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CAPÍTULO 3: METODOLOGIA E BASE DE DADOS

3.4 A Seleção e Tratamento dos Dados

A amostra estabelecida para este trabalho representa um conjunto de informações de características de renda, localização, composição da família, formação, propriedade de bens duráveis e acesso a serviços que são correlatos à renda e que estabelecem uma boa proxy para definir o padrão de vida das famílias.

Vale salientar que se considera componente da família o pai, a mãe, os filhos, outros parentes e agregados, excluindo os pensionistas, empregados domésticos ou parentes do empregado doméstico. Além disso, só foram consideradas na amostra as famílias que apresentaram informações sobre as características consideradas para a análise. Dadas tais restrições, verifica-se que a amostra total é composta por 85.376 famílias, o que corresponde a 286.896 pessoas, dentre as quais 74.162 famílias residem no meio urbano (245.984 pessoas) e 11.214 famílias encontram-se na área rural (40.912 pessoas).

Quanto à renda tornou-se necessário estabelecer o valor do Bolsa-Família das famílias que afirmaram ser beneficiadas do programa, derivando a renda familiar per capita ex ante e

estabelecidos alguns procedimentos18 junto a algumas informações de renda da PNAD 2004 (Suplementos). Assim, segue a descrição de tais processo.

A variável renda considerada foi a denominada pela PNAD de V4722, que corresponde ao rendimento mensal familiar correspondente equivalente à composição considerada nesta análise. Assim, na mensuração deste rendimento excluem-se aqueles rendimentos proveniente dos pensionistas, empregados domésticos, parentes dos empregados domésticos e pessoas de menos de 10 anos de idade.

Para definir o valor recebido pelas famílias beneficiárias do programa, observa-se que em seu questionário há uma pergunta (com código V2005) que investiga se, “em setembro de 2004, algum morador do domicílio recebeu dinheiro do programa social Bolsa-Família” e que a variável “juros de caderneta de poupança e de outras aplicações, dividendos e outros rendimentos que recebia normalmente” (V1273), além de conter informação sobre os valores provenientes das aplicações financeiras (juros de papel de renda fixa e de caderneta de poupança, dividendos etc.); parceria; etc, também incluiu neste tipo o rendimento mensal o que é chamado de “outros rendimentos” que corresponde aos valores de recebimento de benefícios de programas sociais (renda mínima, tais como: Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação do Programa Fome Zero e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, além do Bolsa-Família e do Benefício Assistencial de Prestação Continuada - BPC- LOAS), bem como do programa oficial de auxílio educacional (como o Bolsa-Escola).

Apesar de não estar explícito no questionário o valor do benefício recebido em cada programa social, foi feita análise preliminar dos dados apresentados pela variável V1273 e constata-se que o valor de recebimento declarado e a composição das famílias - considerando rendimentos per capita e o número de crianças com idade para a inclusão no programa avaliado, coincidem com os critérios estabelecidos pela política do governo federal.

Como não é possível distinguir o valor do benefício do Bolsa-Família, dentre os demais programas citados acima, suscita-se um problema de manutenção dos dados, tornando-se necessário o tratamento desta informação. Além desta dificuldade, o banco de dados ainda apresenta outros problemas de compilação. Observa-se que 74,72% (dos quais 25,55% correspondem às respostas dos habitantes da zona rural e 74,45% da área urbana) das famílias que informaram ser beneficiárias não declararam o rendimento de qualquer valor na variável V1273.

18 Tavares e Pazello (2006), analisando a eficiência do Bolsa-Escola, estabeleceram alguns procedimentos para identificar estes vetores de renda. Nossa análise fez algumas adaptações a estes procedimentos que de forma similar forma considerados nesta pesquisa.

Do restante dos domicílios beneficiários 25,28%, que declaram receber “outros rendimentos”, 17,94% afirmam valores múltiplos de R$15,00 que corresponde ao valor do benefício de 1 a 3 filhos, enquanto que 6,12% revelam valor de R$ 50,00 e valores iguais a R$ 65,00, R$ 80,00 e R$ 95,00 são declarados por 43,61% da amostra, estes últimos valores correspondem ao recebimento do benefício do Bolsa-Família, considerando o benefício fixo, que independe da composição familiar, e variável, que depende da composição da família. Nos casos em que são declarados outros valores de recebimento (32,33%), como indicam Tavares e Pazello (2006), várias suposições podem explicar estas variações, tais como: o valor pode ser atribuído unicamente a juros de caderneta de poupança e de outras aplicações, dividendos, dentre outros; pode corresponder ao valor do benefício somado a rendimentos de outras fontes, como por exemplo, do BPC-LOAS; ou pode se tratar de um complemento que os municípios poderiam realizar junto à transferência do Bolsa-Família.

O tratamento dessa informação se deu da seguinte forma: construiu-se uma variável, “valor do Bolsa-Família”, atribuiu-se, os valores acima citados, às famílias que se declararam beneficiárias compatíveis ao programa. Nos casos em que o rendimento declarado é inferior ao valor mínimo compatível, considerando os critérios de elegibilidade do programa, atribuiu- se o valor mínimo compatível e foram desconsiderados os valores excedentes, nos casos em que os valores declarados são superiores aos valores compatíveis, descartou-se os valores das complementações municipais, uma vez que o foco de análise é o programa federal.

Vale salientar que a adoção das suposições acima citadas anteriormente pode sub ou super-estimar o cálculo dos vazamentos, quando calculado como proporção dos gastos que foram transferidos para as famílias não pobres.

Nos casos em que o rendimento V1273 não foi informado, considera-se a composição e a renda per capita da família, atribuindo valores compatíveis ao programa à variável “valor do Bolsa-Família”. Porém, observam-se algumas dificuldades na mensuração desta variável, pois 8,72% das famílias que não informaram o valor de V1273 também não possuem filhos na idade de 0 a 15 anos, nem apresentam renda per capita menor ou igual a R$ 50,00 mensais, ou seja, estas famílias estão recebendo benefícios do Bolsa-Família, mas não apresentam características compatíveis com os critérios de elegibilidade do programa. Como se necessita analisar os vazamentos apresentados pelo programa, considera-se todas as famílias que informaram ser beneficiárias do programa, isto é, opta-se por não descartar esta parte da amostra, mesmo sob o inconveniente de estar incorrendo em um erro de estimação. Neste caso, para atribuir um valor à variável “valor do Bolsa-Família”, supõe-se que estas famílias estão recebendo no mínimo o valor de R$ 15,00 por mês.

Sabe-se que a adoção deste valor pode promover uma subestimação da variável, porém observa-se que em termos gerais não causa grandes prejuízos à análise, uma vez que esta informação só servirá para calcular os vazamentos do programa..

Realizados os procedimentos descritos acima, pôde-se construir as variáveis de renda corrigidas: renda familiar per capita sem o Bolsa-Família (renda familiar ex ante) e renda familiar per capita com o Bolsa-Família (renda familiar ex post). A diferença entre essas duas medidas está na inclusão do benefício associado ao Bolsa-Família. Assim, para mensurar ex

ante, procede-se da seguinte forma: nos casos em que nenhum rendimento associado ao

programa tenha sido informado, a renda familiar declarada na PNAD é exatamente igual à renda familiar ex ante e nos casos em que o rendimento foi informado subtraiu-se da renda declarada na PNAD o “valor do Bolsa-Família”. Por outro lado, para mensurar a renda familiar per capita ex post, no caso em que nenhum rendimento associado ao programa foi declarado, adicionou-se à renda o “valor do Bolsa-Família” e no segundo caso, a renda é exatamente igual à renda declarada na pesquisa. Obviamente, para os domicílios não- beneficiários, não há diferença entre as duas rendas.

Objetivando observar se é possível melhoram a focalização do programa, utiliza-se a variável “valor do Bolsa-Família”, que corresponde ao orçamento disponível pelo programa Bolsa-Família na amostra analisada, para definir o orçamento disponível pelo governo para realizar a otimização do problema de minimização matemática não linear descrito acima. Os orçamentos do governo considerados no passo 3 foram definidos quando utiliza-se os dados da amostra total, além de considerar apenas a zona urbana e a zona rural, equivalentes a R$ 131.735,00, R$ 100.165,00 e R$ 31.570,00, respectivamente. Vale salientar que tais orçamentos foram considerados independentes da linha de pobreza considerada, ou seja, como almeja-se analisar o desempenho do programa Bolsa-Família como um todo, considerou-se o gasto deste orçamento na otimização de ambas as linhas de pobreza consideradas.