiana com o uso de uma linguagem literária e sempre assinado.

A pesquisa realizada com os manuais de redação da Folha de s. Paulo e O Estado d S. Paulo indicam que o tratamento dado ao gênero textual Crônica é lacunoso.

Para o manual de O Estado de S. Paulo a crônica é tratada do ponto de visto do uso da linguagem, como sendo um texto produzido com o uso de uma linguagem literária.

71 O Manual Geral da Redação, da Folha de S. Paulo (1984,1987, 1992, 2001), apresenta uma definição para o gênero textual crônica, comparando-o com os demais gêneros textuais, publicados no jornal:

1) análise: contém a interpretação do autor e é sempre assinada; 2) artigo: contém a opinião do autor e é sempre assinado;

3) editorial: expressa a opinião do jornal e nunca é assinado; deve ser enfático, equilibrado e informativo, apresentar a questão tratada e desenvolver os argumentos defendidos pelo jornal, ao mesmo tempo em que resume e refuta os contrários;

4) crítica: avalia trabalho artístico, acadêmico ou desempenho esportivo e é sempre assinada;

5) crônica: aborda assuntos do cotidiano de maneira mais literária do que jornalística e é sempre assinada;

6) feature: apresenta a notícia em dimensões que vão além do seu caráter factual e imediato, em estilo mais criativo e menos formal; pode ser o perfil de um personagem ou uma história de interesse humano;

7) resenha: faz o resumo crítico de um livro e é sempre assinada;

8) notícia: relata a informação da maneira mais objetiva possível; raramente é assinada;

9) reportagem: traz informações mais detalhadas sobre notícias, interpretando os fatos; é assinada quando tem informação exclusiva ou se destaca pelo estilo ou pela análise.

A pesquisa realizada com as classificações apresentadas pelos jornalistas indicou que há lacunas existentes para a classificação dos textos opinativos, principalmente, Artigo, Crônica e Coluna.

Como se pode observar esse manual não diferencia a crônica do cotidiano, da crônica de notícias.

Sendo assim, foi realizada uma pesquisa com os autores que assinam os textos publicados no espaço reservado de cada caderno dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.

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2.2 A caracterização dos gêneros textuais opinativos publicados em