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Análise da Focalização das Transferências na Amostra Urbana

CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS ÍNDICES DE POBREZA, ERRO DE

5.2 Análise dos Resultados para Amostra Urbana

5.2.3 Análise da Focalização das Transferências na Amostra Urbana

As Tabelas 10 e 11 abaixo indicam os menores valores das estimações, considerando os critérios aqui analisados para os dados urbanos, na regressão quantílica (0,5 quantil) para as linhas de pobreza de R$50,00 e R$100,00, respectivamente. Objetivando minimizar os índices de indigência do meio urbano (linha de pobreza igual a R$ 50,00 – Tabela 10), vê-se que os índices de indigência são minimizados quando se considera as variáveis do Modelo 2

na determinação das pessoas pobres que devem ser beneficiadas por políticas sociais, considerando a composição das famílias que contêm um maior número de filhos com idade de 0 a 18 anos, bem como deve-se observar as características de propriedade de bens duráveis e de acesso a serviços básicos que tenham relação negativa com a renda familiar per capita mensal. Porém os resultados obtidos por tais minimizações não são inferiores aos obtidos pela política seguida pelo governo, revelando que os critérios de elegibilidades adotados são mais adequados para reduzir os índices de indigência no país.

A menor proporção do erro de cobertura I, ocorre quando define-se a renda considerando as características do Modelo 1, na minimização do índice de pobreza FGT, P2,

critério mais adequado para políticas de transferência de renda que buscam a minimização de um índice que distribui renda aos mais pobres dos pobres. Já no caso em que se estima reduzir a proporção de pobres, P0, e o hiato de indigência, P1, o mais indicado na redução de tal erro é

considerar as características do Modelo 2, ou seja, deve-se montar políticas que caracterizem pobres, tendo como prioridade atender aos habitantes da região Nordeste, com famílias que sejam compostas por número crescente de crianças, adolescentes e jovens de 0 a 18 anos de idade, com chefe de família que não são chefes do domicílio em que habitam, e/ou em casa mesmo que os habitantes sejam proprietários deste imobiliário e que tenha paredes duráveis, mesmo com acesso a fogão e energia. Além disso, deve-se considerar as famílias que não têm acesso a saneamento e coleta de lixo, bem como aquelas que não possuem os bens considerados no Modelo 2. Deve-se salientar que a variável número de banheiros tem uma forte relação positiva com a renda, o que nos leva a acreditar que a presença de banheiro no domicílio ainda é um artigo de luxo para as famílias mais pobres.

Já se o objetivo é atender a um maior número de famílias (pessoas) que têm renda estimada inferior a linha de indigência (R$ 50,00) – erro de cobertura II, deve-se permanecer considerando as características do Modelo 2, na otimização de P0. Porém, quando se estima

P1, deve-se adicionar aos critérios de elegibilidade as características da formação educacional

da família, considerando as características que têm relação negativa com a renda no Modelo 3, sendo este último conjunto o que apresenta a menor proporção deste tipo de erro de cobertura.

Analisando as menores proporções de pessoas que declaram-se pobres e não são beneficiadas - erro de cobertura II, vê-se que para cada nível de aversão à pobreza, deve-se considerar características diferentes, otimizando P0 tem-se que considerar as características do

Modelo 2, enquanto que na otimização de P1 e P2, deve-se considerar as variáveis do Modelo

proporção do erro de cobertura II; além disso observa-se que esta última proporção é bem menor que o apresentado pela aplicação do programa Bolsa-Família, reduzindo este erro em cerca de 20,59%.

Nota-se ainda que os erros de vazamentos I e II, têm proporção menor quando se considera as característica do Modelo 2, em caso de otimizar-se os índices de pobreza P0 e P2.

Por outro lado, caso se deseje minimizar o hiato de pobreza, P1, tem-se que considerar as

variáveis do Modelo 1 nos critérios de elegibilidade. No entanto, os vazamentos encontrados pelas minimização não são inferiores ao observado pela aplicação dos atuais critérios do Bolsa-Família, indicando que o programa deve permanecer com os mesmo critérios caso se deseje atingir menor nível de vazamentos (I e II).

Por outro lado, se o objetivo é reduzir os índices de pobreza, considerando a linha de pobreza igual a R$ 100,00, vê-se que para reduzir a proporção de pobres (P0) e o hiato de

pobreza (P1), tem-se que adotar políticas que atendam as famílias que tem um maior número

de componentes com idade de 0 a 18 anos e que dividem o domicílio com outras famílias (Modelo 1). Enquanto que, para obter um menor estimação do índice de pobreza considerando uma maior aversão a pobreza (P2), deve-se adotar políticas que observem as características de

região, composição da família, bem como observem as características de propriedade de bens duráveis e de acesso a serviços básicos (Modelo 2), como no caso da área rural descrito anteriormente. Contudo, os índices de pobreza FGT, P2, não são menores que o obtido pela

atual aplicação do programa.

Tabela 10: Valores estimados para os Índices de pobreza, Erro de Cobertura, Erro de Vazamento, considerando a linha de indigência de R$ 50,00 – Dados urbanos.

Modelos Índices de Pobreza Erro de Cobertura Erro de Vazamento Número de Famílias Beneficiadas Número de Pessoas Beneficiadas P0 I II I II Modelo 1 0,0166 0,8444 0,8667 0,6919 0,7092 356 2493 Modelo 2 0,0165 0,8187 0,8494 0,6085 0,6612 597 2934 Modelo 3 0,0198 0,8521 0,8584 0,6534 0,6950 528 2800 Modelo 4 0,0230 0,8708 0,8631 0,6639 0,7202 520 2788 P1 I II I II Modelo 1 0,0124 0,7200 0,8295 0,6548 0,7092 996 4484

Modelo 2 0,0109 0,6971 0,8259 0,6820 0,7225 1303 4901 Modelo 3 0,0137 0,7257 0,8252 0,6922 0,7362 1355 5194 Modelo 4 0,0163 0,7579 0,8329 0,7021 0,7603 1337 5215 P2 I II I II Modelo 1 0,0093 0,6094 0,7609 0,6181 0,6206 796 6254 Modelo 2 0,0076 0,6540 0,7465 0,5217 0,5363 932 5599 Modelo 3 0,0101 0,7179 0,7616 0,5406 0,5580 781 5342 Modelo 4 0,0121 0,6101 0,6744 0,5540 0,5571 1301 8396

Fonte: Elaborado pelo autor.

* Orçamento gasto igual a R$ 99.614,80.

Obs.: Estas estimações não consideram os valores estimados de renda negativa.

M1: Modelo 1 estimado usando as variáveis do conjunto 1 (características regionais - Localização e as características demográficas e de raça).

M2: Modelo 2 estimado usando as variáveis do conjunto 2 (conjunto 1 + características que indicam acesso a serviços e a propriedade de bens duráveis).

M3: Modelo 3 estimado usando as variáveis do conjunto 3 (conjunto 2 + características de formação educacional).

M4: Modelo 4 estimado usando as variáveis do conjunto 4 (conjunto 3 + características de ocupação e composição da renda).

Orçamento gasto igual a R$ 100.165,00 74.162 observações.

A menor proporção de famílias (pessoas) pobres com renda estimada e renda declarada menor igual a R$ 100,00 e que não são beneficiadas pela transferência do governo - erro de cobertura I e II, respectivamente, se dá quando se considera as características do Modelo 3, na otimização de P2, e com o Modelo 2, na otimização de P0 e P1. Exceto para o

erro de cobertura II na minimização de P1, deve-se buscar políticas que caracterizem os

pobres considerando as características negativamente correlacionadas com o Modelos 4. Porém, a estimação de P1 não apresenta erro de cobertura I e II inferior aos obtidos pela

implementação dos critérios já adotados pelo Bolsa-Família.

Vale observar que, independente da minimização do índice de pobreza, a menor proporção dos erros de cobertura I e II, dá-se quando se considera as variáveis do Modelo 3, ou seja, deve-se ter políticas que busquem construir critérios de elegibilidade que atendam as famílias que têm crianças, adolescentes e jovens entre 0 a 18 anos, que possam estar estudando no ensino fundamental, médio e fazendo o pré-vestibular, além de atender às famílias que têm chefe de família com baixo nível educacional (com ensino fundamental e

médio, além de analfabetos), que apesar de ser chefe da família não é chefe do domicilio, dentre outras características que indicam a localização, composição da família, propriedade de bens duráveis, acesso a serviços básicos e nível educacional dos componentes da família.

Vê-se ainda que este método de focalização também reduz o erro de cobertura da zona urbana que pode passar de 87,19% para 71,65%, ou seja, passando a beneficiar cerca de 15,54% a mais da população que se declara pobre que não recebe benefícios do governo, utilizando a mesma restrição orçamentária.

Ademais, quando o objetivo é reduzir os erros de vazamento I e II, tem-se que considerar as características do Modelo 4, quando estima-se P0 e P2, e para a otimização de P1,

o modelo que apresenta uma menor proporção deste tipo de erro de vazamento I é o Modelo 1, enquanto que o erro de vazamento II tem proporção menor quando utiliza-se as características do Modelo 4 (Tabela 11 abaixo). Entretanto, os vazamentos obtidos pela minimização de P1 são superiores ao obtido pelos atuais critérios do Bolsa-Família.

A menor proporção do erro de vazamento I e II, dá-se quando se identifica um indivíduo pobre considerando as características de localização, composição da família, propriedade de bens e acesso a serviços básicos, além de observar o nível educacional dos componentes da família e de composição da renda e ocupação do chefe da família (Modelo 4), ou seja, quando se considera todos as características descritas nesta análise.

Assim, os critérios de elegibilidade que reduzem o erro de vazamento I e II devem atender as famílias que contêm um maior número de filhos com idade de 0 a 18 anos que estejam estudando no ensino fundamental, médio e fazendo pré-vestibular, bem como quanto menor o nível educacional do chefe da família. Alem disso, deve-se observar as características de propriedade de bens duráveis e de acesso a serviços básicos, pois mesmo que as famílias morem em casas próprias, com paredes duráveis, com acesso à energia e que possuam fogão, tais famílias são possíveis beneficiárias. A razão entre número de cômodos/morador (Razcommf) e quantidade banheiro (Numbanh), são caracteriscas que apresentam uma relação negativa forte com a renda, o que equivale a dizer que famílias morando em domílios pequenos e sem banheiro são pobres.

Com relação a ocupação do chefe da famílias trabalha em atividade agrícola, de construção, de comércio e reparação, de alojamento e alimentação, no setor de educação, saúde e serviços sociais), em serviços domésticos, em outros trabalhos coletivos, sociais e pessoais, ou em outras atividades, devem ser incluídas no grupo denominado de pobres, ou seja, devem ser prováveis beneficiários de programas de transferências de renda que reduzem os erros de vazamentos de recursos.

Já se esperava que a inclusão de todos os critérios aqui analisados promoveria um menor nível de desperdícios orçamentários, uma vez que quanto maior o número de critérios de elegibilidade mais difícil será falseá-los.

Deve-se ressaltar que os resultados dos erros de vazamento I e II demonstram que os vazamentos podem ser reduzidos quando define-se a focalização do programa de transferência de renda do governo, como por exemplo, na zona urbana o erro de vazamento pode passar de 38,88% para 14,31%, ou seja, tem-se uma redução de 25,57% dos vazamentos para pessoas não pobres. Em termos de orçamento tem-se uma redução dos vazamentos de cerca de 26,46%, pois este erro passa para 13,42%, o que representa uma economia nos desperdícios de recursos de aproximadamente R$ 26.503,66. Observa-se, portanto, que o uso do mecanismo proxy means-tested, mais especificamente, do método desenvolvido por Glewwe, possibilita a melhoria na eficiência dos gastos com políticas de transferência de renda.

TABELA 11: Valores estimados para os Índices de pobreza, Erro de Cobertura, Erro de Vazamento, considerando a linha de indigência de R$ 100,00 – Dados urbanos.

Modelos Índices de Pobreza Erro de Cobertura Erro de Vazamento Número de Famílias Beneficiadas Número de Pessoas Beneficiadas P0 I II I II Modelo 1 0,0328 0,9467 0,9152 0,3532 0,4056 266 1526 Modelo 2 0,0393 0,9415 0,9091 0,3515 0,3930 418 1990 Modelo 3 0,0426 0,9491 0,9103 0,3143 0,3863 388 1869 Modelo 4 0,0453 0,9532 0,9102 0,2976 0,3651 370 1816 P1 I II I II Modelo 1 0,0194 0,8131 0,8775 0,4316 0,4799 1343 5305 Modelo 2 0,0204 0,8100 0,8684 0,4978 0,5044 1720 6467 Modelo 3 0,0235 0,8274 0,8666 0,4579 0,4793 1660 6320 Modelo 4 0,0263 0,8285 0,8588 0,4501 0,4477 1706 6654 P2 I II I II Modelo 1 0,0145 0,8271 0,8596 0,2542 0,2597 590 4910 Modelo 2 0,0141 0,8988 0,8743 0,1364 0,1533 483 3445 Modelo 3 0,0167 0,6331 0,7165 0,1501 0,2063 2242 13429

Modelo 4

0,0194 0,7658 0,7750 0,1342 0,1431 1398 9084

Fonte: Elaborado pelo autor

Obs.: Estas estimações não consideram os valores estimados de renda negativa.

M1: Modelo 1 estimado usando as variáveis do conjunto 1 (características regionais - Localização Fonte e as características demográficas e de raça).

M2: Modelo 2 estimado usando as variáveis do conjunto 2 (conjunto 1 + características que indicam acesso a serviços e a propriedade de bens duráveis).

M3: Modelo 3 estimado usando as variáveis do conjunto 3 (conjunto 2 + características de formação educacional).

M4: Modelo 4 estimado usando as variáveis do conjunto 4 (conjunto 3 + características de ocupação e composição da renda).

RQ 50: Estimação por regressão quantílica (0,5 quantil). Orçamento gasto igual a R$ 100.165,00

74.162 observações.