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Análise da entrevista com beneficiários e familiar de participante

Grupo 1 Nível Insipiante

2 Professoras do projeto: As questões voltadas às professoras foram construídas baseadas no constructo Gestão de stakeholders internos (formação de equipe), cujo objetivo

4.3.3 Análise da entrevista com beneficiários e familiar de participante

As respostas e percepções dos beneficiários quanto à realização do projeto social foram diversas, sendo difícil identificar uma avaliação geral positiva ou negativa.

Todos os beneficiários entrevistados revelaram que se sentiram participantes importantes no projeto, o consideraram como seus e se sentiram como criadores dele, assim como defendem Buchholz e Rosenthal (2005) e Valdez-Vasquez e Klotz (2013).

Foi muito legal. Eles tratavam todo mundo muito igual. Para mim foi muito importante participar (BENEFICIÁRIO 1).

Nós aprendemos muitas coisas durante aquele ano do projeto. A gente tinha um livrinho e tinha várias estórias (BENEFICIÁRIO 2).

Eu senti participante dele porque eles incentivam a gente com os livros e as gincanas (BENEFICIÁRIO 3).

Quando perguntados sobre as reuniões que ocorreram no projeto, todos não se lembraram da existência delas. A maioria também não se lembrou se outros beneficiários gostaram do projeto. Apenas um respondeu positivamente a essa questão:

Elas também gostaram muito. A gente ia e, depois, brincávamos. Era muito bom. A gente sentiu falta quando o projeto acabou (BENEFICIÁRIO 1).

A existência de interações positivas entre as partes interessadas dentro do projeto são mencionadas como importantes por Buchholz e Rosenthal (2005), Purnell e Freeman (2012), Harrison e Wicks (2013) e Valdez-Vasquez e Klotz (2013).

Sobre a identificação da principal empresa patrocinadora do projeto, nenhum respondente afirmou ter conhecimento do nome e da existência da organização. Todavia, a maioria soube identificar outra empresa que também ajudou na realização do projeto, uma

usina parceira que atua no setor sucroalcooleiro. “Sim. Foi a ‘usina parceira’. Não foi?”,

respondeu o beneficiário 1. Já o beneficiário 2 respondeu com firmeza a existência dessa usina na participação do projeto.

As respostas também não foram positivas na questão sobre a disponibilidade de informações claras sobre em qual etapa o projeto se encontrava. Dois dos três respondentes afirmaram não se lembrar ou não possuir essas informações.

Não! A gente não tinha nenhuma noção do dia que ia acontecer. Só chegávamos na escola e o projeto acontecia. A rotina não mudou muito não. Quando acontecia o projeto, era legal. Foi divertido (BENEFICIÁRIO 1).

O terceiro respondente disse, sem ter certeza, que o projeto ocorria “no final do mês, de vez em quando”.

Não houve conflitos durante a realização do projeto, na opinião de todos os beneficiários. “Todo mundo gostou muito”, afirmou o beneficiário 1. Já o segundo, além de afirmar que não houve conflitos, completou dizendo que até as faxineiras se demonstraram satisfeitas com os trabalhos. “Eu acho que todo mundo gostou, até as faxineiras”, disse o segundo beneficiário. O terceiro também não viu conflitos, uma vez que ele não percebeu sua existência entre os participantes.

Muito positiva também foram as respostas dadas quanto ao compartilhamento dos resultados e aprendizados obtidos com o projeto. Houve envolvimento a aprendizado entre eles. “A gente aprendeu e se envolveu muito”, confirmou o beneficiário 2. Todos disseram

que compartilharam esses aprendizados com outras pessoas e que os demais participantes também fizeram o mesmo. O primeiro respondente relatou:

Foi bem demais. A gente aprendia muito de um modo diferente. Eu lembro que a gente lia os livrinhos e que tinham estórias, tipo "Mula sem cabeça" (BENEFICIÁRIO 1).

Eu acho que foi. Sempre que eles avisavam antes, o povo ficava animado, querendo participar (BENEFICIÁRIO 3).

O compartilhamento entre os participantes das lições aprendidas durante o projeto também é defendido por Buchholz e Rosenthal (2005), Purnell e Freeman (2012), Harrison e Wicks (2013) e Valdez-Vasquez e Klotz (2013), que o colocam como parte do engajamento de stakeholders.

Todavia, não houve escolha de nenhum representante do projeto para dialogar com a empresa promotora do mesmo. Todos os beneficiários, ao discorrer sobre esse assunto, justificaram a resposta relatando que “as atividades aconteciam dentro da escola”.

Respostas negativas também foram observadas na questão que buscava saber sobre as contribuições deixadas aos beneficiários pelos organizadores do projeto. Apenas um beneficiário afirmou ser procurado pelos professores, a fim de captar sua opinião sobre o

assunto, mas nada foi registrado pelos docentes. “Os professores perguntavam a minha opinião, mas não anotavam nada”, disse o beneficiário 1 durante a entrevista. Os demais

afirmaram não existir essa preocupação por parte da organização. Tais respostas não refletem as orientações colocadas por Subtrand (1994), Clarkson (1995) e Weiss (1998), uma vez que as opiniões dos beneficiários finais foram ouvidas, mas não fizeram parte de uma avaliação formal construída pelo gestor. Os autores sugerem o estabelecimento de um plano estruturado de feedback junto aos beneficiários finais, buscando avaliar o progresso do projeto. A opinião dos beneficiários deve ser captada e fazer parte dos registros formais que compõe a avaliação dos projetos.

Mesmo assim, todos gostaram do projeto, aprenderam muito com ele e o indicaria para outras pessoas, pois trouxe contribuições positivas em suas vidas. “Eu gostei. Foi muito legal. Eu aprendi muito. Eu indicaria, pois aumentou minha vontade de ler”, disse o primeiro beneficiários entrevistado. Já o segundo, além de indicar o projeto, gostou de participar dele.

“Gostei de participar. Como foi ensinado como usar os livros, tinham várias cantigas e trava línguas que a gente gostava muito”, completou. No entanto, nenhum deles foi procurado pela

organização e perguntado a respeito de suas opiniões sobre a avaliação do projeto. Também não houve uma avaliação do progresso desses beneficiários por parte da empresa.

Para finalizar, todos se mostraram muito satisfeitos com o projeto social, e justificaram

suas respostas. “Eu aprendi muito. Eu gostava muito de participar”, e, “se tivesse outro, queria participar outra vez”, concluíram todos os beneficiários, mesmo a organização não buscando

saber suas opiniões sobre isso, o que não atende as recomendações de Subtrand (1994), Clarkson (1995) e Weiss (1998).

Quanto às respostas do familiar de um dos participantes, essas se mostraram positivas, demonstrando que o mesmo esteve informado sobre o que acontecia no projeto. “Foi

explicado que o projeto ocorreria por circular da escola”, afirmou o familiar do participante.

Ele também afirmou ter sido convidado a participar de alguns dias do projeto e que ele foi proveitoso, uma vez que as crianças gostavam da participação dos familiares. O projeto também considerou a existência de parcerias com a comunidade ou com outras instituições já ligadas à ela, segundo o respondente. Tais depoimentos concordam com as ideias defendidas por Harrison e Wicks (2013) e Valdes-Vasquez e Klotz (2013), quando

argumentam que o projeto social e comunidade não podem estar dissociados e os impactos que ele produz devem ser avaliadas de maneira estruturada e contínua.

Percebeu-se que as respostas dadas pelos beneficiários foram espontâneas, sem preocupação por parte deles em tentar manipular as respostas das perguntas. Essa espontaneidade observada pelo pesquisador ocorreu, em sua percepção, por se tratar de respondentes adolescentes, com idades entre 13 e 15 anos, que pareceram mostrar em suas falas estarem realizadas ao participarem do projeto.

Quanto às respostas dadas pelo familiar de um dos beneficiários, o pesquisador também notou autenticidade ao não perceber contradições em suas falas, o que indicou que as respostas fornecidas refletiram a realidade do projeto.

4.4 Síntese dos resultados, limitações da pesquisa e possibilidades para futuros estudos