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Necessidade de um Modelo de Jogo, alicerçado numa “Filosofia de Jogo”

Lista de Abreviaturas / Legenda

2. Revisão da Literatura

2.4. Importância da Dimensão Tática e dos Processos Cognitivos Inerentes

2.4.2. Necessidade de um Modelo de Jogo, alicerçado numa “Filosofia de Jogo”

O desenvolvimento da capacidade cognitiva, especialmente no alto rendimento, deverá ser concretizado de forma específica em função do que o treinador pretende e da ideia ou projeto de organização de jogo coletivo (Braz, 2006). Essa ideia ou projeto advêm do conhecimento que se tem do jogo, da forma como se quer jogar, como se pensa e como se percebe o jogo, no fundo da “filosofia de jogo” de cada treinador, materializada na implementação de um modelo de jogo.

A determinação e caracterização do Modelo de Jogo devem conduzir à elaboração de um quadro de referências que permita direcionar, de uma forma coerente, o processo de preparação e de treino (Pinto & Garganta, 1996). O jogador é obrigado a procurar soluções variadas, balizadas segundo princípios de organização concretos, em função das particularidades da equipa e da conceção do treinador. Essa escolha deverá ser específica em relação ao modelo de jogo definido e à organização de jogo pretendida, não uma organização qualquer, mas a implementada por aquele modelo, daquele treinador, com aquelas condições (Braz, 2006).

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“A preparação tático-técnica terá de ter presente o tipo de solicitações que o modelo de jogo defendido coloca” (Pinto & Garganta, 1996, p. 91). Nesse sentido, para ser específico, o treino deve ser organizado em função do modelo de atividade que se pretende que os jogadores desenvolvam, simulando numa determinada dimensão (macro ou micro) os princípios do modelo de jogo preconizados pelo treinador (Garganta, 2002; J. G. Oliveira, 2002).

A especificidade tem que passar a ser uma “filosofia” de treino, em que os objetivos e conteúdos têm que estar intimamente relacionados com o Modelo de Jogo e respetivos princípios e exigências, aberta a todas as imprevisibilidades que a essência do próprio jogo transporta (J. G. Oliveira, 1991).

Apesar de ser uma modalidade essencialmente tática, no Futsal são vários os fatores que concorrem para o rendimento elevado e para o sucesso desportivo. A juntar aos fatores de ordem tática, que devem aglutinar ou integrar e simultaneamente condicionar os restantes (J. Pinto, 1996), surgem também os fatores de natureza técnica, física e psicológica/social.

Considerando as características do Futsal, não podemos também deixar de evidenciar que a capacidade técnica individual, assim como o poder de improvisação de alguns jogadores, são fatores de extrema importância para o fortalecimento de uma equipa e para a resolução dos problemas com que se deparam no jogo (Mutti, 2003; Rezer & Saad, 2005). Contudo, não esquecendo a essencialidade tática do jogo, nas ações técnicas, tal como nos sugere Osimani (2004), não nos devemos preocupar apenas com a execução, mas antes com o aspeto cognitivo, com a adaptação das respostas motoras ao exigível em cada situação, de acordo com os constrangimentos impostos em cada momento.

As competências dos jogadores e da equipa, ultrapassam largamente o domínio das habilidades técnicas e capacidades motoras, centrando-se sobretudo ao nível dos princípios de ação, das regras de gestão e organização do jogo e das aptidões percetivo-decisionais (A. Lopes, 2007). No plano prático, a tática e a técnica são indissociáveis estando as ações técnicas

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sempre em relação com as apreciações (leitura) e as escolhas efetuadas pelos jogadores (Gréhaigne, 2001).

A verdadeira dimensão da técnica repousa na sua utilidade para servir à inteligência e à capacidade de decisão tática dos jogadores e das equipas, ou seja na capacidade de selecionar as habilidades técnicas mais adequadas às sucessivas configurações do jogo (Garganta, 2006). Nessa perspetiva, o autor entende que o seu treino deve atender, sobretudo, aos preceitos da sua adaptação inteligente às situações de jogo, afigurando-se portanto, mais importante saber gerir regras de funcionamento ou princípios de ação, do que recorrer a habilidades estereotipadas ou esquemas táticos rígidos e predeterminados.

A componente tática, e mais precisamente o Modelo de Jogo definido, deve ser o orientador ou coordenador de todo o processo evolutivo de periodização e planificação do treino. As outras dimensões do treino (técnica, física, cognitiva e psicológica) devem surgir em função das respetivas exigências do Modelo de Jogo criado (J. G. Oliveira, 2002), sendo a interação das diferentes dimensões, um dos aspetos chave deste tipo de conceção.

Na mesma linha, Carvalhal (2001) e Frade (2001) são apologistas de que não se divida o treino nos seus diversos fatores, devendo estes “abraçar-se” no treino e aparecer de forma contextualizada, em função dos princípios de jogo definidos pelo treinador, em função do Modelo de Jogo pretendido. A preocupação é colocar o mais cedo possível a equipa a jogar como o treinador quer, isto é, em função do Modelo de Jogo idealizado pelo treinador, assumindo a especificidade um papel fundamental de coordenação de todo o trabalho (Carvalhal, 2001; Frade, 2001; J. G. Oliveira, 2002).

Todos estes autores reclamam então a necessidade de uma preparação sistémica, em que todos os fatores estão em interligação e se condicionam mutuamente, tendo em vista, fundamentalmente, a aquisição da forma de jogar que o treinador idealizou. A Dimensão Tática assume um papel fundamental e coordenador de todo o processo, surgindo a necessidade de integrar todos os outros fatores do treino como forma de potenciar o desempenho tático. O

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Modelo de Jogo e a especificidade do trabalho realizado em relação a esse modelo são os aspetos centrais desta conceção.

De acordo com Frade (2001), a especificidade não é a especificidade do Futebol, ou do Futsal neste caso, mas sim a especificidade do modelo. Cada modelo tem princípios e portanto a sua especificidade concretizada na aplicação de tais princípios. O princípio da especificidade tem a ver com a escolha do complexo de exercícios que são compatíveis ou adequados com a ideia/conceção de jogo de cada treinador, para operacionalizar o Modelo de Jogo e respetivos princípios.

Somente existe especificidade quando os estímulos a que são submetidos os jogadores estão totalmente interligados com o modelo de jogo e respetivos princípios, no referente às capacidades “tático-técnicas”, “táticas individuais”, “físicas” e “psico-cognitivas”. A especificidade terá de se assumir como elo de ligação de todas as dimensões, porque todas elas emanam de um mesmo objeto e muito específico, o “Futebol” (J. G. Oliveira, 1991).

Sendo o Futsal um jogo tático, coloca permanentemente problemas à equipa e aos jogadores, o que implica a necessidade prioritária de promover o entendimento e a compreensão do jogo. O processo de treino que melhor potencializa o desenvolvimento dos conhecimentos específicos dos jogadores, é o que privilegia a criação de uma interação específica, com organização fractal, entre as diferentes dimensões, sendo a “Dimensão Tática” a geradora dessa interação Específica (J. G. Oliveira, 2004).

2.5. Processo Ofensivo versus Defensivo e respetivas Transições