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Lista de Abreviaturas / Legenda

CAMPEONATO DA EUROPA DE FUTSAL (HUNGRIA 2010)

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Análise Descritiva

5.1.1. Análise Descritiva das Condutas Comportamentais e Contextuais

No que concerne às condutas ou ações de jogo que mais frequentemente desencadearam situações de SNO (Figura 10), constata-se uma elevada supremacia da utilização do GR (ou um substituto) avançado, visto constituir uma possibilidade incluída no regulamento da modalidade, que pode facilmente ser posta em prática, em qualquer momento do jogo.

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Apesar do risco que pode acarretar para a equipa que faz uso dessa possibilidade, constitui um recurso frequentemente utilizado, principalmente na parte final dos jogos, quando as equipas se encontram em desvantagem no marcador e procuram dessa forma criar situações de finalização que lhes permitam alterar ou inverter o resultado final do jogo.

92 63 3 12 143 8 79 10 38 12 197 5 0 25 50 75 100 125 150 175 200

Isi Isd Isdu Isdp ISp Iscd Isdr Isr Isgr ISir IS5a Isab

Figura 10: Frequência Absoluta relativa às condutas de Início de SNO. Frequência Absoluta

Na Figura 10 é ainda visível que, excetuando a utilização do GR avançado, o passe se afigura como a ação a que as equipas mais recorrem para criar SNO (com 143 sequências iniciadas a partir de um passe de rutura), logo seguida da interceção e do desarme.

Do exposto se infere que as situações de SNO tanto podem surgir na sequência do processo ofensivo, através de um passe de rutura que cria esse desequilíbrio (cerca de 22% do total de ações de início de SNO, ou 30% no caso de não se contabilizar as que resultaram da utilização do GR avançado), como através de ações defensivas (interceção, desarme, etc.). Estas, a partir da recuperação da posse de bola, poderão configurar situações de vantagem numérica e/ou posicional na transição ofensiva, conforme o local e o contexto interaccional patente ou estabelecido no momento em que ocorrem.

Neste âmbito, embora incidindo sobre o que se passa no Futebol, Castelo (1996) refere que a possibilidade de uma ação ofensiva terminar em finalização depende sobretudo das circunstâncias em que ocorreu a recuperação da posse de bola, ao qual acrescentaríamos que a eventual finalização de uma situação

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de SNO com sucesso poderá estar também relacionada com a forma como se prepara o processo defensivo, como se prepara o momento de recuperação da posse de bola e os momentos de transição para o ataque, onde se operacionalizam e se manifestam frequentemente os desequilíbrios que permitem finalizar com êxito.

Tal como Barreira (2006) afirma para o Futebol, estamos em crer que também o Futsal encerra contornos de um equilíbrio interaccional que vem conquistando elevado predomínio no fluxo comportamental do jogo. Sabendo que os golos, em grande parte das vezes são obtidos em situações de desequilíbrio organizacional, os Estados de Transição assumem um papel de grande preponderância no resultado final do jogo (Barreira, 2006). É predominantemente através ou durante estes estados de transição que se procura criar ou que se beneficia de situações de superioridade numérica fruto do desequilíbrio organizacional instalado.

Os dados obtidos corroboram os de J. Lopes (2007), que concluiu que o início do contra-ataque se produz habitualmente através das condutas de interceção e desarme, que permitem posteriormente dar continuidade ao jogo ofensivo e uma progressão mais rápida para a baliza adversária, com o objetivo de surpreender a equipa adversária através da diminuição do tempo que esta dispõe para se organizar defensivamente.

Segundo Garganta (1997), uma equipa tem maior probabilidade de ser eficiente do ponto de vista ofensivo, quando conquista a bola através de interceção, embora estas conclusões digam respeito a estudos realizados no Futebol e não na modalidade sobre a qual versa a presente investigação.

No atinente às condutas de Desenvolvimento de SNO, como se vislumbra na Figura 11, as ações de passe curto e receção/controle de bola assumem grande destaque com valores incomparavelmente superiores às demais condutas.

130 1400 1671 21 159 72 9 31 0 300 600 900 1200 1500 1800 Drc Dpc Dpl Dcd Dd Ddu Dr

Figura 11: Frequência Absoluta relativa às condutas de Desenvolvimento de SNO. Frequência Absoluta

Estes resultados permitem inferir da importância que o passe (fundamentalmente o passe curto, de acordo com os critérios definidos no instrumento de observação) e a receção/controle da bola assumem no fluxo comportamental do jogo de Futsal e no desenvolvimento ou na continuidade destas situações.

Estas ações constituem os recursos ou as soluções mais frequentemente utilizadas nas situações de SNO, à imagem do que se passa no jogo em geral. Atendendo às características e à especificidade da própria modalidade, bem como ao contexto interaccional patente nas situações em estudo, estes resultados reforçam a importância destas ações e a premente necessidade de se acautelar a sua otimização em processo de treino, de acordo com estes contextos.

De salientar ainda o reduzido número de passes longos observados no universo total das ações e sequências analisadas. Estes dados confirmam que no jogo de Futsal são preponderantes os passes curtos, visto que as equipas funcionam quase em bloco, com as linhas próximas, com apoios, coberturas e trocas posicionais constantes. O passe longo é, nesse contexto, um recurso poucas vezes utilizado, o que não inviabiliza de todo a sua eventual importância, pela possibilidade de originar situações reais de perigo para o adversário e de resultar em situações de finalização, como fica demonstrado pelo facto de surgir também associado à criação de situações de SNO.

Estes dados são coerentes com os encontrados em estudos realizados no âmbito do Futebol, onde também o passe curto/médio regista uma

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predominância no desenvolvimento das sequências ofensivas (Castelo, 1994; Garganta, 1997; Mombaerts, 2000).

No que diz respeito às condutas de Final de SNO, é notória a supremacia das condutas de final por interrupção regulamentar (Fir) e final por remate dentro (Frd) em relação às demais (Figura 12). Uma parte significativa das sequências em SNO terminam com uma interrupção regulamentar (aproximadamente 25%), o que não é de estranhar atendendo à quantidade de situações que esta conduta abarca (designadamente as faltas a favor ou contra, a saída da bola do espaço de jogo, etc.).

76 141 94 39 84 25 36 3 164 0 25 50 75 100 125 150 175

Fgl Frd Frf Fra Fpa Fgr Fdef F5a Fir

Figura 12: Frequência Absoluta relativa às condutas de Final de SNO. Frequência Absoluta

Com valores próximos dos registados para o Fir, aparece a conduta de Frd, que configura um final com êxito parcial, por representar um remate enquadrado com a baliza. Este resultado confirma a importância destas situações na finalização das equipas que delas beneficiam, visto que uma parte significativa das situações de SNO terminam com remate enquadrado com a baliza, que só não origina golo por defesa do GR ou por a bola ter embatido nos postes ou na trave.

De salientar também o número significativo de situações de SNO que terminam em golo (76), o que só por si demonstra que estes momentos podem ser determinantes num jogo de Futsal. Estas situações que permitiram uma finalização com êxito total representam aproximadamente 12% do total das

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sequências observadas, o que parece ser um dado expressivo e revelador da pertinência do estudo e da otimização destes momentos do jogo.

Se ao número de situações de SNO que terminam em golo, se juntar todas as que culminaram com um remate à baliza adversária (Fgl, Frd, Frf e Fra), verifica-se que estas perfazem um total de 350, num universo de 663, o que representa cerca de 53% do total. Estes valores atestam bem da importância que estes momentos podem assumir na criação de situações de finalização e na finalização propriamente dita das equipas de Futsal, podendo contribuir decisivamente para o resultado final dos jogos.

5.1.1.1. Eficácia das situações de superioridade numérica ofensiva

Para além do número de sequências finalizadas com êxito (total ou parcial) ou sem êxito, afigura-se pertinente indagar acerca da eficácia em jogo associada ao usufruto de uma situação de superioridade numérica ofensiva, em que uma equipa beneficia de um desequilíbrio numérico e/ou posicional que consubstancia uma vantagem momentânea, relativa ou absoluta, em relação à equipa adversária.

Nesse sentido, a partir dos resultados obtidos e usando como referência os procedimentos e as fórmulas expostas em Garganta (1997) para determinar a eficácia ofensiva, calculou-se a eficácia relativa e absoluta das SNO (Quadro 15).

Quadro 15: Eficácia relativa (ER) e eficácia absoluta (EA) das SNO.

Eficácia das SNO

Ataques Remates Golos ER EA

663 350 76 52.8 11.5

Sabendo que no Futsal, tal como no Futebol, o remate é a ação de finalização por excelência, encontrando-se a sua importância justificada pelo

Eficácia relativa das SNO (ER)

ER = número de remates à baliza em SNO x 100 número de ataques em SNO

Eficácia absoluta das SNO (EA)

EA = número golos em SNO x 100 número de ataques em SNO

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facto de representar o culminar de uma sequência de jogo ofensiva (Garganta, 1997), os dados permitem concluir que um contexto de superioridade numérica ofensiva propicia a finalização em mais de 50% das situações, ou seja, mais de metade das situações de SNO originam um remate à baliza adversária. Para além disso em cerca de 12% das situações de SNO, as equipas finalizam com êxito, isto é, materializam o objetivo supremo do jogo que é marcar golos, facto que foi conseguido em 76 das 663 sequências observadas.

Estes dados permitem calcular a eficácia das situações de SNO (Quadro 15), que apresentam valores para a eficácia relativa de 52.8 e para a eficácia absoluta de 11.5. Estes valores são claramente superiores aos encontrados por Garganta (1997), no seu estudo da organização ofensiva em equipas de Futebol de alto nível competitivo, com base na análise de sequências de jogo, o que é perfeitamente compreensível atendendo à natureza e à especificidade das próprias modalidades e dos objetos de estudo em causa.

De realçar que no total dos jogos integrantes da competição observada (Campeonato da Europa de Futsal 2010) foram marcados 126 golos (média de 6.3 golos por jogo), dos quais 76 foram alcançados no decorrer ou em resultado de situações de SNO (60%), facto bem comprovativo do peso que estas situações podem assumir na finalização das equipas de Futsal. Quando bem exploradas e aproveitadas de forma eficaz, podem ser determinantes no resultado final dos jogos, sendo por conseguinte, decisivas na otimização do rendimento competitivo e na procura do sucesso desportivo.