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Processo Ofensivo versus Defensivo e respetivas Transições ou…Interações

Lista de Abreviaturas / Legenda

2. Revisão da Literatura

2.5. Processo Ofensivo versus Defensivo e respetivas Transições ou…Interações

Num jogo de Futsal é possível descortinar, à partida, duas grandes fases decorrentes da evidente relação de oposição e da persecução de objetivos antagónicos, consoante a equipa tenha ou não a posse de bola, encontrando- se assim, respetivamente, a atacar ou a defender.

Para Garganta (2006), a equipa encontra-se na fase de ataque quando tem a posse de bola e procura mantê-la, criar situações de finalização e

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finalizar ou marcar golo. J. G. Oliveira (2004), complementa a ideia, referindo que o momento de organização ofensiva se caracteriza pelos comportamentos que uma equipa assume quando tem a posse de bola, tendo por objetivo a preparação e a criação de situações ofensivas de forma a marcar golo.

Na fase de defesa, quando a equipa não tem a posse de bola, deve procurar apoderar-se dela, impedir a criação de situações de finalização e a marcação de golos (Garganta, 2006). Para J. G. Oliveira (2004), o momento de organização defensiva caracteriza-se pelos comportamentos que uma equipa assume quando fica sem a posse de bola, tendo por objetivo organizar-se de tal modo que impeça a preparação e criação de situações de golo por parte da equipa adversária, evitando assim o golo adversário.

A maioria dos livros e trabalhos realizados no âmbito desta modalidade, já referenciados ao longo deste trabalho, focam essencialmente questões relacionadas com estas duas fases do jogo.

É comum portanto encontrar referências ao processo ofensivo, que tem como objetivos a progressão/finalização e a manutenção da posse de bola, e ao processo defensivo em que se procura a cobertura/defesa da baliza e a recuperação da posse de bola. O processo ofensivo engloba as fases de construção das ações ofensivas, criação de situações de finalização e finalização enquanto no processo defensivo se procura impedir a construção das ações ofensivas, anular as situações de finalização e defender a baliza, impedindo a finalização. Ao longo destas fases, o jogador deve ter sempre presente um conjunto de normas que o orientam na procura das soluções mais eficazes nas diferentes situações de jogo, materializados nos princípios de jogo fundamentais e específicos (Castelo, 1994; Garganta, 1998; Queiroz, 1983; Teodorescu, 1984).

Os dois momentos do jogo (de ataque e de defesa) representam a relação de forças, o ponto de comparação das mesmas com os adversários. Uma vez que o jogo se desenvolve num espaço comum, com participação simultânea e direta de atacantes e defesas, verifica-se um contínuo do jogo de Futsal, que apresenta uma dualidade de ações (Rezer & Saad, 2005).

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Segundo Castelo (1996), em referência ao jogo de Futebol, podemos identificar dois processos antagónicos perfeitamente distintos (ofensivo e defensivo), mas que se complementam um ao outro. Estes dois processos refletem fundamentalmente conceitos, objetivos e comportamentos tático- técnicos diferentes, sendo determinados pela condição de posse ou não da bola.

Contudo, visto estarmos perante um jogo de dinâmicas interaccionais e de relações de comunicação e contra-comunicação constantes, não cremos que o fluxo conductural do jogo se esgote nessas duas grandes fases. Considerando, tal como Garganta (2005), que é nas articulações do sistema, ou seja, nas interações constantes entre os seus elementos, que se cria a sua identidade, e é também nelas, e através delas que se criam condições para a manter ou alterar em função das circunstâncias e das respetivas debilidades e mais-valias dos intervenientes, podemos aquilatar da importância das fases ou momentos que medeiam as duas já apontadas, e das dinâmicas que se possam estabelecer aquando da passagem de uma para a outra.

Romero Cerezo (2000) entende que as ações dos jogadores, com um espírito cooperativo e harmonizado, só adquirem sentido em função de três momentos fundamentais do jogo: a posse de bola (ataque), a posse da bola por parte da equipa adversária (defesa) e a mudança da posse de bola (transição).

J. G. Oliveira (2004) e Garganta (2006) apontam a importância dos momentos que se encontram na interceção e inter-relação do ataque e da defesa, referindo-se às transições de posse de bola. Estas podem representar momentos de desequilíbrio ou de rutura e assumir especial relevância no jogo, sobretudo se se considerar, tal como Gréhaigne et al. (1997), que os diferentes estados do sistema operam fundamentalmente em estados de equilíbrio. As transições são momentos em que se procura, como refere Garganta (2006), a alteração rápida e eficaz de comportamentos e atitudes de forma a surpreender o adversário, aproveitando a sua desorganização ou retardando ao máximo a sua organização. Surgem no momento em que se conquista a posse de bola (defesa-ataque) e no momento em que se perde a posse de bola (ataque-

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defesa), em que é necessário mudar o sentido do fluxo de jogo tão depressa quanto possível.

J. G. Oliveira (2004) caracteriza os momentos de transição da defesa para o ataque e do ataque para a defesa como os comportamentos que uma equipa deve assumir durante os segundos imediatos ao apoderar-se da posse de bola e após perder a posse de bola, respetivamente. Estes breves instantes/segundos poderão revelar-se de crucial importância dado que ambas as equipas se encontram momentaneamente desorganizadas, logrando cada uma utilizar essa hipotética situação do adversário em seu benefício.

Neste sentido, parece cada vez mais importante o domínio e interpretação dos momentos de transição do jogo, percebendo a preocupação da equipa em manter um balanço adequado entre o ataque e a defesa (A. Silva et al., 2008), assegurando o equilíbrio ofensivo quando defende e o equilíbrio defensivo quando ataca. Segundo Castelo (1994), o processo ofensivo começa mesmo antes da recuperação da posse de bola devendo os jogadores estar preparados mentalmente para a ação ofensiva. De igual forma o processo defensivo começa ainda antes da perda da posse de bola, uma vez que equipa deve estar preparada e prever essa eventualidade, assegurando os equilíbrios necessários (ofensivo e defensivo).

Barreira (2006) apresenta-nos uma outra proposta conceptual de transição, distinguindo entre Transição-Estado e Transição-Interfase, consoante a recuperação ou a perda da posse de bola aconteça, ou não, de modo direto. A recuperação da posse de bola de modo direto pressupõe a manutenção da fase dinâmica do jogo, ou seja, a bola tem de ser recuperada permanecendo dentro do espaço de jogo regulamentar e não sendo cometidas infrações às leis do jogo (contra ou a favor). Não podem, deste modo, ocorrer condutas indutoras da fase estática do jogo. Se a recuperação ou a perda da posse de bola ocorre de modo direto estamos perante uma Transição-Estado enquanto que, se acontecer de forma indireta trata-se de uma Transição- Interfase.

No Futsal verifica-se uma rápida alternância entre situações de ataque e defesa e portanto uma elevada ocorrência de situações de alternância entre

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uma e outra (L. Oliveira, 1998), afigurando-se assim indispensável enfatizar e equacionar o fluxo comportamental e as dinâmicas evidenciadas aquando das transições de fase.

Devido à relação de oposição, a qualquer momento do jogo podem emergir situações de ordem e desordem. Desta forma a energia e as escolhas dos jogadores podem criar as condições necessárias para as transições entre diferentes configurações do jogo e consequentemente transformar o jogo (Gréhaigne et al., 1997). Em termos gerais, a capacidade de uma equipa para desestabilizar ou (re)estabilizar um sistema poderá também ser avaliada nos momentos críticos do jogo, tal como quando ocorre uma mudança inesperada de posse de bola, ou seja, nos momentos de transição (McGarry et al., 2002).

Como podemos verificar alguns autores preferem falar em momentos do jogo, em detrimento de fases, pelo carácter de sequencialidade que estas podem pressupor. Para J. G. Oliveira (2004), falar em fases supõe ou implica pensar o jogo segundo uma lógica sequencial implícita, que nem sempre se verifica na prática. O carácter de aleatoriedade do jogo leva a que o fluxo comportamental do jogo e as situações aconteçam de forma não linear, manifestando-se quase sempre de forma arbitrária, sem uma lógica sequencial. Ao considerar que o jogo pode evidenciar quatro momentos, eles deixam de aparecer sequencialmente, sendo a ordem de apresentação arbitrária.

O jogo é um continuum de ações e movimentos, em que cada ação é influenciada por outra que a antecede e que, por sua vez, influencia os comportamentos subsequentes (J. A. Silva, 2008). O jogo é fértil em acontecimentos cuja frequência e ordem cronológica não podem ser previstas antecipadamente, resultando em situações aleatórias e numa variabilidade de comportamentos e ações (Garganta, 1998), que refletem o fluxo contínuo e imprevisível do jogo.

Os quatro momentos do jogo devem permitir em todas as circunstâncias, através da sua inter-relação, a identificação da singularidade do todo; podendo assumir várias escalas, nomeadamente a escala coletiva (equipa), setorial (grupo de jogadores), inter-setorial (interligação entre jogadores) e individual

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(jogador), desde que esta decomposição assuma uma organização fractal (J. G. Oliveira, 2004).

Corroborando Garganta (2006), pensamos que não se trata aqui de segmentar ou fragmentar o jogo em elementos, mas de entretecer os respetivos ingredientes específicos, de modo a criar cenários de organização e de treino que contenham o gérmen do jogo e que reproduzam as restrições particulares, embora em escalas diferentes.

Garganta (2005) refere a existência de três características vertebradoras da dinâmica organizacional do jogo de futebol, coincidentes com os traços de fenómenos complexos: a “não linearidade”, a “emergência” e a “interdependência”. A noção de interdependência é contrária à visão dualista do jogo, materializada na referência ao processo ofensivo vs. defensivo como fases antagónicas e independentes. Entendendo o jogo de Futsal, tal como Barreira (2006) entende o jogo de Futebol, com a fluidez e a continuidade inerentes, não parece viável que uma equipa se encontre apenas e de forma separada num destes processos, pois desta forma somente estaria na posição de reagir e nunca na de agir ou pré-agir, que é no fundo o que se pretende em cada momento.

Interessa pois perspetivar o jogo a partir de um enfoque unitário de organização da dinâmica do jogo.

2.5.1. Conceção Unitária do Jogo

Cervera e Malavés (2001) apresentam uma visão unitária do processo estratégico nos JDC (Figura 1), não diferenciando, entre os jogadores da mesma equipa, os que estão e os que não estão diretamente implicados no ataque.

Os mesmos autores consideram que cada jogador deve colaborar e participar quer em ações ofensivas quer em ações defensivas de acordo com a situação de jogo, independentemente de a sua equipa possuir ou não a bola.

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Figura 1: Modelo unitário da organização do jogo em Futebol (Cervera & Malavés, 2001).

Aos jogadores é então permanentemente requerida uma atitude, uma predisposição mental, comportamentos táticos e princípios de ação de ataque e de defesa em simultâneo; salvaguardando sempre, de acordo com o fluxo comportamental do jogo, os vários momentos do mesmo e respetivos equilíbrios e organização específica. A fase ofensiva e defensiva, consubstanciadas em finalidades e objetivos diametralmente opostos, são no fundo complementares uma da outra, surgindo no jogo em simbiose e totalmente interligadas.

Mourinho (2003), reforçando essa ideia, é apologista de que a equipa, aquando da posse de bola, deva também pensar o jogo defensivamente, assim como, numa situação defensiva, esta deve pensar o jogo de forma ofensiva e preparar o momento em que se recupera a posse de bola. Ao fazer a análise da dinâmica de jogo, considera-se de forma simultânea o ataque e a defesa, já que são interdependentes um do outro pois, como refere Riera (1995), muito frequentemente o ataque e a defesa são facetas de uma mesma atividade.

Como sustenta A. Silva (2004) existe a preocupação de manter um balanço que permita atacar sem perder a segurança defensiva quando em

ATAQUE +