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2 O PROCESSO INVESTIGATIVO EM CURSO: CONSTRUINDO CAMINHOS E

2.3 O processo investigativo: estratégias para apropriação do concreto

2.3.1 Análise dos dados

Com o intuito de trabalhar analiticamente o material coletado nesta investigação, utilizamos a técnica da análise de conteúdo, uma vez que esta se configura como via fecunda

para o desvendamento do nosso objeto de estudo - “Os sentidos e significados do trabalho na

Coordenadoria da Criança e do Adolescente/FUNCI”.

Uma referência nas elaborações sobre análise de conteúdo é Laurence Bardin. Sendo assim, foi na perspectiva desta autora que pautamos a análise dos discursos emanadas do nosso campo de investigação. De acordo Bardin, a análise de conteúdo define-se como:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. (BARDIN, 1977, p.42).

Destarte, a análise de conteúdo busca desvendar os sentidos e significados de diversos tipos de discursos, baseando-se na descrição e na inferência ou dedução do conteúdo das falas apresentadas pelos sujeitos, sendo, de fato, uma fecunda via de análise da presente pesquisa. A rigor, para Bardin (1977), a análise de conteúdo pauta-se em três pilares, quais sejam: a pré-análise, a inferência ou dedução e a interpretação.

A pré-análise é constituída pela preparação do material que se dá por meio da leitura flutuante (as primeiras leituras e contatos com os discursos); da formulação de hipóteses, a partir dos objetivos da pesquisa; da elaboração de indicadores.

Após essa exploração inicial do material empírico, tem-se um arcabouço diversificado de técnicas para o aprofundamento das análises dos discursos, a exemplo da análise temática. De fato, este tipo de análise adentra no conteúdo das falas, a partir de categorias, temas, unidades simbólicas. Nesse sentido, escolhemos a análise temática como via para aprofundar as análises dos discursos dos sujeitos desta pesquisa. Cabe salientar que a análise temática é realizada através da codificação das falas, por meio do desdobramento delas em unidades significativas (núcleos de sentido), e do posterior reagrupamento dos discursos em classes e categoria.

Feito isso, tem-se a última fase da análise de conteúdo, são elas: a inferência e a interpretação. Essa fase permite que as codificações e categorizações se constituam em análises reflexivas a revelar o conteúdo dos discursos suscitados durante a pesquisa.

No sentido de ampliar a perspectiva de análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, nos inspiramos, também, na perspectiva adotada por Mirian Limoeiro Cardoso sobre essa temática. Para tanto, nos utilizamos das elaborações feitas pela pesquisadora Alba Maria

Pinho de Carvalho (1983) em seu trabalho de dissertação de mestrado publicado em 1983. Segue a interpretação de Carvalho (1983) sobre a análise de conteúdo em Mirian Limoeiro Cardoso:

Miriam Limoeiro, partindo da constatação da insuficiência do método de análise de conteúdo tradicional e do método de análise estrutural em termos de capacidade explicativa, configura uma nova técnica de análise de conteúdo, a partir de indicações dos dois referidos métodos, buscando ultrapassar no processo do conhecimento o nível de descrição para atingir o nível de análise. Essa sua proposição metodológica, fundada na tese do papel decisivo da orientação teórica na construção do conhecimento do real, faz a ligação entre teoria e material empírico. O processo metodológico inicia-se com a configuração de uma teoria no sentido de delimitação de categorias fundamentais que precisam ser simples e suficientemente gerais para orientar todo o processo de investigação. Tenho por base as categorias teóricas fundamentais e a especificidade do objeto de estudo, definem-se as unidades de análise que são os temas. Os temas, como unidades de análise, expressam feixes de relações, ou seja, uma combinação de relações. Os temas são constituídos por itens que configuram determinadas relações em suas diferentes possibilidades, marcando assim os diversos posicionamentos que podem ser assumidos em cada tema (CARVALHO, 1983, p.18, 19)

Assim, tendo no horizonte as análises de conteúdo de Bardin (1977) e de Mirian Limoeiro Cardoso, considerando o potencial analítico do material empírico levantado em campo, construí, em estreita parceria com a orientadora, os instrumentos delineadores da análise de conteúdo em 19 temas e seus respectivos itens. Esse instrumental está consubstanciado no quadro abaixo:

TEMA I – INSERÇÃO INSTITUCIONAL E CAPACITAÇÕES

a) Seleção do profissional por meio de concurso público b) Seleção do profissional sem concurso público

c) Seleção sem a mediação de indicação d) Seleção mediada por indicação

e) Capacitações satisfatórias em qualidade f) Capacitações satisfatórias em quantidade g) Capacitações insatisfatórias em qualidade h) Capacitações insatisfatórias em quantidade

TEMA II – O PORQUÊ DA ESCOLHA DA FUNCI

a) Por identificação com o trabalho social

c) Por identificação com a arte d) Por oportunidade/escolha aleatória e) Por necessidade de sobrevivência f) Por oportunidade de carteira assinada

TEMA III – PRINCIPAIS DIFICULDADES ENCONTRADAS NO

TRABALHO

a) Condições relativas a direitos trabalhistas (vínculo, salário, férias, hora-extra) b) Condições relativas ao espaço físico, equipamentos, materiais

c) Quantidade insuficiente de profissionais

d) Dificuldades com a visão de mundo e a capacidade técnica dos profissionais e) Riscos do trabalho

f) Relações de trabalho

g) Dificuldade com a rede social n) Falta de capacitações

TEMA IV – QUALIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO

RELATIVAS A ESPAÇO FÍSICO, EQUIPAMENTOS, MATERIAIS, QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS NO ÂMBITO INSTITUCIONAL

a) Condições atendendo de forma satisfatória às demandas de trabalho. b) Condições que atendem de forma parcial às exigências do trabalho. c) Total precariedade das condições de trabalho

TEMA VI – QUALIFICAÇÃO DO TRABALHO NO TOCANTE A

DIREITOS TRABALHISTAS (Vínculo, salário, férias, carga horária etc) a) Vínculo estável

b) Vínculo instável c) Vínculo terceirizado d) Vínculo comissionado e) Salário satisfatório

f) Salário insatisfatório

g) Direito pleno a férias, adicional noturno, pagamento de hora-extra h) Não atendimento do direito a férias, dentre outros direitos

TEMA VII – RISCOS DO TRABALHO

a) Há segurança no trabalho

b) Risco no trabalho com furtos, roubos

c) Risco de agressão física por parte do público atendido d) Tiroteio

e) Outros (saúde etc)

TEMA VIII – O PORQUÊ DAS DIFICULDADES

a) Burocracia

b) Incompetência administrativa c) Questão financeira

d) Falta de prioridade com a infância e adolescência e) Falta de interesse político

TEMA IX – COMO SE SENTEM DIANTE DAS DIFICULDADES

INSTITUCIONAIS a) Impotentes b) Estressados/ angustiados c) Desmotivados d) Desafiados e) Podado f) Frustrados

TEMA X – RELAÇÕES NO TRABALHO

a) Meramente profissional b) De amizade

c) Conflituosas d) De muito diálogo

TEMA XI – DEMANDAS DE ATUAÇÃO EMERGENTES DO CAMPO a) Demandas relativas à destituição de direitos e exclusões na rota da pobreza e

miséria.

b) Demandas vinculadas às múltiplas formas de violência, com destaque para drogas e criminalidade.

c) Demandas relativas à sexualidade- afetividade, com foco em exploração, abuso e violência institucional.

TEMA XII – CONCEPÇÕES DA QUESTÃO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE NA CIVILIZAÇÃO DO CAPITAL a) Expressão de questão social e suas contradições

b) Decorrentes da desestruturação familiar, com foco no desajuste do indivíduo. TEMA XIII - A CONCEPÇÃO DE TRABALHO PROFISSIONAL NO EXERCÍCIO DA POLÍTICA PÚBLICA

a) Missão político-profissional de promoção da justiça e da igualdade na garantia de direitos sociais

b) Campo de atuação técnico em atendimento às demandas do campo profissional c) Campo de atuação como militância política-ideológica

d) Missão de militância religiosa de mudança para melhorar o mundo TEMA XIV – MOTIVAÇÃO/DESMOTIVAÇÃO NO TRABALHO a) É motivante realizar um trabalho com o qual se identifica

b) É motivante efetivar os resultados do trabalho

c) É desmotivante não vislumbrar os resultados do trabalho d) É desmotivante trabalhar com algo com o qual não se identifica

TEMA XV – TRABALHO E SATISFAÇÃO PESSOAL

a) Trabalho gratificante para o profissional por permitir realizar atuação com a qual se identifica e possibilitar ver o crescimento dos sujeitos

c) Trabalho frustrante por não permitir ver resultados em função dos limites do próprio campo e ou da instituição

d) Trabalho insatisfatório por não ter afinidade com o campo.

e) Trabalho frustrante pela falta de condições institucionais e/ou desvalorização do profissional

f) Trabalho frustrante pela desistência das meninas

TEMA XVI – IMPACTO DO TRABALHO NO UNIVERSO DOS

TRABALHADORES

a) Realização e crescimento profissional b) Sofrimento, tensões, cansaço, estresse c) Desestímulo, desejo de sair do campo

TEMA XVII – POSSIBILIDADES E LIMITES DO TRABALHO

a) Trabalho possibilita formação em processo e amadurecimento profissional b) Trabalho propicia humanização fazendo-me crescer como pessoa

c) Trabalho não oferece condições de vida digna com acesso a direitos

TEMA XVIII – FORMAS DE RESISTÊNCIA E LUTAS NO ÂMBITO DO

TRABALHO

a) Resistências individuais em nível de reclamações, desabafos e improvisando condições de trabalho para dar continuidade ao seu exercício.

b) Não exercitar resistências acomodando-se e improvisando condições de trabalho para dar continuidade ao seu exercício

c) Articular-se coletivamente, criando formas de organização e/ou inserindo-se por melhores condições de trabalho

TEMA XIX – PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS NO ÂMBITO DO

TRABALHO

a) Continuar neste campo de atuação de política social, permanecendo na instituição

b) Continuar no campo de atuação na área social, saindo da instituição e buscando outras alternativas

3 NAS TESSITURAS DO CONCRETO PENSADO: O MUNDO DO TRABALHO DA FUNCI EM SEUS SENTIDOS E SIGNIFICADOS

“O movimento do capital é insaciável” (Karl Marx)