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2 O PROCESSO INVESTIGATIVO EM CURSO: CONSTRUINDO CAMINHOS E

3.4 Os sentidos e significados do trabalho: Olhares da

3.4.1 Ser trabalhador (a) da FUNCI: caminhos e descaminhos de

Ao buscar refletir sobre sentidos e significados do trabalho para os profissionais operadores de Política da Infância e Adolescência no contexto institucional da FUNCI, cabe, de saída, refletir sobre uma primeira indagação: por que estes profissionais ingressam na FUNCI? Por que assumem trabalhar nesta instituição?

O ingresso na FUNCI, como instituição para trabalho, deu-se, para 73% dos trinta profissionais entrevistados, a partir da identificação com trabalho na área social. A maioria destes sujeitos já tinham experiência nesta área. É o que revelam os profissionais em seus depoimentos:

Eu já tinha trabalhado na área e é o que eu gosto de fazer, embora tenha muitas críticas [...] A FUNCI, eu não conhecia muito bem, mas sabia o mais importante: que trabalhava com o social. Entrevistado o

Eu sempre gostei de atuar na área social [...] A FUNCI surgiu como oportunidade de dar continuidade ao trabalho nessa área [...] Não que a FUNCI seja meu ideal de trabalho nessa área, as condições são péssimas, mas infelizmente quem gosta da área social não tem muita opção não. Entrevistado b

Gosto da área social, a FUNCI foi uma oportunidade nesse sentido [...] Uma oportunidade em meio à falta de oportunidades. Entrevistado A

Cabe ressaltar que o ingressar na FUNCI para profissionais já atuantes na área social, deu-se como a alternativa possível e viável, face às dificuldades de inserção no mercado de profissional para as juventudes, particularmente para os sujeitos profissionais

jovens do campo social – que enfrentam a restrição e precarização das oportunidades de trabalho. Em verdade, os sujeitos profissionais em cena no campo investigativo configuram- se, em sua maioria, dentro do segmento que podemos considerar jovens profissionais a enfrentar as dificuldades de atuar profissionalmente na chamada área do social. E dentre esses sujeitos delineia-se, como tendência, a consciência da precarização das condições de trabalho na FUNCI. É uma consciência forjada na experiência.

Para cerca de 27% dos sujeitos profissionais, constituintes do campo investigativo, o trabalho na FUNCI configurou-se como primeira vivência profissional na área social. A rigor, antes de ingressarem nesta instituição de atuação no social,trabalhavam em outras áreas, como vendedores, operadores de telemarketing, auxiliares de escritório, trabalho em construção civil, cobradores de ônibus, não tendo experiência de trabalho na área social. Uma maioria destes principiantes, chegaram a declarar não ter, até então, identidade com essa área social. Em verdade, para estes profissionais, a escolha pela FUNCI deu-se aleatoriamente e por oportunidade, em decorrência de necessidade premente de trabalho. Cabe sublinhar que tais sujeitos, após a experiência profissional na FUNCI, passaram a identificar-se com o trabalho na área social. Senão vejamos:

A FUNCI surgiu como uma oportunidade, porque até então não tinha trabalhado na área social. Trabalhei na construção civil, como cobrador de ônibus, onde aprendi a me comunicar com as pessoas [...] E passei a me identificar totalmente com essa área, embora meu sonho hoje seja sair da área social por que tem muito problema e muito faz de conta, muita hipocrisia. Entrevistado M

Estava desempregada, tinha contatos na FUNCI, levei meu currículo, fiz seleção [...] Nunca tinha trabalhado na área social. Trabalhei com comércio, vendas, mesmo [...] Inicialmente foi oportunidade mesmo, não procurava trabalho na área social, mas, agora, me identifico muito. Entrevistado B

Uma minoria dos 27% de neófitos na área social, declararam já ter uma identificação com esta área. Neste sentido, eis a fala de um entrevistado:

Minha primeira experiência profissional foi o estágio na FUNCI, mas já me identificava com a área social. Entrevistado P

Ao ingressarem na FUNCI, a grande maioria, ou seja, mais de 70% dos sujeitos entrevistados, revelaram ter conhecimento superficial sobre a instituição, passando a conhecê- la efetivamente quando ingressaram no seu quadro de pessoal. Algumas falas são emblemáticas desta situação:

Eu queria trabalho na área social, mas não sabia direito o que a FUNCI fazia, não! Conheci na prática. Surgiu a oportunidade e eu fui. Entrevistado c

Eu gosto da área social, por isso escolhi vim pra cá [...] Mas nem sabia do que se tratava o trabalho daqui [...] Surgiu uma vaga, eu queria trabalhar na área social e até hoje tô aqui. Entrevistado O

Uma minoria desse segmento, aproximadamente 30%, a escolha da FUNCI, dentre as demais instituições que trabalham com o social, deu-se intencional, já dispondo de conhecimentos sobre a instituição tendo, inclusive, oportunidades de trabalho social em outros contextos. A fala a seguir é deveras emblemática desta opção pela FUNCI na conjuntura de então:

Eu escolhi a FUNCI porque já conhecia o trabalho dela, achava muito bacana a proposta [...] Sabia que o trabalho seria no campo dos Direitos Humanos e acreditava que a Prefeitura de Fortaleza, com gestão petista, seria um local onde poderia, na prática, por meus conhecimentos em prol de uma sociedade mais justa [...] Eu tinha outras oportunidades, mas escolhi a FUNCI. Entrevistado P

É importante demarcar fatores intervenientes no ingresso na FUNCI, decorrentes de particularidades de determinados campos profissionais. Especificamente os arte- educadores entrevistados, o vínculo empregatício com carteira assinada foi aspecto importante para a escolha pelo trabalho na FUNCI. De fato, eles afirmam que as oportunidades de trabalho na área artística são escassas e as que surgem, geralmente, vinculam-se ao trabalho informal, sem oferecer nenhuma estabilidade para o profissional.

Por fim, vale ressaltar que esteve presente em todas as falas a dimensão da sobrevivência como fator determinante para a inserção na condição de empregado na FUNCI, principalmente para os que se encontravam desempregados. As falas abaixo são deveras reveladoras:

Olha, por mais que a gente escolha trabalhar aqui por gostar da área social, o que determina mesmo é a necessidade de sobrevivência [...] Porque preferia tá fazendo isso aqui simplesmente por gosto, sem horário fechado, nessa escravidão, sem poder adoecer, nem nada. Entrevistado h

Gosto da área social, gosto das adolescentes, mas se fosse pra escolher preferia tá passeando, fazendo trabalhos voluntários onde eu quisesse [...] No infringir dos ovos, a gente trabalha pra sobreviver mesmo. Entrevistado e

Trabalhar só pela sobrevivência é o fim, mas mesmo que se tenha gosto pelo trabalho, é melhor tá fazendo outras coisas da vida, contribuindo de outras formas [...] Principalmente porque a gente sofre muito nesse trabalho. Entrevistado k

Nesse sentido, esses trabalhadores inserem-se na FUNCI a partir de determinadas motivações e expectativas a serem postas a prova no decorrer do exercício profissional na instituição, como veremos a seguir.

3.4.2 Concepções dos sujeitos trabalhadores acerca do trabalho assumido no contexto