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Lista de Abreviaturas / Legenda

CAMPEONATO DA EUROPA DE FUTSAL (HUNGRIA 2010)

4.6. Análise dos Dados

4.6.1. Análise Sequencial

A Metodologia Observacional, contempla a utilização de uma multiplicidade de procedimentos estatísticos para a análise dos dados, assumindo particular realce, no entanto, a Análise Sequencial16.

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Análise Sequencial: é a forma mais comum de microanálise. Refere-se a um conjunto de técnicas que pretendem evidenciar as relações, associações ou dependências sequenciais entre unidades de conduta obtidas diacronicamente (Hernández Mendo & Anguera Argilaga, 2000).

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Este procedimento permite, através de análises prospetivas e retrospetivas, a deteção de padrões de jogo ou padrões de conduta17 de jogadores e equipas (J.A. Silva, 2008).

Tendo presente que o jogo de Futsal gravita em torno da complexidade, da sucessiva alternância de estados de ordem e desordem, estabilidade e instabilidade, uniformidade e variabilidade (Garganta, 2001b), estamos perante situações de mudança de final aberto, materializadas numa dinâmica que torna complexa a sua análise e entendimento (Barreira, 2006), acabando por se afigurar inglória a procura de laços diretos causa/efeito, quando se pretende inteligir a lógica da atividade (Garganta, 2001b).

Todavia, as invariantes que parecem ser responsáveis pela existência de uma ordem, uma lógica e uma estabilidade nos padrões de conduta, permitem que dentro do fluxo conductural do jogo, subsista ordem e regularidade, que apesar de parecerem ocultas, podem a partir deste método ser conhecidas e exploradas com rigor e compreensão (Barreira, 2006).

O fluxo conductural do jogo guarda seguramente uma ordem que necessitamos conhecer se nos queremos acercar de uma melhor compreensão da dinâmica do jogo no Futsal. Por esta razão, o registo das condutas de jogadores e equipas, fazendo referência à dimensão temporal, deve manter a sua configuração de origem, a ordem. As condutas ocorrem no jogo com uma certa cadência, que não sabemos se é unicamente aleatória e relacionada com o fator sorte ou se obedece a determinados padrões que se repetem com tanta assiduidade no jogo que podem ser considerados constantes (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002).

A utilização de técnicas sequenciais contribui para a resolução de problemas de ordenação de condutas no tempo, podendo ajudar a compreender como a conduta se produz e dar uma explicação causal para a sua ordenação (A. Silva, 2004). Este tipo de análise consiste em averiguar como se alteram as probabilidades de ocorrência de determinadas condutas,

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Padrão de conduta: configuração conductural obtida. Equivale a um extrato muito condensado da informação obtida, sendo muito útil para um conhecimento objetivo do comportamento estudado e para a análise da sua evolução (Hernández Mendo & Anguera Argilaga, 2000).

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em função da prévia ocorrência de outras, ou como certas condutas são excitatórias ou inibitórias com respeito a outras que lhes sucedem ou que as antecedem. Pretende-se assim detetar a existência de padrões de conduta ou configurações estáveis do comportamento, através da comprovação de uma ordem sequencial, isto é, uma certa estabilidade na sucessão de sequências, que se encontre acima das probabilidades outorgadas pelo mero acaso (Anguera Argilaga, 1992; Hernández Mendo et al., 2000).

A Análise Sequencial pode ser utilizada na investigação de duas formas distintas (Hernández Mendo & Anguera Argilaga, 2000):

• A modelização – em que o investigador formula um modelo substantivo como possível gerador das sequências que se observariam caso o modelo fosse correto;

• A descrição – na qual o investigador carece de um modelo substantivo para as sequências que observa e tenta descobrir as regularidades que existem nas mesmas. Assenta em procedimentos de carácter essencialmente indutivo.

Na análise sequencial deve considerar-se dois tipos de conduta: a conduta critério (CC), que é a categoria a partir da qual, na sequência de dados, se contabilizam as transições ou retardos18, de forma prospetiva (para a frente), ou retrospetiva (para trás); e a conduta objeto (CO), que é a categoria até onde, na sequência de dados, se contabilizam as transições/retardos. A análise pode ter um carácter prospetivo (análise da sequência de condutas que se seguiram à conduta critério: 1, 2, 3, ...) ou retrospetivo (análise da sequência de condutas que antecederam a conduta critério: -1, -2, -3, ...) (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002; Quera, 1993).

A relação entre os comportamentos ou condutas observadas (antecedentes ou subsequentes) pode ser determinada por três métodos distintos, mais concretamente a Técnica de Retardos ou Transições (Lag

Method), as Cadeias de Markov ou Modelos Markovianos e as Séries de

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Retardo é o número de ordem que ocupa cada conduta registada a partir da ocorrência da conduta critério (Anguera Argilaga, 1990).

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Tempo (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002; Hernández Mendo & Anguera Argilaga, 2000).

Na análise através da técnica de retardos ou transições, método a utilizar no presente estudo e um dos mais relevantes e mais utilizados no âmbito da análise do jogo nos JDC (Anguera Argilaga, 2005; Hernández Mendo & Anguera Argilaga, 2000; J. A. Silva, 2008), as probabilidades condicionais são calculadas a partir de uma dada CC e das CO que estão à distância de uma, duas ou mais transições. Este método permite identificar quais as condutas que mantêm relações excitatórias ou inibitórias a uma distância de x transições (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002).

A Análise Sequencial a partir da técnica de retardos ou de transições pretende, como se ilustra na Figura 9, avaliar a probabilidade estatística das diversas condutas consideradas se relacionarem de forma prospetiva ou retrospetiva com uma determinada conduta critério. Esta relação, a existir, poderá proporcionar a deteção de padrões sequenciais de conduta excitatórios ou inibitórios relativamente a uma dada conduta critério (Anguera Argilaga, 2005; Anguera Argilaga & Blanco Villaseñor, 2003).

Figura 9: Análise sequencial com recurso à técnica de Retardos (J. A. Silva, 2008).

Desta forma, através de um cálculo probabilístico, onde um determinado evento integrante de uma cadeia ou sequência de eventos, é dependente tanto do evento inicial (conduta critério) como dos eventos anteriores; é possível aceder a uma probabilidade nas transições entre os diferentes acontecimentos do jogo. Apesar das inúmeras potencialidades da técnica de transições, as

Análise Retrospetiva Análise Prospetiva

Conduta Critério Retardo 1 Retardo 2 Retardo 3 Retardo -1 Retardo -3 Retardo -2

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relações que se estabelecem não podem ser analisadas de forma determinista ou preditiva, mas sim sobre um ponto de vista probabilístico (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002).

A direcionalidade das transições sequenciais deve guardar uma lógica no interior da dinâmica de jogo. Determinadas condutas ou categorias só poderão ser analisadas desde um ponto de vista prospetivo ou retrospetivo, enquanto outras, devido à sua função ou presença no continuum do jogo, permitem uma análise a partir das duas perspetivas, prospetiva e retrospetiva (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002).

O fluxo comportamental, entendido como uma sucessão de eventos, episódios ou lances do jogo (Anguera Argilaga, 2005; Anguera Argilaga & Blanco Villaseñor, 2003), é analisado tendo como propósito a deteção de regularidades nos comportamentos de jogadores e equipas (Garganta, 2001a). Assim, ao avaliar a probabilidade estatística de determinadas condutas sucederem ou antecederam outras, a Análise Sequencial poderá revelar padrões sequenciais de conduta excitatórios ou inibitórios (J. A. Silva, 2008), que o mesmo autor denomina de “padrões táticos de conduta” (p. 31).

No sentido de averiguar a existência ou não desses padrões, calculam-se as probabilidades condicionais (que dependem da ordem ou retardo) e incondicionais (dependem da frequência total), de ocorrência das condutas objeto consideradas (Anguera Argilaga, 1990; Castellano Paulis, 2000). Com base nesse cálculo é possível, para cada retardo, conhecer quais as condutas em que a probabilidade condicional supera a incondicional, o que pressupõe a existência de uma probabilidade estatística superior ao acaso de estarem associadas.

Para verificar se as diferenças encontradas têm significado estatístico, aplica-se a prova binomial. Se o valor de z for maior ou igual a 1,96, existe a probabilidade de haver uma transição excitatória entre as condutas. De igual forma, se o valor de z é inferior a -1,96, a relação entre as condutas é inibitória (Anguera Argilaga, 1990).

A técnica de retardos ou de transições (lag method) fundamenta-se na eleição de uma determinada conduta como Conduta Critério (CC), a partir da

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qual se contabiliza as vezes ou tempo em que uma determinada Conduta Objeto (CO) segue a CC no lugar de ordem seguinte, o qual supõe o primeiro

retardo, e assim sucessivamente, até se chegar ao retardo máximo (“max-lag”)

que marca o fim do padrão de conduta para efeitos interpretativos (A. Silva, 2004).

Para definir qual o retardo máximo ou “Max-lag” do padrão de conduta, Anguera Argilaga et al. (2008) introduziram uma série de regras interpretativas de carácter convencional que facilitam a adoção da forma definitiva do padrão:

a) Um padrão de conduta termina de forma natural quando não há mais

retardos excitatórios. Neste estudo foram definidos como retardos

máximos, 20 e -20, de acordo com o sentido de análise empregue, ou seja, prospetivo e retrospetivo.

b) Um padrão de conduta em que há dois retardos consecutivos vazios (sem condutas excitatórias) termina em consequência destes.

c) Quando num padrão de conduta há dois retardos consecutivos com várias condutas excitatórias, o primeiro deles denomina-se “max-lag” e considera-se o último retardo interpretativo do padrão de conduta.

Em suma, o padrão de conduta que se pode encontrar corresponde a um extrato muito condensado da informação obtida, sendo muito útil para um conhecimento objetivo do comportamento estudado e para a análise da sua evolução (Hernández Mendo et al., 2000).

A partir da análise dos padrões táticos obtidos, é possível retirar ilações acerca do fluxo de conduta ou fluxo comportamental de equipas e jogadores e eventualmente, perceber de que forma ele se altera em função dos diversos contextos e variações do próprio jogo (J. A. Silva, 2008), ou seja, permite a deteção de estruturas ocultas do jogo (Anguera Argilaga, 2004; Borrie et al., 2002) que de outra forma poderiam ser impercetíveis em virtude da velocidade a que o jogo decorre (Salas Santandreu, 2006).

A Análise Sequencial constitui-se assim como um método eficaz para fazer sair da obscuridade (entenda-se, sucessão de ações que se produzem no

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jogo), os procedimentos táticos adotados por jogadores e equipas (Anguera Argilaga, 2004).

Identificar as rotas que segue a interação entre as equipas em confronto, permite-nos conhecer quais são precisamente os caminhos mais aconselhados para levar a cabo, com maior efetividade, o processo ofensivo e defensivo da equipa (Castellano Paulis & Hernández Mendo, 2002).